Um país sem emissões de carbono: um sonho possível?


Parece difícil imaginar que algum país populoso pode zerar emissões de gases efeito estufa e, consequentemente, ajudar a desacelerar o aquecimento global? Pois o Centro de Tecnologia Alternativa da Inglaterra garante que sim, no estudo ‘Zero Carbon Britain: Rethinking the Future’, lançado em julho deste ano.

O time responsável por esse documento – que reúne engenheiros, um físico, uma nutricionista, um cientista social, entre outros pesquisadores – não propõe retrocesso econômico ou político com base em ‘planos mirabolantes’, mas a aliança natural entre qualidade de vida da população e meio ambiente. Até porque, já é mais do que comprovado que para ser feliz por completo é preciso estar de bem com a natureza. 

Não se trata, portanto, de parar de emitir. Basta reduzir as emissões e compensar o que não foi possível cortar. Por exemplo, em 2010 a Inglaterra emitiu 652.1 MtCO2; destas, 23.8 MtCO2 foram reabsorvidas – balanceando parte das emissões do país. Portanto, o saldo terminou em 628.3 MtCO2 negativos. 

O objetivo do grupo é transformar o saldo final em nada mais que ZERO, sem depender de tecnologias em desenvolvimento. Ou seja, só foram levadas em conta tecnologias já existentes.

Investimentos em eficiência energética e energia renovável – especialmente eólica – foram apontados como fundamentais para alcançar essa meta. Hoje, a energia daquele país é responsável por 82% das emissões de gases de efeito estufa. Plantar florestas, enterrar materiais orgânicos e capturar e armazenar carbono também estão entre as medidas sugeridas para reabsorver os gases emitidos.

Fonte: Planeta Sustentável

A invenção do Éden


Felizmente há quem não aceite o viés da degradação ambiental que turva o planeta. Gente que vai atrás do novo e procura soluções para controlar o caos, como o Projeto Éden, na Inglaterra

             

 

No início da década de 1990, Saint Austell, no condado da Cornualha, no sudoeste da Inglaterra, enfrentava uma grave crise econômica e o traumático fechamento das suas fábricas de porcelana. Na sequência, fechou-se também a mina de caulim situada nos arredores da cidade, havia 160 anos em atividade, uma das principais do país, que fornecia matéria-prima para as louças e peças produzidas pelas empresas. Depois de um século e meio de extração, restou uma gigantesca cratera de 50 metros de profundidade e uma paisagem devastada.

Como a Cornualha é um dos condados rurais  menos industrializados da Inglaterra, e as oportunidades para recolocação no mercado eram mínimas, o fechamento da mina multiplicou o desemprego. O cenário de recessão e desastre socioambiental parecia sem solução até o surgimento de um grupo de pessoas voluntariosas e visionárias, dispostas a fazer diferença. Em 1996, empresários, arquitetos e engenheiros, liderados pelo arqueólogo, compositor e produtor premiado de música Timothy Smit – nomeado cavaleiro do Império Britânico, pela rainha, em 2011, com direito ao título de sir – começaram a  reunir-se, em um pub, em busca de alternativas para, literalmente, tirar a cidade do buraco. 

Smit mudara-se para Cornualha, com a família, em 1987, e estava preocupado com a depressão da região. Para criar um movimento de recuperação e uma nova geração de empregos, teve uma ideia arrojada: construir um lugar jamais visto, uma “instalação” que, além de re-urbanizar a mina degradada, virasse um símbolo de sustentabilidade.

             

Assim nasceu o projeto de um grande Jardim Botânico, com a maior estufa do mundo, para ser admirado não apenas pela sua coleção de plantas ou pela arquitetura de vanguarda, mas como centro gerador de cultura, promotor de eventos, exposições, concertos, cursos e capacitador de profissionais em ecologia, ambientalismo e economia criativa. Uma instituição cultural geradora de impactos nacionais que também fosse, ao mesmo tempo, “a oitava maravilha da Terra”, como sugeria o visionário Smit.

Da recessão à fama
 

                                                               

Quando em 1999 o governo britânico estabeleceu a dotação de uma parcela da Loteria Nacional para projetos dinamizadores da economia, a equipe de Smit formatou o Projeto Éden, que levou dois anos e meio para captar 80 milhões de libras (R$ 315 milhões) em investimento e ser construído. Inaugurado em 2001 na mesma cratera abandonada da mina de caulim, o Éden é “um Jardim Global com mais de 5.000 espécies de plantas protegidas em domos que abrigam os principais biomas da Terra”, nas palavras do diretor Dan Ryan. 

Reduzir o Éden reinventado a uma estufa seria um erro. O centro abriga instituições educacionais multidisciplinares empenhadas em demonstrar que a sobrevivência humana depende da relação com os recursos naturais. Mantém uma incubadora de projetos ambientais e de sustentabilidade voltados para a promoção da conservação e a economia verde. Também promove exposições e concertos de artistas e bandas famosas – já se apresentaram lá Amy Winehouse, Mika, Jack Johnson, Moby, Peter Gabriel, Brian Wilson, Snow Patrol, Primal Scream, Pulp e Flaming Lips. Hoje, o Eden é uma das maiores atrações turísticas da Cornualha, atraindo mais de 800 mil visitantes por ano. Vários artistas contribuíram com estátuas e instalações exibidas em seus jardins.

                                               

Para quem não conhece, a primeira visão é grandiosa, sugerindo uma riqueza difícil de absorver. Atualmente, o conjunto dispõe de oito grandes cúpulas interligadas e estufas de aço revestidas com painéis termoplásticos inflados, com módulos pentagonais ou hexagonais, que transportam o visitante diretamente para um cenário futuríista, como uma colônia de extraterrestres em outra galáxia. “Não há outra estufa maior no mundo. São 20 mil metros quadrados de área e 60 metros de altura”, diz Ryan.

O projeto arquitetônico foi feito pelo arqui teto Nicholas Grimshaw, famoso pelas construções de alta tecnologia fiéis aos pressupostos do “green building”. O Éden usa energia solar e eólica e reaproveita ao máximo as águas pluviais e a luz natural. As cúpulas com três camadas de plástico  ETFE (etil tetrafluoreno etileno) permitem a passagem de luz solar e funcionam como isolante térmico. Além de resistente, o material pode ser lavado com facilidade pela chuva. Todos os resíduos orgânicos produzidos são transformados em adubo. Apenas empresas que priorizam a sustentabilidade fornecem serviços ou materiais.

“Até os uniformes dos funcionários são avaliados criteriosamente”, explica Ryan. “Não compramos roupa de grife feita em fábricas ilegais de Bangladesh, como a de Tazreen, que pegou fogo em Dhaka, em 2012, matando 100 trabalhadores”, afirma enfaticamente. O centro dá prioridade para fornecedores locais, controla as emissões de gases estufa e emprega 600 funcionários oriundos da região, bem mais do que a antiga mina empregava no auge. Cerca de 80% dos produtos oferecidos nos seus restaurantes e lojas provêm da produção local.

Vanguardismo
Gerente de projetos de sustentabilidade do Éden, a ecóloga Amelie Trölle explica que as estufas exibem dois biomas: o Mediterrâneo, com plantas do sul da Europa, e o da Floresta Tropical, com espécies da Amazônia, Malásia e África Ocidental. Um terceiro bioma, a céu aberto, reúne espécies vegetais da própria Inglaterra e de outros países europeus com o mesmo clima. 

O interior das estufas surpreende não só pela variedade das plantas, mas pela atmosfera envolvente. No caso da Floresta Tropical, o visitante pode ser surpreendido por uma inesperada chuva ou pelo som murmurejante de uma cascata. Tudo foi projetado para recriar um ambiente tropical, o que também inclui insetos e um desconfortável calor úmido. 

A última ala do Éden, inaugurada em 2005, é o The Core, a sede cultural do projeto. Trata-se de um edifício cujo teto de cobre lembra as costas de um raptor da época jurássica. No seu interior acontecem eventos, exposições e cursos. Um dos focos é a promoção da agricultura sustentável num planeta de recursos finitos, inspirada por uma questão permanente: será possível alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050? Outro foco é a educação ambiental de crianças e adolescentes. “Aqui é um lugar em que os jovens passam a amar as plantas, a compreender a lógica do ambiente e a necessidade da preservação”, diz Trölle. 

Fiel à vocação vanguardista, em 2010 o Éden recebeu permissão para instalar uma usina de eletricidade  geotérmica capaz de gerar 4 megawatts de energia. Vai abastecer suas instalações e 5.000 casas na Cornualha.

Críticas e ciúmes

                                              

Mas a atenção conquistada também gera críticas e ciúmes. Em 2007, Smit e amigos não conseguiram obter 50 milhões de libras (R$ 197 milhões) na eleição popular dos projetos financiados pela Loteria Nacional. O Éden recebeu 12% dos votos, ficando em último lugar dos quatro projetos em consideração, sinal de que a sustentabilidade não é, assim, uma ideia tão popular no Reino Unido quanto os ambientalistas desejam. A derrota arquivou o projeto de criar um quarto bioma sobre o deserto: The Edge. Mas é muito provável que ele volte a ser cogitado em futuro próximo.

Outra controvérsia foi o contrato com a mineradora anglo-australiana Rio Tinto, fornecedora do cobre para o teto do The Core. A empresa está envolvida numa controversa exploração de titânio em uma mina de Madagascar, cujo desenvolvimento gerou desmatamento extensivo na floresta costeira. A companhia, entretanto, garantiu que o cobre usado na Cornualha não provém da ilha africana.

A polêmica não arranhou o carisma de Smit. Lançado originalmente em 2001, a reedição de 2011 do seu livro Eden tornou-se o maior best-seller ambiental do Reino Unido. Em entrevistas, o autor não perde a ocasião para refutar seus críticos: “A Grã-Bretanha é um fracasso em empreendedorismo, é avessa ao risco e estigmatiza o fracasso. Aqui, empreendedorismo é uma palavra roubada por gente que não entende nada sobre o assunto. A verdade é que os empreendedores correm riscos, mas o risco é algo essencialmente antibritânico. Se você for bem-sucedido, então, eles vão odiá-lo por isso.”

Mais informações: www.edenproject.com

Laísa Mangelli

Em Londres, óleo de cozinha será transformado em energia elétrica


                   

No Brasil, jogar óleo na pia da cozinha é um hábito comum e que deveria acabar. Em primeiro lugar, porque ele pode chegar aos rios e lagos, causando a poluição desse tipo de ambiente. Em segundo, porque os restos de óleo que se acumulam nos canos da sua casa podem atrair insetos indesejáveis e causar graves entupimentos.

Além disso, o óleo pode ser reaproveitado ao invés de ser descartado, como, por exemplo, para fazer sabão de maneira simples (veja a receita aqui). Entretanto, caso prefira descartar o material, saiba como lidar e onde destinar corretamente esse tipo de material visitando esta página sobre postos de reciclagem..

Por outro lado, na Inglaterra, há mais um motivo para abandonar esse hábito nada amigável para o meio ambiente: a cidade de Londres está apostando em geradores de energia elétrica movidos por óleo de cozinha.

Trinta toneladas do material, fornecido por restaurantes e empresas alimentícias, serão recolhidas diariamente pela prefeitura que, misturada a gordura animal e óleo vegetal, gerarão 130 gigawatts por hora, o suficiente para abastecer 40 mil casas de médio porte.
O projeto terá seu início em 2015 e, além de colaborar com a geração de energia barata, ajudará a capital do Reino Unido a resolver um de seus principais problemas ambientais. Mensalmente, a cidade gasta um milhão de libras para limpar os 40 mil bloqueios no sistema de esgoto, causados pelo descarte inadequado de óleo.

 

Fonte: eCycle