Ainda que os países industrializados deixem de emitir gases com efeito estufa em 2030, os países em desenvolvimento também devem reduzir suas emissões para conter o aquecimento global a +2º C, afirma nesta terça-feira um estudo também assinado pelo economista britânico Nicholas Stern.
O estudo reconhece a "desigualdade profunda" entre os países ricos, que "construíram seu crescimento utilizando combustíveis fósseis", e "os países pobres, que serão particularmente atingidos pelas mudanças climáticas".
Mas este princípio, defendido pelos países emergentes para não serem submetidos às mesmas exigências que os países do norte quanto à luta contra o aquecimento global, não deve "bloquear o progresso" neste campo, afirma Nicholas Stern, autor de um relatório referencial sobre o custo das mudanças climáticas.
No momento, os esforços da comunidade internacional são "perigosamente lentos", afirmam preocupados Stern e outros dois economistas, Mattia Romani e James Rydge, que advertem que, no ritmo atual, "o nível de risco é imenso".
"As mudanças climáticas que podem ocorrer irão muito além do que o homem moderno já conheceu", dizem.
O estudo foi publicado pelo Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment e pelo Centre for Climate Chance Economics and Policy, no âmbito das negociações sobre a luta contra as mudanças climáticas, que devem terminar na sexta-feira em Doha.
Estas negociações conduzidas pela ONU devem culminar em 2015 com um acordo global, que comprometa todos os países na luta contra as mudanças climáticas, e não apenas os países industrializados, como é o caso do Protocolo de Kyoto, cujo parágrafo II deve ser assinado em Doha.
Segundo o estudo, para ter uma oportunidade "razoável" de evitar um aquecimento de +2º C, marca para além da qual os cientistas acreditam que o sistema climático pode se acelerar, seria preciso reduzir as emissões de gases de efeito estufa de 50 bilhões de toneladas por ano a 35 bilhões de toneladas em 2030.
"Com base nas ações lançadas atualmente, os países em desenvolvimento devem emitir 37-38 bilhões de toneladas em 2030, enquanto as emissões dos países ricos seriam de 11-14 bilhões de toneladas", ou seja, dois terços do total contra um terço em 1990, segundo o estudo.
Os autores afirmam: "a aritmética para chegar a +2º C é muito clara: os países em desenvolvimento deverão fazer um maior esforço, inclusive se os países desenvolvidos reduzirem suas emissões a zero em 2030".
"Atualmente, a China representa 25% das emissões de gases de efeito estufa no mundo, contra os 17% dos Estados Unidos e 11% para a União Europeia".
Em seu conjunto, a comunidade internacional "atua como se as mudanças fossem muito difíceis e caras, e como se esperar não fosse um problema", afirmam os autores, que também criticam "a rigidez do processo de negociações na ONU e a atitude de alguns dos participantes".
O estudo, no entanto, ressalta "os fortes sinais de atividade e criatividade em todo o mundo".
"Acelerar o ritmo das mudanças em direção a uma economia com baixos níveis de carbono é, ao mesmo tempo, factível e crucial, e, com os incentivos adequados, uma transformação rápida é possível, inclusive em setores como a energia, que requerem muitos capitais".
Fonte: AFP