A agropecuária e as emissões de gases de efeito estufa


Cálculos indicam que as emissões dos diversos GEE liberados pela agropecuária brasileira aumentaram praticamente 45% desde 1990.             

Por Marina Piatto, Maurício Voivodic e Luís Fernando Guedes Pinto*

Além de ser um pilar da economia nacional e a atividade produtiva que ocupa a maior área do território nacional, a produção agropecuária passou a estar entre os principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa do Brasil, respondendo por cerca de 30% do total.

A contabilidade das emissões oficiais brasileiras é realizada a cada cinco anos pelo Inventário Brasileiro, de responsabilidade do governo federal. Todavia, dada a crescente importância das mudanças climáticas, a sociedade civil brasileira decidiu assumir o protagonismo e estimar anualmente as emissões nacionais, com o fim de identificar tendências e antecipar propostas de políticas e ações para reduzi-las.

Isso foi realizado pela primeira vez este ano, com base numa adaptação do método do Inventário Brasileiro, para as emissões de 2012, mas também para toda a série histórica entre 1990 e 2012. A iniciativa é do Observatório do Clima, uma rede de entidades da sociedade civil que tem como objetivo discutir as mudanças climáticas no contexto nacional e influenciar políticas no Brasil e fora dele.

Entre seus membros, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) foi o responsável por liderar o cálculo das estimativas da atividade agropecuária.

Os cálculos indicam que as emissões dos diversos gases de efeito estufa liberados pela atividade aumentaram praticamente 45% desde 1990, atingindo 440 milhões de toneladas de carbono equivalente em 2012. Somando-se esse volume às emissões de energia, mudança no uso da terra e resíduos, também associadas à agropecuária, o setor do agronegócio passa a responder por cerca de 61% do total das emissões brasileiras.

As emissões acompanham o crescimento do setor, que aumentou em área e produtividade no mesmo período, mas é necessária uma análise entre o aumento da produção e o aumento relativo das emissões.

Quanto temos sido eficientes (ou não) no aumento da nossa produção em relação às emissões? Esta é uma pergunta que deve passar a ocupar papel central na pesquisa e desenvolvimento da produção e formulação das políticas agrícolas.

Uma análise inicial das emissões também aponta dois elementos centrais a serem enfrentados pelo setor. O primeiro é que a pecuária de corte é a principal responsável pelas emissões, acumulando 65% do total do setor. Tudo indica que este é o setor em que é possível ocorrer as maiores reduções de emissões, com custo relativamente baixo, a partir do aumento da governança, da adoção de boas práticas e da intensificação da produção. Além disso, as reduções das emissões podem vir acompanhadas de outros benefícios ambientais e econômicos, sendo, portanto, a prioridade para o futuro.

O segundo destaque fica para o significativo aumento das emissões decorrentes do uso de fertilizantes químicos, principalmente os de nitrogênio. Entre 1990 e 2012, elas saltaram de 6,5 milhões para 29,3 milhões de toneladas de carbono equivalente.

Se, na pecuária, a intensificação pode combinar aumento de produtividade com diminuição de emissões, no caso do nitrogênio cabe uma análise aprofundada da equação intensificação-produtividade-emissões.

A novidade das estimativas do Observatório do Clima e do Imaflora é que houve uma ligeira diminuição das emissões da agropecuária em 2012, em relação ao ano anterior. Mas não há muito que comemorar, pois tudo indica que decorre de uma diminuição circunstancial da área produtiva de algumas culturas.

De todo modo, esta pequena redução das emissões da agropecuária parece estar mais correlacionada a aspectos econômicos (como expansão ou retração da área cultivada, preço e intensidade de uso de insumos) ou fatores externos do que a um planejamento para a eficiência do setor ou a busca por menores emissões.

Todavia, devemos destacar que já há uma política pública relevante para conduzir a transição da agropecuária brasileira para uma produção de baixo carbono. O Plano ABC começou lentamente, mas tem o papel e a responsabilidade de financiar esta transição. E já tem um observatório monitorando a sua execução e impacto, o que esperamos que colabore para que caminhe rumo ao seu objetivo original.

Estamos no início do entendimento da questão sobre produção agropecuária e gases de efeito estufa. A iniciativa do Observatório do Clima é um farol que se soma ao fundamental mecanismo oficial do Inventário Brasileiro e nos ajuda a entender as grandes tendências e a formular perguntas para serem aprofundadas em 2014.

Devemos ressaltar que a agropecuária, diferentemente da maioria dos outros setores, também é um grande capturador potencial de gases de efeito estufa e a estimativa citada somente trata das emissões, e não do balanço do setor.

* Os autores deste artigo atuam no Imaflora. Marina Piatto (foto) é responsável pela Iniciativa Clima e Agricultura; Maurício de Almeida Voivodic é secretário executivo ; e Luís Fernando Guedes Pinto é gerente de certificação agrícola.

Fonte: Instituto Ethos 

Termômetro do campo


O Brasil ganha um instrumento inovador para controlar as emissões rurais de carbono, tirar o agronegócio da condição de vilão do ambiente e aumentar as exportações.

Por Ricardo Arnt

A primeira ferramenta de mensuração das emissões de gases de efeito estufa na agropecuária, o GHG Protocol Agropecuária, acaba de ser lançada no mercado, desenvolvida por uma parceria do World Resources Institute (WRI) com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade de Campinas (Unicamp). O instrumento oferece diretrizes, parâmetros e um programa específico para medir as emissões em empresas rurais, auxiliando a gestão do agronegócio e a expansão da agricultura de baixo carbono em novos mercados. Na prática, funciona como um termômetro de carbono.

Após dez anos de controle da febre de desmatamento da Amazônia (que chegou a desmatar 29 mil km2 num ano, em 1995), a agropecuária virou a segunda maior fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) no país. Em 2012, o Brasil perdeu para a Indonésia o título constrangedor de campeão mundial do desmatamento, mas é o sétimo maior emissor de GEEs e assumiu compromissos globais para reduzir as emissões e preservar o clima e os recursos naturais, no âmbito do Protocolo de Kyoto.

O GHG Protocol é a ferramenta voluntária de gestão de gases-estufa mais usada no mundo, mas seus parâmetros foram estabelecidos em países de clima temperado. Talvez por isso, entre as 106 empresas brasileiras que já o adotam e publicam inventários de emissões regularmente, há apenas uma do setor de “agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura”. Agora, esse quadro pode mudar. 

Um grupo poderoso de exportadores – JBS Friboi, Duratex, Grupo Maggi, Marfrig, BP Biofuels e Bunge – ajudou a testar os critérios e os parâmetros para definir uma ferramenta de gestão de emissões para a agricultura tropical, considerando seus diferentes biomas, práticas de adubação e os tipos de pastagem do país. “A JBS foi convidada pelos fundadores do GHG, que sentiram a necessidade de criar uma metodologia exclusiva para o Brasil, baseada na agricultura e na pecuária de clima tropical”, confirma Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade do grupo. “Sozinho, o setor já responde por um terço das emissões de todo o país”, ressalta.

De fato, “o Brasil consolidou-se como celeiro fornecedor de alimentos ao mundo, mas ao mesmo tempo estamos entre os maiores emissores de gases de efeito estufa”, ressalta Rachel Biderman, diretora do WRI-Brasil. “Considerando a redução das emissões com mudanças do uso da terra, devido à queda do desmatamento, a agropecuária está se tornando uma das maiores fontes de emissões e já produz 29,7% do CO2 bruto do país” (veja quadro acima). Neste ano é provável um novo recorde na produção de grãos e oleaginosas (como algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo). 

Controlar as emissões de GEE é um imperativo para sustar o aquecimento do planeta e expandir as exportações para a Europa e os Estados Unidos. Além disso, a gestão de emissões de gases proporciona aumento de competitividade das empresas, controle de riscos operacionais e de reputação, identificação de oportunidades de redução e sequestro de emissões, venda de créditos de carbono, conservação de energia, melhorias na qualidade do solo e no uso da água e aumento geral de produtividade. 

É importante, entretanto, que o sistema não se torne mais uma burocracia intransponível para o produtor rural. “Acho difícil, porque é fácil de usar. Trata-se de uma planilha Excel com 15 perguntas, baseadas no inventário de gases do Ministério de Ciência e Tecnologia, adaptadas para a realidade da nossa agricultura”, afirma o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa, que ajudou a formatar o termômetro de carbono agrário. “O fazendeiro vai respondendo e no final sabe quantas toneladas de CO2 produz ou sequestra.”

Várias práticas agropecuárias são geradoras de emissões. “Tem a fermentação entérica dos animais (a flatulência, produtora do gás metano), o cultivo do arroz, a queima de resíduos, a preparação dos solos com fertilização de nitrogênio e o cultivo de organossolos”, explica Biderman. “Também há emissões relativas a atividades associadas, como produção de energia e conversão de uso do solo, de floresta para pastagem ou de um tipo de lavoura para outro.”

Fronteira tecnológica

Poucos países no mundo estão em condições de atender à demanda crescente de alimentos num planeta que terá 9 bilhões de habitantes, em 2030. “O Brasil pode aumentar a atual colheita de 193 milhões de toneladas de grãos para 350 milhões, em 2050, sem desmatar nem mais um hectare”, afirma Assad. “Basta intensificar a agricultura, integrar lavoura, pecuária e floresta e disseminar o plantio direto.” O país já  desmatou cerca de 150.000 km2 de florestas, em parte cultivados e em parte degradados.

Hoje, as fronteiras agrárias estão no Vale do Araguaia, em Mato Grosso, onde pastagens exauridas estão sendo substituídas por lavouras de soja e milho, e no chamado Bamatopi, a área de Cerrado da Bahia, Maranhão, Tocantins e Piauí, que já responde por 10% da soja e 15% do milho produzidos no país. Pelo menos 50 mil km2 de pastagens degradadas podem abrigar sistemas integrados de lavoura- pecuária-floresta com tecnologia de sustentabilidade. “A agricultura sustentável é o maior aliado do meio ambiente. Podemos produ- zir mais com sistemas agroflorestais e preservar o que resta da Amazônia e do Cerrado”, diz Assad. 

Para os especialistas, a diversifi cação e a integração da produção agrícola, pecuária e florestal numa mesma propriedade, em rotação ou em cultivo consorciado, são a fronteira do aumento da competitividade no campo. Nos últimos 20 anos, as safras têm crescido mais do que o espaço ocupado por culturas, melhorando a produtividade do setor. Em Mato so, a Embrapa Agrossilvipastoril está calculando as emissões de GEEs dos vários sistemas de integração possíveis – lavoura-pecuária, lavoura-floresta, floresta- pecuária e lavoura-pecuária-floresta – para quantificar a cobrança de créditos de carbono. “Só na Amazônia já temos 19 sistemas agroflorestais formatados com rotação de grãos, pastagens e plantio de árvores definidos”, diz Assad. “O que nos falta é transferir tecnologia para o produtor e para a agricultura familiar, para além da classe média rural e das grandes empresas.” 

Para tanto, o governo lançou, em 2010, o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC), que oferece subsídio e financiamento a juros baixos (4,5% ao ano), no Banco do Brasil e no BNDES, para recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura- pecuária-floresta, reflorestamento e redução das emissões de carbono. Vinte mil contratos já foram assinados. A meta é chegar a 70 mil.

Em maio, foi regulamentado o funcionamento da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) – a sucessora da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), extinta pelo governo Collor, em 1990, com a demissão – e o desperdício – de 1.500 extensionistas rurais. A missão da Anater é alavancar a assistência técnica rural e coordenar o Plano ABC. Mas a agência ainda está longe de funcionar, embora já tenha uma sede construída, em Jaguariúna (SP). Nem a diretoria foi nomeada.

Vanguarda ambiental

Ninguém duvida que a agricultura de baixo carbono possa aumentar  a vantagem competitiva do agronegócio tropical. Enquanto a Europa considera novidade o plantio direto (o sistema de manejo do solo que mantém os resíduos vegetais na superfície, garantindo fertilidade e proteção contra erosão), no Brasil ele já é a norma. Em junho, a revista americana Proceedings of the National Acadea m b i e n t e my of Sciences publicou um estudo afirmando que ao diminuir a aragem de terra (tornando- a mais clara e capaz de refletir a luz do sol), o sistema retém o carbono no solo e diminui a temperatura local em até 2ºC. “Eles estão muito atrasados”, observa Assad. “No Brasil, mais de 50% das propriedades já praticam formas de plantio direto para preservar o solo e controlar pragas.”

Em Chapadão do Céu, em Goiás, Carine Schneider, diretora do Grupo Wink, contou à PLANETA que sua empresa começou a fazer plantio direto em 1991 e logo avançou para a integração lavoura-pecuária. “Acoplamos uma caixa nas plantadeiras John Deere para, no momento em que plantamos milho, na entrelinha de uma carreira para outra, liberar semente de capim e plantar pastagem. Antigamente, as sementes eram lançadas ao solo de avião, mas o nosso sistema é muito mais eficiente.”

A Wink está interessada no GHG Protocol Agropecuário, mas teme pela sua operacionalidade. “Precisa ser algo claro, palpável e não burocrático. Precisamos aprender a inserir essa ferramenta em nossas atividades. Mas a renda dos créditos deve ficar mais na mão de quem trabalha para isso: o produtor," ressalta.

A empresa inscreveu quatro projetos no Plano ABC. “Encaminhamos mais dois este ano. Com os recursos, melhoramos nossos pastos, ampliamos a área de integração lavoura-pecuária e corrigimos melhor o solo, aumentando a produção”, afirma Schneider. “Acho que podemos avançar no mercado mundial porque teremos mais produto para comercializar produzido de maneira ambientalmente correta e economicamente mais viável.” 

O grupo Bunge, que atua com mais de 16 mil fornecedores no Brasil, dispõe de certificações ambientais nas áreas de biodiesel e de soja, mas os parâmetros e as metas não refl etiam a realidade da sojicultura brasileira. “Agora temos diretrizes feitas no Brasil, que vão acelerar a gestão agrícola para adequação a nichos mais exigentes do mercado”, ressalta Rodrigo Spouri, especialista em sustentabilidade do grupo.

André Nassar, diretor da consultoria Agroícone, acha que a ferramenta facilitará a produção rural. “A inovação não está no instrumento, mas na perspectiva de o setor começar a utilizar as emissões como fator de performance. É importante ter fornecedores de carne, cana-de-açúcar e soja com garantias de legalidade e conformidade ambiental. Quem emite menos deve ser premiado.” Rachel Biderman lembra que há disposição internacional para definir um novo acordo mundial com metas de redução de emissões na COP- 21, marcada para 2015, em Paris. “Daqui a dois ou três anos o Brasil pode aprovar leis de redução de emissões que afetem o agronegócio. O produtor rural que fizer antes a lição de casa sobre a sua pegada de carbono terá uma vantagem considerável.” 

A oportunidade está diante das empresas. Enquanto a Europa, apesar de possuir solos mais férteis, produz durante seis meses do ano, a agricultura tropical proporciona três colheitas e “safrinhas” durante o ano inteiro. Com a agricultura de baixo carbono, a vantagem tecnológica será intensificada. Num primeiro momento, o termômetro de GEE do campo poderá ser útil para 1 milhão de proprietários rurais médios e 500 mil grandes produtores.  Mas se chegar à agricultura familiar o patamar cresce. Há 5,6 milhões de propriedades rurais no país. 

 

 

 

Comida para o mundo

Em 2013 o agronegócio exportou US$ 100 bilhões e importou US$ 17 bilhões. O saldo positivo de US$ 83 bilhões ameniza o déficit comercial do país e estabiliza a economia. Este ano, a safra de grãos atingiu 193 milhões de toneladas. Em três décadas, ela deverá crescer 40% para atender à demanda de alimentos de um mundo com 9 bilhões de pessoas. Veja, ao lado, o que o Brasil produz e quem compra.

 

 

Fonte:Revista Planeta 

A possibilidade da Conciliação entre Produção e Conservação Ambiental


   Com base em situações reais encontradas em Mato Grosso, o livro "Plantar, Criar e Conservar: Unindo Produtividade e Meio Ambiente", vem relatar que é possível se associar a diversificação das atividade agropecuárias, intensificação da produção, o respeito aos recursos naturais e geração de renda.

 

   É um grande desafio tanto do ponto de vista técnico, quanto do ponto de vista econômico, o planejamento de uma propriedade rural que adeque a produção agropecuária à conservação ambiental. Esse é o tema do livro " Plantar, Criar e Conservar: Unindo Produtivividade e Meio Ambiente", lançado pelo ISA e pela Embrapa com apoio da Usaid. A publicação, que foi organizada por Natália Guerin e Ingo Isernhagen, traz uma série de textos que abordam vários temas relevantes à diversificação produtiva e preservação ambiental.

   De forma Didática, as ilustrações e fotos mostram exemplos de restauração ecológica, explicando o que são categorias como APP, RL e o que é restauração ecológica entre outros conceitos. Um resumo das leis em vigor que tutelam a adequação ambiental das propriedades rurais abre o livro. Há dois capítulos específicos que apresentam o passo a passo da implantação de modelos e sistemas produtivos, com o bom manejo das pastagens. E os últimos dois capítulos tratam da apicultura e piscicultura, atividades que vem despertando o interesse dos produtpres regionais, além de ter potencial de geração de renda.

   A bibliografia é vasta, e é composta por publicações acesspiveis à consulta, além de sites que estão disponíveis aos leitores interessados. A publicação contou com o apoio da TNC (The Nature Conservancy), do EDF (Environmental Dfense Fund), do Funbio e do ICV (Instituto Centro de Vida).

O livro pode ser acessado pelo link: http://www.socioambiental.org/sites/blog.socioambiental.org/files/nsa/arquivos/livro-baixa.pdf

Notícia retirada do site: http://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/publicacao-mostra-que-e-possivel-conciliar-producao-e-conservacao-ambiental