Ghillean Prance: empresas devem ser motor de desenvolvimento da Amazônia


O botânico inglês Ghillean Prance visita a região da floresta amazônica quase todo ano desde a década de 60. Prance tem um longo currículo na pesquisa das propriedades das plantas brasileiras e na área de conservação ambiental, o que inclui a direção do Jardim Botânico de Nova York e dos Jardins Botânicos Reais de Kew, no Reino Unido.

De acordo com o pesquisador, o Brasil e o mundo precisam da floresta amazônica preservada, mas isso não impede que haja uma intensa atividade econômica na região. Para Prance, o motor desse desenvolvimento deve ser companhias como a Natura, mas ele não descarta o papel da agricultura.

Nas últimas décadas, o que mudou na Amazônia?
As cidades cresceram muito. Quando visitei Manaus pela primeira vez, na década de 70, a cidade tinha cerca de 300 000 habitantes. Hoje, existem quase 2 milhões de moradores. Também vejo um interesse crescente em uma abordagem sustentável do desenvolvimento.

Quais são suas maiores preocupações em relação à região amazônica?
Temos de conservar a floresta para ajudar na redução do efeito estufa nos climas mundiais. Mas é preciso ser realista e criar um uso sustentável da região. Nas áreas já desmatadas, poderíamos dar lugar a uma agricultura intensiva.

Como isso seria feito?
É possível usar a terra de forma mais inteligente. Pode-se cultivar o solo em camadas. Numa mesma área, é possível ter uma árvore frutífera, e embaixo dela colocar uma cultura perene, como o cacau, que não é necessário replantar todo ano, e, junto, plantar outra espécie rasteira. A Embrapa já está estudando esse tipo de técnica. Isso é mais sustentável do que criar uma vaca a cada 5 hectares. Sem falar que traria mais renda para quem mora ali.

É curioso o senhor dizer isso, porque há uma grande resistência dos ambientalistas em desenvolver a agricultura na região amazônica. Isso seria viável?
Com a população crescendo, temos de aumentar a produção de alimentos. Mas gostaria de deixar uma coisa bem clara: falo em aproveitar as áreas já desmatadas. Além disso, utilizar o solo com culturas permanentes é melhor do que plantar soja, que precisa ser cultivada todo ano e pode causar erosão. Se não preservarmos as florestas e não cumprirmos a meta de limitar o aquecimento do clima em dois graus até 2050, será um desastre para o mundo.

O senhor acha que é possível atingir essa meta?

Às vezes, sou otimista. Às vezes, pessimista. Para conseguir cumpri-la, temos de convencer os políticos de que as florestas preservadas têm muito valor para a sociedade.


De que modo as florestas podem gerar valor?
Felizmente, já começamos a ver boas iniciativas. A Natura recolhe sementes de árvores nativas sem precisar derrubá-las. Isso poderia ocorrer com companhias de outros setores, como o farmacêutico e o de alimentos. O Brasil precisa de mais empresas como a Natura.

O que falta para que haja mais bons exemplos?
Há muita divergência entre os que defendem a conservação da floresta e os que defendem o desenvolvimento. Além disso, é importante que as universidades e as empresas trabalhem juntas. Sem isso, não dá para avançar.

Fonte: Planeta Sustentável

A sustentabilidade nas empresas começa pelos líderes


Não há empresa brasileira líder em seu setor que não leve sustentabilidade a sério. As grandes companhias colocam o assunto na estratégia do negócio e não o encaram apenas como um conjunto de “práticas verdes”.

Para Ricardo Voltolini, especialista em Sustentabilidade, entre estas companhias há uma característica comum: a liderança engajada. A variável mais importante para que a sustentabilidade deixe de ser um conjunto de práticas e se transforme em estratégia é a liderança. A inclusão da sustentabilidade como prioridade ainda é feita de cima para baixo. Quando a sustentabilidade passa a fazer parte da cultura da empresa, o funcionário passa a pensar a melhor maneira (o jeito mais sustentável) de fazer o que faz.

                           

Para divulgar e discutir as práticas das empresas sustentáveis, Voltolini criou a Plataforma Liderança Sustentável. O movimento que reúnirá durante cinco anos, exemplos de 50 empresas que são cases de sucesso em sustentabilidade. 

Em seu terceiro ano, o movimento traz sempre dez CEOs para contarem suas experiências em um evento anual. Cada um tem 12 minutos para contar seu case de sucesso, sem deixar de lado os perrengues enfrentados para atingir os bons resultados. Depois, os depoimentos são reunidos em um livro. “A intenção é que as histórias inspirem e eduquem mais gente”, diz Voltolini.

Este ano, o tema da Plataforma Liderança Sustentável foi gestão. Presidentes de empresas contaram como estão inserindo a sustentabilidade na estratégia do negócio. As companhias participantes foram Even, Duratex, Itaipu Binacional, Itaú, Renova, Samarco, Santander, Schneider Electric, Unilever e Votorantim.

As empresas que participam da plataforma são escolhidas com base em nomes levantados por especialistas em sustentabilidade. Todos são estudados em detalhes pela equipe do movimento antes de terem o nome aprovado. Quem não é sustentável de verdade, fica fora.

Além do evento e do livro, a plataforma inclui ainda portal, videopalestras, encontros regionais, workshops, estudos, artigos e conteúdos para educadores que trabalham com o tema da sustentabilidade em escolas de negócio e universidades como Fundação Dom Cabral, Fundação Getúlio Vargas e Escola Politécnica da USP.

Fonte: Época Negócios

Comportamento socioambiental de empresa influencia consumidor


As diversas manifestações pelo mundo afora sobre temas como aquecimento global, créditos de carbono, reduções nas emissões de CO2, acidentes ambientais, entre outros, começam, de forma direta e localizada, a atrair a atenção das pessoas e, conseqüentemente, a afetar as empresas na relação com seu público consumidor. Na verdade, esta é uma prática natural, principalmente em países desenvolvidos. Os consumidores estão mais exigentes e antenados neste tipo de informação, mesmo antes de materializarem o seu real desejo de consumir. 



Por estas bandas, esse comportamento também está se consolidando de forma rápida e porque não dizer, acelerada. Várias empresas, dos mais diversos setores, estão atentas a esse movimento e começam, de forma inteligente, a ter percepções interiores e olharem primeiro para dentro de si. Em primeiro lugar, as empresas estão apontando seu foco em direção ao seu público interno, depois para o seu entorno e, na seqüência, seu raio de atuação é ampliado para as diversas classes de consumo, com apelo específico e direcionado. 

Desta maneira, quando hoje uma empresa pensa em inovação, cada vez mais, ela deve estar aliada à responsabilidade social e à sustentabilidade no grande varejo, gerando maior competitividade e relacionamentos duradouros com os consumidores, com a sociedade e com o meio ambiente. 

Neste sentido, devido ao seu relacionamento direto com o consumidor final, as empresas varejistas representam um grande potencial de contribuição no campo da responsabilidade social, com novas aplicações e métodos de gestão e no desenvolvimento e comercialização de produtos inovadores, que transformam e/ou introduzem conceitos de respeito ao meio ambiente e à sociedade. 

Esses novos processos, calcados na inovação responsável, serão a chave para as empresas varejistas tornaram-se ainda mais competitivas, eliminando antigos modelos de gestão e de produções defasadas, qualificando-as como agentes de transformação na sociedade em que estão inseridas.  

Foto: Confap

Fonte: Revista Visão Socioambiental

Sensibilidade ecológica e sustentabilidade ambiental


A sociedade, em todas as partes do globo, tem se preocupado cada vez mais com os diversos aspectos do equilíbrio ecológico. Muitas pesquisas de opinião pública têm sido elaboradas para comprovar essa maior conscientização e inúmeros são os exemplos que evidenciam o aumento da sensibilidade ecológica na sociedade atual, com ênfase nos países de maior desenvolvimento econômico e social. Podemos estudar em detalhes os canais de distribuição reversos sob uma perspectiva ecológica e de sustentabilidade; entretanto, a importância crescente desses aspectos como geradores de pressões sociais de diversas naturezas, que se transformam em um fator de influência modificador, em alguns casos de cadeias reversas, sugere que se antecipem comentários sobre seus reflexos na organização e na estruturação dos canais de distribuição reversos.

O aumento da velocidade de descarte dos produtos de utilidade após seu primeiro uso, motivado pelo nítido aumento da descartabilidade dos produtos em geral, ao não encontrar canais de distribuição reversos de pós-consumo devidamente estruturados e organizados, provoca desequilíbrio entre as quantidades descartadas e as reaproveitadas, gerando um enorme crescimento de produtos de pós-consumo. Um dos mais graves problemas ambientais urbanos da atualidade é a dificuldade de disposição do lixo urbano. A quantidade de produtos que se transformam rapidamente em “lixo” (nomenclatura usada de maneira imprópria) é crescente na atualidade. Embalagens descartáveis e produtos de informática geram preocupação em vista das quantidades e dos custos envolvidos em sua logística reversa.

Essas quantidades excedentes tornam-se visíveis para a sociedade em aterros sanitários, lixões, locais abandonados, rios ou córregos que circundam as cidades etc.; ficam pouco visíveis quando são depositados em mares e rios e não sobrenadam ou quando são simplesmente enterradas para uma solução posterior. Essa nova vertente de preocupação – a sensibilidade ecológica e a sustentabilidade ambiental – tem se convertido em mais um importante fator de incentivo à estruturação e à organização dos canais de distribuição reversos pós-consumo.

Esse crescimento da sensibilidade ecológica tem sido acompanhado por ações de empresas e governos, de maneira reativa ou proativa e com visão estratégicas variada, visando amenizar os efeitos mais visíveis dos diversos tipos de impacto ao meio ambiente, protegendo a sociedade e seus próprios interesses.

Acredita-se atualmente que as preocupações relativas à mudança de direção de prioridade dos eixos da sustentabilidade – onde a sustentabilidade econômica aparece em primeiro lugar, seguida da vertente ambiental e social – tenham mudado suas realidades no sentido de que as preocupações relativas à responsabilidade empresarial ética, ambiental e social sejam o alicerce necessário para a garantia da sustentabilidade econômica.

Além das possíveis oportunidades econômicas oriundas desses ‘reaproveitamentos’, ‘reutilizações’, ‘reprocessamento’, ‘reciclagem’ etc., a questão da sustentabilidade empresarial dirigirá esforços das empresas para a defesa de sua imagem corporativa e de seus negócios, enquanto as sociedades se defenderão por meio de legislações e regulamentações específicas.

Astuciosamente, empresas e governantes também se utilizam dessas preocupações como forma de diferenciação estratégica para seus produtos e interesses políticos, respectivamente, posicionando-se no mercado, verdadeira ou enganosamente, com vantagens competitivas ligadas ao apelo ecológico.

Ainda existe um longo caminho a ser percorrido na implantação da logística reversa no Brasil, com acesso a todos e presente em todos os estados. De forma eficaz e projeção de longo prazo, o hábito da reciclagem no pós-consumo nos levará ao patamar de lixo-zero, economia fortalecida, assim despencando as agressões ambientais que tais produtos causam na natureza.

Fonte: Livro “Logística Reversa – Meio ambiente e competitividade” de Paulo Roberto Leite, presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB) – Editora Pearson

Foto: Techenet

Laísa Mangelli 

Desafio urgente: a responsabilidade socioambiental das empresas


   Já se deixou para trás o economicismo do Nobel, Milton Fridman, que, no Time de setembro de 1970, dizia: “a responsabilidade social da empresa consiste em maximizar os ganhos dos acionistas”. Mais realista é Noam Chomsky: “As empresas é o que há de mais próximo das instituições totalitárias. Elas não têm que prestar esclarecimento ao público ou à sociedade. Agem como predadoras, tendo como presas as outras empresas. Para se defender, as populações dispõem apenas de um instrumento: o Estado. Mas, há, no entanto, uma diferença que não se pode negligenciar: enquanto, por exemplo, a General Electric não deve satisfação a ninguém, o Estado deve regularmente se explicar à população” (em Le Monde Diplomatique Brasil, n. 1, agosto 2007, p. 6).

                  

   Já há décadas que as empresas se deram conta de que são parte da sociedade e que carregam a responsabilidade social no sentido de colaborarem para termos uma sociedade melhor.

   Ela pode ser assim definida: A responsabilidade social é a obrigação que a empresa assume de buscar metas que, a meio e longo prazo, sejam boas para ela e também para o conjunto da sociedade na qual está inserida.

   Essa definição não deve ser confundida com a obrigação social que significa o cumprimento das obrigações legais e o pagamento dos impostos e dos encargos sociais dos trabalhadores. Isso é simplesmente exigido por lei. Nem significa a resposta social: a capacidade de uma empresa de responder às mudanças ocorridas na economia globalizada e na sociedade, como, por exemplo, a mudança da política econômica do governo, uma nova legislação e as transformações do perfil dos consumidores. A resposta social é aquilo que uma empresa tem que fazer para se adequar e poder se reproduzir.

   Responsabilidade social vai além disso tudo: o que a empresa faz, depois de cumprir com todos os preceitos legais, para melhorar a sociedade da qual ela é parte e garantir a qualidade de vida e o meio ambiente? Não só o que ela faz para a comunidade, o que seria filantropia, mas o que ela faz com a comunidade, envolvendo seus membros com projetos elaborados e supervisionados em comum. Isso é libertador.

   Nos últimos anos, no entanto, graças à consciência ecológica despertada pelo desarranjo do sistema-Terra e do sistema-vida surgiu o tema da responsabilidade socioambiental. O fato maior ocorreu no dia 2 de fevereiro do ano de 2007 quando o organismo da ONU, que congrega 2.500 cientistas de mais de 135 países, o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC), após seis anos de pesquisa, deu a público seus dados. Não estamos indo ao encontro do aquecimento global e de profundas mudanças climáticas. Já estamos dentro delas. O estado da Terra mudou. O clima vai variar muito, podendo, se pouco fizermos, chegar até a 4-6 graus Celsius. Esta mudança, com 90% de certeza, é androgênica, quer dizer, é provocada pelo ser humano, melhor, pelo tipo de produção e de consumo que já tem cerca de três séculos de existência e que hoje foi globalizado. Os gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono e o metano, são os principais causadores do aquecimento global.

   A questão que se coloca para as empresas é esta: em que medida elas concorrem para despoluir o planeta, introduzir um novo paradigma de produção, de consumo e de elaboração dos dejetos, em consonância com os ritmos da natureza e a teia da vida e não mais sacrificando os bens e serviços naturais.

   Esse é um tema que está sendo discutido em todas as grandes corporações mundiais, especialmente depois do relatório de Nicholas Stern (ex-economista-senior do Banco Mundial), do relatório do ex-vice-presidente dos USA Al Gore, “Uma verdade incômoda”, e dos várias Convenções da ONU sobre o aquecimento global. Se a partir de agora não se investirem cerca de 450 bilhões de dólares anuais para estabilizar o clima do planeta, nos anos 2030-2040 será tarde demais e a Terra entrará numa era das grandes dizimações, atingindo pesadamente a espécie humana. Uma reunião de julho de 2013 da Agencia Internacional de Energia (AIE) enfatizava que as decisões têm que ser tomadas agora e não em 2020. O ano 2015 é nossa última chance. Depois será tarde demais e iríamos ao encontro do indizível.

   Estas questões ambientais são de tal importância que se antepõem à questão da simples responsabilidade social. Se não garantirmos primeiramente o planeta Terra com seus ecossistemas, não há como salvar a sociedade e o complexo empresarial. Portanto: é urgente a responsabilidade socioambiental das empresas e dos Estados.

Por Leonardo Boff (Filósofo, teólogo, escritor e comissionado da Carta da Terra).

* Publicado originalmente no site Adital

Fonte: Envolverde

Sustentabilidade Energética


A sustentabilidade é um termo bastante adotado por várias empresas para representar seus valores de responsabilidade socioambiental. Isso é uma resposta aos questionamentos frequentes sobre a busca do lucro privado às custas de impactos arcados por toda a sociedade. Por exemplo, se uma indústria deixa de investir em prevenção à poluição, economizará num primeiro momento, mas provavelmente se exporá a maiores riscos e causará impactos que afetarão sua imagem e sua competitividade no médio e longo prazos.

Com a energia isso é muito patente. Assim como nós precisamos de alimentos para nos aquecer e movimentar, as empresas precisam de eletricidade e combustíveis para produzir seus produtos e serviços. Como isso se dá de maneira sustentável? Aliás, o que significa ser sustentável?

O desenvolvimento sustentável preserva, em todos os seus três pilares – econômico, social e ambiental –, os direitos de todos à qualidade de vida. Por todos, devemos entender tanto os que aqui habitam como os que ainda não nasceram. Dessa forma, a base de sustentação das atividades econômicas deve ser socialmente inclusiva e ambientalmente preservada para também as gerações futuras.

A energia sustentável é aquela que minimiza seus impactos a ponto de preservar essa base. Entendido esse conceito, estratégias energéticas precisam ser ao máximo possível eficientes e renováveis.

Fontes renováveis de energia nós conhecemos bem. O sol, os ventos, os potenciais hidráulicos, o calor do fundo da terra e a biomassa (plantas e resíduos) podem e devem substituir progressivamente o carvão, o petróleo e os demais combustíveis fósseis responsáveis por grande parte do aquecimento global. A energia nuclear não é renovável, apresenta riscos e, acima de tudo, é cara.

As políticas energéticas reconhecem o valor das fontes renováveis, mas muitas vezes priorizam os combustíveis fósseis por uma série de motivos: tecnologias convencionais mais conhecidas, preferência por grandes obras de infraestrutura e até, porque não, fortes influências políticas. Um argumento frequente é a falta de confiança nas fontes renováveis, mas diversas experiências bem-sucedidas ao redor do mundo se contrapõem a essa tese. Devidamente integradas, as fontes renováveis se complementam.

O que uma empresa pode fazer nesse sentido? Se queimar combustíveis diretamente, pode preferir aqueles da biomassa, mais sustentáveis – caso do etanol e das florestas plantadas. Se essa biomassa for certificada quanto às suas práticas socioambientais, melhor. Se gerar energia elétrica ou térmica, pode tentar a alternativa solar, pelo menos de forma complementar.

                                                      

O segundo ponto é a eficiência. Ser eficiente é obter o mesmo produto ou serviço final consumindo menos, ou seja, desperdiçando menos energia e materiais em seus processos. Como fazer isso? De várias formas. Nos transportes, adequando a logística e evitando que veículos circulem vazios.

Pode-se também preferir modelos de veículos mais leves e ágeis. Nos processos industriais, as empresas podem observar as melhores práticas (benchmarks) aqui e no exterior. Há bastante informação para isso disponível na internet, dentre as quais os relatórios da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) e do Lawrence Berkeley National Laboratory dos Estados Unidos.

Por exemplo, o Brasil produz uma tonelada de aço com 24 unidades de energia (chamadas megajoule), mas pode produzir com menos de dois terços, ou até com 4 megajoules por tonelada. Isso não se faz da noite para o dia, mas deve ser considerado nos planos estratégicos bastando, para tal, uma disposição, que nas conversas informais chamamos de vontade política. Outro exemplo: basta ir a uma praça de alimentação de shopping e verificar que há vários fornos elétricos, fontes de calor em ambientes climatizados com ar- condicionado.

Gasta-se eletricidade para aquecer e para esfriar num mesmo ambiente. Como se combate esse desperdício? Primeiro, com bons projetos. Segundo, com alguns ajustes, isolando os fornos e dando exaustão ao ar quente. Nos escritórios e residências, soluções simples também resolvem problemas de ineficiência: boa ventilação substituindo o ar-condicionado, lâmpadas eficientes, desligar aparelhos não utilizados ou em modo stand by fazem uma enorme diferença.

Outra forma simples de se economizar energia: não perder materiais. Alimentos que são mal-acondicionados e manuseados estragam rapidamente e viram lixo. Menos alimentos na ponta significa maior produção necessária de matérias primas e maior geração de lixo. Tudo isso consome muita energia. Mais um exemplo: construção civil, que além de desperdiçar materiais intensivos em energia, como cimento, utiliza conceitos de projetos importados e mal-adaptados que demandam muito ar-condicionado.

Um enorme contrassenso que vemos todos os dias é a “obesidade veicular”. Verdadeiros tanques, alguns pesando quase três toneladas, transportam uma pessoa pelas ruas congestionadas das cidades. Ao parar por uma hora na rua, privatizam um espaço público que poderia ser utilizado de forma mais inteligente. O comércio afirma que precisa de vagas de estacionamento, mas, curiosamente, quando se faz compras em Nova Iorque, Paris ou até na Rua 25 de Março, não há lugar para se parar e nem por isso as vendas diminuem.

Outro ponto da eficiência energética está no valor agregado aos produtos. O Brasil é um grande produtor de commodities, sabemos bem. Trocamos vagões pesados de minérios e soja, que ficam presos nas filas dos portos, por tablets, aplicativos, artigos de grife e tantos outros produtos e serviços que consomem proporcionalmente pouca energia e que rendem muito para seus países de origem.

A contenção do desperdício deveria estar também nas instituições. Gastamos muita energia para suprir nossa ineficiência. A juventude nas ruas é resultado de um colapso nos sistemas. Enquanto lá fora se desenvolvem polos de inovação, nosso projeto de futuro está em algumas competições esportivas e na esperança num concurso público. Há falta de engenheiros e excesso de advogados.

Em vez de ampliarmos agressivamente nossos tímidos planos de eficiência e de geração distribuída, gastaremos centenas de bilhões de dólares para buscar petróleo no fundo dos oceanos e daremos mais incentivos para as pessoas comprarem ainda mais carros. Isso sem falar nos resgates com dinheiro público a projetos mirabolantes falidos e tantos outros casos que levam a classe alta a Miami e a classe média às ruas.

Precisamos canalizar adequadamente nossas energias. No sentido mais estrito, é preciso ser eficiente e renovável. Algumas empresas mais proativas já perceberam que isso é questão de sobrevivência e defendem políticas coerentes nesse sentido. Elas precisam, contudo, se fazer representar mais fortemente junto aos seus conselhos, associações e federações.

Isso é importante do ponto de vista estratégico: o mundo está mudando, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas e, se quisermos nos manter competitivos, devemos perceber que isso não acontecerá à base de desperdícios e protecionismo. Desperdício aumenta custos e reduz lucros. Menos lucros, menos empregos. Lutar permanentemente contra isso significa ser sustentável.

Por Oswaldo Lucon

Oswaldo Lucon é professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, assessor em Mudanças Climáticas da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e coautor do livro Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento (Edusp).

Fonte: Ideia Sustentável

Responsabilidade e foco – Meio ambiente e sociedade


Inseridos em um grupo de organizações preocupadas com o bem-estar social e a preservação do meio ambiente e visando realizar projetos diretamente relacionados a estes valores, a Ejel – Consultoria e Projetos Elétricos Jr. criou, dentro da sua gestão, o Núcleo de Responsabilidade Socioambiental (Núcleo RSA). A Ejel é uma associação civil com fins educacionais, formada por graduandos em engenharia elétrica pela UFSJ, que realiza serviços de consultoria e projetos pertinentes à Engenharia Elétrica. A partir de um projeto trainee da empresa, em 2012, a ideia de criação do núcleo foi lançada e, com a gestão 2013 definida, foi finalizada e consolidada.

O núcleo possui, desde o ano passado, duas diretrizes de atuação: sociedade e meio ambiente. Uma parceria com a APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) de São João Del Rei-MG foi instituída, visando a capacitação dos integrantes da associação e trazendo novas perspectivas de atuação no mercado para os mesmos, inclusive. A APAC realiza um projeto de extrema importância, de reinserção do condenado na sociedade e a parceria com a Ejel trouxe excelentes oportunidades para ambos os lados. Estar em contato com realidades diferentes nos torna pessoas melhores, capazes de conviver com as diferenças e respeitá-las. Foi realizado um minicurso na área de Instalações Elétricas, onde houve uma grande troca de experiências entre todos, provando que a integração no mercado pode ocorrer através de pequenas ações locais, desde que se tenha um ideal.

O elo com a APAC ainda é mantido, e pretende-se estendê-lo através de novos treinamentos, focando outros tipos de capacitações dentro da área de atuação.

Visando minimizar os danos ao meio ambiente, pelo descarte inadequado de eletrônicos e outros componentes, o núcleo criou formas alternativas de recolhimento deste tipo de material. Pontos de coleta foram espalhados pelo campus da UFSJ, no qual localiza-se a empresa, contribuindo assim para a coleta de lixo eletrônico em São João Del Rei. Já neste ano, com os resultados obtidos no ano passado e a expansão do núcleo, notou-se a viabilidade de expandir os pontos de coleta para toda a cidade.

Mas o que fazer com todo o lixo eletrônico coletado? Há um espaço apropriado na universidade para armazenamento, e que atualmente está sendo transferido para outro local. Visando a criação de um laboratório, onde possa ser realizada a triagem do material recolhido e, então, parte dele ser destinado à criação de kits didáticos, visando capacitações futuras.

Pretendendo consolidar ainda mais os projetos já existentes,  a empresa conta com mais colaboradores presentes no núcleo, e dois coordenadores gerais, com a autonomia para direcionar e propor novas ações.  Há muito o que crescer e oportunidades não faltam.

1º treinamento de instalações elétricas ministrado pela Ejel na APAC

 

 

 

 

 

    

 

 

 

Após este tempo, o núcleo é extremamente importante dentro da empresa e para toda a região na qual estão inseridos. Através das atividades, conseguiram muita prospecção da marca além de retornar à sociedade ações de inclusão e capacitação, promovendo conceitos como sustentabilidade, empreendedorismo, aliados aos conhecimentos técnicos em Engenharia Elétrica. Hoje em dia, discute-se muito sobre a responsabilidade socioambiental, mas através do núcleo a empresa afirma que pequenas ações locais podem fazer, e muito, a diferença.

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Modelos atuais de sustentabilidade e sua crítica


A pressão mundial sobre os governos e as empresas em razão da crescente degradação da natureza do clamor mundial acerca dos riscos que pesam sobre a vida humana fizeram com que todos encetassem esforços para conferir sustentabilidade ao desenvolvimento. A primeira tarefa foi começar a reduzir as emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, organizar a produção de baixo carbono, tomar a sério os famosos três erres (r) enunciados na Carta da Terra: reduzir, reutilizar e reciclar os materiais usados: aos poucos foram acrescentados outros erres, como redistribuir os benefícios, rejeitar o consumismo, respeitar todos os seres e reflorestar o mais possível etc.

Muitas empresas e até redes delas como o Instituto Ethos de Responsabilidade Social (no Brasil reúne algumas centenas de empresas) se comprometeram com a responsabilidade social; a produção não deve apenas beneficiar os acionistas, mas toda a sociedade, especialmente aqueles estratos socialmente mais penalizados. Mas não basta a responsabilidade social, pois a sociedade não pode ser pensada sem a sua interface com a natureza, da qual é um subsistema e de cujos recursos as empresas vivem. Daí se introduziu a responsabilidade socioambiental, com programas que têm por objetivo diminuir a pressão que a atividade produtiva e industrialista faz sobre a natureza e sobre a Terra como um todo. As inovações tecnológicas mais suaves e ecoamigáveis ajudaram neste propósito, mas sem, entretanto, mudar o rumo do crescimento e do desenvolvimento que implica a dominação da natureza.

             

Não é possível um impacto ambiental zero, pois toda geração de energia cobra algum custo ambiental. De mais a mais, é irrealizável, em termos absolutos, dada a finitude da realidade e os efeitos da entropia, que significa o lento e irrefreável desgaste de energia. Mas pelo menos o esforço deve orientar-se no sentido de proteger a natureza, de agir em sinergia com seus ritmos e não apenas não fazer-lhe mal; importante é restaurar sua vitalidade, dar-lhe descanso e devolver mais do que dela temos tirado para que as reações futuras possam ver garantidas as reservas naturais e culturais para o seu bem-viver.

Vamos submeter a uma análise crítica os vários modelos atuais que buscam a sustentabilidade. Na maioria dos casos a sustentabilidade apresentada é mais aparente que real. Mas, de todas as formas, há uma busca por sustentabilidade pelo fato de que a maioria dos países e das empresas, por maiores que sejam, não se sente segura face aos rumos que está tomando a humanidade. Dão-se conta, crescentemente, de que não se poderá fazer economia de mudanças. Se queremos ter futuro, devemos aceitar transformações substanciais. A grande questão é como implementá-las, dado o fato de envolverem grandes interesses de potências centrais, das corporações multilaterais e mundiais que travam a vontade de definir novos rumos.

O cientista político franco brasileiro Michael Lӧwy o disse acertadamente: “Todos os faróis estão no vermelho: é evidente que a corrida louca atrás do lucro, a lógica produtivista e mercantil da civilização capitalista/industrial nos leva a um desastre ecológico de proporções incalculáveis; a dinâmica do crescimento infinito, induzido pela expansão capitalista, ameaça destruir os fundamentos naturais da vida humana no planeta.”

Várias propostas vêm sendo formuladas, a maioria tentando salvar o tipo imperante de desenvolvimento, mas imprimindo-lhe um cariz sustentável, mesmo que aparente.

Por Leonardo Boff no livro Sustentabilidade – O que é – O que não é (Editora Vozes / 2012)]

Foto: ALM

Laísa Mangelli

Veja 12 tendências de sustentabilidade e oportunidade de negócios para 2014


Originalmente publicado no blog do Sebrae-SC. -> O Centro Sebrae de Sustentabilidade, em parceria com o SIS – Sistema de Inteligência Setorial do Sebrae, elaborou uma lista de 12 tendências de sustentabilidade e oportunidade de negócios para as micro e pequenas empresas aproveitarem em 2014.

Confira as dicas e saiba  como tornar sua empresa mais competitiva no mercado.

 

#1 Crescimento sustentável dos negócios

A lógica do crescimento aliado à conservação tem levado muitos empresários a adotar práticas sustentáveis, especialmente em setores com alta demanda por recursos naturais. Reaproveitamento da água, eficiência energética, gestão de resíduos sólidos são exemplos de como empresas podem reduzir desperdícios, preservar o meio ambiente e ampliar o seu potencial de crescimento.

 

#2 Sustentabilidade na cadeia produtiva

A procura das grandes empresas por fornecedores sustentáveis tem ampliado a criação de negócios que atendam estas expectativas. Alinhar os compromissos do pequeno negócio e adotar princípios de responsabilidade socioambiental são formas de ampliar o valor e alavancar parcerias no segmento atuante.

 

#3 Preocupação com o clima

A neutralização de carbono tem alavancado ideias de negócios e gerado vantagem competitiva também para os pequenos negócios. Dados do CDP (Carbon Disclosure Project) apontam que 29% dos pequenos negócios que diminuíram suas emissões de CO2 economizaram juntos cerca de R$ 13,7 bilhões em 2012.

 

#4 Ecoeficiência

O termo ecoeficiência diz respeito ao uso inteligente dos recursos. Empresas ecoeficientes reduzem impactos nos sistemas de produção através de redução e otimização. Isto envolve eficiência energética, como o aproveitamento da luz do sol nos ambientes e uso de fontes de energia renovável, gestão de água e também a reciclagem de resíduos sólidos, que atende, em alguns casos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

 

#5 Talentos verdes

Profissionais envolvidos com aumento de eficiência nos negócios por meio da redução de impactos estão cada vez mais valorizados. No Brasil existem 16,4 milhões de empregos potencialmente verdes e que compõem mais de 69% da mão de obra de 20 setores de atividade econômica. Urge a necessidade de capacitação e treinamento na área.

 

#6 A era do acesso

O tradicional produto comercializado em pontos de venda (físicos ou digitais) está passando por transformação. Nesta nova economia, surgem empresas que praticam leasing, alugam ou cobram taxas para utilização do bem. O “possuir” passa a ser substituído pelo “usufruir”. Por exemplo, empresas de compartilhamento de bicicletas em áreas públicas.

 

#7 Nem segundo, nem terceiro setor: Negócios 2.5

Empresas 2.5 são aquelas que atuam com fins lucrativos por meio do foco social. São formatos de negócio que buscam a gestão profissionalizada, bem-estar da população, assim como promovem aumento da fonte de renda e o acesso aos serviços essenciais para os setores de baixa renda. Por exemplo, comunidades de costureiras, artesanato e catadores de sucata. Distribuição no Brasil: 39% concentram-se na região Sudeste; 26% na região Sul; 24% na região Nordeste; 7% na região Norte e 4% na região Centro-Oeste.

 

#8 Licenciamento ambiental e relatórios de sustentabilidade

Adotar práticas de preservação ambiental e comunicá-las passa a ser condições do mercado também para pequenos negócios. A licença ambiental é uma das ferramentas que fundamenta a operação da empresa e permite tomar conhecimento das possíveis fontes de poluição e de riscos existentes. A apresentação de relatórios é uma oportunidade de comunicação com os consumidores, cada vez mais preocupados com a sustentabilidade.

 

#9 A feminização da economia

O número de mulheres empreendedoras no Brasil chega a 51% do contingente (Global Entrepreneurship Monitor). Mais mulheres nos empreendimentos, mais mulheres também no mercado consumidor, que se fortalece com as decisões de compra.

 

#10 Vantagem colaborativa

A ótica da competição é substituída pela colaboração. As novas tecnologias, os sistemas open-source, o fenômeno das redes sociais e das novas mídias, plataformas de inovação aberta, têm trazido fluidez e flexibilidade na administração das empresas, fazendo com que as parcerias tragam mais vantagens.

 

#11 Sustentabilidade interior

A correria da vida moderna tem levado cada vez mais consumidores a buscar bem-estar interior e saúde através de produtos e serviços. A sustentabilidade surge aliada à dimensão social, e novos negócios como clínicas, spas, academias e espaços voltados a atender esta demanda ganham visibilidade no mercado.

 

#12 Brasilidade

A afirmação da identidade brasileira, de acordo com especialistas, passa pela marca “Brasil Sustentável”.  Marcas brasileiras que expressam a brasilidade têm se tornado símbolos globais, e os pequenos negócios com sabor, aroma e tom do Brasil irão alavancar de forma significativa, principalmente frente aos grandes eventos da Copa, em 2014, e Olimpíadas, em 2016.

 

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Foto: Reprodução

Fonte: Agenda Sustentabilidade