Cientistas descobriram uma falha do tamanho do Grand Canyon escondida debaixo do manto de gelo da Antártida, que afirmam contribuir para o degelo e a consequente elevação do nível do mar.
A falha, com cerca de 1,5 km de profundidade, 10 km de largura e 100 km de extensão, foi detectada pelos pesquisadores que usaram um radar para medir a topografia subglacial, explicou o glaciologista Robert Bingham, afirmando que a descoberta surpreendeu a equipe.
Os cientistas acreditam que uma retração do manto de gelo da Antártica Ocidental seja responsável por cerca de 10% da elevação do nível do mar provocada pelas mudanças climáticas, que se não for controlada ameaça inundar muitas cidades litorâneas em algumas gerações.
O manto, uma enorme massa de gelo com até 4 km de espessura que cobre a superfície terrestre e se estende até o mar, derrete mais rapidamente do que em qualquer parte da Antártica.
Mas o conhecimento rudimentar dos cientistas sobre a topografia subsuperficial dificultou prever a proporção e a extensão exatas do degelo, destacaram os pesquisadores em um estudo publicado pela revista Nature.
Acredita-se que o vale recém-descoberto, formado muito antes de a região ser coberta por gelo, faça parte de um sistema de falhas muito mais amplo na Antártica Ocidental, "que sabemos que existe, mas não sabemos onde fica", afirmou Bingham.
"Agora temos uma ideia melhor de que partes desse sistema de falhas avançam mais a oeste do que se sabia anteriormente", acrescentou.
O tipo de falha encontrada sob a corrente de gelo Ferrigno é causada quando uma placa continental começou a se partir, como ocorreu com os grandes lagos que inundaram sistemas de falhas em regiões do leste da África atualmente.
"É a forma da falha que contribui para que a região seja vulnerável ao degelo", explicou Bingham.
"Sua localização indica que o gelo se encontra a uma profundidade maior e corre para o interior quanto mais se distancia do mar. Estas duas condições fazem desta uma topografia vulnerável a uma redução da espessura do gelo", ao permitir que águas marinhas quentes cheguem ao interior do continente.
Bingham explicou que a descoberta demonstra que a geologia, e não apenas os fatores climáticos, têm contribuído para o degelo na Antártica.
"Isto muda nossa visão da questão, que era tradicionalmente considerada um efeito moderno do aquecimento global, enquanto o que vemos é que o efeito moderno na verdade se sobrepõe a uma evolução geológica muito antiga", acrescentou.
"Nos ajuda a compreender que o processo todo é algo que ocorre ao longo de muitos ciclos de tempo", continuou.
Os cientistas só exploraram a região uma vez antes desta, em 1961. Agora, especialistas da Universidade de Aberdeen e da British Antarctic Survey realizaram três meses de trabalho de campo em 2010.
"Nós nos voltamos para a região porque vimos, a partir de medições de satélite, que estava ocorrendo uma redução da espessura do gelo", disse Bingham.
"Quando realizamos a varredura descobrimos este vale, mas foi realmente uma surpresa que fosse muito mais profundo e condicionado a esta redução da espessura do gelo do volume do que se esperava", acrescentou.
Fonte: AFP