Crise de água em São Paulo pode ser “ponta do iceberg” de crise nacional


Faltam investimentos, mas oportunidade para cobranças é ótima: especialista em recursos hídricos explica como chegamos até aqui e o que sociedade e governo devem fazer para evitar uma catástrofe regional de abastecimento

Fonte: Catraca Livre

Não precisa morar em São Paulo, basta ter lido alguma notícia sobre a cidade nos últimos meses para ter encontrado a expressão “crise da água” escrita em algum lugar. A metrópole passa, às vésperas das eleições, por uma situação delicada. O chamado “volume morto” do Sistema Cantareira já está em uso e a Sabesp estuda utilizar um nível ainda mais profundo de suas águas. O mesmo deve ser feito com oAlto TietêCachoeiras estão secando e o nível de alguns rios está baixando. Apesar da negativa de racionamento do governo estadual, falta água com frequência para parte dos moradores da região metropolitana. Por causa disso, empresas reduziram suas atividades e, segundo a Fiesp, 3 mil demissões já ocorreram apenas em São Paulo.

As imagens da TV Folha ilustram bem a situação.

       

Um estudo aponta que essa situação poderia ter sido evitada se, nos últimos quatro anos, R$ 22 bilhões tivessem sido investidos em abastecimento – valor semelhante ao gasto com a Copa do Mundo. A situação é de crise, mas também de oportunidade. Exemplos dentro e fora do Brasil mostram possíveis caminhos. Mas todos têm que agir.

“O Sistema Cantareira pode ser só a ponta de um enorme iceberg chamado crise de água no Brasil. Os demais estados do Sudeste caminham para o mesmo destino. E a ‘culpa’ é de todos: da estiagem, do consumo e, principalmente, da gestão”. Quem afirma isso é Glauco Kimura de Freitas, biólogo e especialista em recursos hídricos da WWF-Brasil.

Gestão deve ser prioridade

 

Kimura explica que o tripé estiagem, consumo e gestão é o grande responsável pela crise. Mesmo assim, e apesar da falta de chuvas, a ação humana tem peso grande. Para ele, a população não tem consciência do uso cotidiano da água. “Quase tudo que fazemos envolve água”, conta. “Uma xícara de café que você toma na padaria precisou de água para ser feita. Mas ninguém pensa nisso.”

Segundo uma pesquisa realizada pela WWF em parceria com o Ibope, 82% dos brasileiros acreditam que o Brasil terá problemas com falta de água no futuro e 70% reconhecem que desperdício, consumo exagerado e poluição são os motivos. Mas 60% confessam ter pouco controle sobre os gastos e 84% nunca ouviram falar dosComitês de Bacia.

domínio público

domínio público

O reservatório Paulo de Paiva Castro, em Mairiporã, faz parte do Sistema Cantareira, que se encontra atualmente em um estado bem diferente do da foto.

A falta de atenção ao tema, na opinião do especialista, se reflete na falta de ações dos governantes. O Governo do Estado afirmou em várias declarações ao longo do ano que o período anormal de estiagem, e não a gestão, deveria ser culpado pela crise. A Sabesp diz, em nota, que “estamos enfrentando a maior período de falta de chuvas registrada nos últimos 84 anos” e que “não há rodízio, racionamento nem restrição de consumo em nenhum dos 364 municípios atendidos pela empresa”.

“O Brasil sempre foi um privilegiado, mas assim como dinheiro, não se pode gastar toda a água que você tem sem pensar no futuro”, explica Kimura. “Nós temos uma das melhores legislações do mundo quanto ao tema, com a Política Nacional de Recursos Hídricos, mas ela não é utilizada da forma correta.”

O que fazer de imediato

“As ações tomadas pelo governo, ao incentivar a economia de água, são boas, mas devem ser lembradas sempre, não apenas em momentos de crise”, defende Kimura. Além da conscientização, contudo, algumas atitudes podem ser tomadas pelas administrações responsáveis.

Segundo o especialista, “a curto prazo, três ações devem ser tomadas: incentivar o uso racional, como já vem sendo feito, sanar os vazamentos, consertando os sistemas de distribuição, e recuperar as nascentes”.

Dados da Sabesp mostram que 40% do volume total de água, quatro de cada dez litros disponíveis para consumo, ficam pelo caminho. 

                             

As perdas de água (erros de medição, fraudes e vazamentos) correspondem a 40% de todo o volume produzido pela Sabesp.

 

A situação dos mananciais também é complexa. Segundo um estudo do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da POLI-USP, metade de toda a área da região metropolitana de São Paulo está localizada em mananciais da Bacia do Rio Tietê. São 21 municípios de um total de 39 – a maior parte deles está poluída.

 

Exemplos a seguir

 

 

A crise de água pode ser a oportunidade ideal para que os recursos hídricos passem a ser discutidos entre governos e sociedade civil. E há bons exemplos que podem servir de inspiração.

No Brasil

reprodução governo de minas gerais

reprodução governo de minas gerais

Consideradas como uma tecnologia simples e barata, as cisternas adaptam o homem ao ambiente semiárido, onde chove muito durante pouco tempo e chove pouco durante muito tempo.

No semiárido brasileiro, onde a crise existe de forma perene, a solução adotada foram as cisternas, estruturas feitas de alvenaria e instalada próximas às casas. A água da chuva é captada dos telhados por meio de calhas e armazenada em reservatórios de 16 mil litros, capazes de garantir água para atender uma família de cinco pessoas em um período de estiagem de aproximadamente oito meses. “Trata-se de uma tecnologia simples e barata”, explica Kimura. “É um ótimo exemplo pois mostra que é mais fácil e mais barato o homem se adaptar ao meio ambiente do que o contrário.”

Lá fora

Na década de 1990, Nova York, nos Estados Unidos, se encontrava em meio a uma crise como a que passa São Paulo. A solução adotada foi uma nova política ambiental. Ao constatar que várias fazendas do entorno da cidade possuíam mananciais, a prefeitura decidiu pagar para que os proprietários rurais tratassem seus esgotos, preservassem as nascentes e desenvolvessem projetos de recuperação e conservação.

reprodução ny water

reprodução ny water

Ao calcular suas despesas, a prefeitura de Nova York concluiu que seria mais barato preservar a água do que tratá-la.

“Na época, eles fizeram as contas e chegaram à conclusão de que os gastos para preservação de mananciais eram menores do que para tratamento de águas poluídas”, lembra Kimura. “Todos saíram ganhando: a administração diminuiu gastos, os produtores rurais passaram a receber incentivos financeiros e a população a ter acesso a uma água de excelente qualidade”.

 

 

R$22 bilhões

Se prontamente algumas medidas podem ser tomadas para amenizar a crise e evitar danos ainda maiores, a médio e longo prazo a opção, de acordo com o especialista em recursos hídricos Glauco Kimura, é apena uma: investimento.

 

Em 2011, um estudo da Agência Nacional de Águas concluiu que, dos 5565 municípios brasileiros, 55% poderiam ter déficit no abastecimento de água dentro de poucos anos. Desses, 84% necessitavam de investimentos para adequação de seus sistemas produtores. Se R$ 22 bilhões fossem investidos até 2015, explicava a agência, essa situação poderia ser regularizada. A ANA não sabe dizer, atualmente, quanto desse montante foi investido.

“Claro que é difícil investir em água sendo que há saúde, emprego, moradia, educação e transporte como demandas da sociedade”, explica Kimura. “Mas sem água não haverá nada disso, então precisa investir. Ainda mais se pensarmos que o investimento para a Copa do Mundo foi de R$ 25,6 bilhões.”

portal da copa

portal da copa

“Ao Brasil não faltam nem recursos hídricos nem legislação. Falta colocar a água como prioridade nas agendas de governo e investir nisso”, diz Glauco Kimura, biólogo e especialista em recursos hídricos da WWf-Brasil.

 

 

Dois anos após crise de energia nuclear, o Japão inaugura sua maior usina solar


A Kyocera, empresa japonesa de eletrônicos, inaugurou neste mês a maior usina solar do país asiático. A instalação pode fornecer energia para 22.000 lares – e, o que deve ser o mais importante, ela não corre o risco de derreter, ferir trabalhadores ou espalhar água radioativa no Oceano Pacífico.

           

A usina tem um nome bem imponente – Mega Usina de Energia Solar Kagoshima Nanatsujima – e localiza-se em uma enseada no extremo sul do Japão, o que significa que é bastante segura mesmo em ameaças de tempestades e tsunamis – embora esteja nas sombras de Sakurajima, um vulcão ativo. Mas não importa o que aconteça ao longo das próximas décadas, Nanatsujima não representa quase nenhuma ameaça para as comunidades próximas.

O desastre de Fukushima não é o único fator favorecendo a expansão da produção de energia solar no Japão. O país instituiu um programa de grande escala para encorajar a construção de novas usinas – e, mais importante de tudo, incentivar consumidores a escolherem energia solar no lugar de formas mais tradicionais de energia, altamente poluentes.

Esta política, que começou em 2012, é chamada “tarifa de energia”. Em sua essência, ela subsidia o alto custo da energia solar em relação a outras fontes – oferecendo pagamentos a proprietários de usinas solares para cobrir parte dos seus custos. Como o Washington Post explicou em junho, o sistema de energia solar do Japão deve dobrar em tamanho neste ano graças à “explosão” das usinas:

“A tarifa de energia é um legado de Naoto Kan, o impopular primeiro ministro japonês da época do desastre de Fukushima, que decidiu após os vazamentos que a energia atômica era perigosa demais para um país com tanta possibilidade de terremotos. Então, Kan fez um acordo com o partido de oposição: ele renunciaria após o parlamento cooperar na aprovação de algumas medidas legislativas, incluindo um projeto de lei de energia renovável que estabeleceu a tarifa.”

            

Em resumo, Kan sacrificou sua carreira política em troca de um acordo para encorajar o uso de energia solar no país. Dois anos depois, parece que ele acertou ao fazer isso.

Fonte: http://gizmodo.uol.com.br

Laísa Mangelli

A crise do setor energético e a síndrome de país rico.


Entrevista especial com Luiz Augusto Horta Nogueira

 

“Um país como o Brasil, que tem competência técnica na Petrobras e nas universidades, ter de ficar de joelhos diante da situação que estamos vivendo em relação à energia, é inacreditável”, critica o engenheiro.

Foto: www.itevaldo.com

“O Brasil vive uma situação de crise completa no setor energético; é impressionante como dessa vez se uniram as graves crises do setor elétrico, as crises do setor de petróleo e a crise do setor de biocombustíveis.” A avaliação é de Luiz Augusto Horta Nogueira, em entrevista concedida àIHU On-Line por telefone. Segundo ele, o atual quadro do setor energético brasileiro pode ser explicado pelo abandono da eficiência energética em um conjunto de ações não realizadas pelo governo brasileiro.

Horta esclarece que, “no setor de petróleo, a produção brasileira está estagnada desde 2008”. A descoberta de novos poços de pré-sal, contudo, não parece sinalizar para um avanço no setor.

Por enquanto, enfatiza, “há uma ‘peleia’ feia dentro dos governos federal, estaduais e municipais para saber quem vai se apropriar da renda do pré-sal, quando essa renda não existe. É como um grupo de familiares disputando uma herança que sabe-se lá se virá”.

Além disso, o reconhecimento internacional da produção de biocombustíveis não garante que o país consiga manter eficiência interna nessa área. “A importação de combustível no Brasil é crescente e preocupante porque o país gastará, nos próximos anos, por ano, 15 bilhões de dólares. (…) No setor de biocombustíveis, 60 usinas estão paradas, fechadas, porque se passou a usar mais gasolina e menos etanol. A razão para isso é muito simples: o governo tirou todos os impostos da gasolina e os transferiu para a Petrobras, que está com o preço abaixo do mercado internacional”, informa. Para completar o quadro, “a situação do setor elétrico é de descontrole total por conta do preço de venda de energia elétrica muito inferior aos valores de geração”, assinala.

De acordo com o engenheiro, a saída da crise do setor energético depende de uma aposta em eficiência energética. “Se melhorar a eficiência ao longo de todas essas correções, não é preciso utilizar tantos recursos naturais, nem expandir tanto o sistema energético. Muitos países vêm priorizando a eficiência energética para enfrentar a expansão da demanda.

Existem países como a Dinamarca que, nos últimos 20 anos, não agregaram potência, substituíram por centrais eólicas”, exemplifica.

Luiz Augusto Horta Nogueira é professor da Universidade Federal de Itajubá – Unifei. É graduado em Engenharia Mecânica pela Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestre e doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Foi Cientista Visitante na FAO e Diretor Técnico da Agência Nacional do Petróleo entre 1998 e 2004.

Confira a entrevista.

Foto: www.procelinfo.com.br

IHU On-Line – Tecnicamente, quais são os indicativos de que o Brasil enfrenta uma crise no setor energético? Quais são as áreas do setor energético que mais enfrentam problemas?

Luiz Augusto Horta Nogueira – O Brasil vive uma situação de uma crise completa no setor energético. É impressionante como dessa vez se uniram as graves crises do setor elétrico, as crises do setor de petróleo e a crise do setor de biocombustíveis, que sempre foi muito importante no Brasil. Então, trata-se de uma crise completa e as indicações são claras: o preço da energia elétrica da indústria subiu a tal ponto que diversas indústrias estão fechando, há um risco crescente de faltar energia, todas as térmicas estão operando, quando deveriam estar em uma condição regular, e os reservatórios então em um nível muito baixo.

No setor de petróleo, a produção brasileira está estagnada desde 2008, e a previsão do governo é de que estivéssemos produzindo 3,5 milhões de barris no começo de 2014, mas ainda não saímos da produção que se tinha em 2008-2009. A importação de combustível no Brasil é crescente e preocupante porque o país gastará, nos próximos anos, por ano, 15 bilhões de dólares. É um absurdo, considerando a riqueza energética que o país tem. No setor de biocombustíveis, 60 usinas estão paradas, fechadas, porque se passou a usar mais gasolina e menos etanol. A razão para isso é muito simples: o governo tirou todos osimpostos da gasolina e os transferiu para a Petrobras, que está com o preço abaixo do mercado internacional. Então, a prática de preços irreais do combustível e da energia elétrica está matando o setor de biocombustível, e não tenho dúvida de que o Brasil enfrenta uma crise muito grave, a qual só não é mais grave porque há uma retração na economia. Além disso, o setor industrial está caindo 6%, e isso faz com que o consumo de energia, que é importante na indústria, também reduza 6%. Isso representa um alívio, mas é um alívio falso. Portanto, não tenho a menor dúvida de que há uma crise generalizada envolvendo todos os setores, e as implicações são claras. As únicas pessoas que não veem essa crise são aquelas que estão desinformadas ou grupos de pessoas do governo.

 

"Os únicos que são contra a promoção de medidas que valorizem a eficiência são aqueles que produzem energia"

IHU On-Line – Entre as propostas do governo para resolver a crise do setor energético está a de investir na construção de novas hidrelétricas, mas essa proposta recebe críticas por conta das implicações sociais apontadas pelos ambientalistas. Como avalia essa proposta?

 

Luiz Augusto Horta Nogueira – O Brasil tem uma malha de recursos muito diversificada. Quando imaginamos qual é o futuro desejável do setor elétrico, do setor de energia do Brasil, temos de levar em conta as expectativas de crescimento do país: o Brasil ainda gasta relativamente pouca energia porque está em desenvolvimento, mas precisamos utilizar mais energia, e aí vamos ver quais recursos estão disponíveis. Nesse sentido, o recurso hidrelétrico é muito importante, e estou entre aqueles que defendem — desde que respeitando todas as restrições ambientais — que os recursos hidrelétricos sejam explorados de uma forma sustentável, e isso é possível. Uma das alternativas ao setor elétrico é principalmente a energia nuclear, algo que não me parece desejável em um país que tem tudo que nós temos, porque esta opção traz riscos para a humanidade e tem um alto custo.

Apesar de a exploração de recursos hidrelétricos ser interessante, o que vem sendo feito no Brasil é uma subexploração, porque não se pode falar em construir hidrelétricas com reservatórios na Amazônia. Contudo, a ausência de reservatórios reduz muito o potencial razoável a ser explorado.

Qual a perspectiva de geração de energia diante desse problema? Diria que isso tem de ser trabalhado melhor, a sociedade tem de ser mais bem informada. A Usina de Belo Monte é um excelente exemplo: ela mostrou como artistas da Rede Globo foram capazes de acuar o governo, e o ministro Lobão, que não é do ramo, ficou todo “comprimido” e tomou uma decisão equivocada, porque falaram que tribos do Xingu — que não têm nada a ver comBelo Monte — seriam afetadas, falaram uma série de bobagens, que estamos investindo muito dinheiro em uma central que não é a melhor central. Uma central como a de Belo Monte vai ter uma potência instalada de 12,5 mil megawatts para gerar só quatro em termos médios, porque não se pôde fazer um reservatório em uma área onde havia centenas de índios, que tranquilamente poderiam ter sido transferidos, lógico, de uma forma mais negociada, para uma área mais adequada. Mas a nação brasileira precisa olhar com cuidado quais são as suas alternativas e respeitar o direito das minorias.

Não tenho qualquer interesse na construção de hidrelétricas, não sou dono de empreiteiras — quem está preocupado com elas é esse governo —, mas entendo que é saudável para a sociedade brasileira promover o desenvolvimento da hidroeletricidade. Países como Canadá e Noruega, dois bons exemplos, têm grande parte da sua energia produzida por hidrelétricas. Então, é falacioso o argumento de que hoje o Brasil tem muita hidrelétrica e pode partir para a termelétrica. Nós temos um tremendo potencial de água. Como diz um grande poeta brasileiro, Thiago de Mello“O Brasil é a Terra do sol e a pátria das águas”.

Portanto, não precisamos usar combustível para gerar eletricidade e muito menos energia nuclear. A energia hidrelétrica é uma opção.

Quando as pessoas discutem o problema energético, fala-se sempre da produção e não se observa que a energia vem da natureza ao longo de uma cadeia, de uma sequência de processo, e que o uso racional, os hábitos corretos de uso de energia, a eficiência energética são muito importantes. Contudo, os governos do presidente Lula e da presidente Dilma mataram o que nós tínhamos de eficiência energética no Brasil. O país tinha uma série de programas, entre eles o Procel, que foi esvaziado. Desde então, passou a ser algo vergonhoso falar em “economizar energia”.

"É um absurdo um país que tem a nossa base energética não tributar a gasolina; é coisa de país irresponsável"

IHU On-Line – Quais foram os erros cometidos no setor elétrico nesses últimos 12 anos?

Luiz Augusto Horta Nogueira – A energia é produzida a partir de recursos naturais e vai sendo transformada, distribuída até chegar aos pontos de uso do cidadão, para movimentar os carros, para acender as lâmpadas da nossa casa, os eletrodomésticos, tudo isso veio da natureza ao longo de uma sequência de processos. Nesses processos existem perdas, existem ineficiências. Portanto, se melhorar a eficiência ao longo de todas essas correções, não é preciso utilizar tantos recursos naturais, nem expandir tanto o sistema energético.

Muitos países vêm priorizando a eficiência energética para enfrentar a expansão da demanda. Existem países como a Dinamarca que, nos últimos 20 anos, não agregaram potência, substituíram por centrais eólicas, por exemplo. Muitos países desenvolvidos e em desenvolvimento, para citar o exemplo de UruguaiChile e México, têm programas de difusão de equipamentos eficientes, são programas de promoção de hábitos corretos de uso.

No Brasil já tínhamos esses programas, a exemplo do Procel, das etiquetas. Pergunte para o pessoal da Eletrobrascomo está a situação hoje. Nós temos uma situação de desânimo, as equipes foram desmontadas. Então, quando você me pergunta qual foi o erro, foi um erro crasso, grave, de abandonar a eficiência energética em um conjunto de ações de governo no equacionamento dos problemas energéticos.

Síndrome de país rico

Isso é um efeito, uma síndrome de país rico, que na literatura é chamado de maldição dos recursos naturais. Veja a situação de países como a Venezuela, a Argentina, de certa maneira, e a Bolívia, para pegar três exemplos de países vizinhos. São países onde a existência de recursos energéticos fartos promove desperdício, promove uma irresponsabilidade no uso desses recursos. A Venezuela abastece um carro com menos de um dólar, e isso passou a valer no Brasil também. Em função de o Brasil ter o pré-sal, a presidente deve ter pensado que não era necessárioeconomizar energia. Um país que tem a riqueza do Brasil não precisa ser sovina.

Mas o uso eficiente é uma atitude inteligente; é assim que o mundo enfrenta essa situação e isso vale para o Japão, a China, o Canadá.

Basta ver que os aparelhos de ar-condicionado mais eficientes do mundo hoje estão na Ásia. O Brasil deixou isso de lado. Tem uma agenda que precisa ser recuperada.

IHU On-Line – Qual a expectativa em relação aos novos poços descobertos em São Paulo, e como vê a política do governo no sentido de leiloá-los?

Luiz Augusto Horta Nogueira – O pré-sal é um recurso importante, e tomara que a sociedade brasileira e o governo tenham a responsabilidade e a sabedoria de usar esse recurso, que é finito e que poderá prover bem-estar, educação e mudanças substantivas na qualidade de vida. Trata-se de um recurso ainda superdimensionado, porque não sabemos sua dimensão; o risco tecnológico na exploração é grande, mas é ótimo o Brasil ter um pré-sal.

Fui diretor da Agência Nacional de Petróleo – ANP, acompanhei o desenvolvimento dessas primeiras descobertas, sustentadas já desde os anos 2000. Existe uma série de países que têm reservas abaixo das reservas comuns, e o Brasil teve a sorte, como o México, de encontrar petróleo em volumes significativos.

Agora, entendo que não precisava fazer uma mudança legislativa para explorá-lo, não vejo nenhuma razão para criar mais uma empresa estatal, modificar o regime de cobranças e taxas do governo, ou seja, a participação governamental. Não existe motivo para isso porque a legislação brasileira — e isso é reconhecido no meio acadêmico — é correta. Há um regime que cobra royalties em um nível razoável, e se a rentabilidade é alta, existe a chamada participação especial, que aumenta essa partilha. Portanto, foi muito mais uma ação de caráter político que gerou o estancamento nesse processo, porque o Brasil ficou anos sem fazer licitação, e há uma “peleia” feia dentro dos governos federal, estaduais e municipais para saber quem vai se apropriar da renda do pré-sal, quando essa renda não existe. É como um grupo de familiares disputando uma herança que sabe-se lá se virá.

IHU On-Line – Como se explica a estagnação dos biocombustíveis se o Brasil é um dos maiores produtores de soja, e cada vez mais aumenta a produção de cana-de-açúcar no Centro-Oeste?

Luiz Augusto Horta Nogueira – De novo temos aí uma tempestade imperfeita com uma série de alterações importantes no setor. No quadro dos biocombustíveis, o etanol é o mais importante, porque o biodiesel ainda está crescendo, é importante em algumas regiões do Brasil, mas ele não é nem 10% do programa do etanol.

Brasil produz etanol para combustível desde 1931 e em 1975 foi incrementado o seu uso com o Pré-álcool — e nesse sentido o Brasil tem uma história longa e respeitada, o mundo todo olha para o Brasil com atenção nesse aspecto.

Aos torcedores de outros países que estão vindo para a Copa, certamente chama a atenção quando veem “etanol” nos postos de combustíveis. Nenhum país tem essa produção e usa tanta energia renovável. É até bonito pensar que, alguns meses antes de você ter o álcool no posto, esse álcool não era outra coisa senão luz do sol e água, que foram transformadas em açúcar e depois em álcool: é energia absolutamente renovável.

"O PNE é um avanço, mas é uma pena que nada do que está proposto aconteceu"

Mas o que aconteceu com o etanol brasileiro?

Apesar de ter aumentado a produção em áreas que antigamente não eram ocupadas por canaviais, em algumas áreas do cerrado, por exemplo, a produtividade caiu e foi introduzida massivamente a colheita mecanizada. Esse foi um aspecto positivo no sentido de que não há mais cortadores de cana-de-açúcar, mas essas mudanças tecnológicas reduziram a produtividade. Além disso, noBrasil, o álcool disputa o mercado com a gasolina. A gasolina e o álcool são os combustíveis dos nossos carros hoje, e você decide como quer abastecer, porque os carros são flex. Só que o governo começou a segurar o preço da gasolina, que, no Brasil, praticamente não se move nos últimos oito anos; o que está acontecendo são pequenos ajustes. Enquanto isso, a Petrobras teve mais de 30% de reajustes. E como ela se mantém? Com o governo tirando os impostos da gasolina. O imposto mais importante da gasolina é zero. É um absurdo um país que tem a nossa base energética não tributar a gasolina; é coisa de país irresponsável.

Então, ao trazer o preço da gasolina para um nível tão baixo, o mercado de álcool encolheu e as usinas foram fechando, e como o mercado das usinas havia se expandido demais — porque se expandiu rapidamente em cima daqueles consumidores de álcool —, o mercado de álcool caiu mais de 40%. Quando o mercado encolhe dessa forma, o Brasil começa a importar gasolina e se torna um grande importador desse combustível; ano passado foram gastos mais de três bilhões de dólares com isso. Imagina o que faríamos com três bilhões de dólares. Nós fechamos as usinas produtoras de etanol e passamos a importar gasolina. Esse gasto público, essa enorme importação de gasolina, se deu a um preço de 130 dólares o barril, para vender internamente a 70. Então quanto mais vende, mais perde a Petrobras.

IHU On-Line – Essa crise poderia ter sido contida antes?

Luiz Augusto Horta Nogueira – A crise tem vários componentes e motivos. Mas o principal agente que levou a essa situação que estamos vivendo — e que nem todo brasileiro percebe — foi uma ação de governo, uma ação populista, no sentido de acreditar que, porque o país tem grandes recursos, não precisamos usá-los de modo eficiente. Por isso, política pública em energia é decisivo, mas o Brasil abandonou as políticas. A presidente Dilma foi secretária de Energia no Rio Grande do Sul; eu não sei o que ela fez ou deixou de fazer, mas se ela fez no Rio Grande do Sulmetade do que ela fez como ministra de Minas de Energia, e está fazendo como presidente, vocês devem estar muito mal.

Um país como o Brasil, que tem competência técnica na Petrobras e nas universidades — que produz o etanol da forma que produz, que produz centrais hidrelétricas do modo como produz — ter de ficar de joelhos diante da situação que estamos vivendo em relação à energia, é inacreditável. É evidente que se trata de uma questão que não está associada à falta de recursos, ao contrário, está associada à incompetência absoluta de quem está nos administrando.

IHU On-Line – Há alguma estimativa de quanto é o consumo de etanol no país?

Luiz Augusto Horta Nogueira – O Brasil reduziu a participação do etanol no mercado. Essa produção já chegou a 50% do mercado de veículos leves que usam gasolina ou álcool. Hoje caiu para menos de 30%. Trata-se de uma queda muito grande devido ao preço. Mas, por outro lado, está todo mundo contente com o preço da gasolina, porque o governo tirou os impostos. O Tesouro abriu mão disso, compensou a Petrobras de alguma maneira, mas ela não está satisfeita porque está importando gasolina a um preço de 130 e vendendo a 70.

Como para o consumidor não houve mudança, nós até temos a ilusão de que as coisas estão indo bem.

Veja, a situação do setor elétrico é de descontrole total por conta do preço de venda de energia elétrica muito inferior aos valores de geração. O gás natural que está chegando a Uruguaiana está sendo despachado desde Buenos Aires, quer dizer, compramos um gás natural imperfeito — porque a Argentina não tem mais gás —, o qual é transportado por um gasoduto da Argentina e é queimado em Uruguaiana para gerar eletricidade. Vamos pegar um exemplo: essa energia está saindo de lá por mais de 800 reais o megawatt/hora, mas o governo não quer passar esse valor para o público. Então, está criando um papagaio, criando uma dívida que vai ser liquidada a partir do ano que vem, para ninguém reclamar agora. Mas é uma dívida que está sendo paga para as concessionárias que têm de comprar essa energia.

No ano passado foram 9 bilhões de reais, agora já tiraram 12 bilhões e as concessionárias estão pedindo mais 8 bilhões de reais. Os consumidores não estão percebendo isso. Essa conta está sendo jogada para o ano que vem, e quem estiver no poder vai ter de pagar essa conta.

IHU On-Line – Como foi elaborado o Plano Nacional de Energia – PNE 2030? Esse planejamento pode dar conta de resolver a situação atual?

Luiz Augusto Horta Nogueira – Uma das coisas boas que o governo fez foi estabilizar a área de planejamento por meio da Empresa de Pesquisa Energética – EPE. Foi ela que começou a gerar os planos de longo prazo — nós até já tínhamos os planos, mas esses planos eram setoriais, mais curtos. O Plano Nacional de Energia – PNE 2030 já está sendo substituído paulatinamente pelo Plano Nacional 2035. Esse plano segue a lógica de uma visão de que o governo tem de colocar a base de recursos e sinalizar a perspectiva de expansão da demanda, e a sociedade tem exposto, no Plano, um percurso que será feito.

"Ao trazer o preço da gasolina para um nível tão baixo, o mercado de álcool encolheu e as usinas foram fechando"

PNE é um avanço, mas é uma pena que nada do que está proposto aconteceu. O governo falava que o PNE deveria promover 10% de economia de energia do setor elétrico. Está lá sinalizado: a demanda vai crescer dessa forma em função do crescimento da população e da economia, só que o consumo de energia elétrica vai crescer um pouco menos porque nós vamos promover eficiência. Aí volto àquela questão: o que o governo fez em relação à eficiência? Não é que não fez nada; desfez o que estava feito. O plano seria interessante, mas fica inócuo quando não temos medidas de governo, estratégias que acompanhem essa sinalização dos planos no longo prazo. Qualquer que seja o próximo governo, DilmaAécioEduardo, tem de valorizar essa estabilidade de planejamento, expor esses planos para a sociedade, as suas implicações, e valorizar a eficiência.

IHU On-Line – Como pensar a eficiência energética se há uma disputa política muito acirrada?

Luiz Augusto Horta Nogueira – Os únicos que são contra a promoção de medidas que valorizem a eficiência são aqueles que produzem energia, cujo negócio, cuja renda vem da venda de energia. Quem perde é quem vende energia, porque vai vender menos. Agora, no setor energético desordenado, sem condição, onde as empresas impõem políticas, não está acontecendo nada. Nós precisamos resgatar a expansão e a tutela do setor energético brasileiro e aí a eficiência vai ter o espaço dela. O Brasil já fez uma série de ações importantes, precisamos recuperar isso.

Fonte: IHU – Unisinos

Por que São Pedro sozinho não vai tirar São Paulo da seca


              

Com o passar dos dias e a intensificação da estiagem histórica na Cantareira, fica cada vez mais cristalino que tem algo fora do eixo na gestão da água do Estado de São Paulo. É fato que São Pedro não tem sido lá muito amigo dos paulistas nestes primeiros meses de 2014. Desde dezembro, o Estado de São Paulo vive sua pior estiagem em mais de 80 anos. Agora, acender vela para que o apóstolo abra as portas do céu e faça a água cair sobre as represas sedentas não é a solução mais racional.

 

Aqui em terra, a preservação e proteção desse recurso é responsabilidade de todos, mas sua correta gestão recai, principalmente, sobre o poder público. Caprichos da natureza não são suficientes para justificar que o Estado com o maior PIB do país e lar de 10% da população brasileira esteja à beira de um colapso d´água.

 

Com o passar das semanas e o aprofundamento do drama da Cantareira, que atingiu seu pior nível ontem, de 12,5%, fica cada vez mais cristalino que tem alguma coisa errada na gestão da água paulista. A suspeita é reforçada pela recente admissão pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) de que existe, sim, risco de ocorrer rodízio de água, caso os níveis dos reservatórios da companhia no Estado de São Paulo não sejam restabelecidos. Essa informação não consta em algum relatório recente feito na esteira da crise paulista, mas no relatório de sustentabilidade de 2013 da empresa divulgado esta semana.

 

Até aí tudo bem, não fosse pelo fato da afirmação ir de encontro à negativa repetida a exaustão ao longo das últimas semanas pelo governo de Geraldo Alckmin de que "São Paulo não terá racionamento de água".

 

Afinal, quem tem razão?
 

Faz pelo menos quatro anos que o Estado de São Paulo está a par dos riscos de desabastecimento de água na Região Metropolitana. Em dezembro de 2009, o relatório final do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, feito pela Fundação de Apoio à USP, não só alertou para a vulnerabilidade do sistema Cantareira como sugeriu medidas cabíveis a serem tomadas pela Sabesp a fim de garantir uma melhor gestão da água.

 

O estudo afirmava que o sistema da Cantareira tinha "déficits de grande magnitude". Entre as recomendações feitas pelo relatório estavam a instauração de processos de monitoramento de chuvas e vazões do reservatório e implementação de postos pluviométricos. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o promotor Rodrigo Sanches Garcia, do Grupo Especial de Defesa do Meio Ambiente, afirmou que a Sabesp já tinha conhecimento sobre a necessidade de melhorias há mais tempo.

 

"Na outorga de 2004, uma das condicionantes era que a Sabesp tivesse um plano de diminuição de dependência do Cantareira. O grande problema foi a demora de planejamento", contou.

 

Investigação
 

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) vai instaurar, ainda nesta semana, um inquérito civil para esclarecer a crise no Sistema Cantareira. Além de considerar a falta de chuvas sobre as bacias hidrográficas que alimentam a Cantareira nos primeiros meses do ano, o inquérito vai apurar informações sobre a possibilidade de erros de gestão da Sabesp.

 

À frente do inquérito está o 1º Promotor de Justiça do Meio Ambiente da capital, José Eduardo Ismael Lutti. Referência em matéria de direito ambiental, o promotor já fez críticas públicas à possíveis falhas dos órgãos competentes pelo abastecimento de água e ao próprio governo Alckmin.

 

"Temos o pior sistema de gestão de recursos hídricos que se pode imaginar", afirmou durante evento em São Paulo, em março, numa crítica direta a possíveis intervenções políticas.

 

"Político não serve para ser gestor onde o conhecimento técnico tem que imperar. Nosso sistema de abastecimento está no limite há no mínimo quatro anos, e o que foi feito para evitar o colapso?", questionou.  Segundo Lutti, a recusa por parte do governo em falar em racionamento tem conotações políticas claras, já que estamos em pleno ano eleitoral.

 

Ações de emergências
 

Com a crise instalada, entraram em cena algumas medidas de emergência na tentativa de amenizar o problema.

 

De saída, a Sabesp ofereceu desconto de até 30% na conta para quem economizasse água. Com a adesão popular e controle dos desperdícios, a medida já economizou volume suficiente para abastecer uma cidade do tamanho de Curitiba.

 

Outra medida, essa menos popular por várias razões, foi a tentativa de provocar chuva artificial, um processo chamado de semeadura de nuvens, ao custo de R$ 4,5 milhões. Especialistas em meteorologia olham com reservas a técnica, que é alvo de controvérsias, por sua eficácia e possíveis efeitos indesejados no meio ambiente.

 

Já que não chove nas represas, a investida mais radical será recorrer a obras para retirada do chamado volume morto, um reservatório que está abaixo do nível alcançado hoje pelo sistema de captação. Mas mesmo essa água extra tem limite, dá para garantir líquido extra na torneira por cerca de quatro meses. Outra alternativa, que depende menos do estado e mais da disposição dos vizinhos, é a proposta de construir um canal para retirar água da bacia do Rio Paraíba do Sul, que abastece o Rio de Janeiro.

 

É polêmica. Para especialistas da área, retirar água do Paraíba do Sul pode antecipar um colapso de abastecimento para o povo fluminense. Agora que a crise já está instalada, começam a sair do papel projetos antigos que podem proteger a cidade de futuros colapsos.

 

É o caso da construção de um novo reservatório de água, em Ibiúna, fruto de parceria público-privada, prevista para ser concluída em 2018.

 

A natureza, mas quem escuta?
 

Todas essas ações tomadas quando a crise já está instalada mostram que a solução vai muito além da boa vontade de São Pedro. A natureza fala e os sinais são claros. Mas estamos dando a devida atenção? O colapso do sistema da Cantareira é uma tragédia anunciada há tempos.

 

Verões mais intensos e com padrões de chuvas alterados são sinais de mudanças no padrão climático. O verão de 2014 foi o mais quente de São Paulo em 71 anos. Além dos termômetros em alta recorde, o verão também trouxe tempo seco sem precedente e a falta de chuva, que levaram as principais represas à situação de estresse hídrico.

 

Não há estudo que mostre a relação direta entre o aquecimento do planeta e as altas temperaturas registradas por aqui. No entanto, com a tendência de aquecimento dos últimos anos, verificados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPPC), os extremos climáticos tornam-se mais comuns.

 

Escolhas
Em agosto de 2014, a outorga do Sistema Cantareira deverá ser renovada. Na ocasião, o governo paulista vai alterar dispositivos, ao menos é isso que se espera. Vai decidir quanto de água o sistema poderá prover por dia, que regiões serão abastecidas, e com que prioridade.

 

"Se a decisão for baseada em critérios técnicos, a vazão total deveria ser reduzida", escreveu o biólogo Fernando Reinach, em coluna no jornal Estado de S. Paulo.

 

"No futuro, teremos mais anos com pouca chuva e mais anos com um grande excesso de chuvas. Para garantir o suprimento de água nos anos secos, os reservatórios deveriam ser administrados com uma folga maior. Menos água pode ser retirada, e os níveis médios devem ser mantidos mais altos", diz.

 

Em carta, publicada no site da Agência Nacional de Águas, a Sabesp pede a renovação da outorga do sistema Cantareira. O documento de 43 páginas não menciona a redução da captação de água, apenas reitera que um estudo para diminuir a dependência do sistema Cantareira será apresentado, dentro de 30 dias após contrato firmado. Caberá ao governo decidir quanto de água poderá sair.

 

Se seguir o pensamento técnico e determinar a redução da captação diária, não sobrará outra alternativa à Sabesp ou outras empresas candidatas que não implementar de imediato novas soluções.

 

Se tudo permanecer do jeito que está, só vai restar acender vela para São Pedro, mesmo.

 

Fonte: Exame

Laísa Mangelli