Barragem de Brumadinho rompeu por liquefação estática, dizem especialistas


Bombeiro trabalha no resgate de pessoas em Brumadinho no crime ambiental que chocou o mundo (Mauro Pimentel/AFP)

O rompimento mortal de uma barragem da Vale em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro, foi resultado da “liquefação estática dos rejeitos dentro da barragem”, concluiu um painel de especialistas contratado pela assessoria jurídica externa da mineradora para avaliar as causas técnicas do ocorrido.

Em relatório publicado nesta quinta-feira (12), o painel pontuou que a estrutura não continha drenagem interna suficiente e, portanto, tinha um alto nível de água no talude a jusante. “Isso fez com que uma parte significativa dos rejeitos permanecesse saturada, o que é um pré-requisito para a liquefação estática não drenada”, disse o documento.

O painel, que não teve como objetivo apontar responsabilidades pelo desastre, que deixou mais de 255 mortos, concluiu ainda que não houve atividade sísmica ou registro de detonações antes do desastre e que nenhum dos dispositivos de monitoramento detectou precursores de rompimento.

“Em vez disso, o rompimento da barragem foi súbito e abrupto, decorrente de altas tensões de cisalhamento no talude a jusante da barragem e da resposta frágil e não drenada dos rejeitos”, apontou a análise. Segundo o relatório, que foi divulgado pela Vale, características do projeto e da construção da Barragem I estão entre os fatores que contribuíram para seu rompimento.

“Especificamente, o projeto resultou em uma barragem íngreme, com falta de drenagem suficiente, gerando altos níveis de água, os quais causaram altas tensões de cisalhamento dentro da barragem”, afirmou. O rompimento de Brumadinho liberou uma onda de lama, que atingiu mata, rios e comunidades da região, além de refeitório e área administrativa da própria Vale, durante a hora do almoço. Grande parte das vítimas fatais era de funcionários da mineradora.

Em fevereiro, uma autoridade do governo mineiro afirmou que tudo indicava que o desastre teria ocorrido por liquefação, o que já ocorreu em outros grandes desastres no mundo em estruturas com o mesmo método de construção de Brumadinho, com tecnologia de alteamento a montante.

O sistema a montante custa menos que outros tipos de design, mas apresenta maior risco de segurança, porque suas paredes são construídas sobre uma base de resíduos, em vez de em material externo ou em terra firme. A liquefação, com o maior acúmulo de água na estrutura, foi também o motivo apontado para o rompimento de barragem da Samarco (joint venture da Vale com BHP) em novembro de 2015, que utilizava o mesmo método de alteamento.

Reuters / Dom Total