“Eu quero entender o que está em jogo”


   Recentemente apontado pelo Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon como Sub-Secretário Geral para a Coordenação de Políticas e assuntos inter-agencias do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (ONU DAES), Thomas Gass, que é suíço, descreveu a si mesmo como um apoiador incondicional do desenvolvimento inclusivo e do multilateralismo. Em sua entrevista, ele explica de que forma sua experiência como representante de um Estado Membro e os seus conhecimentos em cooperação para o desenvolvimento irão ajudar no trabalho de criação, nos próximos anos, de uma agenda de desenvolvimento sustentável inclusivo da ONU.

   “Acredito que o ano de 2015 será nossa próxima grande oportunidade para colocar o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza e outros assuntos importantes no centro do palco. Espera-se que através do meu trabalho como coordenador e facilitador dentro da DESA, eu seja capaz de desempenhar um papel de catalisador neste processo”, disse Gass durante a entrevista realizada poucos dias após sua chegada à ONU DAES. 

O Sentimento de Esperança Global

   Depois da reunião do G20, em que as questões relacionadas ao desenvolvimento foram ofuscadas pela crise na Síria, Thomas foi encorajado a verificar como a redução da pobreza e o desenvolvimento sustentável foram colocados de forma central neste grupo. Ele estava animado para identificar quantos Chefes de Estado começariam seus discursos dizendo quão importantes foram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, até mesmo aqueles na qual sua representação não aderiu aos ODM quando foram primeiramente formulados. “Isso vai me fazer atentar para as declarações positivas e promessas, ao invés dos desafios que podem vir. O debate tinha um aspecto de urgência global, mas também de um interessante sentimento de esperança. A maioria deles disse “Nós podemos fazê-lo”, enfatizando a importância da ONU nas áreas de desenvolvimento sustentável e redução da pobreza.”

   “Todos nós precisamos cantar a mesma canção, chamada de “Uma digna para todos”. Com a resolução que fora aprovada nos termos do processo com início em 2015, temos instruído os governos a avançar.”

De Catmandu para Nova Iorque

    Thomas Gass assumiu o departamento em 3 de setembro, como um dos dois Sub- Secretários Gerais na ONU DAES. Ele trouxe consigo uma vasta experiência de cooperação bilateral e também multilateral. De 2009 a 2013, trabalhou como líder da missão Suíça no Nepal (Embaixador e Diretor nacional da Agencia Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação), quando estabeleceu a Embaixada Suíça no Nepal, e garantiu um programa de cooperação para o desenvolvimento de até 33 milhões de dólares por ano. Ele também presidiu os doadores do Fundo Fiduciário da Parceria para a Paz no Nepal, o principal instrumento de apoio internacional ao processo de pacificação do Nepal.

   Antes sua ida ao Nepal, de 2004 a 2009, Gass chefiou a Seção de Desenvolvimento e Economia da missão permanente da Suíça na ONU, quando representou os interesses suíços no Conselho Econômico e Social (ECOSOC), nas suas comissões auxiliares, na Assembléia Geral e nas Diretorias dos principais fundos e programas da ONU. Durante esse tempo, Thomas Gass foi presidente do Grupo de Doadores do Pacto Global da ONU.

   Ele foi em 2006 o Vice-Presidente do grupo dos países da Europa ocidental da Comissão sobre População e Desenvolvimento, e em 2008 o Vice-Presidente dos países da Europa ocidental do Conselho Executivo do PNUD/UNFPA.

Gass também atuou como diretor de políticas e programas na Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, como representante adjunto residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na Guiana, e como diretor Europeu no IPGRI em Roma.

“Eu quero Ouvir e Entender”

   Quando estava falando sobre as idéias do departamento, Thomas Gass foi prudente:  “ Eu não sou o estereótipo de Presidente que inicia o seu mandato com uma proposta de reestruturação formada. Eu quero ir com calma e escutar todas as partes envolvidas, entender o que está em jogo, quais são os desafios da nossa equipe antes de investir meus esforços e me empenhar para movermos para uma direção ou outra.”

   Para Gass, as chaves são o desenvolvimento inclusivo e o multilateralismo. Em relação aos próximos grandes eventos convocados pelo Presidente da Assembléia Geral, o novo Assistente do Secretário Geral vêem estes eventos como uma oportunidade de trazer uma nova perspectiva ao processo que levou aos pensamentos sobre 2015 que serão muito bem estruturadas e sistemáticas. “Espera-se que nós tenhamos a oportunidade por meio destes eventos de trazer partes interessadas no assunto e que não são convencionais a esses tipos de eventos.” Para ele, a recente tendência em incluir a sociedade civil no processo de consulta é crucial e reflete o nível de evolução do país, tanto no norte e quanto no sul. Os Governos sabem que eles não dominam totalmente o desenvolvimento de seu país. Todas as partes têm de compartilhar seus conhecimentos de forma a construir uma estrutura adequada e sustentável.  A ONU deve permanecer aberta e ouvir aqueles que querem e irão fazer essa abordagem em nível nacional.

   Os Objetivos, incluindo os Objetivos do Milênio e aqueles provindos da Rio + 20, não podem ser alcançados sem o suporte e participação de todos, incluindo o setor privado, pois “ para termos sucesso, as partes devem se assentar à mesa, de forma a desenvolver a apropriação dos objetivos e processos”, explica Gass.

Negociador e Apaixonado

   Como assistente do Secretário Geral para a Coordenação de Políticas e assuntos inter-agencias, Gass gostaria de manter contato com certas questões: “Eu tenho certa experiência em gestão e utilização de recursos genéticos na agricultura, portanto, sei da importância da pesquisa como forma de assegurar comida e proventos para a humanidade, mas também facilmente desenvolvo paixão por outros assuntos. Eu trabalhei no porão da ONU como negociador, por exemplo, em nome dos amigos das montanhas, um grupo de 45 países que apóiam o desenvolvimento sustentável em regiões de montanhas. Em 2006, como Vice Presidente da Comissão de População e Desenvolvimento, eu presidi uma negociação extremamente interessante sobre o envelhecimento. Por ter aprendido sobre o assunto, percebi quão importante e vital para a humanidade saber lidar, de forma deliberada, com as questões ligadas ao envelhecimento”.

   “Eu não quero perder o contato com as experiências que tive em Camarões, na Guiana, no Nepal, e nos Países Andinos, onde eu monitorei e desenvolvi projetos que fizeram diferença para as pessoas que dependiam de suporte da comunidade internacional para elevar suas qualidades de vida”, ele completou.

   Para Thomas Gass, essa nova posição reflete a culminação de diversas habilidades que ele desenvolveu durante sua carreira. “Eu vejo essa posição mais como um resultado dos investimentos nas minhas diversas competências do que um trampolim para chegar a outro lugar.” O novo Sub-Secretário Geral traz um conhecimento concreto acerca dos desafios da cooperação para o desenvolvimento, o que soa como um conhecimento de que os estados interagem entre si e demonstram flexibilidade na relação para interoperabilidade das organizações, agências e parceiros. Assim, ”estou ansioso para combinar de forma eficiente e eficaz três destes conjuntos de habilidades que foram desenvolvidos por mim durante minha carreira, e espero que eles me permitam desempenhar um útil e catalítico papel em ajudar a ONU a alcançar os próximos desafios.”

   Nascido em 1963, Thomas Gass possui PHD em Ciência Naturais pelo Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Zurique e Mestrado e diploma de engenheiro em Ciências da Agricultura pelo mesmo instituto. Ele é casado e pai de três filhos.

Traduzido por: Estevão Matos

Texto original: http://www.un.org/en/development/desa/newsletter/desanews/feature/2013/10/index.html#8414