A mudança climática não está tendo um impacto devastador apenas nos ambientes em que vivemos, mas também no que diz respeito aos direitos humanos em todo mundo. O alerta foi feito pelo Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU em Genebra.
A alta comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, citou as guerras civis provocadas por um planeta em aquecimento e a situação dos povos indígenas em uma Amazônia devastada por incêndios e desmatamento desenfreado.
Ela também denunciou ataques a ativistas ambientais, principalmente na América Latina, e os abusos que têm como alvo figuras de destaque, como a ativista adolescente Greta Thunberg. “O mundo nunca viu uma ameaça aos direitos humanos desse escopo”, disse Bachelet ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Bachelet alertou que “as economias de todas as nações, o tecido institucional, político, social e cultural de cada Estado, e os direitos de todos os seus povos e das gerações futuras serão afetados” pelas mudanças climáticas.
A 42ª sessão do conselho foi aberta com um minuto de silêncio pelas vítimas do furacão Dorian nas Bahamas, onde pelo menos 44 pessoas morreram, e milhares de casas foram reduzidas a escombros. “A tempestade se acelerou com uma velocidade sem precedentes sobre um oceano aquecido pelas mudanças climáticas, tornando-se um dos mais fortes furacões do Atlântico a tocar terra”, disse Bachelet.
Pequenos estados insulares baixos, como as Bahamas, estão rapidamente vendo direitos à água, saneamento, saúde, alimentação, trabalho e moradia adequada serem afetados, alertou Bachelet, pedindo uma ação internacional para mitigar os impactos das mudanças climáticas nesses países.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos também denunciou a “aceleração drástica do desmatamento da Amazônia”. “Os incêndios atualmente em toda a floresta tropical podem ter um impacto catastrófico na humanidade como um todo, mas seus piores efeitos são sofridos pelas mulheres, homens e crianças que vivem nessas áreas”, disse.
‘Prevenir tragédias futuras’
Ela pediu às autoridades de Bolívia, Paraguai e Brasil que “garantam a implementação de políticas ambientais de longa data (…), evitando assim tragédias futuras”. Os comentários de Bachelet correm o risco de irritar ainda mais o presidente Jair Bolsonaro, que na semana passada a acusou de se intrometer nos assuntos de seu país depois que ela criticou a deterioração da situação dos direitos no Brasil.
Bachelet também destacou o impacto que a mudança climática está causando na insegurança em todo mundo. A alta comissária citou uma estimativa da ONU de que 40% das guerras civis nas últimas seis décadas estão ligadas à degradação ambiental.
Na região do Sahel, na África, por exemplo, a degradação das terras aráveis “está intensificando a competição por recursos já escassos”, disse. Isso, por sua vez, exacerba as tensões étnicas e alimenta a violência e a instabilidade política, acrescentou.
Bachelet lamentou que aqueles que soam o alarme contra os impactos devastadores das mudanças climáticas sejam frequentemente atacados. Segundo ela, especialistas da ONU “notaram ataques a defensores dos direitos humanos ambientais em praticamente todas as regiões, principalmente na América Latina”.
“Estou desiludida com essa violência e também com os ataques verbais a jovens ativistas como Greta Thunberg e outros, que galvanizam o apoio à prevenção dos danos que sua geração pode carregar”, lamentou Bachelet. “As demandas feitas por defensores e ativistas ambientais são convincentes, e devemos respeitar, proteger e cumprir seus direitos”, completou.
AFP