Brasil sediará centro de monitoramento de qualidade de água para América Latina e Caribe


                

A partir de agora a Agência Nacional de Águas (ANA) faz parte do Sistema Global de Monitoramento Ambiental da Água (GEMS-Water, na sigla em inglês). A parceria foi definida graças a um acordo assinado entre as partes e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

O GEMS-Water é uma organização que mantém uma rede global para monitorar a qualidade da água no mundo, com mais de 4 mil estações de pesquisa. A rede armazena cerca de 4 milhões de registros coletados em mais de cem países, disponíveis online como subsídios para instituições de pesquisa, governos e outras organizações.

Com o convênio, a ANA passará a ser um dos centros regionais da entidade internacional e fará interface com países da América Latina, Caribe e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A agência brasileira será responsável por organizar ações regionais de capacitação em monitoramento da qualidade da água e disseminação dos métodos e dados do GEMS-Water.

“Garantir infraestrutura para água e saneamento é uma condição básica para o desenvolvimento econômico. Atualmente, este desafio torna-se ainda mais complexo com os impactos das mudanças climáticas”, afirmou Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do PNUMA. “Tudo isso reforça a necessidade de promover uma sólida ação governamental para conservação dos recursos hídricos e que se adapte à realidade global, favorecendo a cooperação Sul-Sul”.

Steiner esteve presente na assinatura do documento em uma reunião, em São Paulo, que contou ainda com a presença do presidente da ANA, Vicente Andreu e a representante do PNUMA no Brasil, Denise Hamú. A parceria entre ANA e GEMS-Waters é válida até 2018, mas poderá ser ampliada.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, mais de 1 bilhão de pessoas não têm acesso a saneamento básico. No Brasil, em 2010, o censo do IBGE revelou que 17% dos domicílios do país ainda não pertencem à rede geral de abastecimento de água e 45% não possuem coleta de esgoto.

Fonte: Planeta Sustentável ; Ambiente Brasil

Laísa Mangelli

Rios de cinco Estados têm água ruim ou péssima


Levantamento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica revela o alarmante cenário da qualidade da água no país, provocado pela falta de saneamento básico nos centros urbanos. A situação é tão grave, que em muitos casos, nem tratamento conseguiria despoluir alguns rios.

 

Em tempos de crise hídrica na região Sudeste do Brasil, quando se procuram novas alternativas para o abastecimento de água em muitas cidades, o estudo "Análise da Qualidade da Água", divulgado hoje (18/03), pela Fundação SOS Mata Atlântica, não poderia ser mais alarmante e desanimador. 

Dos 111 córregos, rios e lagos analisados em cinco estados brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e Distrito Federal, nenhum apresentou qualidade ótima. Mas o pior não é isso. Em 21 deles, a qualidade da água é tão ruim, que mesmo se passar por tratamento, ela não poderia ser utilizada para irrigação da lavoura, muito menos paraconsumo humano. De tão poluída, esta água só serve para diluir esgoto e produzir energia. É o caso, por exemplo, do que acontece nos dois principais rios que cortam a maior metrópole do país: o Tietê e o Pinheiros. 

O monitoramento feito pela SOS Mata Atlântica nos cursos d’água foi realizado entre março de 2014 e fevereiro de 2015, em 301 pontos de coleta, distribuídos em 45 municípios. A metodologia, desenvolvida pela fundação, avalia 16 parâmetros, entre eles, níveis de oxigênio, fósforo, PH e aspecto visual (presença de coliformes fecais, espuma, sujeira e peixes). 

O levantamento apontou que 61,8% dos pontos aferidos foram considerados com qualidade regular, 21,6% ruim e 1,7% em péssima situação. Apenas os rios emananciais, localizados em áreas protegidas e com matas ciliares preservadas em seu entorno, foram considerados com boa qualidade. Eles representam apenas 15% da amostragem total. 

"Este resultado revela que estamos desperdiçando estes rios", afirma Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica. "Com o estudo, queremos mostrar que a questão hídrica é muito séria". Para ela, um dos principais responsáveis pela poluição dos rios brasileiros é a falta de rede de saneamento nas principais cidades do país. Diariamente, toneladas de esgoto são despejadas sem tratamento na água. "Os rios não têm condição de diluir toda esta carga".

Outro fator que agrava ainda mais a qualidade da água é o desmatamento. Sem vegetação em suas margens, as nascentes perdem sua proteção natural contra resíduos vindos da agricultura e outras atividades econômicas. "A falta da cobertura florestal é um risco para os rios", alerta Malu Ribeiro. "Não há água sem floresta, nem floresta sem água". 

Em comparação à análise elaborada no ano passado e divulgada aqui no Planeta Sustentável, a cidade do Rio de Janeiro apresentou aumento de amostras com qualidade ruim – de 40% para 66%. Já em São Paulo, houve redução – de 74% para 44%. Mas não há motivos para comemorar os números da capital paulista. 

A coordenadora da SOS Mata Atlântica explica que a falta de chuvas na região impediu o escoamento de poluentes para os rios, daí o resultado aparentemente bom em São Paulo. "A seca na capital paulista teve um impacto positivo na qualidade da água dos córregos e rios urbanos, que não receberam a chamada poluição difusa, responsável por cerca de 40% dos poluentes que contaminam os corpos hídricos após as chuvas que lavam as cidades". 

O estudo deixa claro que sem investimento em saneamento básico, recuperação da bacia hídrica e de áreas de preservação ambiental, a saúde dos rios brasileiros continuará seriamente comprometida. A boa notícia é que existem caminhos e soluções. Um deles foi registrado pelos voluntários que fazem o monitoramento dos rios. 

No bairro da Pompéia, na zona oeste de São Paulo, a comunidade se uniu e promoveu a recuperação do entorno de uma nascente. Os resultados não demoraram a aparecer. A qualidade da água melhorou e a população voltou a conviver com um rio de água limpa. 

Confira o levantamento completo sobre a qualidade da água dos rios brasileiros no site da SOS Mata Atlântica.