Não há como fugir da sustentabilidade


Por Jeffrey D. Sachs

Um ano atrás estive no Brasil para inaugurar o polo brasileiro da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável, das Nações Unidas (RSDS), uma iniciativa do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. A informação mais importante que ouvi naquele dia foi que São Paulo estava sofrendo uma megasseca, mas os políticos estaduais e locais se mantinham calados a respeito. Essa é uma realidade em todo o mundo: muitos líderes políticos estão ignorando uma crescente crise ambiental, pondo em perigo seus próprios países e outras nações.

No caso do Brasil, as autoridades estaduais e locais tinham outras coisas em mente em 2014: sediar a Copa do Mundo em junho e julho e vencer as eleições mais adiante. Por isso, usaram tática política testada pelo tempo: esconder as más notícias atrás de uma mensagem de "está tudo bem".

Alguns lugares têm agido de modo ainda mais irresponsável do que simplesmente ignorar os riscos. Áreas costeiras na Carolina do Norte, como áreas costeiras em todo o mundo, estão ameaçadas pela elevação do nível do mar causada pelas mudanças climáticas induzidas pelo homem. No entanto, em 2012 incorporadoras imobiliárias convenceram o Legislativo estadual a barrar a incorporação de evidências científicas referentes às elevações dos níveis do mar nas políticas de gestão costeira do Estado pelo menos até 2016. A questão é igualmente flagrante no nível federal: membros do Congresso dos EUA, a serviço das grandes companhias petrolíferas, simplesmente negam a realidade das mudanças climáticas.

Alterações climáticas induzidas pelo homem e o uso excessivo de água doce para as necessidades de irrigação e urbanas (especialmente quando as cidades estão construídas em regiões secas) estão, todos, alimentando o potencial para catástrofe

Mas crescentes ameaças ambientais estão chegando às manchetes da mídia, quer políticos e incorporadores imobiliários gostem ou não. As más notícias sobre megassecas e escassez de água doce vêm tanto do Brasil como da Califórnia como de países palcos de conflitos no Oriente Médio.

A Região Metropolitana de São Paulo, com 20 milhões de pessoas, está agora na iminência de um racionamento de água, ameaça sem precedentes a uma das principais cidades do mundo. Na Califórnia, este inverno tem sido mais uma estação seca num período de quatro anos, uma das mais graves da história da região. No Paquistão, o ministro de Água e Energia declarou recentemente que "sob a situação atual, daqui a seis ou sete anos o Paquistão poderá ser um país carente de água". No Irã, as zonas de mangue Hamoun na fronteira com o Afeganistão estão desaparecendo, o que representa uma grave ameaça para a população local.

Retrospectivamente, fica também claro que uma década de seca na vizinha Síria contribuiu para desencadear a instabilidade que transformou-se numa guerra civil catastrófica, com pelo menos 200 mil sírios mortos e sem fim à vista para a violência. A seca tinha deslocado em torno de 1,5 milhão de pessoas e provocou uma alta nos preços dos alimentos que resultou numa espiral de protestos, repressão e, finalmente, guerra. Embora a seca não explique toda a violência que se seguiu, ela certamente desempenhou um papel.

Cada uma dessas secas reflete uma complexa combinação de fatores: mudança climática em longo prazo, padrões climáticos no curto prazo ou com duração de uma década, crescentes demandas populacionais por água doce, má gestão dos recursos locais, e, claro, falta de atenção e vontade políticas. Cada seca precisa, portanto, ser confrontada localmente, abordando as realidades locais.

No entanto, a mensagem mundial também é clara: a crescente população do mundo (agora de 7,3 bilhões de pessoas, mas que provavelmente chegará a oito bilhões até 2024 e nove bilhões por volta de 2040), as alterações climáticas induzidas pelo homem e o uso excessivo de água doce para as necessidades de irrigação e urbanas (especialmente quando as cidades estão construídas em regiões secas) estão, todos, alimentando o potencial para catástrofe.

Pesquisas recentes indicam que essas tendências deverão intensificar-se. Quase todos os estudos sobre alterações climáticas induzidas pelo homem mostram que a região do Mediterrâneo, incluindo focos de insegurança, como a Líbia, Egito, Israel, Palestina e Síria, provavelmente sofrerão mais uma redução significativa nas chuvas, agravando a tendência de secas que ocorreram durante o último quarto de século. Da mesma forma, recente estudo realizado por meus colegas no Instituto da Terra, da Universidade de Columbia, mostrou que as mudanças climáticas induzidas pelo homem provavelmente causarão cada vez mais frequentes megassecas nos Estados americanos do sudoeste e das Grandes Planícies na segunda metade deste século.

Em setembro deste ano, líderes mundiais deverão reunir-se nas Nações Unidas para adotar um conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para enfrentar essas crescentes ameaças. Os ODS não assegurarão uma ação mundial, mas como disse certa vez John F. Kennedy, então presidente dos EUA, sobre os acordos da ONU, eles podem servir como uma alavanca para ajudar a mover o mundo em direção à ação. É por isso que é tão importante iniciar o planejamento para os ODS agora.

Ban Ki-Moon lançou os ODS para ajudar os países a atingir os novos objetivos. Os membros-chave da iniciativa incluem universidades e centros de pesquisa em todo o mundo, e importantes empresas e ONGs atuam como importantes parceiros. Polos nacionais e regionais vinculados aos ODS estão sendo formadas em todo o mundo – nas Américas, Europa, Oriente Médio, Ásia Meridional, Leste Asiático, África e Oceania. O objetivo é garantir uma vigorosa participação nos ODS em todos os países no momento em que eles forem adotados em setembro.

Nesta primavera e verão, em países ao redor do mundo, instituições afiliadas aos ODS convidarão os governos a começar a produzir ideias sobre como alcançar o desenvolvimento sustentável em suas cidades, países e regiões. Muitos políticos, sem dúvida, ficarão gratos ao apoio a suas universidades, ONGs e empresas líderes. E aqueles que querem esconder-se da realidade verão que isso já não é possível.

Isso porque nossa nova realidade é caracterizada por secas, ondas de calor, tempestades extremas, elevação do nível do mar e padrões climáticos instáveis. Se não agirmos com visão de longo prazo e basearmos nossas ações em evidências científicas, o estresse hídrico, a insegurança alimentar e crises sociais não demorarão muito a chegar. Em outras palavras, as crescentes ameaças atuais não podem ser ocultadas. A Era do Desenvolvimento Sustentável precisa ser construída sobre transparência, participação e conhecimento científico. (Tradução de Sergio Blum)

Jeffrey D. Sachs – professor de economia e diretor do Instituto Terra, da Columbia University. É também assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas no tema das Metas de Desenvolvimento do Milênio.

Matéria originalmente publicada no jornal Valor Econômico

12ª COP, na Coreia, debate Biodiversidade para o Desenvolvimento Sustentável


                  

Aproximadamente 20 mil delegados de 193 países devem participar, entre os dias 6 e 17/10, da 12ª Conferência da Convenção das Partes sobre Diversidade Biológica (COP12), organizada pela Organização das Nações Unidas. Este ano, o evento acontecerá na cidade de Pyeongchang, na província de Gangwon, na Coreia do Sul.

A conferência, promovida a cada dois anos, tem nesta edição dois grandes desafios a serem discutidos e negociados com os delegados internacionais:

– aumentar a consciência mundial sobre o papel essencial da biodiversidade e sua contribuição para o desenvolvimento sustentável e,

–  colocar forte ênfase na biodiversidade nas discussões da Agenda Pós-2015 e nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)

E debaterá dois importantes documentos: o Protocolo de Cartagena pela Biossegurança e Protocolo de Nagoya.

Como resultado do encontro serão formulados dois documentos – Pyeongchang Road Map e Gangwon Declaration. Ambos servirão como guias de recomendações para serem discutidos durante o estabelecimento dos ODS pela ONU.

A necessidade da realização de uma conferência global sobre biodiversidade nasceu durante a Eco92, no Rio de Janeiro. Naquele encontro, a comunidade internacional reconheceu que a fauna e a flora do planeta corriam grande risco e era necessário juntar esforços para preservar e conservar os recursos biológicos e seu uso de maneira sustentável.

 

Fonte: Planeta Sustentável

“Mudança climática já é irreversível”, diz relatório da ONU


                                

A mudança climática é uma realidade e já se tornou irreversível. A conclusão é de um grande relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), que será publicado oficialmente em novembro, mas que vazou para a imprensa nesta semana.

“A emissão contínua de gases de efeito estufa provocará um maior aquecimento e, de longo prazo, mudanças em todos os componentes do sistema climático, aumentando a probabilidade de um impacto severo, generalizado e irreversível para as pessoas e os ecossistemas”, diz o relatório.

Se as emissões de gases de efeito estufa não forem limitadas, “há riscos de a mudança climática ser alta ou muito alta até o final do século XXI”. Além disso, os especialistas advertem que é provável que, em breve, as temperaturas subam mais de 2 graus Celsius em relação à média, chegando a uma variação de até 3,7 graus.

 

Fonte: Ipam

Dia do Meio Ambiente


Em Dia do Meio Ambiente, ONU convida os 7 bilhões de habitantes do planeta a mudar hábitos de consumo

 

Celebrado em 5 de junho, o Dia Mundial do Meio Ambiente traz este ano o tema “Sete bilhões de sonhos. Um planeta. Consuma com cuidado”, que enfatiza a responsabilidade pessoal que permita o desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável e redução da taxa de uso de recursos.

Plantações de cana-de-açúcar e soja substituiram pouco a pouco cada hectare da selva Amazônica.  Foto: PNUMA GRID Arendal/Riccardo Pravettoni

Plantações de cana-de-açúcar e soja substituiram pouco a pouco cada hectare da selva Amazônica. Foto: PNUMA GRID Arendal/Riccardo Pravettoni

Com muitos dos ecossistemas terrestres chegando aos seus limites, as Nações Unidas convidam cada um dos 7 bilhões de pessoas no planeta para marcar o Dia Mundial do Meio Ambiente adotando uma mudança em favor do consumo mais responsável de recursos.

“A humanidade continua consumindo muito mais recursos naturais do que o planeta pode oferecer de forma sustentável”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon para marcar o Dia, observado mundialmente em 5 de junho.

Ele disse também que o objetivo do desenvolvimento sustentável é aumentar a qualidade de vida para todos sem aumentar a degradação do meio ambiente e comprometer os recursos necessários para as futuras gerações. “Podemos fazer isso ao mudar nossos padrões de consumo para bens que usem menos energia, água e outros recursos e desperdiçando menos alimentos.”

O tema deste ano – “Sete bilhões de sonhos. Um planeta. Consuma com cuidado” – enfatiza a responsabilidade de cada um para permitir o desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável e reduzir a taxa de uso de recursos.

O diretor executivo do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), Achim Steiner, lembrou que as decisões diárias de cada consumidor, multiplicado por bilhões, podem ter um impacto colossal no meio ambiente, com escolhas que podem gerar resultados positivos ou negativos para as futuras gerações.

Fonte: ONUBR

ONU: países devem trabalhar juntos para atingir Objetivos do Milênio até 2015


           
 

Para que os ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio sejam alcançados até o prazo de 2015, os países em desenvolvimento devem trabalhar conjuntamente. Este foi o pedido feito pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e o presidente da Assembleia Geral, John Ashe, na semana passada.

O pronunciamento foi feito na sede da ONU – Organização das Nações Unidas, durante cerimônia do 50º aniversário do "G77 e China". Na ocasião, Ban Ki-moon ressaltou a importância da erradicação da pobreza, da melhoria do bem-estar econômico e social e do estabelecimento de bases para um futuro sustentável.

"No tempo que resta, temos que definir uma agenda de desenvolvimento pós-2015 unificada e universal e chegar a um acordo climático global", disse o chefe da ONU.

Ao todo, são oito ODM que, em 2000, os Estados-Membros das Nações Unidas se comprometeram a cumprir:
– reduzir a pobreza;
– atingir o ensino básico universal;
– alcançar a igualdade entre sexos e a autonomia das mulheres;
– reduzir a mortalidade infantil;
– melhorar a saúde materna;
– combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças;
– garantir a sustentabilidade ambiental, e
– diminuir as desigualdades entre os países.

 

Fonte: Planeta Sustentabilidade

Encontro em Brasília reúne agricultores familiares, chefes de cozinha e governos


No Ano Internacional da Agricultura Familiar, celebrado pela ONU, governo marca nesta terça-feira (4) os 10 anos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) com a presença de especialistas e representantes de governos de cinco países da África e nove da América Latina. Evento, que dura o dia todo, será transmitido ao vivo.

Agricultura familiar em Campina Grande, na Paraíba. Foto: EBC

Agricultura familiar em Campina Grande, na Paraíba. Foto: EBC

No Ano Internacional da Agricultura Familiar, celebrado pela ONU este ano, o governo brasileiro também lembra os 10 anos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), coordenado pelos ministérios do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) e do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Um seminário internacional em Brasília reunirá nesta terça-feira, 4 de fevereiro, representantes de organizações internacionais, agricultores, especialistas em segurança alimentar e nutricional. O evento será transmitido ao vivo no site www.paa10anos.com.br

A solenidade de abertura contará com a presença do representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil, Alan Bojanic; da ministra do MDS, Tereza Campello; e do ministro do MDA, Pepe Vargas.

O Seminário Internacional “PAA + Aquisição de Alimentos no Ano Internacional da Agricultura Familiar” discutirá temas como a importância do Programa para a agricultura familiar e para o desenvolvimento local; o impacto na promoção de uma alimentação adequada; e seu papel como referência internacional em políticas públicas.

O Programa serviu de inspiração para o PAA África, que atua em cinco países do continente africano.

O Ano Internacional da Agricultura Familiar tem como objetivo aumentar a visibilidade da agricultura familiar e a agricultura de pequena escala ao centralizar a atenção mundial no importante papel que esses atores têm na luta contra a erradicação da pobreza, na segurança alimentar e na nutrição para melhorar os meios de vida, a gestão de recursos naturais, a proteção do meio ambiente e alcançar o desenvolvimento sustentável, particularmente em zonas rurais.

Intercâmbio de experiências

Representantes de países da América Latina também vão participar do seminário para trocar experiências. Já no dia 5 de fevereiro, eles vão integrar uma comitiva estrangeira que vai visitar uma família de agricultores que mora próximo a Brasília e comercializa a produção para o Programa de Aquisição de Alimentos.

O seminário internacional será realizado pelo MDS em conjunto com os ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e das Relações Internacionais (MRE), além do apoio da FAO e o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Saiba mais sobre o evento em http://bit.ly/1fU4e2E

Saiba mais sobre o Ano Internacional da Agricultura Familiar em www.fao.org/family-farming-2014/home/pt/

Saiba mais sobre o PAA África em http://paa-africa.org/pt/

Fonte: ONU Brasil

Clima: a temperatura média da terra deve aumentar de 0,3 a 4,8 graus até 2100.


MEIO AMBIENTE O relatório dos especialistas sobre clima do GIEC (Grupo de especialistas intergovernamentais sobre a evolução do clima) revelou na sexta-feira (27/09/2013) que o nível do mar poderá aumentar de 26 a 82 centímetros até 2100.
         
A responsabilidade do homem diante o aquecimento global é mais certa do que nunca e a temperatura média da terra deverá continuar a subir de 0,3 a 4,8 Cº até 2100, segundo o novo relatório dos especialistas em clima do GIEC realizado em Estocolmo.

O nível do mar de 26 a 82 cm.

Os especialistas intergovernamentais, também revisaram a altura do nível do mar, a qual deverá ser entre 26 a 82 centímetros até 2100, de acordo com a nova avaliação científica sobre mudanças climáticas. O relatório foi apresentado na última sexta-feira de setembro em Estocolmo, “constituindo um sinal de alarme para todo o mundo” pronunciou a funcionária do clima da ONU, Christiana Figueres, em Nova York.

Um impulso para as negociações.
 “Acreditamos que isso dará impulso às negociações" para um acordo climático internacional no ano de 2015 em uma conferência na cidade de Paris, disse Christiana Figueres. Embasados nas contribuições de 250 cientistas e dos estudos já publicados, o relatório seguirá os metódos anteriores, a fim de continuar a esclarecer os perigos consequentes das alterações climáticas. Em especial reafirmará a responsabilidade do homem, em vista do aumento do nível do mar e das intensificações de eventos climáticos extremos como as ondas de calor e fortes chuvas em determinadas regiões.

Com AFP
 

Para mais informações: 20 minutes

Criado no dia 27/09/2013 à 10h11 – atualizado em 27/09/2013 à 10h48.
Fonte: 20 minutes

Tradução: Matheus Lima

Realizado em Madri, COP25 alcança acordo mínimo sobre mudança climática


Acordo foi firmado em Madri na manhã deste domingo (15) (AFP)

A comunidade internacional alcançou, neste domingo (15), um acordo mínimo na COP25, realizada em Madri, longe de responder firmemente à urgência climática, conforme reivindicado pela ciência e pela sociedade civil.

Após duas semanas de negociações, a conferência da ONU concordou em pedir aos países que aumentem suas metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no próximo ano, o que é essencial para tentar conter o aquecimento a menos de 2 graus, mas não emitiu nenhum sinal forte de que intensificará e acelerará a ação climática.

“Parece que a COP25 está desmoronando. A ciência é clara, mas é ignorada”, tuitou durante a noite a jovem ativista climática Greta Thunberg, que inspirou milhões de jovens a exigir medidas radicais e imediatas para limitar o aquecimento global.

“Aconteça o que acontecer, não vamos desistir. Estamos apenas começando”, acrescentou a adolescente sueca, estrela desta conferência climática da ONU.

A COP25 deveria, teoricamente, terminar na sexta-feira à noite, mas as grandes divisões sobre assuntos importantes, como ambição e financiamento, ainda não permitiram alcançar um compromisso.

No sábado, uma proposta de texto da presidência chilena foi recusada muitos países, por razões às vezes diametralmente opostas, alguns exigindo mais audácia, outros arrastando os pés.

“Não podemos dizer ao mundo que estamos diminuindo nossas ambições na luta contra as mudanças climáticas”, insistiu o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans.

Esta manhã, uma nova versão se mostrou mais consensual.

A ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, facilitou grande parte das negociações, uma tarefa aplaudida por seus colegas e chamada de “heroica” pela francesa Laurence Tubiana, uma das arquitetas do Acordo de Paris.

Seu “apoio nas últimas horas contribuiu para obter um resultado mínimo necessário para 2020”, junto com uma “aliança progressista de pequenos Estados insulares, países europeus, africanos e latino-americanos”, disse.

No atual ritmo de emissão de gases do efeito estufa, a temperatura pode aumentar até 4 ou 5 graus até o final do século. Mesmo que os cerca de 200 signatários do Acordo de Paris respeitem seus compromissos, o aquecimento global seria superior a 3 graus.

Todos os estados deverão apresentar até a COP26 de Glasgow uma versão revisada de seus compromissos. Nesta fase, cerca de 80 países se comprometeram a apresentar um aumento de suas ambições, mas eles representam apenas cerca de 10% das emissões globais, e quase nenhum dos maiores emissores, China, Índia ou Estados Unidos, parece querer se juntar a este grupo.

Somente a União Europeia “endossou” esta semana em Bruxelas o objetivo de neutralidade de carbono até 2050. Mas sem a Polônia, muito dependente do carvão. E os europeus ainda vão levar meses para decidir sobre um aumento de seus compromissos para 2030.

A regulamentação dos mercados de carbono, o último capítulo em aberto sobre as regras do Acordo de Paris que não pôde ser resolvido na COP24 pela oposição do Brasil, foi novamente adiada.

O Brasil e, desta vez também a Austrália, foram novamente acusados de buscar uma “contagem dupla”, ou seja, uma contagem de redução nas emissões mesmo quando as vende, o que anularia o objetivo do mecanismo.

A delegação brasileira se mostrou “desapontada” por não ter chegado a um acordo, mas preferiu ver o “copo meio cheio” com a perspectiva de continuar negociando.

“Chegamos muito perto”, lamentou a ministra do Meio Ambiente do Chile, Carolina Schmidt, presidente desta COP.

O resultado em Madri reflete uma “resistência” ao avanço. “Se essa situação não mudar” antes da COP26 no final de 2020 em Glasgow (Escócia), o objetivo de limitar o aquecimento “será quase impossível”, disse Alden Meyer, um observador veterano.

Para Sébastien Treyer, diretor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais, os bloqueios, além das diferenças inevitáveis, “são um sintoma de um estado geral de polarização e não cooperação entre os países”.

AFP

Comunidade internacional se aproxima do fracasso nas negociações climáticas


Ativistas protestam em Madri em 13 de dezembro de 2019 (AFP)

A comunidade internacional parecia neste sábado destinada a dar um passo atrás em seus esforços contra o aquecimento global, apesar dos apelos urgentes da ciência por ações para proteger o futuro das novas gerações.

Após uma noite de negociações, os quase 200 países que participam na 25º Conferência da ONU sobre a Mudança Climática em Madri estão mais divididos do que nunca.

“Inaceitável”, afirmaram os representantes de vários países a respeito do rascunho de acordo apresentado pela presidência chilena da COP25, reunião que deveria ter acabado na sexta-feira.

“A solução que propomos é equilibrada em seu conjunto”, disse, no entanto, a ministra chilena do Meio Ambiente, Carolina Schmidt.

Ante a urgência climática anunciada pelos cientistas e a pressão da sociedade civil cada vez mais mobilizada, a comunidade internacional precisa demonstrar em Madri sua disposição a elevar a “ambição” em 2020, ou seja, as metas de cada país de redução de emissões de gases do efeito estufa.

Os objetivos determinados no Acordo de Paris em 2015 são insuficientes para conseguir limitar o aquecimento a +1,5 ºC, um limite que de acordo com os cientistas permitira conter os efeitos devastadores.

Mas após duas semanas de negociações e apelos a favor da ação liderados pela jovem ativista sueca Greta Thunberg, o rascunho do acordo não reflete a necessidade de reforçar as metas de redução das emissões no próximo ano.

“É impossível sair desta COP sem uma mensagem forte sobre a ambição”, afirmou em nome da União Europeia (UE) a ministra finlandesa do Meio Ambiente, Krista Mikkonen.

“É algo que as pessoas nos pedem e devemos atender a seu apelo”, completou.

Os países insulares e mais vulneráveis à mudança climática denunciaram um passo atrás.

“Todas as referências à ciência perderam força, todas as referências a elevar a ambição desapareceram. Parece que preferimos voltar ao passado”, criticou Carlos Fuller, negociador de um grupo de 44 Estados insulares, que enfrentam uma ameaça existencial pelo aumento do nível do mar.

México, Argentina e Uruguai denunciaram que o rascunho atual retirou as referências à importância de levar em consideração os direitos humanos e os dos indígenas nas ações para lutar contra o aquecimento

ONGs e observadores também criticaram o progresso das negociações.

“A presidência chilena tem uma tarefa: proteger a integridade do Acordo de Paris e não permitir que o cinismo e a ganância o enterrem”, afirmou a diretora do Greenpeace International, Jennifer Morgan. “Mas até agora fracassou”, disse.

“Este é o pior texto que vi em todas as negociações climáticas. Será uma traição para as pessoas de todo o mundo, da mesma maneira que o governo chileno está traindo seus cidadãos em casa”, declarou o diretor da ONG Power Shift Africa, Mohamed Adow, em referência aos protestos sociais no país latino-americano.

“Nos últimos 25 anos, eu nunca vi esta desconexão quase total entre o que a ciência e as pessoas no mundo pedem e o que os negociadores climáticos estão conversando”, afirmou Alden Meyer, observador veterano das negociações.

– Novas objeções do Brasil –

O Brasil, que desde o ano passado trava uma batalha que impede a aprovação do capítulo essencial dos mercados de carbono – um sistema de troca de emissões entre países – expressou objeções neste sábado a respeito de outro assunto.

O país considerou “inaceitável” qualquer referência no recente relatório do grupo de especialistas da ONU sobre o clima que alertou para a superexploração da terra, principalmente devido às práticas agrícolas.

No ritmo atual, a temperatura mundial poderia aumentar até 4 ou 5 ºC no fim do século em comparação com a era pré-industrial.

A ONU considera que é necessário reduzir as emissões em 7,6% ao ano entre 2020 e 2030, mas estas registraram alta em 2019 no mundo.

AFP

“Eu quero entender o que está em jogo”


   Recentemente apontado pelo Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon como Sub-Secretário Geral para a Coordenação de Políticas e assuntos inter-agencias do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (ONU DAES), Thomas Gass, que é suíço, descreveu a si mesmo como um apoiador incondicional do desenvolvimento inclusivo e do multilateralismo. Em sua entrevista, ele explica de que forma sua experiência como representante de um Estado Membro e os seus conhecimentos em cooperação para o desenvolvimento irão ajudar no trabalho de criação, nos próximos anos, de uma agenda de desenvolvimento sustentável inclusivo da ONU.

   “Acredito que o ano de 2015 será nossa próxima grande oportunidade para colocar o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza e outros assuntos importantes no centro do palco. Espera-se que através do meu trabalho como coordenador e facilitador dentro da DESA, eu seja capaz de desempenhar um papel de catalisador neste processo”, disse Gass durante a entrevista realizada poucos dias após sua chegada à ONU DAES. 

O Sentimento de Esperança Global

   Depois da reunião do G20, em que as questões relacionadas ao desenvolvimento foram ofuscadas pela crise na Síria, Thomas foi encorajado a verificar como a redução da pobreza e o desenvolvimento sustentável foram colocados de forma central neste grupo. Ele estava animado para identificar quantos Chefes de Estado começariam seus discursos dizendo quão importantes foram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, até mesmo aqueles na qual sua representação não aderiu aos ODM quando foram primeiramente formulados. “Isso vai me fazer atentar para as declarações positivas e promessas, ao invés dos desafios que podem vir. O debate tinha um aspecto de urgência global, mas também de um interessante sentimento de esperança. A maioria deles disse “Nós podemos fazê-lo”, enfatizando a importância da ONU nas áreas de desenvolvimento sustentável e redução da pobreza.”

   “Todos nós precisamos cantar a mesma canção, chamada de “Uma digna para todos”. Com a resolução que fora aprovada nos termos do processo com início em 2015, temos instruído os governos a avançar.”

De Catmandu para Nova Iorque

    Thomas Gass assumiu o departamento em 3 de setembro, como um dos dois Sub- Secretários Gerais na ONU DAES. Ele trouxe consigo uma vasta experiência de cooperação bilateral e também multilateral. De 2009 a 2013, trabalhou como líder da missão Suíça no Nepal (Embaixador e Diretor nacional da Agencia Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação), quando estabeleceu a Embaixada Suíça no Nepal, e garantiu um programa de cooperação para o desenvolvimento de até 33 milhões de dólares por ano. Ele também presidiu os doadores do Fundo Fiduciário da Parceria para a Paz no Nepal, o principal instrumento de apoio internacional ao processo de pacificação do Nepal.

   Antes sua ida ao Nepal, de 2004 a 2009, Gass chefiou a Seção de Desenvolvimento e Economia da missão permanente da Suíça na ONU, quando representou os interesses suíços no Conselho Econômico e Social (ECOSOC), nas suas comissões auxiliares, na Assembléia Geral e nas Diretorias dos principais fundos e programas da ONU. Durante esse tempo, Thomas Gass foi presidente do Grupo de Doadores do Pacto Global da ONU.

   Ele foi em 2006 o Vice-Presidente do grupo dos países da Europa ocidental da Comissão sobre População e Desenvolvimento, e em 2008 o Vice-Presidente dos países da Europa ocidental do Conselho Executivo do PNUD/UNFPA.

Gass também atuou como diretor de políticas e programas na Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, como representante adjunto residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na Guiana, e como diretor Europeu no IPGRI em Roma.

“Eu quero Ouvir e Entender”

   Quando estava falando sobre as idéias do departamento, Thomas Gass foi prudente:  “ Eu não sou o estereótipo de Presidente que inicia o seu mandato com uma proposta de reestruturação formada. Eu quero ir com calma e escutar todas as partes envolvidas, entender o que está em jogo, quais são os desafios da nossa equipe antes de investir meus esforços e me empenhar para movermos para uma direção ou outra.”

   Para Gass, as chaves são o desenvolvimento inclusivo e o multilateralismo. Em relação aos próximos grandes eventos convocados pelo Presidente da Assembléia Geral, o novo Assistente do Secretário Geral vêem estes eventos como uma oportunidade de trazer uma nova perspectiva ao processo que levou aos pensamentos sobre 2015 que serão muito bem estruturadas e sistemáticas. “Espera-se que nós tenhamos a oportunidade por meio destes eventos de trazer partes interessadas no assunto e que não são convencionais a esses tipos de eventos.” Para ele, a recente tendência em incluir a sociedade civil no processo de consulta é crucial e reflete o nível de evolução do país, tanto no norte e quanto no sul. Os Governos sabem que eles não dominam totalmente o desenvolvimento de seu país. Todas as partes têm de compartilhar seus conhecimentos de forma a construir uma estrutura adequada e sustentável.  A ONU deve permanecer aberta e ouvir aqueles que querem e irão fazer essa abordagem em nível nacional.

   Os Objetivos, incluindo os Objetivos do Milênio e aqueles provindos da Rio + 20, não podem ser alcançados sem o suporte e participação de todos, incluindo o setor privado, pois “ para termos sucesso, as partes devem se assentar à mesa, de forma a desenvolver a apropriação dos objetivos e processos”, explica Gass.

Negociador e Apaixonado

   Como assistente do Secretário Geral para a Coordenação de Políticas e assuntos inter-agencias, Gass gostaria de manter contato com certas questões: “Eu tenho certa experiência em gestão e utilização de recursos genéticos na agricultura, portanto, sei da importância da pesquisa como forma de assegurar comida e proventos para a humanidade, mas também facilmente desenvolvo paixão por outros assuntos. Eu trabalhei no porão da ONU como negociador, por exemplo, em nome dos amigos das montanhas, um grupo de 45 países que apóiam o desenvolvimento sustentável em regiões de montanhas. Em 2006, como Vice Presidente da Comissão de População e Desenvolvimento, eu presidi uma negociação extremamente interessante sobre o envelhecimento. Por ter aprendido sobre o assunto, percebi quão importante e vital para a humanidade saber lidar, de forma deliberada, com as questões ligadas ao envelhecimento”.

   “Eu não quero perder o contato com as experiências que tive em Camarões, na Guiana, no Nepal, e nos Países Andinos, onde eu monitorei e desenvolvi projetos que fizeram diferença para as pessoas que dependiam de suporte da comunidade internacional para elevar suas qualidades de vida”, ele completou.

   Para Thomas Gass, essa nova posição reflete a culminação de diversas habilidades que ele desenvolveu durante sua carreira. “Eu vejo essa posição mais como um resultado dos investimentos nas minhas diversas competências do que um trampolim para chegar a outro lugar.” O novo Sub-Secretário Geral traz um conhecimento concreto acerca dos desafios da cooperação para o desenvolvimento, o que soa como um conhecimento de que os estados interagem entre si e demonstram flexibilidade na relação para interoperabilidade das organizações, agências e parceiros. Assim, ”estou ansioso para combinar de forma eficiente e eficaz três destes conjuntos de habilidades que foram desenvolvidos por mim durante minha carreira, e espero que eles me permitam desempenhar um útil e catalítico papel em ajudar a ONU a alcançar os próximos desafios.”

   Nascido em 1963, Thomas Gass possui PHD em Ciência Naturais pelo Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Zurique e Mestrado e diploma de engenheiro em Ciências da Agricultura pelo mesmo instituto. Ele é casado e pai de três filhos.

Traduzido por: Estevão Matos

Texto original: http://www.un.org/en/development/desa/newsletter/desanews/feature/2013/10/index.html#8414