Diante da escassez hídrica, a população de São Paulo deparou-se, nos últimos dias, com a notícia de que o governo estadual multará em 30% o cidadão que gastar 20% a mais de água em relação ao seu consumo normal. É uma medida justa? Vai resolver, ou ao menos minimizar o problema? O professor Wilson Jardim, do Instituto de Química da Universidade de Campinas (Unicamp) acha que não e os motivos são plausíveis.
“A necessidade de racionamento é uma realidade, mas pergunto até que ponto as empresas fornecedoras podem imputar um ônus financeiro ao consumidor, se elas próprias são responsáveis pela perda de 40% da água tratada no país. É um volume muito maior do que qualquer economia que possa ser feita pela população”, disse o professor Jardim em entrevista ao Jornal da Unicamp.
Para o acadêmico – que é especialista em Química Ambiental e contaminação de solos e águas – “o racionamento é uma questão de educação e cidadania, de preocupação ambiental, não de punição. O único reflexo imediato para quem economiza água em casa é no bolso, quando vem a conta”. Então, segundo Jardim, quem deveria evitar os desperdícios gigantescos que acontecem em todo o país são as empresas fornecedoras de água.
De fato, não é nada raro ver água potável escorrendo livremente pelas calçadas em qualquer cidade brasileira. Em geral, as causas desses vazamentos são rachamentos de tubulações velhas e corroídas. Só a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) deixou entrar pelo ralo 31,2% da água que ela mesma produziu em 2013. Para ter ideia, essa porcentagem equivale a nada menos que 950 bilhões de litros do precioso líquido. Nos reservatórios do Sistema Cantareira – que hoje está com menos de 12% da sua capacidade total – cabem pouco mais de 980 bilhões de litros de água.
Pior é saber que a Sabesp é, hoje, uma das empresas de distribuição com menos desperdícios. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em 2011 26 das maiores companhias de distribuição de água do Brasil tinham perdas de 37,2%. Macapá, capital do Amapá, teve a impressionante marca de 70% de desperdício de água.
Tem mais: as perdas de água incluem também erros na medição do consumo, hidrômetros ultrapassados e ligações clandestinas. Justiça seja feita, se quem gasta mais água por desperdício precisa pagar multas, as empresas de distribuição deveriam ser as primeiras a serem penalizadas.
Afonso Capelas Jr. – 28/04/2014
Fonte: Planeta Sustentável