Consumo eficiente e redução de perdas na distribuição serão os principais benefícios gerados pela implantação das smart grids – redes inteligentes de energia. Especialistas apontam, entretanto, que cada país deverá ter modelo próprio
O crescimento da população mundial vai gerar uma enorme pressão sobre alguns setores da economia e de infraestrutura das cidades, entre eles o energético. Um dos maiores desafios será suprir a demanda de uma gigante parte da sociedade, que está emergindo para uma nova classe e com isso, consumindo mais produtos e serviços que dependem de eletricidade.
Uma das mais importantes e modernas tecnologias, que deve se tornar a principal aliada deste novo momento, são as redes inteligentes de energia, ou smart grids em inglês. Especialistas e representantes do segmento energético brasileiro se reuniram em Campinas, em São Paulo, durante o encontro A Energia na Cidade do Futuro, promovido pela CPFL Energia, para debater sobre esta e outras soluções sustentáveis para o setor.
Reive Barros dos Santos, diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), analisou o panorama da realidade nacional. País de dimensões continentais, o Brasil enfrenta graves problemas como, por exemplo, perdas de energia de até 30% nos estados do Norte e em percentuais menores, mas mesmo assim significativos em outras regiões. "O setor elétrico brasileiro ainda apresenta grande potencial de crescimento e não há dúvida que as redes inteligentes terão de ser implantadas", disse o executivo.
No caso do Brasil, Santos aponta que os motivadores para a implementação de smart grids seriam a melhoria na qualidade dos serviços oferecidos pelas operadoras do setor, redução de perdas e furtos de energia e diminuição da sobrecarga nos horários de pico. O sistema também permitiria a integração com redes de microgeração distribuída. Para tal, será necessário incentivo maior para estimular este tipo de geração, avalia o diretor da ANEEL. "Será um grande desafio lidar com esta nova realidade", admite. "Será preciso envolver mais o consumidor e mostrar a ele que a tecnologia vem em seu favor".
A tecnologia a que Reive Santos se refere é a utilização dos medidores inteligentes. Em alguns países, como na Itália, eles já estão em uso desde 2001. Lá, houve marco regulatório que obrigou a instalação dos novos medidores. Em grande parte da Europa, a preocupação com a adoção do novo sistema é com a sustentabilidade.
Diferentemente do Brasil, onde a matriz energética é hidráulica e, por isso, menos poluente, no continente europeu a produção de energia é responsável por uma alta emissão de CO2. Além disso, estes países buscam ainda a integração de fontes renováveis e limpas ao sistema, além da redução do consumo e, consequentemente, dos custos operacionais. Em países como Dinamarca e Suécia, o interesse pelos smart grids já antevê o aumento da disseminação dos carros elétricos.
Professor da Universidade de Coimbra, Carlos Henggeler, veio ao Brasil falar da experiência europeia com as redes inteligentes e mais especificamente de Portugal, onde na cidade de Évora está sendo realizado projeto piloto. Nos últimos anos, o país tem feito enorme esforço para investir em energias renováveis, sobretudo a eólica. "A geração distribuída é, sem dúvida, um dos grandes avanços tecnológicos", afirmou.
Sobre os medidores inteligentes, Henggeler acredita que eles tornam o consumidor final mais pró-ativo e consciente. "Até então eles só conferiam a fatura mensal, mas com os novos equipamentos podem acompanhar o consumo da residência hora a hora e assim descobrem em que horários estão gastando mais", explicou. Com essa informação, as pessoas têm capacidade de controlar melhor o consumo, utilizando aparelhos domésticos como lava-roupas e ferros-elétricos, por exemplo, em períodos mais espassados e de tarifa mais baixa.
Na Califórnia, nos Estados Unidos, a Pacific Gas and Eletric Company iniciou o processo de medição inteligente em 2006. Ao longo destes sete anos, já economizou aos cofres do estado cerca de 56 bilhões de dólares. Um dos serviços oferecidos pela empresa é a chamada tarifa branca, com preços diferenciados ao longo do dia. O projeto da Pacific Gas exigiu um investimento altíssimo, já que a rede de distribuição exige complexidade e interatividade maior, mas a companhia garante que metas de crescimento e faturamento foram mantidas. "Os medidores inteligentes contribuem para a materialização do consumo", acredita Carlos Henggeler.
Especialistas apontam que o aumento na escala e na padronização dos medidores inteligentes deverão fazer os custos de instalação destes equipamentos caírem. Todavia, a gestão das redes inteligentes é certamente mais difícil. Nascem aí, entretanto, oportunidades para empresas que trabalham com desenvolvimento de softwares e tecnologia de informação. "A inteligência ao longo da rede irá melhorar o sistema como um todo", defendeu Henggeler. "Mas sem políticas pró-ativas do governo e das empresas do setor, o desenvolvimento será mais lento". Segundo ele, o papel do setor elétrico é decisivo para marcar o ritmo deste processo.
Fonte: Planeta Sustentável