Polêmica taxa de carbono entra em vigor na Austrália


Empresas estão obrigadas a pagar R$ 47,58 pela emissão de cada tonelada métrica de CO2, uma medida que promete incentivar a busca por uma economia mais limpa, mas que divide o país e acirra a disputa entre partidos políticos
 
 
A Austrália começa esta semana vivendo um acalorado debate político, ambiental, ideológico e econômico. O governo colocou em prática o que foi batizada de ´taxa de carbono´, medida que obriga 294 companhias a pagar R$ 47,58 (A$23) pela tonelada métrica de dióxido de carbono (CO2) que emitirem. A taxa é o primeiro passo para a criação de um mercado de carbono, que deve ser formado em 2015.

A decisão, que já vem alimentando discussões há meses, divide empresas, que informaram que repassarão os custos para os consumidores, cidadãos e partidos políticos.

De acordo com uma pesquisa do Instituto Lowy, 63% dos eleitores se opõem à nova política. Além disso, 57% dos australianos apoiam a promessa do líder da oposição, Tony Abbott, de abandonar o esquema se ele ganhar a próxima eleição, prevista para o final de 2013.

Para tentar mudar esse quadro, a primeira-ministra, Julia Gillard, está realizando uma maratona de entrevistas e utilizando inclusive redes sociais na Internet, como o Twitter, para esclarecer algumas dúvidas e dissipar o temor de que o custo de vida na Austrália irá aumentar.

“A partir de agora as pessoas poderão julgar por elas mesmas, sem serem induzidas a acreditar nas teorias de que será a ruína econômica do país. O céu não está caindo e muitos lares estão recebendo cortes de impostos para lidar com possíveis aumentos na conta de luz, por exemplo”, afirmou Gillard, mencionando os A$ 10,10 semanais a que pessoas de baixa renda terão direito como compensação.

O governo também tentou acalmar os ânimos das empresas e liberou A$ 300 milhões para os setores de exportação que serão afetados pela taxa. Além disso, Gillard salienta que nesta primeira fase, 94,5% dos créditos serão distribuídos gratuitamente. Essa porcentagem cairá em 1,3% ao ano.

Segundo o plano, o valor da taxa de A$23 vai aumentar 2,5% anualmente antes de se transformar em um preço flutuante sujeito às necessidades do mercado em 2015.
 


Empresas

As companhias sob o esquema, responsáveis por cerca de 60% das emissões australianas, não apresentam uma opinião consensual sobre a taxa.

Enquanto associações e grupos que reúnem grandes emissores, como o setor da mineração, são totalmente contra a medida e fizeram campanha para que ela não entrasse em vigor, uma coalizão chamada ´Empresas para uma Economia Limpa´ está apoiando a primeira-ministra.

Em uma declaração pública, a entidade, que possui 300 empresas afiliadas, reconhece a importância de um preço sobre o CO2 e defende a taxa como um mecanismo para ajudar a transição para uma economia de baixo carbono.

“Um preço para o carbono e medidas complementares ajudarão a Austrália a permanecer competitiva e vão incentivar o crescimento de setores como energia limpa, eficiência energética e tecnologias de baixo carbono”, afirma a declaração.

 

Oposição Política

O líder do partido liberal, Tony Abbott, é a principal voz contrária à nova taxa e vem angariando apoio de outros partidos e de eleitores conservadores para sua candidatura ao cargo de primeiro-ministro.

“Esta medida aumentará o custo de vida das famílias, deixará os empregos mais vulneráveis e não ajudará em nada o meio ambiente”, afirmou Abbott durante uma conferência nacional do partido Liberal neste domingo (1).

Ele reforçou que se for eleito em 2013 vai abolir a medida. “Vocês podem ter certeza que não haverá taxa de carbono em um governo que eu lidere.”

Em Sidney, mais de duas mil pessoas marcharam nesta segunda-feira (2) contra a taxa, pedindo que as eleições sejam antecipadas.

O ministro de Mudanças Climáticas, Greg Combet, afirmou que a história vai provar que a ´taxa de carbono´ é uma reforma econômica necessária e que foi a “coisa certa a ser feita”.

“Está sendo difícil para o governo, mas é o caminho a ser seguido. A taxa encorajará os maiores emissores desse país a buscar melhores maneiras de produção e novas tecnologias mais eficientes”, declarou Combet.

A Austrália é o maior emissor per capita do planeta e possui 75% de sua geração elétrica baseada no carvão. A taxa sobre o carbono deve representar um corte de 160 milhões de toneladas nas emissões até 2020.

Fonte: Carbono Brasil