Em carta enviada ao papa Francisco neste mês (1º), o chefe da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, ressaltou que o acesso à água potável e ao saneamento é indispensável para a eliminação da pobreza e da fome. Os dados mais recentes das Nações Unidas mostram que cerca de 4 bilhões de pessoas — quase dois terços da população mundial — enfrentam escassez grave de água pelo menos um mês ao ano.
“Temos um longo caminho à frente para transformar o acesso à água em um direito humano efetivo”, escreveu o dirigente máximo da agência da ONU em carta ao Pontífice.
Graziano lembrou que a encíclica Laudato Si, lançada pelo papa em 2015, “nos ensina a importância do equilíbrio entre o ser humano e a natureza para garantir um futuro sustentável para o nosso planeta”. O documento alerta para a destruição provocada pela humanidade no meio ambiente, com consequências que incluem a perda da biodiversidade, a poluição dos ecossistemas e as mudanças climáticas.
O chefe do organismo internacional também agradeceu a Francisco pela mensagem de apoio a um evento da FAO para o Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março. Graziano afirmou que as palavras do papa “sempre nos inspiram e nos fortalecem na luta por um mundo mais justo e mais solidário, onde a igualdade e a justiça social se transformam em valores ecumênicos”.
“O acesso à água potável e ao saneamento é indispensável para a vida, é a base para manter uma vida saudável e ajudar milhões de pessoas a sair da pobreza e da fome”, acrescentou a autoridade da FAO, que enfatizou a necessidade de preservar os recursos hídricos do mundo.
Graziano lembrou ainda os problemas específicos vividos por mulheres e crianças em regiões onde falta água. Esses grupos às vezes têm que caminhar por horas para chegar a reservatórios e ter acesso a um bem essencial, seja para beber, cozinhar ou cuidar da higiene pessoal.
“É fundamental garantir o acesso adequado à água para essas pessoas vulneráveis. Não podemos evitar que ocorra uma seca, mas podemos, sim, evitar que uma seca resulte em fome e num transtorno socioeconômico”, afirmou o brasileiro.
Experiência brasileira é modelo para projeto da FAO
Na correspondência, Graziano também descreveu uma iniciativa do Brasil que instalou cisternas nas propriedades de agricultores pobres em regiões de seca. Os reservatórios permitiram aos pequenos produtores armazenar a água da chuva, ampliando o acesso a recursos hídricos.
Com base na experiência brasileira, a FAO e seus sócios estão implementando um projeto que visa construir 1 milhão de cisternas no Sahel, a faixa territorial do continente africano localizada logo abaixo do deserto do Saara.
“É essencial educar as novas gerações para o uso e cuidado com a água”, disse Graziano na carta, explicando que muitas pessoas podem contribuir com isso por meio de ações simples, como evitar o desperdício de alimentos e comprar comida produzida de maneira sustentável.
O chefe da agência da ONU concluiu o texto reiterando o compromisso da FAO em continuar cooperando com o papa Francisco e a Santa Sé em todos os temas relacionados à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, em especial na luta contra a pobreza, a fome, a má nutrição, a migração forçada e na promoção da paz.
ONU News