Do ponto de vista ambiental, a conta da pecuária simplesmente não fecha. Na verdade, a médio prazo, ela está gerando um prejuízo 22 vezes maior e irreparável. 

Inacreditavelmente, apenas quatro empresas no mundo têm o incrível poder de decidir como usamos os nossos principais recursos do planeta (solo, água, florestas, rios, oceanos, atmosfera e toda biosfera). São elas a Cargill, Swift, Tyson e a brasileira JBS (da Friboi). O grande problema é que o lucro, para elas, está acima de qualquer outro fator e isso está causando prejuízos irreversíveis para o planeta. (Conheça aquialguns dos maiores prejuízos causados por esta indústria).

Um aspecto do problema que mais assusta é o fato desta indústria ser tão grande e poderosa, que ela chega a pesar de forma bastante significativa no PIB de alguns países. Este poder econômico assusta ambientalistas e atrai a atenção dos governos que, pelo nosso sistema político ultrapassado, estimula que nossos governantes pensem em voto e atribuam seus esforços no que dá retorno imediato, sem se preocuparem com as consequências a médio e longo prazo.

Um levantamento feito pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e pela Agência Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ) mostrou que, para cada R$1 milhão faturado pela pecuária, R$22 milhões são gerados de impactos ambientais. Estamos simplesmente empurrando com a barriga problemas sérios que teremos nos próximos anos. A pecuária é responsável por 90% do desmatamento da Amazônia, por pelo menos 50% de toda água doce consumida e é a maior responsável por poluição de rios e pelo processo de degradação e desertificação do solo (que já chega a 1/3 de toda superfície terrestre). Veja a íntegra do documento do estudo aqui (em inglês).
A agropecuária hoje é responsável por quase 5% do PIB brasileiro, que significa algo em torno de R$240 bilhões (isso requer um investimento equivalente a R$10 trilhões de reais em reparos ambientais no ano [se eles forem possíveis]). Com projetos em busca de retorno financeiro imediato, o Governo vê o setor como a menina dos olhos de ouro. Entre 2015 e 2016 os cofres públicos irão disponibilizar R$187 BI em crédito para o setor. É importante enfatizar que, além da facilidade na obtenção de valores tão altos em condições extremamente favoráveis, o Brasil oferece um dos maiores subsídios do mundo para a pecuária. Quem paga a conta disso, é toda a população: quem apóia e quem não apóia esta indústria e as futuras gerações, que podem não ter um planeta habitável para viver.

acamilhao

No momento em que o país enfrenta sua pior crise moral, é alarmante ver que o Governo utiliza seus esforços e recursos para patrocinar e incentivar uma prática tão antiética e insustentável pensando unicamente no lucro a curto prazo. Nos últimos sete anos, por exemplo, somente os Frigoríficos receberam R$12,8 BI em compras de ações, mais R$3,2 BI em empréstimos diretamente do BNDES.

Segundo informações da Bloomberg e do El Pais, a JBS é um um resultado de uma década de expensão e hoje é um ”império com um faturamento de 92,9 bilhões de reais. Mas essa década de compras teve efeitos negativos para o grupo, principalmente no que se refere ao endividamento. No fim do exercício de 2013, a dívida líquida da JBS era de 23,748 bilhões de reais, 102,7% de sua capitalização em bolsa.
O Estado brasileiro é o credor de grande parte dessa dívida, pois respaldou o crescimento da empresa por meio da compra de títulos. Isso também se reflete na composição do capital. O Estado é o segundo acionista da JBS, depois da família Batista: 25% dos títulos são propriedade da divisão de participações doBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e 10% está nas mãos da Caixa Econômica Federal. Em 31 de dezembro de 2013, 35% das ações do grupo tinham um valor de mercado superior a 2,6 bilhões de euros.”

O BNDES afirma que na Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do Governo Federal, o setor de carnes ocupa lugar de destaque nas “estratégias de desenvolvimento de empresas e sistemas produtivos”.

É absolutamente necessário revermos, com extrema urgência, a forma como o Governo utiliza o dinheiro público para a obtenção de novas receitas sem a menor preocupação com o planeta e todos os recursos que ele oferece e através dos quais nós dependemos para a nossa existência.

 

 

FONTES:
http://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/15/economia/1408113156_290315.html
http://www.agricultura.gov.br/politica-agricola/noticias/2015/06/governo-lanca-plano-agricola-e-pecuario-20152016
http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2014/02/agropecuaria-segue-sendo-destaque-do-pib-brasileiro
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/527416-frigorificos-recebem-r-13-bi-do-bndes-mas-enfrentam-problemas
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/efetividade/relatorio_crescimento_grandes_empresas_nacionais.pdf

 

Fonte: Veggo