Ativistas são presos em protesto no Palácio do Planalto


Membros do Greenpeace protestam contra óleo nas praias do Nordeste em frente ao Palácio do Planalto nesta quarta-feira (23) (Greenpeace/Instagram/Reprodução)

O Greenpeace realizou protesto nesta quarta-feira (23), em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, contra a política ambiental do governo Jair Bolsonaro (PSL). Os manifestantes colocaram tinta preta no asfalto para simbolizar o óleo derramado nas praias do Nordeste. Também espalharam madeira queimada, que teria sido recolhida de locais de extração ilegal na Amazônia.

Segundo a organização não governamental (ONG), 17 ativistas foram detidos pela Polícia Militar do Distrito Federal e levados à delegacia. O Greenpeace havia informado anteriormente que foram 23 presos, mas corrigiu o número. Em frente ao Planalto, foram postas placas com as mensagens “Pátria queimada, Brasil”, “Um governo contra o meio ambiente” e “Brasil manchado de óleo”.

O protesto mobilizou tropas da PM, além da equipe de segurança do Palácio do Planalto. O trânsito em frente à sede do governo foi bloqueado. Segundo o Greenpeace, a tinta utilizada é uma mistura não tóxica de tapioca maisena e anilina.

Por volta de 9h45, a entidade aceitou levar os manifestantes para o outro lado da via e liberar o tráfego para carros em frente ao Planalto. Mas disse que manteria a instalação com tinta e madeira. “Esse protesto é contra a política ‘antiambiental’ e de desmonte da gestão e proteção ambiental promovida por este governo”, disse Thiago Almeida, porta-voz de clima e energia do Greenpeace.

O governo Bolsonaro tenta contornar as críticas sobre a demora para agir contra o avanço do óleo. Na segunda-feira (21), o presidente em exercício, general Hamilton Mourão (PRTB), anunciou que o Exército reforçaria a limpeza das praias e admitiu que a medida era uma forma de dar “mais visibilidade” às ações do governo.

“O governo precisa colocar em prática de maneira efetiva e eficiente o plano nacional de contingência, que tanto demorou para acionar. E, claro, encontrar o ponto de origem para procurar causa e punir”, disse o porta-voz do Greenpeace.

O protesto foi feito durante viagem do presidente Bolsonaro à Ásia. O general Mourão está no Palácio do Planalto. Segundo os manifestantes, o protesto sem a presença de Bolsonaro foi uma coincidência.

Em nota, a Polícia Militar do Distrito Federal informou que cerca de 30 ativistas participaram do protesto e levaram troncos de árvores e tinta preta misturada com óleo e amido de milho para frente do Palácio do Planalto.

“Os manifestantes foram encaminhados à 5ª DP e poderão responder pela Lei 9.0605/98, a qual dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente”, diz a nota.

O presidente em exercício, Hamilton Mourão, ironizou o protesto do Greenpeace em frente ao Palácio do Planalto. “Vou convidar o Greenpeace para ajudar a recolher o óleo lá (no Nordeste) em vez de jogar aqui”, disse Mourão.

O general declarou não ser contra protestos, mas defendeu limites para não atrapalhar o tráfego de carros. “Democracia é isso. Única coisa que penso é que poderia fazer protesto sem bloquear o trânsito”, disse.

Salles: ‘ecoterroristas’

Nas redes sociais, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, criticou a ação do Greeapeace. “Não bastasse não ajudar na limpeza do petróleo venezuelano nas praias do Nordeste, os ecoterroristas ainda depredam patrimônio público”, escreveu Salles.

O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, também ironizou o protesto. “Nunca se importaram com o que dizem se importar realmente. Se animam somente com outra coi$a e estão dificultando para eles! Fácil entender tudo que está acontecendo nesse caso”, publicou o filho de Bolsonaro.

Agência Estado

Greenpeace acusa multinacionais americanas de cumplicidade no desmatamento no Brasil


Greenpeace registrou a colheita de soja plantada em área embargada, onde não deveria haver produção, dentro do Condomínio Cachoeira do Estrondo Foto (Victor Moriyama / Greenpeace)

Duas gigantes agrícolas, as americanas Cargill e Bunge, são acusadas, em um relatório recente, pelo Greenpeace de cumplicidade no desmatamento e expropriações no Brasil, o que as duas empresas negam.

No boletim “Cultivando Violência” tornado público na terça-feira (3), a organização de defesa do meio ambiente aponta os vínculos da Bunge e Cargil, maiores exportadoras da soja produzida no Cerrado brasileiro, com uma fazenda em particular.

Aberta em 1978 em Formosa do Rio Preto, no estado da Bahia, a fazenda Estrondo, que explora suas terras e aluga uma parte a fazendeiros, estende-se oficialmente sobre 305.000 hectares.

O Greenpeace afirma que Cargill e Bunge “operam silos dentro dos limites da propriedade e compram soja diretamente de suas plantações”.

Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, a fazenda Estrondo é fruto da “apropriação ilegal de 444.000 hectares” de terras, incluindo uma parte do território de comunidades tradicionais, estabelecidas na região há mais de 200 anos.

Enquanto uma decisão judicial provisória de 2017 garantiu a propriedade de 43.000 hectares a essas comunidades, os habitantes locais denunciam a construção em seu território de guaritas para vigias pagos pela fazenda Estrondo, bem como várias tentativas de intimidação e de violência contra eles, uma versão rejeitada pelos responsáveis da fazenda.

A fazenda Estrondo também é acusada de “desmatamento ilegal”, “inclusive com alegações de que licenças de desmatamento na propriedade tinham sido obtidas de forma fraudulenta” em 2002.

O Greenpeace afirma ainda que identificou em abril uma safra de soja “cultivada ilegalmente em uma área embargada” pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama), o que o grupo também contesta.

“O fato da Cargill e Bunge ainda manterem relações com Estrondo é inaceitável, visto que existe uma série de irregularidades e episódios de violência”, declarou à AFP Cristiane Mazzetti, uma responsável do Greenpeace no Brasil.

90% de rastreabilidade

As duas multinacionais americanas negam qualquer relação comercial com as sociedades proprietárias da fazenda Estrondo.

“Todas as compras de soja na área da Estrondo vêm de produtores arrendatários que adquiriram direitos legais de uso das terras […] A Cargill não fornece e não fornecerá soja de agricultores que desmatam terras em áreas protegidas. Temos controles para impedir que produtos não compatíveis entrem em nossa cadeia”, declarou a Cargill à AFP, acrescentando que seu silo está localizado a quase 60 km das áreas de conflito, sem informar em qual terreno.

A Bunge, que, como a Cargill, está comprometida em desenvolver uma cadeia de produção sem desmatamento, afirma que atingiu mais de 90% de rastreabilidade para suas compras diretas em áreas em risco de desmatamento e que atua em conformidade com a lei brasileira.

“A Bunge não compra ou recebe grãos de áreas embargadas pelo Ibama. Quanto ao silo, não faz parte do Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo e está localizado em propriedade privada da empresa”, declarou a companhia.

“As respostas [da Cargille Bunge] negam as evidências. O grupo Estrondo precisa ser tratado como uma unidade, há um controle compartilhado sobre a terra, bem como decisões relacionadas ao seu uso […] Minimizar sua presença é se esconder de suas co-responsabilidades nesses impactos no contexto da Estrondo”, contestou Greenpeace.

“As empresas já foram comunicadas em junho e setembro […] no entanto, ainda não tomaram nenhuma ação concreta para endereçar o problema”, ressaltou a ONG.

Com dois milhões de quilômetros quadrados, o Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, atrás da Floresta Amazônica. Esta savana já perdeu quase metade de sua vegetação original.

Este nível de desmatamento se explica, sobretudo, pelo forte avanço da agropecuária industrial, em particular na região do Matopiba, último eldorado agrícola do Brasil, onde está localizada a fazenda Estrondo.

Entre 2007 e 2014, quase dois terços da expansão das atividades agrícolas se deu em detrimento da savana e de plantas nativas, ressalta o Greenpeace.

AFP

“O Brasil pode ser um país rico, sem destruir a floresta”


              

Diretor do Greenpeace no Brasil, o jornalista e ambientalista Paulo Adário foi escolhido pela ONU “Herói da Floresta” na América Latina e Caribe. A honra chega para Adario justamente no ano em que o Greenpeace comemora 20 anos de atuação no país. Adario esteve desde o começo nesta empreitada. Em 1996 ele foi para a Amazônia, onde três anos mais tarde teve papel fundamental na criação da Campanha Amazônia, hoje uma das mais importantes do Greenpeace em todo o mundo.

A lista original de indicados tinha 90 pessoas de 41 países espalhados pelas Américas, África, Europa e Ásia. Em comum, todos  têm uma vida de dedicação à proteção das florestas que ainda restam no planeta. A ONU apontou cinco “heróis”, um de cada continente. A cerimônia de entrega do prêmio aconteceu dia 9 de fevereiro, na sede da ONU em Nova York, encerrando o “Ano Internacional das Florestas”, declarado pela organização, em 2011.
Além de Paulo Adario, dois ativistas brasileiros tiveram sua luta em defesa das florestas reconhecida postumamente.  Os jurados decidiram outorgar um prêmio especial ao casal José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, os dois ativistas brasileiros que foram tragicamente assassinados ano passado por denunciar a atuação ilegal de madeireiros no Pará.

Em seguida, publicamos trechos de entrevistas concedidas por Paulo Adário a diversos alguns veículos de comunicação.

Como é ser considerado um herói da floresta?

Paulo Adário – É complicado, ainda mais em uma região que tem tanta gente lutando e morrendo pela defesa da floresta.  Na verdade, há heróis da floresta espalhados pela Amazônia inteira.  Mas evidentemente é uma honra ser premiado pelo trabalho que venho realizando nos últimos 15 anos.  Um trabalho que não é só meu, mas do Greenpeace, de muitas ONGs que são nossas parceiras.  É uma coisa que eu compartilho com uma porção de gente.  Quando soube que estava entre os finalistas, achei até pouco provável que eu fosse escolhido.  Eu pensava: "A ONU vai dar um prêmio para um criador de caso como eu?".  E foi muito legal.

Que mensagem o senhor acha que a ONU está passando?

Paulo Adário – Apesar de ser um título embaraçoso, isso de ser herói contém uma coisa muito positiva.  O fato de precisar de heróis é um reconhecimento por parte da ONU de que as florestas estão em seriíssimo risco .  E funciona como um estímulo para as pessoas lutarem pelas florestas.

Qual impacto esse título pode ter para a luta contra o desmatamento e neste momento de mudança do Código Florestal?

Paulo Adário – Nos últimos anos, o Brasil deu um exemplo: derrubou o desmatamento, mas a produção de grãos, de carne e a exportação do agronegócio não caíram.  O cenário é positivo.  Mas o momento atual é de decisão: continuar seguindo para o futuro ou dar um passo para trás.  E o governo tem dado indicações de que vai escolher o caminho errado.  Se a presidente Dilma anunciar um veto à mudança na boca da Rio+20, vai dar um sinal muito claro de que o Brasil pode ser um país rico, sem destruir floresta.  Acho que o prêmio engrossa a minha voz.  Mas, para ser ouvido, as pessoas precisam abrir os ouvidos.
(Fonte: IHU On Line)

Os consumidores estão comprando mais madeira com o selo FSC (selo do Forest Stwartship Council que determina critérios para a boa exploração florestal, em termos sociais, ambientais e econômicos)?

Paulo Adário – Os consumidores, em geral, não exigem madeira certificada. Boa parte da madeira da Amazônia vai para a construção civil. Não se compra um apartamento porque ele tem portas, janelas e pisos FSC. Você compra um apartamento porque ele está dentro de seu orçamento, atende a seus desejos e possibilidades. Podemos promover a idéia do FSC junto ao público, em particular aquele que consome móveis. É, aliás, o que o Greenpeace está fazendo no Brasil, em particular para mostrar a responsabilidade dos cidadãos para com a preservação da Amazônia. Isso é altamente positivo, mas tem efeitos apenas no longo prazo.

Por que poucos empresários até agora adotaram a certificação?

Paulo Adário – Os verdadeiros empresários, que cumprem a legislação e pretendem defender seu nicho de mercado, têm uma imagem a zelar. Mas só vão adotar a certificação se tiverem um ganho real econômico e condições para tanto. Isso não acontece hoje porque há muita madeira ilegal no mercado. Madeira ilegal não paga imposto, é retirada de qualquer forma e não custa quase nada. Enquanto houver essa imensa quantidade de madeira ilegal no mercado, os produtos das empresas certificadas não serão competitivos em termos de preço. Logo, só se certificarão aquelas que possam operar em nichos de mercado, com consumidores que exigem FSC. É uma pena, mas esse universo parece muito reduzido no momento. Além disso, a certificação FSC custa caro, demora, e há poucas certificadoras na praça. Para resolver esse problema, será preciso uma verdadeira revolução no perfil da indústria madeireira, inclusive a criação de linhas de crédito especiais para financiar o processo de conversão. Não é por acaso que apenas 5 empresas estão, no momento, certificadas pelo FSC na Amazônia.

Qual o posicionamento das grandes empresas consumidoras de madeiras ou das revendedoras em relação à certificação?

Paulo Adário – Os consumidores corporativos não parecem muito dispostos a pagar prêmios por produtos FSC. Justificam-se alegando que operam com margem de lucro muito baixa, o que é verdade na maioria dos casos. Esses consumidores só vão optar por comercializar madeira certificada a curto e médio prazo se a imagem dessas empresas for comprometida, ou seja, se formos capazes de expor sua responsabilidade no desrespeito à lei, de forma que eles se arrisquem a perder mercado ou a pagar multas se não mudarem suas práticas. Eles são grandes, fortes e — e aí reside sua fraqueza — dependem do mercado. Esse grupo tem sido um dos principais alvos da campanha do Greenpeace: atacamos os grandes importadores de madeira ilegal que operam na Europa, Estados Unidos e Japão porque têm o que perder: têm ações em bolsa e uma imagem a zelar.
(Fonte: Instituto Akatu)

Quais foram os momentos mais difíceis nesses 15 anos de trabalho na Amazônia?

Paulo Adário – Houve muitos momentos difíceis. Sofri ameaças de morte, em 2001 e 2002, que foram muito complicadas. Recebi proteção do governo brasileiro, durante 24 horas. A morte da Dorothy Stang, missionária americana assassinada no Pará em 2005] foi outro momento duríssimo. A gente se sentiu muito tocado, porque ela estava condenada a morrer e nossa ajuda não chegou a tempo. Ia me encontrar com ela no dia que ela morreu. Foi um dia de desespero, de medo. Várias outras lideranças que eram nossos parceiros morreram, como o Dema e o Brasília. Agora, o Zé Cláudio (assassinado no Pará em 2011, junto com Maria do Espírito Santo).

Quais são as maiores ameaças à Amazônia hoje?

Paulo Adário – Está havendo um processo de desmonte de conquistas que estavam dando resultados muito bons para o Brasil e para a floresta. Uma série de legislações foi colocada em funcionamento, além do próprio Código Florestal, como o projeto pelo qual o Senado evoca para si a palavra final sobre a demarcação de terras indígenas. Outra grande ameaça é o aumento da ilegalidade na extração madeireira. Além disso, o agronegócio brasileiro ficou mais sofisticado do ponto de vista operacional, tomou comissões de meio ambiente do Congresso. E a sociedade está aceitando com naturalidade.

E quais foram as melhores notícias sobre a Amazônia nesses últimos 15 anos?

Paulo Adário – São várias. Uma delas é que a sociedade civil passou a ter acesso a sistemas de monitoramento do desmatamento. Antes, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) era uma caixa preta. Isso também ajudou a mídia brasileira a ficar muito mais consciente sobre o desmatamento, o tamanho do impacto, suas causas. Outras coisas positivas são o aumento da consciência dos setores empresariais, a criação de áreas protegidas e a demarcação de áreas indígenas, a melhoria da articulação entre grupos locais e lideranças comunitárias com os governos.
(Fonte: G1)

Qual sua avaliação do texto do Código Florestal aprovado pela Câmara?

Paulo Adário – O texto é um desastre para o Brasil. Não acatou as contribuições do governo, como o veto à anistia a quem desmatou até 2008. Numa visão geral, reduz a proteção ambiental no País todo.

O novo Código pode trazer mais desmatamento?

Paulo Adário – Quem respeitou a lei ambiental e quem devastou passam a ser tratados da mesma forma, o que é injusto e ruim para a democracia. Mato Grosso é um exemplo. O desmatamento vinha caindo por causa da intervenção do governo federal. O recente pico de desmate ocorreu não por uma alta do preço da soja ou da carne, mas em razão da expectativa de anistia.

Existe o risco de o novo Código ameaçar compromissos internacionais firmados pelo Brasil, nas áreas de clima e biodiversidade?

Paulo Adário – A situação fica muito complicada, porque em 2012 o País sediará a Rio+20, conferência da ONU que marca os 20 anos da Rio-92. Corremos o risco de mostrar ao mundo que não fizemos a lição de casa, pois é o desmatamento que mais contribui para a emissão de gases-estufa. A meta de biodiversidade firmada no Japão também fica comprometida, pois a redução das áreas de reserva legal levará à perda de espécies.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Publicado em Revista Visão Socioambiental