Saneamento ecológico


                

Indo na contra mão do que é oferecido pelo governo como tratamento básico dos dejetos que produzimos, a saneamento ecológico surge como uma alternativa sustentável de tratamento das águas sujas que saem das nossas casas. Dentro do contexto de bioconstrução, como já foi publicado nesta outra matéria, a conscientização de que é preciso viver neste planeta em harmonia com a natureza é possível e urgente.

Morar sem poluir, esse é o tema que é preciso difundir ao maior número de pessoas possíveis. Divulgar para um melhor entendimento de que o nosso lar pode ser sustentável e auto-suficiente em energia, alimentos e tratamento do esgoto. Assim quebramos a dependência para com os monopólios governamentais e privados que nos impõem comida com agrotóxicos e venenos, energia suja e um ineficaz e poluente tratamento do esgoto.

A idéia mais difundida de saneamento ecológico é o banheiro seco, tecnologia simples e econômica, utilizada em diversos países do mundo desde a antiguidade. Transforma fezes e urina humana em adubo orgânico para agricultura. Não utiliza ou desperdiça água no sanitário. Utilizado corretamente garante saúde e dinamiza ambientes. É um instrumento de saneamento que atende as necessidades do homem e melhora sua relação com a natureza, assegurando: saúde pública, engajamento comunitário e preservação ambiental.

Contudo, adotar tais práticas nos leva a romper barreiras construídas ao longo dos anos pelo molde da vida urbana. “As principais barreiras para a difusão destas soluções são: os aspectos culturais e psicológicos que dificultam a aceitação, e o receio de usar estes compostos na agricultura. A mentalidade urbana, principalmente, tende a rejeitar os banheiros secos. As pessoas ligam o banheiro com descarga à idéia de civilização de luxo. E isto não está correto e não é sustentável. Futuramente creio que será natural esta mudança de pensamento. O que falta para as iniciativas darem certo são programas de conscientização, treinamento e educação para mudar esta percepção.” defende Mariana Chrispim, gestora ambiental que pesquisa esta tecnologia na USP.

Usar a natureza para processar nossos dejetos não é voltar a um passado e nem é um ideal idílico da vida no campo. Pelo contrário, é uma tentativa de fechar o ciclo e otimizar as vantagens da própria natureza que ‘criou’ este ciclo e vem funcionando a milhões de anos.

Outras possibilidades que o saneamento ecológico nos fornece, são:

– Biodigestores: O biodigestor é um ambiente fechado se deposita matéria orgânica para sofrer decomposição anaeróbica (sem oxigênio no ar) e gerar biogás. A matéria orgânica pode ser esgoto doméstico, esterco, lixo orgânico ou outro material orgânico. O biogás produzido pelo biodigestor é formado principalmente por metano (CH4) e gás carbônico (CO2) e pode substituir o gás de cozinha (gás butano) e ser utilizado como combustível do fogão. Com o biogás, também é possível realizar aquecimento de água e de ambientes e também gerar eletricidade. 

 

– Reuso das águas cinza: Geralmente, separamos o que chamamos de águas cinza, das águas negras. As águas cinza são as águas residuais das pias e do banho e tem um tratamento mais simplificado. O tratamento primário realiza-se através de caixa de gordura e filtro de areia. Depois, a água segue para um canteiro de plantas, hortaliças e árvores, onde alimenta as raízes destas plantas e de outras espécies, produzindo muito alimento.

– Fossa Séptica, Filtro Aeróbico e Vala de Evapotranspiração: As águas negras são as águas residuais dos sanitários e contém grande carga de poluentes. Estas águas devem ser tratadas com maior cuidado, num sistema mais complexo. As águas negras podem ser tratadas pela seqüência de fossa séptica, filtro anaeróbico e vala de evapotranspiração. A fossa séptica retém os sólidos e realiza a primeira fase do tratamento. O filtro anaeróbico realiza a segunda etapa do tratamento biológico e a vala de evapotranspiração, é a última fase do tratamento, onde o restante dos nutrientes são absorvidos pelas raízes de plantas de caule lenhoso. Estas plantas podem ser frutíferas, tornando o sistema de saneamento bastante produtivo. Este sistema é capaz de realizar uma grande retirada dos resíduos e pode receber também as águas cinzas.

Em um país como o Brasil onde quatro em cada 10 residências não possui saneamento básico adequado, a implantação de um saneamento ecológico se torna uma solução viável economicamente e eco-eficiente. Gerando mais saúde, diminuindo consideravelmente a poluição gerada pelos dejetos, e preservando o meio ambiente.

Fonte: Revista Sustentabilidade ; ONU

Laísa Mangelli