Perto dos 25 anos da morte de Chico Mendes, a luta do ambientalista pouco avançou


              

Quando foi enviado ao Acre para cobrir o assassinato de Chico Menos pelo Jornal do Brasil, o jornalista Zuenir Ventura tinha 33 anos de carreira, um currículo invejável e, conta-se a lenda, nenhum centímetro de simpatia pelo movimento ambientalista.

Na volta, um mês depois, não estava somente completamente convertido à causa, como também escreveu uma série de reportagens suficientes para levar o maior prêmio de jornalismo do ano, o Esso, conteúdo que resultou ainda em um livro considerado uma das maiores obras do jornalismo literário brasileiro: Chico Mendes: crime e castigo.

Zuenir Ventura participou no dia 14 de novembro de um Café Literário na XI Bienal Internacional do Livro da Bahia. Ao lembrar um pouco do seu primeiro best-seller 1968: o ano que não terminou – escrito um pouco antes da morte de Chico Mendes -, Zuenir comentou sobre as manifestações de junho e a importância do otimismo nos jovens.

“Os jovens de junho queriam quebrar paradigmas. Será uma pena se aquelas manifestações não forem retomadas, pois a pior coisa que pode acontecer na juventude é o desencanto”, declarou ele, que também criticou a violência empregada pelos Black Blocks. “Em 68, não tinha ninguém de cara escondida e o contexto era bem pior – não só se poderia ir preso, como torturado”.

             

Legado

Com pouco menos de um mês para o aniversário do assassinato de Chico Mendes (22 de dezembro de 1988), Zuenir conversou com o EcoD sobre o legado do líder ambientalista. “O Chico (Mendes) foi realmente o protomártir dessa luta pelo meio ambiente, sobretudo pela preservação da Amazônia. Ela escreveu a questão amazônica na pauta da agenda mundial”, afirma.

“Por que logo ele? A pergunta, meio desconfiada, foi seu único gesto de resistência, ao ouvir a encomenda. A resposta era fácil. Porque era o melhor repórter disponível para a empreitada (…) Topou com meia dúzia de piadas, como é de seu estilo. E seu trabalhou saiu muito mais sério do que a encomenda, como também é de estilo. Foi ao Acre por quatro ou cinco dias. Ficou um mês. Ao voltar, não trazia só a reportagem que no fim do ano ganharia o prêmio Esso. Trouxe mais. Trouxe um modelo de cobertura jornalística que, sem ter uma linha de isenção, conseguia mostrar todos os lados de uma história que, no fundo, tinha um lado só”
(Marcos Sá Correia, editor do Jornal do Brasil à época, no posfácio do livro).

Para o autor, embora haja uma maior consciência ambiental atualmente, pouco se avançou nessas duas décadas e meia na principal luta travada pelo líder seringueiro: a conservação da Floresta Amazônica. “Apesar de tudo [de Chico ter deixado uma grande lição e uma grande discípulo, Marina Silva] ainda há muito a se fazer pela preservação da Amazônia”, acredita ele.

“Ontem eu vi uma manchete afirmando que cresceu o desmatamento na Amazônia. Ou seja, tudo que ele não queria, tudo pelo qual ele morreu. Se por um lado hoje há uma consciência na sociedade – quando ele morreu ninguém sabia nem quem era ele direito – por outro lado há essa complacência com a destruição de nossas florestas”, completa Zuenir.

               

Fonte: http://www.ecodesenvolvimento.org/

Laísa Mangelli