Mineração carbonífera na Índia ameaça tigres-de-bengala


Um novo documento do Greenpeace publicado na última semana revelou que além de contribuir para a poluição da atmosfera, para as mudanças climáticas e para o desmatamento, a mineração de carvão também está colocando em perigo a existência de diversos animais da fauna indiana, em especial o tigre-de-bengala (Panthera tigris tigris).
 


De acordo o relatório, intitulado Como a mineração de carvão está destruindo a terra dos tigres, a Índia, que é atualmente lar de mais da metade dos tigres selvagens do mundo, viu a população desses felinos ser drasticamente reduzida de cerca de 100 mil no início do último século para 1.706 atualmente, devido à caça e à destruição de seu habitat.

E, segundo o documento, uma das principais causas de tal destruição é a mineração carbonífera. O país, que detém a quinta maior reserva de carvão do mundo e é o terceiro maior produtor atrás da China e dos EUA, é também um dos maiores consumidores mundiais do produto, e 80% de sua eletricidade vem dessa fonte.

Por isso, não é de se admirar que a mineração de carvão atinja o habitat de tigres, leopardos (Panthera pardus), elefantes asiáticos (Elephas maximus), ursos-preguiça (Melursus ursinus), e diversas espécies de cervos e antílopes.

Análises do sistema geográfico de informação (GIS) mostram que a mineração carbonífera em apenas 13 dos 40 principais campos de carvão da Índia destruiu mais de 1,1 milhão de hectares de florestas em que tigres, elefantes e leopardos vivem.

Dados oficiais indicam que 18% dessas florestas são conhecidas por serem lares de tigres, 27% de leopardos e 5,5% de elefantes. No total, oito reservas renomadas de tigres serão impactadas, prejudicando cerca de 230 tigres, ou 13% da população desses felinos na Índia.

“Infelizmente para o tigre, seu maior habitat contíguo – a Índia Central – é também onde a maioria do carvão da Índia fica. Muitos dos maiores campos de carvão indianos (como Singrauli e Talcher) incluem áreas florestais adjacentes às reservas de tigres, e onde tigres são encontrados. As minas de carvão já estão ocupando essas áreas, e com a expansão atual, isso piorará”, comentou Ashish Fernandes, autor do relatório, ao mongabay.com.

Além de ameaçar a fauna indiana, o relatório do Greenpeace aponta que a perda das florestas para a mineração também afeta e afetará as populações humanas que dependem das matas para sobreviver.

“As comunidades florestais da Índia dependem de uma variedade florestal produzida para seu próprio uso doméstico e para venda em mercados locais – mel, frutas, flores, sementes, produtos de bambu, lenha. Em muitas áreas, a floresta não apenas complementa outros rendimentos, é o principal rendimento”, observou Fernandes.

“Quando uma floresta é perdida para uma mina de carvão, a comunidade que depende da floresta é forçada a migrar em busca de outras opções – normalmente trabalhos casuais, se disponíveis, ou se mudar para outra área florestal, aumentando a pressão humana nas florestas remanescentes”, acrescentou o autor.

Além disso, o documento também indica que a substituição das florestas por grandes plantações agrícolas e para extração de madeira e grandes obras de infraestrutura estão prejudicando o habitat desses animais e a subsistência dos povos das florestas.

“A Índia está perdendo florestas naturais a uma taxa de entre 1,5 a 2,7% ao ano – alarmante quando você considera que o país já perdeu 70% de sua cobertura florestal. As plantações, no entanto, estão crescendo – normalmente com monoculturas de espécies que crescem rápido, como a acácia”, alertou Fernandes.
 


“As plantações não são um substituto para florestas naturais. O governo indiano está usando seu programa agressivo de plantações para esconder a destruição atual das florestas naturais – principalmente para a mineração, as barragens e outros grandes projetos de infraestrutura”, continuou.

Para combater esse problema, o relatório sugere que uma das soluções é reduzir o uso do carvão como fonte de geração de energia do país. Para substituí-lo, o documento propõe a utilização de fontes renováveis, como a eólica e a solar.

O relatório argumenta que, além de o custo da energia renovável ser menor em algumas regiões da Índia do que a energia carbonífera, a substituição evitaria a escassez de energia que vem ocorrendo em algumas regiões do país, e que no último mês, por exemplo, deixou 700 milhões de pessoas sem eletricidade.

“Para milhares de vilas [remotas], o custo por unidade da maioria das formas de energia renovável nas taxas atuais é consideravelmente menor do que o custo da eletricidade conectada à rede. Em algumas partes da Índia, a energia eólica já está a par com a rede elétrica.”

A troca das fontes fósseis pelas renováveis também ajudaria a diminuir a poluição e as emissões de gases do efeito estufa (GEEs), intensificadores das mudanças climáticas. Mas apesar dos benefícios da substituição, o documento declara que o governo indiano não tem planos de reduzir o uso do carvão; pelo contrário, pretende aumentar a produção nacional do item em 41% até 2017 em relação aos níveis de 2011.

Um dos argumentos da administração da Índia é que os principais emissores e causadores das mudanças climáticas, como os EUA e a Europa, não planejam reduzir o uso do carvão, e que tal substituição prejudicaria seu crescimento econômico.

“Esse jogo só tem perdedores – há boas razões internas pelas quais a Índia precisa abandonar o carvão. Os custos financeiros, sociais e ambientais do carvão para o povo indiano são altos demais”, concluiu Fernandes.

Fonte: Eco Desenvolvimento