Centro-americanos e brasileiros tentam salvar agricultura das secas


A reserva de La Concepción, que abastece 30% do consumo hídrico de Tegucigalpa, capital de Honduras, afetada pela seca em 14 de setembro de 2019 (AFP/Arquivos)

Uma delegação de agricultores da Guatemala, de El Salvador e de Honduras buscará no Brasil alternativas para superar os efeitos causados por secas repetidas na agricultura, informou nesta sexta-feira a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) em San Salvador.

Além de compartilhar experiências acumuladas entre as “regiões mais secas do planeta” que têm semelhanças, “serão discutidas alternativas para reduzir o impacto” da seca na agricultura, afirmou a FAO em comunicado.

O encontro dos agricultores que vivem no chamado “Corredor Seco” e seus parceiros do sul está agendado de 19 a 26 de novembro em Petrolina, Pernambuco, cidade no semiárido do nordeste

Os centro-americanos conhecerão detalhes técnicos de especialistas da Embrapa Semiárido e de outras instituições, no âmbito do projeto da Iniciativa América Latina e Caribe para 2025.

A FAO estima que cerca de 10,5 milhões de pessoas vivem no corredor seco, a maioria delas na Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala. Aproximadamente 60% dessa população vive na pobreza.

Nos países da América Central, mais de 2 milhões de famílias dependem da agricultura de subsistência e estão constantemente em risco de insegurança alimentar devido a secas recorrentes, atribuídas principalmente às mudanças climáticas.

AFP

Transgênicos e o dever de informação


No Brasil, o plantio de transgênicos foi legalizado em 1998 com a liberação de soja tolerante a herbicidas pela CTNBio (Reuters)

Renan Tolentino Saraiva*

Inegável é o fato de que os avanços tecnológicos vêm contribuindo para o desenvolvimento de técnicas produtivas cada vez mais eficazes e melhor adaptadas à demanda. Estudos laboratoriais pioneiros demonstraram a viabilidade da utilização de genes com a finalidade de que uma espécie receptora passasse a manifestar traços singulares de uma espécie doadora distinta. Dentre os experimentos realizados, destaca-se a criação de muda transgênica de tabaco a partir da inclusão de genes que codificavam luciferase em seu DNA, fazendo com que a planta se tornasse fluorescente, fato documentado pela revista Science em 1986.

A partir de então, cientistas utilizaram a transgenia para desenvolver organismos vegetais dotados de melhoramentos genéticos, com o objetivo de aumentar a produtividade, potencializar a resistência a doenças, diminuindo perdas e prolongando prazos de validade. Entretanto, em razão da veloz introdução dos organismos geneticamente modificados no mercado de consumo, questionamentos foram suscitados no que diz respeito a possíveis impactos sociais e ambientais decorrentes de seu consumo, já que evidenciou-se nesses organismos potencial alergênico, maior resistência a antibióticos, probabilidade de produção de toxinas, maior concentração de metais pesados e redução de valores nutricionais.

No Brasil, o plantio de transgênicos foi legalizado em 1998 com a liberação de soja tolerante a herbicidas pela CTNBio. Desde então, o plantio de OGM intensificou-se e, em 2017, o país tornou-se o segundo que mais planta transgênicos no mundo, conforme pesquisa do ISAAA. Diversamente dos Estados Unidos, o Brasil optou pela regulamentação do plantio e comercialização de transgênicos, o que implicou na elaboração de legislação específica sob viés garantista, em especial a Lei de Biossegurança e o Código de Defesa do Consumidor.

No que concerne aos direitos consumeristas, destaca-se o dever de informação, obrigação legal imposta ao fornecedor de produtos ou serviços, que traz a necessidade de informar, adequada e claramente, acerca das características, composição, qualidade e atributos do produto, conforme prevê o art. 6º, III, CDC. Nessa mesma linha, a Lei de Biossegurança estipula, em seu art. 40, a obrigação de informar nos rótulos ou embalagens a presença de OGM se essa for superior a 1% da composição final do produto, o que originou o símbolo triangular amarelo com a letra “T”. O uso da simbologia facilita a imediata identificação pelos consumidores e representa dupla garantia ao resguardar conjuntamente interesses de consumidores e produtores.

Contudo, na contramão da atual principiologia, foi proposta a retirada do referido símbolo no Projeto de Lei Complementar 34/2015, havendo menção à presença de transgênicos em pequenas letras em locais pouco evidentes nos rótulos.

A supressão do símbolo de transgênicos nos produtos pode vir a reforçar ainda mais a reputação negativa frequentemente atribuída a esses produtos, podendo gerar efeitos ainda mais controversos. Portanto, pode-se inferir que a mitigação ao dever de informação, direito já consolidado, não se evidencia como a alternativa mais adequada no tocante aos OGM, abrindo-se espaço para debates e reflexões quanto à temática ora exposta.

*Graduando em Direito, na modalidade integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara. Atualmente membro do grupo de pesquisa CEBID – Centro de Estudos em Biodireito.

Sistema alimentar sustentável é vital para o fim da fome


O Dia Mundial da Alimentação foi comemorado na última quarta-feira, 16 de outubro, tendo a sustentabilidade como tema (relembre aqui e aqui o que o foi postado no IS sobre o tema) . A data também marca o aniversário da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, fundada em 1945.

Para a FAO, pessoas saudáveis dependem de sistemas de alimentação saudáveis. Em mensagem sobre o dia, o diretor da agência, José Graziano da Silva, lembrou que o total de pessoas que passam fome no mundo diminuiu, mas 842 milhões ainda sofrem de fome crônica.

“Podemos ir mais longe, erradicando a fome no Brasil e no mundo. Porque quando nós falamos de fome, o único número que podemos aceitar é zero. A agricultura familiar tem um papel essencial nessa luta. O setor é um dos maiores produtores e fornecedores de alimentos no Brasil e na grande maioria dos países em desenvolvimento. Ainda assim, permanecem em muitos casos uma grande brecha entre a produção e o potencial que pode ser explorado.”

Acesso

A FAO alerta para a degradação da natureza, causada por modelos insustentáveis de desenvolvimento, que ameaçam ecossistemas e biodiversidade.

Segundo a agência, a produção e o processamento dos alimentos são feitos pelo ambiente, pessoas, instituições e agricultura.

Por isso, a agência da ONU destaca que todo aspecto do sistema alimentar tem um efeito na disponibilidade e no acesso a produtos diversos e nutritivos e em consequência, na habilidade dos consumidores em poder seguir uma dieta saudável.

A FAO destaca que o Dia Mundial da Alimentação é uma oportunidade de explorar essas questões e serão realizados vários eventos na sede da agência em Roma, na Itália, incluindo um debate de alto nível sobre o desperdício de comida.

(Rádio ONU)

Foto: Reprodução.

Fonte: Mercado Ético

Poluição de nitrogênio pode ser cortada pela metade


 

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Metade dela vem da agricultura

O mais importante fertilizante para a produção de alimentos é o nitrogênio. Mas como acontece com qualquer fertilizante ou pesticida, a dose pode se provar um veneno.

Compostos químicos contendo nitrogênio reativo são grandes motivadores da poluição do ar e da água em todo o mundo, e de doenças como asma e câncer. Se usado em excesso, sua poluição pode aumentar em 20% até 2050, de acordo com estudo de cientistas do Instituto de Pesquisa de Impactos da Mudança do Clima de Potsdam, na Alemanha.

No entanto, medidas ambiciosas de mitigação podem reduzir esta poluição em 50%. A análise é a primeira a quantificar o problema. “O nitrogênio é um nutriente insubstituível e ajuda a agricultura a alimentar uma população mundial crescente, mas infelizmente é um poluente perigoso,” afirma Benjamin Bodirsky, principal autor do estudo.

Nas formas diferentes que assume através de reações químicas, o elemento contribui em grandes escala com a poeira respirável, leva à formação de ozônio no nível do solo e desestabiliza aquíferos. Apenas na Europa, os danos foram estimados em 1% a 4% da produção econômica, o que significa bilhões de euros.

Metade destes danos procedem da agricultura. “Fica claro que sem medidas de mitigação, a situação global pode deteriorar com o aumento da demanda por alimentos,” afirma Bodirsky, que também trabalha para o Centro Internacional de Agricultura Tropical, na Colômbia.

Existe um meio de reduzir substancialmente os riscos – a agricultura pode usar o nitrogênio de maneira mais seletiva para as necessidades das plantas, utilizando mensurações do solo. Hoje, uma de cada duas toneladas de nitrogênio colocada nos campos não é absorvida pelas plantas, mas levada pelo vento, pela chuva, ou decomposta por micro-organismos,  de acordo com o Science 2.0.

Foto: Ian Sane/Creative Commons

Fonte: Planeta Sustentável

Sustentabilidade na cultura cafeeira


Sustentabilidade na cultura cafeeira, artigo de Roberto Naime

café

Café. Foto Embrapa

 

[EcoDebate] Já se encontra em operação o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira, que tem viabilizado junto à Embrapa Café principalmente, a destinação de recursos e a viabilização de pesquisas que propiciam o desenvolvimento de cultivares, adaptação climática às várias regiões produtoras no país, manejos de culturas, estresse biótico e abiótico de culturas de café, tecnologias e mecanismos de defesa contra pragas e infestações e várias outras situações que envolvem a economia cafeeira.

Esta iniciativa deve ser saudada, pois tem viabilizado a contratação de projetos de pesquisa com focos temáticos de grande interesse, atuando em harmonia com as maiores demandas da sociedade, que é a execução de procedimentos ambientais em busca da sustentabilidade. Projetos divulgados recentemente pela Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, envolvem os temas de sustentabilidade da cafeicultura na montanha, estresses bióticos e abióticos, projetos na área de qualidade e marketing e estudos sobre deficiências encontradas nos processos de transferência de tecnologia.

Particularmente, os melhoramentos genéticos e adaptações às condições locais, o desenvolvimento de cultivares com elevado potencial de produtividade e qualidade e apropriações tecnológicas no manejo de pragas, fazem do país um líder mundial em tecnologias de produção na cultura cafeeira.

Se sabe que existem produção e produtores de café orgânico, mas se respeita as opções individuais e as vontades pessoais de cada produtor. Mas certamente não haveria qualquer desperdício em procurar exercitar e desenvolver mecanismos que atuassem no sentido de procurar integrar cada vez mais a cultura com as características dos diversos ecossistemas e biomas, nos quais existem cultivos de cafezais. E esta é uma lavoura que existe desde o Paraná até o extremo norte do país.

O site da EMATER de Minas Gerais (consultado em 28/08/2014), notícia o programa “Certifica Minas Café”, identificando que cerca de 1.600 propriedades produtoras seriam certificadas até o final de 2012. O programa é uma iniciativa do governo estadual e executado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), por meio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER-MG) e do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O Certifica Minas Café estimula os produtores a adotarem boas práticas de produção, uma gestão moderna da propriedade e incentiva a preservação ambiental. O programa merece ser saudado, porque viabiliza mudanças que toda sociedade anseia.

Técnicos da EMATER de Minas Gerais orientam os produtores que posteriormente se submetem a uma checagem do Instituto Mineiro de Agropecuária e em seguida uma certificadora de reconhecimento internacional faz a auditoria final e concede a certificação para as propriedades.

O programa enfatiza as boas práticas de cultivo e manejo, ressaltando a permanente necessidade de equilíbrio entre produção e aspectos ambientais. Em Minas Gerais a cafeicultura está situada nas principais bacias hidrográficas do Estado, que é responsável por mais de 50% da produção nacional.

Notícias do site da EMATER de Minas Gerais indicam a existência da necessidade de se submeter a 95 itens para certificação, sendo 34 itens voltados para a preservação ambiental, com ênfase à conservação de recursos hídricos, que conta com 23 itens específicos. Em todas as propriedades, é enfatizada a proteção das nascentes existentes, que devem estar protegidas para evitar pisoteio por animais e consequente compactação, que dificulta a recuperação de matas ciliares.

A manutenção de vegetação entre as linhas do cafeeiro, a construção de caixas de contenção de enxurradas e a realização de roçadas para controle de matas, estão entre as práticas que melhoram a infiltração de água no solo, reduzindo o escoamento superficial e evitando a evapotranspiração. E desta forma favorecendo o desenvolvimento de microfauna, e também flora nos solos, aumentando a biodiversidade e evitando a ocorrência de erosão.

Os preceitos ambientais trabalhados no Certifica Minas Café, incluem adequada destinação dos resíduos sólidos das propriedades e tratamento dos efluentes domésticos e agroindustriais. Plantio de árvores é incentivado permitindo sombreamento da cultura e maior proteção física aos solos, particularmente na infiltração de água.

As águas dos lavadores de café são reutilizadas e os agrotóxicos necessários para a produção convencional são armazenados em locais seguros, com as embalagens sendo devolvidas conforme previsão em locais autorizados.

É certo que o maior desafio é alterar o paradigma de produção convencional para uma forma de produção orgânica com controle biológico de pragas e outras iniciativas de médio e longo prazo, que não produzam ruptura sistêmica ou condições de inviabilidade econômica. Mas experiências como estas fazem acreditar que tudo é possível, a médio ou longo prazo, se houverem mudanças lúcidas e relevantes, sem preconceitos pela alteração de paradigmas, em cenários onde não sejam hegemônicos, apenas interesses econômicos imediatos.

Esta aspiração, não se refere apenas a esta cultura, mas ao conjunto de cultivos agrícolas, mesmo de médio e grande porte, para que se tenha uma agricultura em pleno equilíbrio e harmonia com ecossistemas e biomas, e que torne desnecessária discussão sobre eficiência de moléculas e novos venenos de controle de pragas.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Celebração da vida [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

Publicado no Portal EcoDebate, 18/06/2015

A marginalização da agricultura é resultado do atraso, não do progresso.


Entrevista especial com Antonio Buainain

 

“A postura adequada não é de se colocar contra a modernização, mas ver como é possível capacitar os agricultores familiares para se beneficiar das ondas de progresso”, declara o economista.

 Foto: agropecuariadoreino.com.br

“A insistência em afirmar que a agricultura familiar é responsável pela produção de 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros” é uma das teses equivocadas acerca da realidade agrícola, diz Antonio Buainain, ao defender que “há um descompasso entre a realidade rural de hoje e as interpretações dominantes, tanto nos meios acadêmicos como governamentais, que parecem não incorporar plenamente as transformações ocorridas, e com isto negam a realidade”.

Editor do livro O mundo rural no Brasil do Século 21: A formação de um novo padrão agrário e agrícola, juntamente com Eliseu Alves, José Maria da Silveira e Zander Navarro,Buainain explica que a obra recém-lançada apresenta algumas teses sobre o desenvolvimento agrário brasileiro, considerando um amplo período em que o setor vem sofrendo transformações.

Entre as teses apresentadas, o economista salienta as mudanças no desenvolvimento agrícola e agrário desde os anos 1990, entendida como “inédita e irreversível dinâmica produtiva e econômica social, um verdadeiro divisor de águas em nossa história geral”, que gerou um novo padrão agrário e agrícola. Esse processo, pontua, começou a ser modelado ainda na década de 1950, mas ganhou impulso nos anos 1970, “com o estímulo à modernização tecnológica, e se consolidou a partir dos anos 1990, colocando o capital, em suas várias modalidades, no centro do desenvolvimento agrícola e agrário, deslocando a importância econômica e o poder político associado à propriedade da terra para os detentores de capital”.

Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail, Buainain argumenta que o “Estado continua desempenhando funções antigas, em prejuízo de novas funções que são absolutamente relevantes para o desenvolvimento rural”, e isso explica, em parte, a disparidade entre as condições de investimento dos pequenos agricultores e do agronegócio.

Apesar das “contradições” evidenciadas no novo modelo, ele assegura que se trata de “um padrão de produção e organização que intensifica o uso dos recursos disponíveis a partir de investimentos em todas as áreas, desde investimentos na própria terra até nos equipamentos e na gestão. É um padrão que segue as exigências, crescentes, do mercado e da sociedade, que querem alimentos seguros, produção sustentável, relações sociais decentes, etc. Uma parte da agricultura familiar se encaixa e é líder em vários segmentos, e outra parte, infelizmente em grande número, está marginalizada e não consegue se inserir por falta de condições para atender estas exigências”. E acrescenta: “Quando olhamos os indicadores sociais das cidades nas fronteiras, constatamos que são bem superiores à média nacional. Ora, onde está o lado tão negativo deste novo padrão? Eu insisto: a pobreza e a exclusão se devem ao atraso, e não ao novo padrão”.

Na nova conjuntura agrícola, Antonio Buainain insiste que não há necessidade de levar adiante o projeto da reforma agrária, porque ele “correspondia à realidade dos anos 1950 e 1960”. E explica: “Quando o Estatuto da Terra foi definido, fazia sentido falar em latifúndio improdutivo e na desapropriação destas unidades para fins de reforma agrária. Também se vivia uma situação de carestia devido à dificuldade que a agricultura tinha para abastecer os mercados urbanos, em expansão acelerada. E havia jovens que de fato gostariam de ter um pedaço de terra para produzir, criar a família, ali sobreviver. Tudo isto mudou: a agricultura brasileira é hoje uma grande produtora de alimentos, e passamos de importadores a exportadores; a improdutividade, quando ocorre, não tem nada que ver com a figura do latifundiário absenteísta, explorador, que não quer produzir porque é um simples especulador”.

Para ele, o desenvolvimento do Brasil depende do investimento na agricultura e no modelo exportador, já que a indústria “está falindo porque não conseguiu acompanhar o novo padrão mundial”. E conclui: “No fundo é isto: temos que reconhecer que a dificuldade da indústria se deve ao atraso da indústria, que pode ser explicado por muitas razões, desde uma política pública equivocada, condições sistêmicas ruins, instabilidade macro, custos de energia elevados, distorções institucionais, etc. A agricultura não apenas acompanhou as mudanças globais, como liderou alguns processos”.

Antonio Buainain é graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e em Ciências Econômicas pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, mestre em Economia pelaUniversidade Federal de Pernambuco – UFPE e doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, onde leciona atualmente.

Confira a entrevista.

 Foto: www.unicamp.br

IHU On-Line – Quais são as principais mudanças evidenciadas no mundo rural brasileiro nesta primeira década e meia do século XXI?

Antonio Buainain – O livro o Mundo rural no Brasil não trata de mudanças nesta primeira década e meia do século, mas em um arco temporal mais largo, sem a preocupação de datar, com precisão, as mudanças que são hoje visíveis e, do nosso ponto de vista, incontestáveis, pelo menos à luz das informações objetivas sobre o mundo rural brasileiro. Estas mudanças dizem respeito à organização, forma e conteúdo da produção agropecuária; dizem respeito à ocupação e organização social no meio rural; dizem respeito à dinâmica populacional e às condições de vida. No artigo 7 teses sobre o desenvolvimento agrário brasileiro, publicado no ano passado, cada tese se referia, de maneira provocadora, a um conjunto de mudanças.

A primeira tese sustenta que, a partir da década de 1990, o desenvolvimento agrícola e agrário “passou a experimentar uma nova, inédita e irreversível dinâmica produtiva e econômico-social, um verdadeiro divisor de águas em nossa história geral”. Sustentamos que ocorreu uma mudança radical no padrão de acumulação da agricultura, e que “as mudanças dizem respeito às fontes de produção da riqueza social”. No passado, a produção agropecuária dependia do binômio que combinava uma oferta quase ilimitada de mão de obra desqualificada e barata com a disponibilidade de terras baratas e relativamente férteis nas fronteiras. O que estamos chamando “novo padrão” — resultado de um processo que tem início no final dos anos 1950, de forma bem localizada, ganhou impulso nos anos 1970, com o estímulo à modernização tecnológica, e se consolidou a partir dos anos 1990 — coloca o capital, em suas várias modalidades, no centro do desenvolvimento agrícola e agrário, deslocando a importância econômica e o poder político associado à propriedade da terra para os detentores de capital.

As mudanças estão associadas, de forma direta e indireta, à dinâmica imposta pela lógica da acumulação de capital, que é muito distinta da lógica de acumulação patrimonial que historicamente dominou a agricultura.

 

“Em uma sociedade que se move, quem fica parado fica para trás”

IHU On-Line – Antes de aprofundar sobre os fatores que contribuíram para estas mudanças, poderia comentar, brevemente, a motivação dos senhores com as teses?

 

Antonio Buainain – Sim. É bom observar que as teses são, na verdade, hipóteses, que foram propostas para provocar o debate e a maior compreensão sobre o quadro atual e perspectivas da agricultura e mundo rural brasileiro. Em nossa opinião há um descompasso entre a realidade rural de hoje e as interpretações dominantes, tanto nos meios acadêmicos como governamentais, que parecem não incorporar, plenamente, as transformações ocorridas, e com isto negam a realidade. Nosso ponto de vista é mais ou menos o seguinte: cada um tem todo o direito de pensar e defender suas ideias, sejam elas quais forem, desde que não firam a própria democracia e os direitos estabelecidos, incluindo o das minorias. Mas não é saudável, para o debate, negar a realidade para defender as ideias, pois além de se constituir clara mistificação que nada tem de científico, gera políticas equivocadas e trazem prejuízo para o país e até para os grupos que se pretende defender. Quer um exemplo? A insistência em afirmar que a agricultura familiar é responsável pela produção de 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. O Professor Rodolfo Hoffman, talvez o maior conhecedor das estatísticas sobre a agropecuária e mundo rural brasileiro, já mostrou, usando aritmética bem simples, que esta afirmação é absurda. Não se trata de negar, e ninguém faz isto, a importância destes produtores, mas para afirmá-la não é necessário falsificar a realidade. Este exemplo vale para muitos outros campos, desde a reforma agrária até a questão ambiental, passando pelo latifúndio improdutivo e pelas polarizações que marcam os debates agrários no Brasil, como os que opõem agricultura familiar ao agronegócio, pequenos versus grandes, ou ainda as falsas identidades, como modernização igual à desigualdade, agronegócio igual à pobreza rural, etc. etc.

IHU On-Line – E quais são as demais teses?

Antonio Buainain – A segunda tese sustenta a centralidade da inovação para este novo padrão e, ao mesmo tempo, aponta que a inovação é o principal desafio. Um corolário desta tese é que os produtores que não conseguem acompanhar o ritmo das inovações vão se empobrecendo e tendem a ser marginalizados. Não temos nenhuma futurologia, e esta afirmação, que surpreendentemente é negada por muitos, é apenas uma obviedade: em uma sociedade que se move, quem fica parado fica para trás. Em uma sociedade movida pela inovação, quem não inova fica para trás. A inovação é entendida de forma muito abrangente, mas, sem inovar, não tem futuro. A terceira tese é muito relevante porque sustenta que esta nova fase tem uma dupla face: de um lado, a dinâmica econômica concentra a produção, e de outro, aprofunda a diferenciação social, promovendo um processo seletivo entre os produtores que tende a excluir milhões de estabelecimentos do jogo virtuoso. Veja que não estamos idealizando o mundo rural, nem afirmando que a produção em larga escala — erroneamente associada de forma automática e negativa ao agronegócio — é toda maravilhosa. Estamos constatando a existência, mostrando a enorme capacidade de gerar riqueza, a eficiência econômica e a elevada competitividade, e ao mesmo tempo indicando como este mesmo processo, que gera indicadores positivos, é seletivo e exclui um grande número de produtores. É o que chamamos de desenvolvimento bifronte. No capítulo de políticas agrícolas, não negamos o lado positivo das transformações, nem sustentamos que é preciso destruir o agronegócio para evitar a marginalização, pois isto equivale a jogar fora o bebê junto com a água do banho, mas tratamos de refletir o que pode ser feito para incluir mais, preservando o que funciona. Até porque a marginalização é resultado do atraso, e não do progresso, e querer conter o progresso para evitar a marginalização não parece ser muito inteligente.

A quarta tese, que gera bastante polêmica, sustenta que a questão agrária, tal como vem sendo colocado no Brasil, é uma herança dos anos 1950, no máximo início dos 1960, que já foi superada pelo desenvolvimento histórico. A quinta tese fala do Estado, do seu papel e funções.

“A marginalização é resultado do atraso, e não do progresso, e querer conter o progresso para evitar a marginalização não parece ser muito inteligente”

Mais uma vez questionamos a visão corrente. Sustentamos que o Estado continua desempenhando funções antigas, em prejuízo de novas funções que são absolutamente relevantes para o desenvolvimento rural. A sexta tese sustenta que este processo ativa uma relação perversa, pois mesmo nas regiões rurais que prosperam, observa-se um certo esvaziamento. De um lado, os filhos dos produtores rurais que se saem melhor, mesmo entre os pequenos, não querem ficar no meio rural; de outro, porque ocorre uma redução de demanda por trabalho, e, em muitos locais, mesmo que a pessoa queira ficar, não encontrará condições para fazê-lo. Finalmente, na sétima tese sustentamos que no Brasil nunca tivemos uma política verdadeira de desenvolvimento rural, e que por isto se observa o que chamamos de “argentinização do campo”, de esvaziamento populacional. Trata-se de um claro exagero, e o Professor Arilson Favereto, em excelente artigo publicado no livro, questionou muito bem esta tese, mostrando que o meio rural brasileiro é profundamente heterogêneo, e que em muitas regiões observa-se uma densidade populacional elevada, e que o processo de argentinização refere-se mais a algumas regiões produtoras de grãos nas fronteiras.

IHU On-Line – Quais foram os fatores que contribuíram para essas mudanças?

Antonio Buainain – Muitos, e a importância de cada fator depende do ângulo de visão. Quando se fala das mudanças no padrão produtivo, não há dúvida de que o móvel foi a pressão do mercado. Depois da crise dos anos 1980, que se agravou fortemente após o Plano Cruzado, que estimulou o endividamento dos produtores para expandir a produção e depois viram o mercado ser comido pela inflação e pelos sucessivos congelamentos dos preços dos alimentos, os agricultores viveram momentos ainda mais dramáticos nos anos 1990, com o Plano Collor, e o próprio Plano Real, que no início penalizou muito a agricultura, não havia saída: ou ganhavam eficiência, melhoravam a produtividade, controlavam custos, ou não sairiam do buraco no qual estavam. Claro que a política pública ajudou: houve a renegociação das dívidas que permitiu aos agricultores, em sua maioria inadimplentes, voltar aos bancos para financiar a produção; teve a expansão do crédito; a estabilização econômica melhorou o ambiente e finalmente teve o fenômeno daChina, que entrou no mercado e contribuiu para a elevação dos preços das commodities para patamares “nunca vistos na história deste país”. Se você olhar pelo lado do esvaziamento populacional, podemos apontar o enorme desequilíbrio entre o campo e a cidade e o acesso às informações, que faz com que os jovens já não queiram ficar no meio rural, onde a vida é muito mais difícil do que nos centros urbanos. É interessante ver como muitos colegas defendem a manutenção das pessoas no meio rural, mas acho que sem perguntar o que elas querem. Eu acabei de coordenar uma pesquisa naBahia, que ouviu perto de 700 famílias de pequenos produtores e trabalhadores rurais. Não encontramos jovens que declarassem que queriam ficar no campo, mesmo se tivessem terra. O desejo deles é ir para a cidade, arrumar um emprego, mudar de vida.

IHU On-Line – A que projeto político e econômico esse novo padrão agrário e agrícola atende?

Antonio Buainain – Com todas as contradições, este novo padrão atende a um projeto político e econômico de desenvolver este país. A tua pergunta possivelmente tem como base a ideia de que este novo padrão é apenas negativo, o que é falso, tal como indicado, por vários colegas, inclusive por alguns que não concordam com as teses que motivaram o livro. Este padrão tem várias caras: no Paraná tem uma, de uma agricultura diversificada fortemente baseada em agricultores que são classificados como familiares; no Centro-Oeste tem outra cara, baseada em produtores de larga escala, oriundos em sua maioria do Sul do país, de famílias de pequenos agricultores, que ocuparam e transformaram terras que eram consideradas impróprias para a agricultura no celeiro do país e em uma das principais áreas produtoras de grãos do mundo. Encontraram uma fronteira braba, sem estradas, sem infraestrutura, inicialmente sem apoio do setor público, e conseguiram se estabelecer e ter sucesso. Ainda hoje enfrentam condições sistêmicas muito precárias, faltam estradas, faltam armazéns, e ainda assim competem em pé de igualdade com argentinos, americanos, canadenses, estes últimos fortemente apoiados em um fantástico aparato de políticas públicas.

A escala foi e é fundamental para sobreviver nestas condições. Tem gente que compara com a fronteira americana e se esquece de que lá o trem chegou antes dos “farmers”. E é gozado que estes caras que tiveram sucesso baseado principalmente no trabalho, cresceram, ficaram ricos, são agora considerados como inimigos dos agricultores familiares. É uma distorção tremenda de uma cultura que não lida bem com o sucesso dos outros, e que quer sempre nivelar por baixo. E quando olhamos os indicadores sociais das cidades nas fronteiras constatamos que são bem superiores à média nacional. Ora, onde está o lado tão negativo deste novo padrão?

Eu insisto: a pobreza e a exclusão se devem ao atraso, e não ao novo padrão. Os agricultores familiares que lograram se inserir nesta dinâmica são os que estão bem, mandando seus filhos embora do campo para estudar, virar doutor, melhorar de vida. E isto é uma realidade. Anos atrás fiz um estudo sobre a economia do tabaco no Sul do Brasil e fiquei impressionado com a quantidade de gente que entrevistamos nas cidades, gerentes de banco, colegas da universidade, lideranças sindicais, políticos, que eram filhos de fumicultores. E isto também já é visível no Nordeste.

“É interessante ver como muitos colegas defendem a manutenção das pessoas no meio rural, mas acho que sem perguntar o que elas querem”

IHU On-Line – Em que consiste o novo padrão agrário e agrícola brasileiro? Como a agricultura familiar se encaixa nesse novo padrão?

Antonio Buainain – Não é fácil caracterizar o novo padrão em poucas linhas, até porque ele aparece de muitas maneiras diferentes, dependendo do sistema produtivo dominante. Mas basicamente é um padrão de produção e organização que intensifica o uso dos recursos disponíveis a partir de investimentos em todas as áreas, desde investimentos na própria terra até nos equipamentos e na gestão. É um padrão que segue as exigências, crescentes, do mercado e da sociedade, que querem alimentos seguros, produção sustentável, relações sociais decentes, etc. Uma parte da agricultura familiar se encaixa e é líder em vários segmentos, e outra parte, infelizmente em grande número, está marginalizada e não consegue se inserir por falta de condições para atender estas exigências. Veja um exemplo: a produção de leite. Quando se definiu a Instrução Normativa 51, que exigia o resfriamento do leite na unidade, entre outras medidas sanitárias que nos países da Europa vigiam há quase 100 anos, houve uma gritaria total por parte dos “defensores” da agricultura familiar. O argumento era simples: parte dos agricultores seria excluída, logo a gente deveria continuar tomando leite de baixa qualidade para evitar a expulsão. Felizmente o governo não aceitou esta pressão e trabalhou para apoiar os agricultores a cumprir com a exigência. Qual o resultado? A agricultura familiar renasceu para a produção de leite. O Rio Grande do Sul é um exemplo disto. Então, a postura adequada não é de se colocar contra a modernização, mas ver como é possível capacitar os agricultores familiares para se beneficiar das ondas de progresso. O discurso de defesa da agricultura familiar, com a imposição de que a agricultura familiar tem que produzir alimentos para o mercado doméstico, tem que usar agroecologia, tem que fazer isto ou aquilo, só prejudica. Eu sempre digo que os agricultores familiares devem produzir o que lhes rende mais, e não o que achamos que eles devem produzir por razões ideológicas.

IHU On-Line – Como o senhor percebe a discussão acerca da reforma agrária nesse novo padrão agrário e agrícola brasileiro?

Antonio Buainain – Eu considero, como o meu colega Zander Navarro, que o tema da reforma agrária corresponde ao passado. Eu venho há bastante tempo criticando o modelo de reforma agrária adotado no Brasil, que para mim correspondia à realidade dos anos 1950 e 1960. Quando o Estatuto da Terra foi definido, fazia sentido falar em latifúndio improdutivo e na desapropriação destas unidades para fins de reforma agrária. Também se vivia uma situação de carestia devido à dificuldade que a agricultura tinha para abastecer os mercados urbanos, em expansão acelerada. E havia jovens que de fato gostariam de ter um pedaço de terra para produzir, criar a família, ali sobreviver. Tudo isto mudou: a agricultura brasileira é hoje uma grande produtora de alimentos, e passamos de importadores a exportadores; a improdutividade, quando ocorre, não tem nada que ver com a figura do latifundiário absenteísta, explorador, que não quer produzir porque é um simples especulador. Se existe esta figura nos dias de hoje, é uma presença tão irracional, do ponto de vista social, como o avarento que guarda dinheiro embaixo do colchão.

As terras ditas improdutivas não produzem porque, na maioria dos casos, não oferecem condições para a produção. E o que a reforma agrária propõe é justamente desapropriar estas terras que são mesmo improdutivas, e redistribuí-las para pequenos produtores pobres. Não pode dar certo: onde estão estas terras? Em SP, no Paraná, em MS, no RS? Não, no semiárido nordestino, no meio da floresta amazônica. Então é lá que está sendo feita a tal da reforma agrária, em um processo totalmente irracional. Quando Celso Furtado analisou o problema do Nordeste, no final dos anos 1950, ele propôs a redução da densidade demográfica do semiárido, e no lugar de desocupar a política pública promove o adensamento do semiárido, que é hoje a zona de maior risco de desertificação. O mesmo ocorre na região Norte: no lugar de conter a ocupação, promove por meio de reforma agrária. E qual o resultado deste processo? Infelizmente muito negativo. A maioria dos assentamentos não saiu do lugar, apesar da transferência de recursos para os assentados. Um indicador do erro é a taxa de abandono elevada.

IHU On-Line – Como avalia a discussão agrária em relação à discussão acerca da indústria e, especialmente, do baixo crescimento da indústria?

Antonio Buainain – Mais um exemplo de como temos dificuldade de olhar a realidade. Temos um setor que vem dando certo, e, no lugar de promovê-lo, tem gente que quer sacrificá-lo em nome de uma indústria que está falindo porque não conseguiu acompanhar o novo padrão mundial. No fundo é isto: temos que reconhecer que a dificuldade da indústria se deve ao atraso da indústria, que pode ser explicado por muitas razões, desde uma política pública equivocada, condições sistêmicas ruins, instabilidade macro, custos de energia elevados, distorções institucionais, etc. A agricultura não apenas acompanhou as mudanças globais, como liderou alguns processos. E, por isso, quando a China demandou soja, os agricultores brasileiros estavam preparados para produzir soja; quando a revolução no Zimbábue desarticulou a produção de tabaco, o setor fumicultor do Rio Grande do Sul tinha capacidade para responder à crise e ocupar o mercado; quando o milho escasseou devido à produção de etanol de milho pelos EUA, o Brasil respondeu expandindo a produção e em poucos anos passou de um produtor de milho em quintal, para festa de São João, a um player internacional. 

“O tema da reforma agrária corresponde ao passado”

E o mesmo vale para o algodão, laranja, etc. Não há, hoje, nenhuma oposição entre indústria e agricultura, e os defensores da indústria deveriam propor o reforço da agroindústria, que é um dos poucos setores da indústria que não está em crise. Por que será?

IHU On-Line – Quais são as razões de o Brasil se manter ou optar por ser um país agroexportador?

Antonio Buainain – O Brasil se mantém como um país agroexportador porque não teve até agora capacidade para exportar serviços e produtos industriais com maior conteúdo inovativo. É apenas isto. E continuará assim porque infelizmente não tem uma política séria para mudar. Estamos nos afundando cada vez mais, e a situação vai piorar bastante quando os preços das commodities voltarem a patamares mais razoáveis. Parece que isto já está acontecendo, e se o movimento atual se confirmar, 2015 promete ser um ano bem difícil, porque viveremos, pela primeira vez em vários anos, uma crise na indústria, serviços e agropecuária.

El Niño pode causar queda na produção de alimentos


FAO alerta para estiagem e queda da produção de alimentos na América Central provocadas por El Niño

Fenômeno climático aquece as águas do Pacífico e agrava a aridez da região. Mais de 150 mil famílias estão sendo afetadas por quedas nas safras. Em El Salvador, perdas somam 28 milhões de dólares.

 

Seca ameaça segurança alimentar na Guatemala, em El Salvador, em Honduras e no Nicarágua. PMA/Phil Behan

 

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) alertou, na segunda-feira (14), para a situação preocupante da América Central, cujos países enfrentam perdas nas safras de cereais devido aos efeitos do El Niño. El Salvador, Honduras, Guatemala e Nicarágua devem apresentar queda de até 60% na produção de milho e até 80% na de feijão, segundo projeções da FAO. Mais de 150 mil famílias serão afetadas pelas baixas nas colheitas.

As nações mencionadas fazem parte do “corredor seco” da América Central, região caracterizada por estiagens recorrentes. Em 2015, a situação da área foi agravada por conta do El Niño, fenômeno climático que provoca aquecimento da superfície das águas do Oceano Pacífico, gerando massas de ar muito secas. A aridez reduz as áreas de plantio e tem impactos diretos nas safras. Em El Salvador, por exemplo, as perdas estimadas somam cerca de 28 milhões de dólares.

A FAO tem estabelecido parcerias com os governos locais a fim de combater os efeitos do El Niño, oferecendo treinamento para a população rural e desenvolvendo estratégias e sistemas de monitoramento da produção. As autoridades de El Salvador, Honduras, Guatemala e Nicarágua já começaram a distribuir, entre os agricultores, pacotes de ajuda que incluem sementes, fertilizantes e bombas de irrigação.

De modo a evitar a elevação dos preços de alimentos de primeira necessidade, países da região aumentaram suas importações, comprando alimentos de outras nações da América Latina. Apesar dos esforços, o valor de cereais, como o milho, já está bem acima do registrado no ano passado. Este é o segundo ano seguido em que os territórios do “corredor seco” enfrentam as consequências do El Niño.

Informe da ONU Brasil, in EcoDebate, 17/09/2015

O que Cuba tem a nos ensinar sobre sustentabilidade


        
 
Uma das atividades mais impactantes para a sustentabilidade é a agricultura. Dados da Embrapa de 2011 apontam que do pouco da água existente no planeta que serve para consumo, aproximadamente 70% dela vai para a agricultura. Além da água, a agricultura também é a grande responsável pelo consumo de energia e produtos químicos que destroem o solo, como fertilizantes e inseticidas (sem contar que também contaminam cursos de água próximos à produção).
 
Mas o que Cuba tem a ver com tudo isso?
 
 
Todo mundo sabe que Cuba sempre foi forte em agricultura, principalmente na produção de açúcar, certo? Se não sabiam, ficaram sabendo agora. Pois bem, voltemos algumas décadas, quando o país recebia ajuda financeira da, então, URSS e a tinha como principal parceira comercial. Naquela época Cuba praticava uma agricultura convencional, tão impactante para o meio ambiente como a de qualquer outro país.
 
 
E aí que a reviravolta política que aconteceu no mundo no final dos anos 80 e início dos anos 90 obrigou a pequena ilha a mudar todo o seu processo agrícola. Para sobreviver. Enquanto era financiada pela URSS, Cuba era altamente dependente de petróleo importado, de pesticidas e, mesmo, de importação de alimentos, já que a produção de açúcar ocupava 2/3 das terras cultivadas.
 
 
Com o fim da União Soviética, e sem acesso a combustíveis fósseis e seus derivados, o governo cubano lançou uma revolução agrícola que acabou por duplicar a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que produzia uma safra de exportação suficiente para manter flutuante o câmbio da moeda do país. E como isso foi possível?
 
 
Através do uso de tecnologia nativa, os agricultores mesclaram pesticidas e fertilizantes microbianos fabricados localmente com a cultura de minhocas, a reciclagem de resíduos, o controle biológico de pragas, a compostagem e outras práticas sustentáveis, gerando uma agricultura orgânica de massa. Somado a essas técnicas agrícolas locais, o modelo adotado ajudou a evitar o êxodo do campo para as cidades e propiciou segurança alimentar para o país. Além disso, o modelo privilegiou a venda direta do produtor para o consumidor, com preços de livre mercado.
 
 
 
O que Cuba foi obrigada a fazer por necessidade de sobrevivência, o mundo hoje se encontra na iminência de ter de fazer por necessidade ambiental e econômica, já que o fim do petróleo barato, as restrições de carbono e a escassez de recursos tornarão a transição para uma agricultura sustentável fundamental para o planeta.
 
 
E só para rechear com alguns números o impacto da agricultura sustentável no meio ambiente e na economia:
 
 
  • Fazendas orgânicas são de 20% a 56% mais eficientes em energia do que as de agricultura convencional;
  • Redução em 30% das emissões de carbono e 90% das emissões de óxido nitroso;
  • Os solos retêm cerca de 30% a mais de matéria orgânica (evitando, assim, a erosão);
  • Além de emitir menos CO2, a produção orgânica sequestra o carbono, numa ordem de, dependendo da técnica utilizada, 370kg por hectare/ano.
  • Produtos orgânicos alcançam preços premium que variam de 35% a 240% do preço de grãos comuns;
  • Está projetado para 2014 um mercado global de produtos orgânicos de 96,5 bilhões de dólares.

 

Texto escrito por: Julianna Antunes

Fonte: Sustentabilidade Corporativa

Vivemos um período de esquizofrenia coletiva, avalia especialista


Fogo atinge área próxima a Altamira, no Pará, em agosto deste ano. (Nacho Doce/Reuters)

Patrícia Azevedo

No dia 10 de agosto, agricultores e grileiros da Região Norte do país teriam iniciado um movimento simultâneo para incendiar áreas da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e a suas medidas para enfraquecer a fiscalização de órgãos ambientais. A data ficou conhecida como “Dia do Fogo” e o caso está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF). “Se o malfadado ‘Dia do Fogo’ for realmente comprovado, é a prova de que estamos em um período de esquizofrenia coletiva”, avalia Daniel Caixeta Andrade, presidente da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (Ecoeco) e professor do Instituto de Economia e Relações Internacionais (Ieri), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

De acordo com o professor, era esperado que a retórica agressiva do governo atual resultasse em algum fenômeno atípico. O que foi surpreendente, para ele, é que na primeira estação seca da Amazônia o atípico já apareceu: um aumento expressivo nos focos de queimadas. Assim como a liberação de agrotóxicos, Andrade aponta que o fenômeno é repudiável por boa parte da população, mas não algo inesperado. “Basta um conhecimento político mínimo para reconhecer a aliança política que suportou a eleição do atual presidente. As contrapartidas começam a aparecer”, aponta.

O professor considera que queimadas e agrotóxicos são partes de algo maior – a reunião de forças retrógradas do Brasil para a imposição de um modelo anacrônico de sociedade. “Modelo este muito ligado a uma ideia de gestão conservadora, como se a sociedade fosse uma empresa projetada para gerar lucro, e que despreza o debate público, democrático e plural”, completa Daniel Caixeta Andrade.

Repercussão

Fato é que os episódios recentes têm afetado a imagem do Brasil no exterior. Conforme lembra o especialista, o país sempre foi considerado um líder nato nas questões ambientais. Primeiro, porque possui grande diversidade e abriga a maior parte da maior floresta tropical do mundo. Segundo, porque sediou duas grandes cúpulas da Organização das Nações Unidas (ONU) para as questões ambientais, em 1992 e 2012. “Além disso, sempre fomos reconhecidos pela nossa flexibilidade, pela heterogeneidade/diversidade e cosmopolitismo de nossa sociedade. Não é à toa que temos o privilégio de tradicionalmente iniciarmos os debates nas Assembleias-Gerais das Nações Unidas”, acrescenta.

No entanto, essa imagem de um país ordeiro e comprometido com a fronteira civilizatória está ficando turva e pode sofrer reveses importantes, principalmente se o Brasil insistir numa ideia anacrônica de soberania, acredita o professor. Para continuar sendo protagonista nos debates mundiais, o país precisa urgentemente contribuir para a Agenda 2030, que indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em entrevista exclusiva ao Dom Total, Daniel Caixeta Andrade aborda outros aspectos do cenário ambiental brasileiro, as atuais crises econômica e política, o papel dos jovens e os 25 anos da Ecoeco, entre outros pontos. Confira abaixo:

Como o senhor avalia o atual cenário ambiental brasileiro? Continuamos em um momento de fragilização excessiva da institucionalidade ambiental ou algumas iniciativas positivas já começam a aparecer?

O cenário ambiental brasileiro não é o desejável, principalmente num momento em que o mundo está discutindo cada vez mais seriamente como enfrentar a emergência climática. Vemos neste momento, no Brasil, uma volta ao debate ambiental da década de 1970, em que ficou muito nítida a polarização entre conservacionistas e crescimentistas. Estamos, portanto, revivendo este contexto. Quanto à fragilização da institucionalidade ambiental brasileira, este é um processo mais longo que se inicia em meio à reforma do Código Florestal, em 2012. Não há dúvida, porém, que este processo entra numa nova fase de aceleração em 2019 por dois motivos principais: a retórica do governo e a crise fiscal brasileira. Mas iniciativas positivas se fazem notar, como o ativismo jovem, liderado por Greta Thunberg, e a realização do Sínodo para a Amazônia.

Como as crises econômica e política interferem na questão ambiental?

No Brasil percebe-se a reiteração da seguinte dinâmica: nos momentos de crise econômica e política, sempre há a priorização do restabelecimento do status quo, o que resulta em fenômenos ou pactos de conciliação. A questão ambiental é prejudicada em duas dimensões: primeiro, ela é mais uma vez preterida nestes momentos de crise; segundo, a necessidade de recuperação da crise reitera velhos métodos e atividades nocivas ao meio ambiente. Um exemplo é o que aconteceu na Cúpula de Johanesburgo, em 2002. Os resultados tímidos se devem ao fato de que naquele momento a prioridade geopolítica era combater o terrorismo. Da mesma forma, na Rio +20, em 2012, a prioridade era a recuperação da crise financeira de 2008. Nas eleições brasileiras em 2018, a excessiva polarização política obliterou o debate ambiental sério.

O que é a economia ecológica? Ela tem se fortalecido no decorrer dos anos?

De maneira lacônica, é um ramo científico que busca integrar numa perspectiva transdisciplinar as contribuições das ciências sociais (economia, principalmente) e ciências naturais (ecologia, principalmente) para o estudo e a busca de três objetivos simultâneos: a sustentabilidade ecológica, a justiça social intra e intergeracional e a eficiência econômica. Nas palavras de Robert Costanza, um importante pesquisador estadunidense, a economia ecológica é a ciência da gestão da sustentabilidade. Formalizada há três décadas, a perspectiva econômico-ecológica sempre foi considerada marginal e periférica na academia brasileira. Mas temas como a emergência climática e colapso da biodiversidade vêm colocando cada vez mais a economia ecológica em evidência. O momento atual é sui generis: internamente, o momento político é considerado pouco animador para debates ambientais, mas globalmente o meio ambiente vem ganhando atenção política, midiática e acadêmica. A economia ecológica pode e deve ser invocada para guiar os debates necessários. Os pesquisadores da área devem ter a maturidade acadêmica requerida para se inserirem nos espaços apropriados.

Como vê a relação das reservas ambientais e das terras indígenas com a economia e a preservação?

O Centro de Resiliência de Estocolmo, referência nos estudos sobre ciência da resiliência, vem pelo menos há uma década chamando a atenção para as fronteiras planetárias. São limites que uma vez ultrapassados podem colocar a humanidade em um “espaço de operação” não seguro, com riscos de colapsos e consequências catastróficas e irreversíveis. Por isso, muitos autores defendem que é preciso restaurar e proteger parte dos ecossistemas globais de maneira a garantir este espaço seguro para nossa espécie e não transgredirmos estas fronteiras. É vital, portanto, que sejam criados e ampliados santuários naturais para garantir a contínua oferta de serviços ecossistêmicos e a própria biodiversidade. Seriam inimagináveis os impactos de um modelo econômico predatório que pereniza o extrativismo primitivo na Amazônia brasileira. Com relação aos indígenas, deve-se lembrar que sustentabilidade é uma ideia ampla e multidimensional, que incorpora a manutenção de modos de vida alternativos e enfatiza a importância de conhecimentos tradicionais. A sustentabilidade não deve ser vista apenas como tema da dita ciência normal.

Como garantir que a carne e a soja brasileiros tenham certificado de procedência e não contribuam para o desmatamento da Amazônia?

Creio que este é um problema que tende a ser mediado por questões mercadológicas, em primeiro lugar, e por normativas ao estilo de comando e controle, em segundo lugar. Os países importadores de commodities, sejam elas vegetais, animais ou minerais, vêm demandando crescentemente que as atividades econômicas que geram aqueles bens produzam o menor nível possível de externalidades. Fundos que gerenciam volumes gigantescos de recursos ao redor do mundo tendem a se afastar de atividades econômicas nefastas ao meio ambiente. Acho que é uma tendência irreversível os negócios se distanciarem, pois, da imagem de que contribuem para a destruição ambiental. Isso tudo em função do exponencial crescimento da conscientização ecológica. Veja, por exemplo, as ondas de movimentos pelo clima nas últimas semanas. A novidade aí é o fato de que são liderados por uma geração supernova. Em princípio, é perfeitamente possível que o Brasil continue exportando soja ou carne sem que seja necessário derrubar uma árvore da Amazônia. Cientificamente e do ponto de vista técnico, este trade-off (produzir carne/soja ou destruir a Amazônia) já está superado. Mas ainda persistem razões políticas para que este falso dilema ainda seja ventilado.

Em carta no site da Ecoeco, o senhor deixa uma mensagem especial aos jovens e estudantes, para não desanimarem. Ao mesmo tempo, acompanhamos cortes de recursos para educação, polarização de ideias sem o devido debate e aprofundamento. Onde esses jovens podem buscar energia e incentivos?

Eu me dirigi aos jovens porque são eles a verdadeira força motriz das mudanças. Como professor, não posso jamais me entregar ao pessimismo generalizado. Muito pelo contrário, sinto que neste momento todos nós devemos ter especial atenção para com o estado de espírito da sociedade brasileira. Não estou dizendo nada sobre proselitismo ou coisas semelhantes das quais somos acusados de prática dentro das universidades. Isso não corresponde à verdade. Refiro-me aqui a uma perspectiva evolucionária da sociedade e do sistema econômico e à compreensão de que momentos turbulentos são inerentes à dinâmica de sistemas sociais complexos. O que não podemos admitir é a deliberada manipulação do moral da sociedade em nome de falsos valores. Tudo aquilo que está fragilizado é mais fácil de ser tomado e vilipendiado. Por isso, sou um entusiasta da chama otimista e da vibração que vem dos jovens. Greta Thunberg é a expressão atual desta efervescência.

Neste ano, a Ecoeco completa 25 anos de existência, comemorados com congresso na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Conte-nos um pouco sobre a importância e a proposta do evento.

Acabamos de realizar na última semana de setembro nosso encontro bienal de economia ecológica. A despeito das condições adversas do ponto de vista do financiamento, o evento foi muito bem-sucedido e comemoramos nossas bodas de prata e homenageamos a principal referência teórica da moderna economia ecológica – o matemático e economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen. Tivemos um bom público e uma excelente qualidade dos debates acerca do Antropoceno e as possibilidades de um colapso global. Antropoceno diz respeito a uma nova época geológica em que as mudanças globais no sistema terra são causadas principalmente por forças antrópicas. Substitui o Holoceno, uma época de cerca de 12 milênios com excepcional estabilidades climática e geológica que permitiram o início do processo civilizador humano. A grande questão aqui é discutir se este processo civilizador humano poderá continuar no novo contexto do Antropoceno. Se sim, em quais bases isso será possível? Se não, estamos destinados ao colapso e à extinção? São perguntas para as quais não é possível fornecer respostas definitivas, mas devemos expor este debate para a sociedade brasileira.

Dom Total

Dilma e Kátia: desmatamento não dá para engolir!


 
pecuária ocupa mais de 60% das áreas desmatadas na Amazônia.

A presidente Dilma Rousseff e a ministra da agricultura, Kátia Abreu, visitaram hoje o pavilhão brasileiro da Expo 2015. A Feira Universal, que este ano acontece em Milão, de 1 de maio a 31 de outubro, tem como tema central a comida: “Nutrir o Planeta, Energia para Vida”.

A reportagem foi publicada por Greenpeace Brasil, 12-07-2015.

Dilma e Katia estão em missão internacional para vender o Brasil como grande produtor de commodities, com planos ambiciosos para aumentar a exportação de diversos produtos, especialmente grãos e carnes. O lado obscuro desta produção, que deve ficar de fora da ação propagandista do governo, é uma taxa significativa de desmatamento. Nos últimos anos cerca de meio milhão de hectares de floresta amazônica foram destruídos. Devido ao desmatamento, o Brasil está entre os seis países que mais emitem gases de efeito estufa e, na Amazônia, o principal vetor de destruição das florestas é justamente a pecuária, que ocupa mais de 60% das áreas desmatadas no bioma.

Apesar do cenário de destruição contínua da floresta, acabar com o desmatamento para enfrentar as mudanças climáticas, proteger os povos indígenas e a natureza não parece estar na agenda política do Estado brasileiro. Em declaração recente, a presidenta disse que seu governo pretende manter as políticas de combate ao desmatamento ilegal, o que, na prática, significa dizer que a presidente vai “tentar” cumprir a lei, e nada além disso.

“A ambição do Brasil de produzir a qualquer custo é uma das principais razões para o desmatamento de um campo de futebol por minuto de floresta amazônica a cada dia”, diz Adriana Charoux, da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil. “Quando a presidente e a ministra da agricultura elogiam as possibilidades brasileiras de ampliar sua exportação, tendem a esconder a verdade inconveniente do desmatamento. Se querem fazer um favor para o Brasil e para o mundo, deveriam divulgar em seu ‘tour internacional’ o que vão fazer para tirar definitivamente o desmatamento do nosso prato. Afinal, desmatamento não tem nada a ver com o desenvolvimento do país”, continua Charoux.

Há diversas evidências de que o Brasil pode continuar a expandir sua produção de alimentos sem os atuais índices dedegradação florestal e desmatamento. Vários especialistas afirmaram que, para tal, o Brasil deveria usar melhor suas enormes áreas já desmatadas. Estudos apontam que é possível liberar 69 milhões de hectares para a agricultura, dobrando a potencial produtivo do Brasil sem derrubar mais um palmo de floresta.

A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Katia Abreu, não parece convencida de que também é sua responsabilidade cortar a ligação perversa entre a produção e o desmatamento. O anúncio recente da abertura do mercado dos EUA para a carne bovina in natura brasileira, com meta de exportação de 100 mil toneladas por ano, foi bastante celebrado. Entretanto, em nenhum momento Kátia explicou para os americanos ou para os brasileiros como se daria este aumento da produção, sem promover mais destruição da floresta.

Se o Brasil assumisse de vez o Desmatamento Zero real, o país poderia reduzir em mais de 30% as suas emissões de gases de efeito estufa, protegendo as fontes de água doce e a biodiversidade ameaçada.

“O que precisamos é de uma verdadeira meta de desmatamento zero, já apoiado por mais de 1,2 milhões de cidadãos brasileiros e por iniciativas privadas como a Moratória da Soja e do Compromisso Público da Pecuária”, concluiCharoux.

A preservação das florestas, esta sim, é essencial para o futuro do Brasil. O desmatamento tem efeitos extremamente negativos no clima, alterando dinâmicas essenciais, como a formação de chuvas. Sem floresta não tem água e, sem água, não tem produção agropecuária.

Junte-se ao movimento que quer o fim da destruição das florestas brasileiras, assine pelo Desmatamento Zero!

Fonte: IHU