Por Roberto Araújo
Quando falamos em medir a sustentabilidade, algumas perguntas que vêm à mente dos executivos são: o que queremos medir exatamente? Com que “régua” ou metodologia devemos medir e avaliar a sustentabilidade? Como extrair valor desta informação?
Para a maior parte dos gestores, o ideal é que um estudo para medir e avaliar aspectos de sustentabilidade possa ajudá-los a aumentar as vendas, melhorar as margens de lucro ou, na pior hipótese, mitigar riscos e evitar perda de mercado por não disponibilizar para seus clientes as informações sobre os impactos ambientais de seus produtos. Nesse sentido, os estudos mais realizados para ajudar as empresas a reduzirem seus impactos ambientais são as pegadas de carbono, hídrica e a energética.
As ferramentas cujas metodologias são baseadas na Análise do Ciclo de Vida (ACV) proporcionam informações mais completas, pois trata-se de uma técnica que permite a quantificação dos impactos ambientais de um produto, sistema ou processo durante todo o ciclo de “vida”, ou seja, desde o início (por exemplo, da extração das matérias-primas) até o final da vida (quando o produto deixa de ter uso e é descartado como resíduo ou é reciclado), passando por todas as etapas intermediárias (manufatura, transporte e uso). Por essa razão, essa avaliação é também chamada de “análise do berço ao túmulo” ou do “berço ao berço”.
De acordo com a Associação Brasileira de Análise de Ciclo de Vida (ABCV), o número de especialistas em ACV no Brasil ainda é insuficiente para atender a crescente demanda por estudos. Segundo especialistas, como a doutora Kelly Alonso Costa (Universidade Federal Fluminense), em sua tese A utilização da Avaliação do Ciclo de Vida no processo de tomada de decisão em sustentabilidade na indústria da construção no subsetor de edificações, “os trabalhos acadêmicos brasileiros contemplam diversos segmentos, tais como: químico, petroquímico, construção civil, energético, automobilístico, agrícola, metalúrgico e eletrônico”.
Por outro lado, os dados exatos sobre a realização de estudos no Brasil sobre ACV são incertos, mas, segundo a especialista, nos últimos anos 10 anos foi possível encontrar, em bancos de dados nacionais e internacionais, cerca de 280 trabalhos, entre dissertações, teses e artigos científicos publicados sobre o tema ACV. Com a criação de entidades e publicação das normas, observa-se uma maior produção nos últimos anos de trabalhos para a consolidação do banco de dados brasileiro.
Cabe, então, às empresas entender – e algumas já têm feito isso, como divulgado no Guia Exame de Sustentabilidade 2013 – que o tema da ecoeficiência é cada vez mais estratégico para as organizações. Além disso, pode ser mais interessante realizar estudos que ofereçam informações além das emissões de gases de efeito estufa ou apenas da pegada hídrica, pois possibilitam a melhoria de qualidade da gestão e a eficiência operacional.
Ferramentas que avaliam, simultaneamente, os impactos ambientais, sociais e econômicos são mais avançadas e completas, pois podem analisar mais de uma dezena de categorias, mais de 50 indicadores diferentes e mais de uma centena de fatores de avaliação. Aspectos como direitos humanos, consumo de energia, uso do solo, dentre outros fatores são essenciais para uma análise mais consistente. Os critérios científicos estão passando por constante evolução e o maior desafio para os especialistas em avaliação de sustentabilidade tem sido melhorar a qualidade dos bancos de dados locais.
Entramos na era da gestão sustentável compartilhada, por isso a necessidade de se pensar e planejar a sustentabilidade sob a perspectiva de toda cadeia de valor.
Roberto Araújo é diretor-presidente da Fundação Espaço ECO®.
Fonte: Ideia Sustentável