Ações essenciais às discussões da COP21


"As mudanças climáticas são uma séria ameaça aos esforços para o desenvolvimento sustentável e para a redução da pobreza. A continuidade da trajetória de aquecimento deixará um legado ao planeta, de irreversível transformação, com temperaturas excedendo os 2ºC e potenciais impactos devastadores." O alerta foi feito pelo climatologista Carlos Nobre na quinta-feira, 23 de abril, em artigo para o jornal Folha de S.Paulo.

 

Segundo Nobre, se atuarmos rápida e corajosamente, podemos começar a descarbonizar a economia global e limitar as mudanças climáticas. Para isso, porém, as lideranças políticas de todos os países devem agir neste ano para garantir um futuro melhor para as gerações vindouras e para todas as demais espécies.

 

A Earth League (Liga da Terra) – uma rede internacional de cientistas estudiosos das mudanças globais (da qual Nobre faz parte) -, lançou na última quinta-feira (23) a 'Declaração da Terra', um conjunto de oito ações essenciais às discussões da Cúpula do Clima (COP21), em Paris, em dezembro.

 

1) Limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC, sendo este o limite máximo para evitar o risco de mudanças climáticas perigosas.
 
 
2) O limite de emissões futuras de dióxido de carbono deve ficar abaixo de 1 trilhão de toneladas (1.000 Gt CO2) para termos uma chance razoável de ficarmos abaixo de 2ºC.
 
 
3) Ações de descarbonização profunda, de início imediato, para que atinjamos uma sociedade de "zero-carbono" em meados do século, ou um pouco depois, é condição chave para prosperidade futura.
 
 
4) Todos os países devem desenvolver planos de descarbonização de suas economias. Os países ricos e as indústrias podem e devem assumir a responsabilidade de descarbonizar bem antes de meados do século.
 
 
5) Devemos desencadear uma onda de inovação climática para o bem global e permitir o acesso universal às soluções de tecnologia existentes.
 
 
6) As mudanças climáticas já estão ocorrendo. Precisamos aumentar de forma maciça o apoio público às estratégias de adaptação e medidas de redução de perdas e danos nos países em desenvolvimento.
 
 
7) Devemos proteger sumidouros de carbono e ecossistemas vitais, nossos melhores amigos na luta contra as mudanças climáticas.
 
 
8) Os governos precisam dar apoio aos países em desenvolvimento para que estes possam lidar com as mudanças climáticas em um nível comparável àqueles da assistência global ao desenvolvimento.
 

Para Nobre, o Brasil tem se destacado na redução de 36% das emissões nos últimos anos, cortando suas emissões brutas de 2,36 Gt CO2, equivalente em 2005, para 1,52 Gt CO2,equivalente em 2012, de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Isso ocorreu, principalmente, pela redução de cerca de 80% dos desmatamentos da Amazônia e, em menor grau, pela redução também no bioma Cerrado.

 

Agricultura e energia

 

"O Plano de Agricultura de Baixo Carbono sinaliza caminhos para a sustentabilidade da agricultura brasileira na direção de redução das emissões, diminuição da pressão sobre ecossistemas e, ao mesmo tempo, aumento de produtividade, equação que fecha com a intensa utilização de conhecimento, tecnologias e inovação no campo e que pode levar ao desmatamento quase zero", projeta o também diretor do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do MCTI.

 

No setor de energia, a descarbonização passa pelo aumento da eficiência energética e da utilização maciça de energias renováveis – notadamente energias eólica e solar – na matriz elétrica brasileira. "China e Índia têm planos de acrescentar essas formas de energia renovável nos próximos dez anos, e o Brasil deve seguir o exemplo", aponta Nobre.

 

"Na COP21, o Brasil deve apoiar e defender um acordo ambicioso, equitativo e cientificamente embasado, limitando o aquecimento a 2ºC", conclui o climatologista.

Fonte: Eco Desenvolvimento