Leitura no ponto de ônibus!


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Quem já esperou um ônibus em pé, por mais de uma hora, sabe o valor de um banquinho ou de uma sombra para se abrigar do sol. Pois aqui em Piracaia, SP, a grande maioria dos pontos de ônibus foi construída para ser amigável com a população: as paradas têm estrutura de madeira e pedra, cobertura de telha cerâmica e um grande banco para abrigar várias pessoas. E tem mais: quase todos os pontos têm plantas ao redor – em geral, primaveras – para deixar o local mais bonito.

O resultado desse cuidado é que as paradas de ônibus chamam a atenção de turistas e visitantes que apenas atravessam a cidade. Pois bem, por que estou contando isso para você? Bom, a história começou quando um casal de amigos, que se mudou recentemente para a ecovila, chegou à cidade com aquele olhar estrangeiro que, mais até do que os “nativos”, é capaz de notar e valorizar as belezas do lugar.

Eles ficaram encantados com os tais pontos de ônibus. E, então, vieram com uma proposta incrível: que tal transformar esses lugares em espaços de leitura, com a instalação de uma caixa-estante para livros e revistas em cada um deles, e com um paisagismo ainda mais bacana e caprichado? A ideia ecoou pela comunidade, conquistou amigos da cidade para se integrar como parceiros e, assim, foi apresentada à prefeita, que decidiu apoiar completamente o projeto.

Uau. Esta é, sem dúvida, uma iniciativa simples e de baixo custo, que já existe em algumas cidades do Brasil e do exterior, e que tem um bom potencial para repercutir muito positivamente entre os moradores, especialmente pelo seu caráter comunitário, participativo e de economia solidária.

Como vai funcionar? Designers parceiros do projeto vão criar opções para a caixa-estante, que será construída na marcenaria da prefeitura. Os livros e revistas, num primeiro momento, poderão vir de campanhas de doação. Quando estiverem disponíveis nos pontos de ônibus, poderão ser lidos durante o tempo de espera do ônibus ou mesmo levados na viagem para serem devolvidos no ponto de destino.

Algumas paradas podem ter caixas-estantes temáticas: na frente do posto de saúde, por exemplo, a ideia é dar preferência a títulos que falem de alimentação saudável, fitoterapia, atividades físicas, cuidados preventivos com a saúde etc.; já em frente ao parque ecológico da cidade, onde acontecem as provas práticas para quem está tirando a carteira de habilitação, o mote pode estar em livros e revistas que tratem de segurança no trânsito e mobilidade urbana. O mais importante, na verdade, é incentivar e promover a leitura. E, para isso, vale de tudo, de livros de literatura a biografias e outras obras de não-ficção, gibis, revistas e textos de poetas da cidade.

Vale ressaltar o paisagismo que queremos dar a cada parada, com trepadeiras e outras plantas que possam embelezar o lugar e torná-lo ainda mais convidativo, até para quem não está interessado em entrar em um ônibus – aliás, a intenção é transformar cada ponto de ônibus em um local de convivência comunitária. Ah, sim, também será instalada uma lixeira em cada ponto, por razões que dispensam comentários, e um mural de avisos, uma vez que hoje é comum ver os postes da estrutura serem usados para pregar cartazes de todo tipo (de campanhas de vacinação, oferta de “serviços esotéricos”, avisos de shows e festas populares, entre outros).

Mas, você pode perguntar, e se não devolverem os livros? Tudo bem, sinal de que gostaram da leitura. Basta repor e pronto. Sem dramas. O importante é experimentar e não deixar que a desconfiança fale mais alto. Muitas vezes, as cidades são desenhadas como se os moradores fossem todos vândalos! Os parques têm grades para serem fechados à noite, as árvores ficam em cercadinhos para não serem depredadas, as escolas têm muros cada vez mais altos e quase toda superfície plana na fachada dos prédios recebe pontas de ferro, cacos de vidro ou outro material que possa afastar pessoas em situação de rua ou gente interessada em sentar por apenas alguns minutos.

Essa arquitetura do medo e da desconfiança no outro não torna a cidade melhor. Ao contrário. Esse diálogo, com o tempo, vai tornando os moradores mais fechados, distantes, desinteressados pelo patrimônio público. É preciso mudar, dar um voto de confiança, testar, acreditar na população. E é por isso que estou bem animada com esse projeto por aqui. Ele representa uma vontade de trocar com a população, de conversar com ela, de tornar as idas e vindas mais acolhedoras. Ler é sonhar, é enxergar novas possibilidades, é descobrir empatia e compaixão, é se espelhar no outro para acreditar na mudança.

A oferta de livros em pontos de ônibus pode também levar à realização de outros eventos ligados à leitura: mediação de leitura, rodas de contação de histórias, saraus literários em escolas, bibliotecas e praças públicas, feiras de trocas de livros, além de festas literárias que valorizem a feiras de trocas. Gostou? Então, que tal começar aí na sua cidade? Pode ser no seu condomínio, na sua escola, no clube, no parque, na academia…

Texto escrito por Giuliana Capello do Planeta Sustentável

Cinco livros de sustentabilidade para começar bem a leitura profissional de 2014


por Ricardo Voltolini

Entre as boas resoluções de início de ano, poucas acrescentam mais valor à carreira e à  formação de um profissional do que atualizar o repertório de ideias e conhecimentos. Janeiro é um bom mês para ler – ou começar a ler – aqueles livros importantes relacionados aos temas da sustentabilidade que você deixou de comprar, mas que podem fazer diferença no seu desenvolvimento. De uma farta lista de possibilidades, recomendo cinco livros básicos, nem todos lançados em 2013.

1) A Terceira Revolução Industrial

Comece a jornada com um clássico: A Terceira Revolução Industrial, (M.Books/2012), de Jeremy Rifkin. O autor, sabe-se, é um dos pensadores sociais mais influentes do mundo – alguns primeiros-ministros europeus, não por acaso, o têm na conta de conselheiro. E é também – vale destacar – um dos mais prolíficos.

Escreveu 18 livros que frequentam a cabeceira dos principais tomadores de decisão no mundo. Nesta nova obra, ele sugere, com o costumeiro brilho, que uma combinação de internet com energias renováveis – o binômio energia-comunicação – ajudará a construir a chamada terceira revolução industrial.

Entre as ideias discutidas, merece destaque a de redes distribuídas de energia. Rifkin acredita que as pessoas produzirão a sua própria energia verde em casa, nos escritórios e fábricas. E mais do que isso, vão compartilhá-la com outros indivíduos por meio de uma espécie de “internet da energia”.

Para o pensador norte-americano, a colaboração geradora de capital social e o poder lateral – menos hierarquizado, com as pessoas participando ativamente da produção de riqueza – determinarão uma nova maneira de governar a sociedade, educar crianças, participar da vida cívica e gerir empresas, resultando em milhares de novos negócios e milhões de empregos. CEOs de todo o mundo estão de olho no modelo proposto por Rifkin. Sugiro que você também tome conhecimento dele nesta obra referencial.

2) Capitalismo Climático

Na mesma linha dos “clássicos”, muna-se de fôlego para enfrentar as 390 páginas repletas de dados de Capitalismo Climático (Cultrix-Amana-Key/2013), de L. Hunter Lovins e Boyd Cohen. O resultado – garanto – mais do que compensará o esforço. Lovins foi coautora de Capitalismo Natural (1999), considerado por muitos o primeiro livro importante a relacionar os desafios ambientais com a ideia de lucro.

Em Capitalismo Climático, apoiados numa extensa e invejável base de informações, os autores partilham a sua convicção de que vão lucrar muito as empresas, governos e sociedades que antes compreenderem e praticarem soluções empreendedoras baseadas em eficiência energética, energia renovável, prédios e bairros verdes e mercados de carbono.

O que confere força à obra da dupla Lovins-Cohen é o fato de que ela não se escora em meras suposições, opiniões retóricas ou projeções futuristas, mas em fatos atuais, costurados a partir de uma análise de exemplos e estudos de casos de empresas e governos modelares no tema. Até mesmo os céticos darão o braço – pelo menos meio – a torcer ante as evidências apresentadas pelos autores.

3) A Via

Ponha na mesma cesta dos clássicos parrudos o ensaio A Via (Bertrand Brasil/2013), de Edgar Morin. O autor dispensa maiores apresentações. No opinião de muitos – incluo-me na lista –, o antropólogo, sociólogo e filósofo francês é hoje o mais fecundo pensador contemporâneo. Com o desafio autoimposto de “reunir o disperso”, Morin  organiza suas reflexões em torno de quatro tipos de reformas com vistas ao melhor futuro para a humanidade.

Entre elas, defende a regeneração das relações sociais e ambientais, e a redução das desigualdades sociais. Prega uma revisão profunda do pensamento, da educação e da democracia cognitiva. Suscita um rico debate sobre reformas relacionadas à medicina e saúde, cidade e habitat, agricultura, alimentação, consumo e trabalho.

E recomenda, por último, o que chama de “reformas da vida”, abordando aspectos  como a família, condição feminina, adolescência, envelhecimento e morte. Leitura absolutamente imperdível. Pelo que tem de profundamente filosófica. Mas sobretudo pelo que carrega de desconfortável, ousada e original, no melhor sentido desses três termos. Discorde-se ou não de Morin, é impossível ficar indiferente a suas ideias.

4) O que o Dinheiro não Compra

Se você ainda não leu O que o Dinheiro não Compra (Civilização Brasileira/2012), de Michael Sandel, não deixe janeiro passar em branco. Consagrado mestre de Harvard, Sandel tornou-se um pop star do mundo acadêmico. Suas aulas-palestras costumam atrair multidões mundo afora.

Tratando de questões muito provocativas, o professor desconstrói uma série de atividades – como, por exemplo, comprar a apólice de uma pessoa idosa com o objetivo puro e simples de receber, no mais curto prazo, a indenização por sua morte – para as quais o mercado confere um contestável valor econômico, incitando reflexões interessantes sobre os limites morais quase sempre deixados de lado.

O livro – penso – equivale a uma aula sobre o papel dos mercados na vida pública e nas relações pessoais e também sobre até que ponto existem bens – que pelo bem da humanidade! – simplesmente não deveriam ser colocados à venda.

5) Justiça – O que é fazer a coisa certa

Do mesmo autor, aproveite também para ler, em sequência, o seu livro anterior, Justiça – O que é fazer a coisa certa (Civilização Brasileira/2009). Com uma ajudinha das ideias de Aristóteles, Immanuel Kant, John Mill, Robert Nozik e John Ravis, Sandel expõe conflitos reais, cotidianos e incômodos, a respeito de escorregadelas morais do mercado, levando-nos a pensar num modelo de sociedade em que seria desejável viver. As dicas estão aí. Bom exercício para as sinapses neste início de 2014.

 

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   Ricardo Voltolini é diretor-presidente da Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade (www.ideiasustentavel.com.br), idealizador da Plataforma Liderança Sustentável e autor do livro “Conversas com Líderes Sustentáveis” (editora SENAC-2011).