O jornal francês Le Monde publicou uma matéria a respeito do projeto de lei que visa acelerar a distribuição e o uso de ainda mais agrotóxicos no Brasil (conhecido como ‘Lei do Veneno’), chamando atenção para os números impressionantes de intoxicação no país. Le Monde também alerta para a ausência de um debate mais profundo sobre um tema complexo.
A imagem da deputada Tereza Cristina (DEM), chamada de “musa do veneno” – “la muse du poison” – e a forte participação da bancada ruralista nas políticas do país fazem parte da matéria da jornalista Claire Gatinois.
“A guerra foi declarada. Desde a aprovação, em comissão especial, do projeto de lei visando acelerar a distribuição de pesticidas, os defensores do meio ambiente se confrontam com o meio agrícola para tentar impedir o voto final do texto, batizado de ‘pacote do veneno’”, escreve a correspondente.
A reportagem do Le Monde descreve as mudanças que ocorrerão caso a lei seja aprovada: “O ministério da Agricultura se tornaria soberano em termos de homologação de produtos químicos. As empresas também seriam responsáveis por apresentar os estudos e análises já prontas, realizadas por seus próprios serviços, que a Anvisa e o Ibama apenas endossariam.”
“É inacreditável. Esse projeto vai totalmente contra o que a população quer. Os membros da comissão viraram as costas à população”, afirma Marina Lacorte, engenheira agrônoma e responsável pelo setor de agricultura do Greenpeace, ouvida pelo jornal.
Le Monde lembra que o Brasil é um dos maiores consumidores de pesticida no mundo e apresenta os números da Anvisa: de um total de 9.680 frutas e legumes analisados, 38% continham traços de pesticidas e 18% de produtos não autorizados. “A perspectiva de uma aprovação do projeto de lei aterroriza”, diz o diário, lembrando que 5% das 522.000 intoxicações registradas pelo ministério da Saúde entre 2007 e 2017 foram provocadas por agrotóxicos.
Resposta vazia
Para a publicação, os grandes produtores de soja veem as pessoas que fazem oposição ao texto como “um bando de anticapitalistas e ambientalistas querendo impedir os interesses do país”, quando a discussão é muito mais complexa do que isso. “A batalha também é semântica: os pesticidas passariam a ser chamados de ‘produtos fitossanitários’ ou ‘produtos de controle ambiental’”, critica a matéria.
“Estão propondo uma solução errada para resolver um problema sério. Se o que querem é uma aceleração da homologação de produtos químicos, é preciso dar mais poder à Anvisa e ao Ibama. Não podemos deixar que interesses econômicos passem por cima das preocupações sanitárias e ecológicas”, afirma Marisa Zerbetto, coordenadora da avaliação e do controle das substâncias químicas do Ibama, entrevistada pelo Le Monde.
Agência Estado