Sustentabilidade e agricultura: uma reflexão sobre o agronegócio sob a ótica socioambiental


Por Helen Almeida

A temática da sustentabilidade se alinha aos diversos segmentos da vida em sociedade e não seria diferente quando o assunto é a agricultura. Na linha do que já estamos discutindo, agora, vamos migrar do ambiente urbano para o espaço rural. Apesar da distância existente entre as estruturas urbanas e rurais, a sustentabilidade sempre será um ponto de aproximação.

Quando o assunto é o desenvolvimento de atividades no campo, neste espaço direcionaremos o olhar de forma mais pontual à agricultura. Percebe-se a coexistência do grande produtor, que desenvolve a atividade da agricultura voltada para o mercado, e do pequeno produtor, que tem no campo sua fonte de subsistência e perpetuação da vida.

O que não se pode negar é que a atividade desenvolvida no campo tem importância significativa na história brasileira, tanto que se evidencia sua influência no aspecto político, sociocultural, econômico e ambiental.

E, considerando o contexto atual, como falar de agricultura e sustentabilidade?

Vamos lançar um breve olhar sobre a agriculta no aspecto do agronegócio e da agricultura familiar. E hoje, o nosso tema é o agronegócio.

O Brasil se destaque no cenário mundial por sua capacidade produtiva e de exportação de produtos agrícolas, contribuindo de forma significativa para o fluxo de alimentos no globo terrestre. Cite-se como exemplo a produção e exportação de soja, que, segundo dados do CONAB (2018), o Brasil figura no topo tanto na produção quanto na exportação.

Por isso, a discussão do agronegócio no Brasil envolve questões econômicas e socioambientais. Sob o aspecto socioambiental, muito se discute, nos espaços públicos e privados, acerca do avanço da atividade agrícola em área naturais e os efeitos da expansão da atividade no que diz respeito à preservação do espaço, das formas de vida, de proteção da identidade de populações nativas e, por conseguinte de sua cultura, história e identidade.

Outro aspecto que merece significativa atenção é a utilização de recursos hídricos, haja vista que, de acordo com a Agência Nacional das Águas (ANA), o Brasil está entre os países com maior área irrigada, ainda que o maior consumo de água no país e no mundo é a agricultura irrigada.

Por outro lado, com a promessa de melhorar a produtividade e a qualidade da produção, a disponibilidade de produtos, bem como a diminuição dos impactos ecológicos, o investimento em novas tecnologias tem sido cada vez mais presente e cada vez mais frequente. Dentre as políticas adotadas a nível institucional, pode-se destacar o plano Safra 2020/2021 que, segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tem linhas de crédito voltadas para a aquisição de produtos sustentáveis, adoção de práticas com melhor aproveitamento da biodiversidade brasileira. O incentivo é que se possa produzir cada vez mais usando menos.

A temática da expansão das atividades agrícolas é atravessada pela controvérsia sobre a capacidade de produção de alimentos (a nível global) e o melhoramento nutricional dos alimentos produzidos. Esta é, sem dúvida, uma nuance de extrema relevância para o debate, posto que, não raras vezes, o argumento é utilizado como suporte para a defesa da atividade e de sua expansão ao arrepio dos possíveis e eventuais prejuízos socioambientais dela decorrentes. A atividade é indispensável, porque está diretamente vinculada ao abastecimento e à alimentação da população mundial.

Nessas linhas finais, fica o convite à reflexão. Acredita-se que não haja controvérsia quanto à necessidade da atividade para a vida social tanto no nível local quanto global. Mas, é possível pensar formas alternativas de desenvolvimento da agricultura?

O contexto atual de produção e especialmente da pandemia da Covid-19 torna urgente e necessária a reflexão e, mais que isso, o desenvolvimento e a consolidação de novas práticas sociais e, por isso, a agricultura não pode ficar alheia à discussão.

Na próxima semana, e a partir destas linhas inicias, discutiremos sobre a agricultura familiar e a estruturação de novas práticas de produção agrícola.

A construção de um ambiente socialmente equilibrado e sustentável depende do questionamento das práticas atuais e da formulação de ações concretas micro e macroestruturais. Vamos, juntos? Podemos mais!