O Projeto Baleia Franca realiza sobrevoos de monitoramento no mês de julho desde 2002, porém esta é a primeira vez que avista um número tão grande de baleias-francas em Santa Catarina nesta época do ano. O recorde anterior foi em 2009, quando foram registradas 61 baleias no litoral catarinense. Na primeira parte do sobrevoo realizado nessa quinta-feira (26) 62 baleias foram avistadas entre Imbituba e Torres (RS). Já dia 27, no trajeto Imbituba – Lagoinha do Leste (Florianópolis) mais 41 animais puderam ser observados. Do total de baleias identificadas nos dois dias, 32 eram filhotes, muitos deles bastante pequenos, provavelmente nascidos há poucos dias.
No sobrevoo foi possível observar que algumas baleias que estiveram em 2009 em Santa Catarina retornaram esse ano para procriar e ter seus filhotes. A espécie apresenta um ciclo reprodutivo trianual, o que faz com que muitas fêmeas voltem neste intervalo para o nascimento de novos filhotes. “Vimos baleias que estiveram há 3 anos na região. Esse foi o ano quando estavam acontecendo as obras de ampliação do Porto de Imbituba. Ter esses animais retornando ao Estado significa que o trabalho do Projeto deu resultado, que as obras, já concluídas, e monitoradas pelo PBF na época não interferiram no ciclo desses animais”, revela a Diretora de Pesquisa do Projeto Baleia Franca, Karina Groch.
Um filhote de baleia-franca albino também foi observado. De acordo com especialistas o nascimento destes filhotes é raro devido a baixa probabilidade de combinação genética fundamental para proporcionar esta característica ao indivíduo. “Desta vez, avistamos o filhote com sua mãe na praia da Gamboa, uma área refúgio da APA da Baleia Franca, onde passeios de barco para observação são proibidos, privilegiando a observação por terra”, conta Karina. Além do filhote albino, a equipe avistou uma baleia adulta com manchas, também de ocorrência rara, mas possível na espécie.
“O resultado deste sobrevoo pode ser um reflexo do crescimento populacional da espécie e é uma recompensa por nossos esforços de conservação e pesquisa do Projeto Baleia Franca, que este ano completa 30 anos de atividades” comemora Karina.
A equipe avistou duas baleias com pedaços de rede de pesca presos aos animais. Para o Dr. Paulo Flores, Analista Ambiental do Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio, especialista em cetáceos que trabalha com fotoidentificação há 14 anos, essa cena tem sido uma ocorrência frequente nos últimos anos. “Avistamos duas baleias com pedaços de redes de pesca presos nas calosidades da cabeça. Contudo, a maioria desses pedaços de rede se desprende dos animais, conforme comprovam nossos registros. Porém, uma das baleias fotografadas nesta sexta está bastante debilitada fisicamente, o que pode comprometer sua sobrevivência”.
É a primeira vez que a equipe avista uma baleia debilitada como esta. No entanto, Flores alerta que qualquer atitude ou tentativa de aproximação com o intuito de ajuda e desenredamento deste animal ou de qualquer outra baleia-franca é bastante arriscada e ressalta que deve ser demandada e realizada pela autoridade competente e com a devida atribuição, neste caso, o Centro Mamíferos Aquáticos-ICMbio-MMA.
PBF e Santos Brasil
O Projeto Baleia Franca, que este ano completa 30 anos atuando em prol da conservação das baleias-francas no Brasil, é uma ONG, mantida em parceria com a Santos Brasil. O apoio é considerado uma evolução dos trabalhos conjuntos desenvolvidos durante as obras de ampliação do Tecon Imbituba, administrado pela Companhia Docas.
Com a recente ampliação da parceria, além de dar continuidade as avistagens dos animais nas imediações do Tecon Imbituba, a Santos Brasil passou também a apoiar o projeto científico de preservação desenvolvido pela ONG. Os trabalhos englobam atividades de pesquisa e a conservação do habitat, monitoramento, controle populacional (como reconhecimento dos animais a partir da foto-identificação individual), programas de conscientização e formulação de políticas públicas com o objetivo de garantir a convivência harmoniosa entre a atividade comercial do porto e a presença das baleias-francas.
Fonte: Eco Agência