Bahia possui grande número de tartarugas híbridas


Mais de 40% das tartarugas que desovam nas praias da Bahia são híbridas, segundo uma série de estudos genéticos. Com pais e mães de espécies diferentes, elas estão indo de encontro com o comportamento básico da biologia evolutiva, de apenas procriar com membros da mesma espécie.

Os motivos para tal comportamento ainda não foi identificado pelos pesquisadores, nem tampouco a implicação no futuro das populações locais de tartarugas. O que eles afirmam é que o acontecimento deve ser levado em conta nas estratégias de conservação dessas espécies, uma vez que todas elas estão ameaçadas de extinção.

Os estudos

Em 2006, foi publicado o primeiro estudo, na revista Conservation Genetics, onde foi revelado que 43% das tartarugas consideradas morfologicamente como Eretmochelys imbricata (tartaruga-de-pente) eram, na verdade, animais híbridos, com parte de seu DNA herdado de Caretta caretta (tartaruga-cabeçuda) ou Lepidochelys olivacea (tartaruga-oliva). Uma taxa muito acima de qualquer outra registrada no mundo.

Atualmente, um novo estudo, publicado na revista Molecular Ecology, amplia o número de tartarugas amostradas e detalha com muito mais profundidade a história dessa mistura genética.

No total foi estudado o genoma de 387 tartarugas, a partir de amostras de tecido coletadas de várias áreas de desova e alimentação ao longo da costa brasileira. Foi constatado que o fenômeno de hibridização está restrito principalmente ao norte da Bahia e, em menos escala, ao sul de Sergipe.

"Mostramos que há, no mínimo, duas gerações de híbridos. Não há como negar isso", afirmou ao Estadão o geneticista Fabrício Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O começo

Considerando que 20 anos é o tempo mínimo que uma tartaruga-marinha leva para atingir a maturidade sexual, os cientistas estimam que a hibridização tenha começado há 40 anos ou mais.
 


"Talvez as fêmeas híbridas sejam mais promíscuas que o normal", especulou Santos. "Sem ter uma espécie definida, talvez elas percam a especificidade e acasalem com qualquer espécie."
 


Com relação à possível infertilidade de um híbrido, Luciano Soares, pesquisador associado ao Projeto Tamar, afirmou que o que acontece é uma diminuição na fecundidade e viabilidade reprodutiva, o que não necessariamente torna indivíduo infértil.

 

As causas
 


Detectado o fenômeno, os pesquisadores desejam saber o que o motivou. E uma das principais hipóteses é que os cruzamentos tenham sido induzidos pelo colapso das populações de tartarugas, pressionadas pela caça de animais adultos e pela coleta de ovos nas praias – práticas ainda comuns no litoral da Bahia até poucas décadas atrás.

"Com populações menores numa área grande, fica mais difícil um macho e uma fêmea da mesma espécie se encontrarem", diz Santos. Em outras palavras: na falta de um parceiro da mesma espécie, acasala-se com quem aparecer na frente mesmo.

Fonte: Eco Desenvolvimento