Parece jogo dos sete erros, mas, infelizmente, o planejamento do setor elétrico brasileiro para os próximos dez anos não é brincadeira. Em iminente risco de apagão e no atual cenário de crise energética, o governo afirma que, após esgotar o potencial das hidrelétricas de grande porte, o abastecimento de energia para a população virá de termelétricas movidas a gás, carvão e nuclear.
O uso de térmicas é um erro que vai custar caro ao país. Como elas funcionam queimando combustíveis fósseis, temos como consequência alta emissão de poluentes e gases do efeito estufa, além do elevado custo dos insumos. Somente este ano o prejuízo com o uso das térmicas chega a R$ 18 bilhões — que serão cobrados do consumidor, uma vez que as contas de luz serão reajustadas para 2015.
Já para energia nuclear, o cenário é de descontrole de gastos e insegurança. A usina de Angra 3, projetada para custar inicialmente R$ 7 bi já teve seu valor de construção atualizado para R$13 bi, tudo isso para, quem sabe, começar a operar em 2018, se as obras não atrasarem mais uma vez. O futuro de Angra 1 e Angra 2 também não é lá muito promissor: as usinas correm o risco de serem desligadas porque seus depósitos estão quase completamente saturados de lixo radioativo, segundo reportagem publicada no GLOBO.
É trágico como a incompetência do governo em lidar com o setor elétrico passa a ser atribuída aos ambientalistas. Estes são acusados de serem os responsáveis por sujar a matriz do país, por simplesmente apontarem o reconhecido esgotamento do potencial para a construção de grandes hidrelétricas na Amazônia.
Isso só ajuda aos que lucram com a situação e impede que a sociedade saiba que o Brasil poderia diversificar sua matriz energética e alcançar a segurança do setor se investisse com seriedade nas novas renováveis. Para se ter um exemplo, toda a demanda do Estado do Rio poderia ser atendida se apenas 5% de sua área urbanizada fosse coberta por painéis solares.
Falta coragem para dizer que a crise do setor elétrico no governo Dilma é resultado não só da baixa geração das hidrelétricas, mas também das falhas na transmissão e distribuição. Há usinas eólicas prontas, aptas a suprirem a demanda energética da cidade de Salvador, mas que não estão conectadas ao sistema interligado, em função de atrasos na conclusão das linhas de distribuição.
É preciso enxergar que o apagão na verdade é de políticas públicas que garantam que o país contará com fontes limpas e renováveis de energia. O Brasil deve aprender a lição de que somente com um planejamento sério e competente do setor elétrico será capaz de atrair os investimentos que precisa e garantir a segurança energética que tanto a economia quanto a população têm sentido falta.
Por:
Barbara Rubim, integrante da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil
Sérgio Leitão, diretor de políticas públicas do Greenpeace Brasil
Fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/falta-seriedade-12752966#ixzz34GzvtQ42