Belo Monte, uma usina de promessas


"A hidrelétrica é, também, o empreendimento de maior impacto sobre populações indígenas em todo o Brasil. Mais uma vez o empreendedor não inovou em nada, adotou na maior parte de seus investimentos com foco nesse grupo critérios clientelistas", escreve Dal Marcondes, jornalista, diretor da Envolverde e especialista em meio ambiente e desenvolvimento sustentável, em artigo publicado pelo portal Envolverde, 29-06-2015.

Eis o artigo.

O Brasil está prestes a ver mais um reservatório de usina hidrelétrica ocupar espaços que antes eram destinados a múltiplos usos. A história se repete, com nuances de diferenças e muitas similaridades. A hidroeletricidade é apontada como uma das energias ambientalmente mais limpas do planeta, no entanto, não se pode dizer o mesmo de seus impactos sociais. A hidrelétrica de Belo Monte está instalada em uma das regiões de maior sociobiodiversidade,do Brasil, muito próxima ao Parque Indígena do Xingu e de Altamira, cidade que sempre foi um portal para a Amazônia. Principal obra da primeira fase do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), a construção da usina de Belo Montecomeçou em 2011 e tem sido recheada por tropeços em sua implantação e carregada de passivos ambientais e sociais.

A falta de cronograma claro e definição de responsabilidades para as contrapartidas assumidas pela Norte Energia, empresa responsável pela obra, transforma qualquer pequena demanda em um imenso jogo de empurra entre os atores envolvidos. As obras das estações de tratamento de água e saneamento em Altamira são o exemplo mais pitoresco desses impasses. A empresa entregou para a prefeitura toda a infraestrutura que garantiria água de boa qualidade e o tratamento de esgotos, contudo, nega-se a fazer as ligações aos imóveis que consomem a água e geram os esgotos. Nesse processo foram investidos R$ 485 milhões e a população ainda depende de poços e fossas em seu cotidiano.

Há críticas consistentes também em outras áreas da relação entre poder público e a Norte Energia, como saúde ou segurança. A presença da obra de Belo Monte, que será a 3ª maior hidrelétrica do mundo, levou milhares de trabalhadores e migrantes para a região, causando um enorme impacto sobre os serviços públicos, que já não eram de excelência antes do início dessa movimentação. A população de Altamira deu um salto de 100 mil para 150 mil habitantes, o que se refletiu no número de ocorrências policiais, onde a taxa de homicídios subiu de 48 para cada 100 mil habitantes para os atuais 57 assassinatos por 100 mil habitantes. A média nacional é de 32 e a média mundial é de seis.

Transitar em Altamira também tornou-se um exercício arriscado. O número de acidentes de trânsito na cidade subiu de 456 para 1169 em um ano, o que serviu, também, para aprofundar a crise nos serviços públicos de saúde, que em apenas um hospital em 2013 os atendimentos foram triplicados.

Saúde e educação foram áreas muito impactadas pela presença de uma nova população, formada principalmente por trabalhadores da Norte Energia, suas famílias, prestadores de serviços e pessoas em busca de mais oportunidades, além, é claro, das populações ribeirinhas e rurais deslocadas de suas casas por conta das obras e do território que será ocupado pelas águas represadas do rio Xingu. A empresa se comprometeu a investir na infraestrutura de saúde, mas atrasou a entrega de todos os equipamentos contratados.

A infraestrutura de educação também é bastante exigida, novamente o atraso na entrega das obras combinadas com aNorte Energia levou os municípios a suportarem excesso de alunos em salas de aula. Além disso, há um dado importante: o Ministério da Educação considera em seus repasses para os municípios o número de estudantes matriculados no ano anterior. No caso da região impactada por Belo Monte o número de alunos tem crescido à base de mil a mais por ano, o que amplia a pressão sobre os recursos municipais. Em 2012, havia em Altamira 24.791 alunos, em 2015 o número de alunos matriculados (ensino infantil e fundamental) aumentou para 27.486.

É importante registrar que houve um expressivo aumento nas taxas de reprovação e evasão escolar com riscos importantes para segurança de crianças e adolescentes. Somado a isso há o fato de que o Conselho Tutelar de Altamira conta com apenas cinco pessoas para atender mais de dois mil casos por ano.

A hidrelétrica é, também, o empreendimento de maior impacto sobre populações indígenas em todo o Brasil. Mais uma vez o empreendedor não inovou em nada, adotou na maior parte de seus investimentos com foco nesse grupo critérios clientelistas. Dos R$ 212 milhões que a empresa alega ter gasto a maior parte foi ofertada em presentes e “mesadas” para as aldeias, em uma relação desigual com as comunidades. Essa oferta desmedida de dinheiro desequilibrou os sistemas de produção de alimentos nas aldeias, que passaram a comprar produtos industrializados de baixa qualidade e impôs riscos à segurança alimentar principalmente das crianças.

A relação da Norte Energia com o Ibama tem sido de conflito e composição em situações onde licenças são concedidas antes que as contrapartidas sejam, de fato, entregues à população e às prefeituras da região. Essa situação piora com a falta de uma presença efetiva de comando e controle, o que tem levado a uma exploração de recursos naturais em Terras Indígenas, onde a retirada de madeira já pode ter chegado a valores próximos a meio bilhão de reais.

A situação dos recursos pesqueiros é um capítulo a parte. Mesmo fazendo um monitoramento semestral na região, os dados coletados pelo Ibama não estão sendo colocados à disposição da população, de pesquisadores ou de organizações sociais que fazem o acompanhamento dos impactos sobre a pesca, um importante elemento de geração de renda e segurança alimentar para as populações ribeirinhas e para os povos indígenas.

Mesmo não sendo o primeiro e nem o único empreendimento de porte instalado no Brasil, a construção de Belo Montevem repetindo erros que já deveriam ter ficado no passado autoritário. Praticamente todas as iniciativas de diálogos produtivos entre os principais atores não têm levado a avanços importantes, questões fundamentais como o reassentamento de populações rurais e a criação de assentamentos urbanos não avançam por falta de flexibilidade nos planos da empresa.

Essa falta de diálogo reflete-se, também na ausência de transparência em relação aos investimentos, aos financiamentos e aos volumes de recursos alocados em cada uma das áreas de atuação da Norte Energia em todo o processo de planejamento, licenciamento e construção da usina de Belo Monte. Neste momento em que as comportas estão para ser fechadas fica a lição de como não fazer uma grande obra de infraestrutura na Amazônia, região sensível que ainda vai abrigar muitos bilhões em geração de energia, mineração, estradas e todo o tipo de intervenções impactantes sob o ponto de vista ambiental e social.

Fonte: IHU

Fernando de Noronha ganha primeira usina de energia solar


             

A ilha de Fernando de Noronha (PE) recebeu no mês de Julho sua primeira usina para produção de energia solar, o que ajudará a reduzir a produção de poluentes como carbono no destino turístico.

Antes da instalação da nova usina, toda a energia produzida em Noronha era considerada suja por ser originada na queima de óleo diesel. Agora, a ilha deixa de queimar 200 mil litros de diesel por ano, de acordo com a Celpe (Companhia Energética de Pernambuco), distribuidora de energia no Estado. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente do Estado, a produção de energia elétrica é a segunda maior fonte de gases que provocam efeito estufa na ilha, perdendo apenas para a aviação comercial, que tem três voos diários.

Com 1.644 painéis de silício policristalino, a nova usina gera uma média mensal de 50 MWh (megawatts-hora), o equivalente a 4% do consumo da ilha -o que, para efeito de comparação, seria suficiente para abastecer 600 residências no Recife. O volume de energia captado e distribuído depende da incidência da iluminação solar e das condições climáticas. Ou seja, em dias nublados, a geração é menor e, à noite, é nula.

Cada cliente da ilha consome, em média, 567 KWh (quilowatts-hora) por mês. Esse valor chega a ser cinco vezes maior que a média individual na capital, já que pousadas equipadas são as principais consumidoras em Noronha.

A nova usina solar custou à Celpe R$ 5 milhões e vai fornecer 80% da energia consumida pela Aeronáutica. Essa energia vai alimentar, por exemplo, as 41 casas da vila da aeronáutica, o sítio de telecomunicações e o hotel de trânsito. Quando houver, a energia excedente será distribuída ao restante da ilha. Hoje a cargo da Celpe, a usina passará a ser operada pela Aeronáutica em um ano.

Nos próximos meses, serão iniciadas as obras de uma segunda usina de energia solar com capacidade de gerar uma média mensal de 64,75 MWh, o equivalente a 6% do consumo total da ilha.

Essa unidade, orçada em R$ 6 milhões e prevista para operar no primeiro semestre do ano que vem, deve fornecer 65% da energia consumida pelos prédios públicos da ilha de Fernando de Noronha.

CARBONO

Segundo a Celpe, juntas, as duas usinas de energia solar de Fernando de Noronha vão deixar de emitir 100 toneladas de carbono por ano. É como se a usina térmica, principal fornecedora de energia da ilha, deixasse de operar durante um mês.

Como está isolada, Fernando de Noronha tornou-se uma espécie de laboratório para a empresa, que pretende investir outros R$ 17 milhões na modernização do monitoramento e na geração de energia na ilha. "São [projetos] pilotos, mas sempre com base em tecnologias já consolidadas de alguma forma. Não existe nenhum risco de essa usina ou a próxima terem alguma dificuldade de operação", afirmou o presidente da Celpe, Luiz AntonioCiarlini.

Além disso, o governo de Pernambuco e a iniciativa privada preveem instalar na ilha cinco geradores de energia eólica em uma usina de compostagem e em prédios públicos até outubro deste ano, segundo a administração de Fernando de Noronha. Esses equipamentos devem gerar até 104,5 KWh/ano.

Fonte: Folha de São Paulo 

Laísa Mangelli

Energia do mar


Ondas do mar vão gerar energia no Rio de Janeiro

                           

A Coppe/UFRJ, em parceria com Furnas e a empresa Seahorse Wave Energy, deu início aos estudos para geração de energia elétrica a partir da movimentação das ondas do mar na cidade do Rio de Janeiro. O projeto prevê a instalação de uma usina, denominada conversor offshore, a cerca de 14 quilômetros da praia de Copacabana, próximo da Ilha Rasa, com capacidade instalada de 100 kW. A usina ficará a uma profundidade de 20 metros e, em sua capacidade máxima, a eletricidade gerada pode abastecer o equivalente a 200 casas residenciais.

A conclusão do projeto, que conta com investimento de R$ 9 milhões de Furnas, está prevista para 2015. No momento, os pesquisadores do Laboratório de Tecnologia Submarina (LTS) da Coppe estão trabalhando no desenvolvimento e construção de um protótipo, em escala reduzida, em conjunto com os engenheiros da Seahorse Wave Energy, da Incubadora de Empresas da Coppe.

O professor do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe, Segen Estefen, coordenador do LTS, diz que o projeto faz parte da estratégia de tornar a geração de energia por meio das ondas do mar economicamente viável e comercial. O professor explica que o primeiro passo foi dado com a instalação de uma usina no Porto de Pecém, a 60 quilômetros de Fortaleza (CE), que se encontra em fase final de testes e é fruto de uma parceria entre a Coppe, a Tractebel Energia e o Governo do Ceará.

“Estamos colocando o Brasil entre os países que buscam o domínio das tecnologias de aproveitamento da energia das ondas para gerar eletricidade em grande escala. É fundamental que consigamos nos manter competitivos para que no futuro não tenhamos que importar tais tecnologias”, afirma Segen.

O professor da Coppe diz que o próximo passo, que também faz parte da parceria com Furnas, é desenvolver usinas com estruturas flutuantes para que possam ser instaladas em locais afastados da costa. “E, no futuro, com estas usinas flutuantes poderemos, inclusive, abastecer as plataformas dos campos do pré-sal”, adianta.

O gerente da área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação de Furnas, Renato Norbert, diz que o desenvolvimento da usina faz parte da estratégia da empresa de buscar novas oportunidades de negócios e vantagem competitiva. “A expectativa com este projeto é promover maior aproximação das atividades de P&D à fase de comercialização da tecnologia e, assim, introduzir na matriz energética brasileira uma nova fonte de energia limpa, renovável e abundante no território nacional”, destaca Norbert.

A ideia inicial de Furnas é atender o mercado livre, oferecendo o MWh com menor custo. “Como não requer uma grande obra, como as hidrelétricas e as nucleares, não consome combustível de nenhuma espécie, nem exige o transporte de grandes equipamentos, como as eólicas conhecidas, a energia gerada poderá ser mais barata”, acrescentou o gerente da área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação de Furnas.

Sobre o funcionamento da usina

O engenheiro Paulo Roberto, sócio-proprietário da Seahorse Wave Energy, diz que a geração de energia se dará a partir da movimentação vertical de um flutuador de 11 metros de altura e 4,5 metros de diâmetro, impulsionado pelas ondas do mar. “O flutuador será guiado por uma coluna central, com fundação no leito marinho, e a sua movimentação será transformada em movimento rotativo no gerador, utilizando-se um sistema mecânico que integrará o flutuador e o gerador”, detalha Paulo.

Em geral, quanto mais altas forem as ondas, mais energia pode ser captada para transformação em eletricidade. Mas, de acordo com o professor Segen Estefen, é possível obter um melhor resultado se as ondas tiverem mais continuidade, como no mar de Copacabana, mesmo que sejam baixas, com cerca de 1,5 metros.

A eletricidade gerada será transmitida por cabo submarino, que descerá ao fundo do mar pelo interior da coluna e seguirá pelo leito marinho até a ilha para conexão à rede elétrica. Renato Nobert, de Furnas, diz que, desse modo, a geração será totalmente no mar, o que torna esta usina a primeira no país a ter esta característica.

                                     

                              Funciona como um dínamo de bicicleta, só que a roda são as ondas do mar

Fonte: Revista Ecológica – Planeta COPPE

Reproduzido em: Espaço Ecológico