De Berlim – Uma fonte insuspeita impulsiona a agricultura orgânica na Europa: com a baixa histórica dos preços de produtos agrícolas no Velho Continente, agricultores se convertem para o mercado de orgânicos, que tem rendimentos melhores. Segundo dados da agência francesa Agence Bio, só em 2015 a área de produção orgânica na França cresceu 17%.
A diferença entre os preços da agricultura convencional e os da orgânica pode ser bastante expressiva. Um exemplo é o leite, que hoje rende cerca de 270 euros por tonelada ao agricultor, mas no mercado orgânico pode chegar a 450 euros. O índice FAO do preço de alimentos, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, está em queda desde 2011 e, de fevereiro de 2015 a fevereiro de 2015, sofreu uma queda expressiva de 14,5%.
“Decidi me converter à agricultura orgânica porque, com o preço do leite em 30 centavos por litro, não consigo mais. A indústria vai nos levar à falência”, afirma o agricultor Philippe Grégoire, presidente do Movimento Nacional dos Criadores das Regiões (MNER).
Na virada para este ano, havia na França 1,3 milhão de hectares ocupados com orgânicos, dos quais 220 mil foram recentemente convertidos da agricultura convencional para a orgânica. São áreas em que foi abolido o uso de pesticidas, herbicidas e fertilizantes químicos.
Ainda assim, esses dados correspondem a apenas 4,9% do território agrícola francês. Os quase 29 mil produtores orgânicos da França possuem 6,5% das fazendas, mas geram 10% dos empregos do setor. No total, somando também os empregos em distribuição e transformação, o setor orgânico emprega 100 mil pessoas na França.
Frente à ameaça de revoltas de agricultores em vários países da UE, em março, os ministros da Agricultura dos países-membros se reuniram em Bruxelas para discutir medidas que sustentassem os preços agrícolas, em particular do leite e da carne de porco. Diante da sede da Comissão Europeia, agricultores belgas montaram uma “mini-fazenda”, com animais e tratores, para pressionar os ministros.
No encontro, ficou decidido que os países-membros da UE poderão instalar cotas de produção agrícola, para provocar uma alta nos preços. Também estão autorizados aumentos de subsídios. Em resposta, o sindicato de agricultores francês Coordenação Rural declarou em nota que “a montanha da UE deu à luz um camundongo”. Ou seja, as medidas anunciadas não vão bastar para melhorar a situação dos produtores agrícolas.
Nesse cenário, a agricultura orgânica se expande em todo o continente. Na União Europeia, a produção passou de 3,1% do total de mercadorias agrícolas em 2002 a 5,91% em 2014. Áustria (19,27%), Suécia (16,53%) e Estônia (16,25%) se destacam como os países com a maior área dedicada à agricultura orgânica no continente. Já os maiores consumidores são os alemães, que dedicam 34% de sua cesta de consumo aos orgânicos. Os segundos colocados são os franceses, com 19%.
A Europa é o segundo continente que mais produz agricultura orgânica, com 27% do total. A Oceania é a campeã, com 40%. A América Latina é responsável por 15% dos produtos agrícolas orgânicos do mundo.
Fonte: Página 22