O óleo de palma, também conhecido como azeite de dendê, costuma ser obrigatório nos acarajés e moquecas servidos na Bahia, uma herança da culinária africana. Nem todos sabem, mas esse produto natural também serve como combustível – ou melhor, biocombustível.
Prova disso foi a recente viagem realizada por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que utilizaram duas caminhonetes Ford Ranger e foram até o Peru usando o biodiesel elaborado no laboratório da instituição de ensino. Eles chegaram a Salvador na segunda-feira, 30 de julho. O projeto inédito, chamado Travessia Interoceânica B100, foi desenvolvido em parceria entre a Ford.
O trajeto da Travessia Interoceânica B100, nos seus quase 13.000 km, passou por cinco estados brasileiros (Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre), além do Distrito Federal, indo até o Peru. No teste, foram usadas duas picapes Rangers, uma abastecida com diesel convencional e a outra com 100% biodiesel, energia renovável produzida a partir de óleos vegetais (dendê).
Com o experimento, o grupo pretende chamar a atenção para a necessidade da expansão dos biocombustíveis na matriz energética brasileira, em especial para os benefícios da utilização do biodiesel misturado ao diesel em diferentes proporções em larga escala no setor de transportes.
Essa é uma iniciativa do Centro de Desenvolvimento do Produto da Ford com a Escola Politécnica da UFBA em parceria com o Centro Interdisciplinar de Energia e Ambiente (Cienam) do Laboratório de Energia e Gás (LEN), o INCT – Energia e Ambiente e o Laboratório de Pesquisa em Química (LPQ).
Segundo o professor Ednildo Andrade Torres, responsável pelo projeto, tudo correu perfeitamente na viagem, que foi do Atlântico (Salvador) ao Pacífico (Peru) e retornou. A experiência durou 17 dias (nove de ida e oito de volta), percorrendo um total de 12.350 km. No percurso, eles encontraram altitudes de 4.900 metros e temperaturas de até -8°C, demonstrando a viabilidade do combustível renovável produzido pela UFBA, a partir do dendê.
O azeite de dendê e o óleo de cozinha usados na fabricação do B100 são coletados em hospitais, restaurantes e em algumas residências de Salvador.
Segundo os pesquisadores, apesar de o governo federal apostar mais na plantação de soja, o dendê é mais viável, por produzir mais óleo. Enquanto a soja gera 400 litros de óleo por hectare plantado, o dendê gera 4 mil litros no mesmo espaço.
Fonte: Eco Desenvolvimento