‘Rebelião Internacional’ contra mudanças climáticas toma cidades do mundo


Ativistas pelo clima do grupo Extinction Rebellion protestam em Nova York, com sangue falso no touro de Wall Street. (Mike Segar/Reuters)

Militantes do movimento ecologista de desobediência civil Extinction Rebellion (XR) iniciaram ações no mundo todo, de Sydney e Nova York a Londres e Paris, para protestar contra a falta de ação ante as mudanças climáticas. O XR nasceu no final de 2018 no Reino Unido por iniciativa de um grupo de ativistas e acadêmicos que estimulam a desobediência civil não violenta. Hoje diz ter 500 grupos em 72 países.

Os protestos que devem durar duas semanas, estão programadas, sob o nome “Rebelião Internacional”, ações em 60 cidades do planeta, entre elas Madri, Viena, Amsterdã, Buenos Aires, México, Rio de Janeiro e Bogotá.

Eles contam com o apoio de Greta Thunberg, a adolescente sueca que inspirou os protestos de estudantes em defesa do meio ambiente. Pedem que se declare “emergência climática” e que os governos estabeleçam para 2025 o objetivo de alcançar a neutralidade nas emissões de gases causadores do efeito estufa.

Sua principal forma de protesto consiste em bloquear acessos, seja de tráfego, seja aos prédios, às vezes dando-se as mãos para formar correntes humanas, ou simplesmente sentando no chão. Participam destes atos centenas de “voluntários prontos para serem detidos”.

Em Nova York, cerca de 200 manifestantes se reuniram no Battery Park para realizar uma “procissão fúnebre” até Wall Street, onde jogaram sangue falso na icônica estátua do touro, Charging bull. “Precisamos de imagens como esta para conseguir a atenção das pessoas”, disse James Comiskey, de 29 anos, enquanto participava da marcha carregando um caixão feito de papelão. Cerca de 30 manifestantes foram presos. No Canadá, dezenas de pessoas bloquearam estradas em Toronto, Halifax e Edmonton.

Prisões na Europa

Um total de 215 pessoas foram presas em Londres, onde os manifestantes bloquearam muitas ruas e protestaram em vários pontos próximos ao Parlamento e à sede do governo, em um ambiente festivo.

Dançando ao ritmo de tambores, centenas de ativistas, muitos com crianças pequenas, se reuniram perto de Downing Street com cartazes que diziam “O futuro pertence à próxima geração”.

“Há muito mais policiais e claramente vão tentar impedir que o Extinction Rebellion ocupe o lugar durante dias”, disse um ativista, Mike Buick, fabricante de móveis de 40 anos, comparando esta ação com as realizadas em abril, quando o XR manteve a capital britânica colapsada durante 11 dias de protestos que resultaram em mais de 1,1 mil prisões.

Paris se somou ao protesto global bloqueando uma ponte e uma plataforma sobre o Sena. “Nossos governos não fazem nada, ou mentem”, disse uma jovem de 27 anos que participava da mobilização e se identificou como Aurora.

Em Madri, cerca de 200 jovens fantasiados e maquiados para representar catástrofes naturais como a “desertificação”, “as inundações” ou “os incêndios” se reuniram em frente ao Ministério para a Transição Ecológica, onde instalaram barracas com a intenção de acampar.

Chegou a hora de realizar “medidas de pressão muito mais contundentes, só uma revolução global, maciça, e com a desobediência civil não violenta pode gerar as mudanças necessárias para nossa sobrevivência”, afirmou Mabel Moreno. Mais de 90 manifestantes foram detidos em Amsterdã, informou a polícia da cidade holandesa, onde os ativistas afirmavam sua determinação de lutar contra a inação.

Em Viena a polícia também prendeu 75 pessoas por bloquearem uma das principais artérias do centro da cidade. “Vamos tentar fazer isto a semana inteira, o ano inteiro, enquanto eles (o governo) não agirem”, disse Shirleen Chin, de 34 anos. “Acreditam que isto não é normal, mas vai se tornar a nova normalidade”, acrescentou.

Em uma manhã gelada, também centenas de manifestantes se reuniram na “grande estrela” de Berlim, uma das principais rotatórias da cidade, equipados com mantas e sacos de dormir. E no parque entre o Parlamento alemão e a sede do governo foi instalado um “acampamento climático” que durante a semana organizará grupos de trabalho e reuniões de informação.

Também no hemisfério sul

Muitos países africanos participavam também com mobilizações, como na Cidade do Cabo, na África do Sul, onde meia centena de pessoas marcharam pelo centro com um grande cartaz amarelo que dizia “Emergência climática ecológica”, e os manifestantes deitaram no chão simulando estar mortos. “Fazemos isso para sublinhar a ameaça de extinção se não mudarmos nossos hábitos”, afirmava Jade Vester, estudante de 20 anos.

Marcando o início da “Rebelião Internacional”, na Austrália os ativistas se reuniram na escadaria do Parlamento em Melbourne, antes de desfilarem pelas ruas da cidade. E em Wellington, a capital neozelandesa, vários militantes se acorrentaram a um carro rosa, o que provocou perturbações no centro.

AFP