Movimento Ecos: conhecer para agir


Por Elmo Júlio de Miranda e Amanda Rodrigues

Revisitando conceitos: os ecossistemas do Brasil

No Brasil, há ecossistemas de grandes extensões, chamados de biomas, tais como a Amazônia, a Mata Atlântica, o Cerrado, Mata dos Cocais, Pantanal Mato-grossense, Mata das Araucárias e outros bem específicos, como a Caatinga e os Manguezais, todos muito ameaçados por ações antrópicas. Alguns desses atingiram seu o grau de resiliência, ou seja, a sua capacidade máxima de responder a uma perturbação ou a uma série de perturbações, resistindo e tentando recuperar-se ao longo do tempo.

Essas perturbações ambientais, ocasionadas pelas atividades humanas inadequadas na utilização ou extração dos recursos naturais, possibilitam a falência do ciclo de interação dos elementos da natureza e, por consequência, do próprio ecossistema. Um exemplo clássico de intensa devastação ocorreu com a Mata Atlântica, bioma de floresta e vegetação tropical úmida, que abrange a costa leste-sudeste e sul do Brasil. A Mata Atlântica é composta por grande diversidade de espécies da fauna e flora, além de ser marcada pelo clima úmido e chuvoso. Essa floresta possui espécies perenifólias e latifoliadas que não secam, mesmo durante o período de escassez das chuvas, e suas folhas largas e grandes ofertam sombreamento intenso, guardando as características de floresta úmida do regime pluvial (chuvas). Tais florestas, desde a colonização do Brasil, foram muito devastadas, e hoje restam pouco mais de 8% da vegetação original, que está preservada em parques ecológicos e de preservação ambiental, estações ecológicas e em encostas de difícil acesso.

Outro imenso bioma do país é o Amazônico, um enorme complexo de ecossistemas marcados pelas suas florestas tropicais densas, com a presença do clima equatorial chuvoso e que ocupam cerca de 40% do território nacional. Ele é rico em variedades de espécies, inclusive as endêmicas, que são aquelas que só existem em uma determinada região. A Floresta Amazônica ou Pluvial, foi denominada de Hileia Amazônica pelo cientista Alexander von Humboldt (1769-1859), em razão dos aspectos de sua flora, fauna, arqueologia e etnografia indígenas. A floresta convive em contato com os rios da bacia amazônica, conjunto formado pelo rio principal, afluentes e subafluentes, com uma imensa área drenada de 40% no Brasil, chamada de Amazônia Legal, que possibilita a sustentabilidade de ribeirinhos, indígenas e povos da floresta.

O Cerrado também é outro bioma de grande extensão, com clima quente, marcado por uma estação seca e outra chuvosa, com vegetação do tipo herbácea, de pequeno porte, e com espaçadas espécies arbóreas, árvores que chegam a ultrapassar 10 metros. Além dos ecossistemas abordados, existem tantos outros, como a Mata das Araucárias, o Pantanal e os Mangues, que são áreas alagadas, e, ainda, a importante Caatinga, vegetação de espécies caducifólias, que perdem as folhas na época da escassez de chuvas, reservando a umidade em suas raízes para sobreviver, como exemplo os cactos e sua variada vegetação espinhenta.

Toda essa diversidade de ecossistemas é fundamental para a sobrevivência das espécies que habitam o planeta e, por isso, precisam ser estudados e revisitados sempre, o que contribui para o alcance da verdadeira sustentabilidade do ecossistema e que com ele convive.

Observando os entornos da cidade de Belo Horizonte e a presença dos ecossistemas

Embora este novo cenário de isolamento social interfira no trânsito e na circulação das pessoas, ainda sabemos e podemos, de certa forma, observar a bela paisagem do entorno de Belo Horizonte. Mesmo ao longe é possível notar as elevadas serras que contornam a capital mineira. Algumas delas já estão desgastadas pelo processo de erosão, causado pelo intemperismo químico – conjunto de reações químicas que alteram os minerais que compõem a rocha – e pelo intemperismo físico degradação física da rocha sem alterar a composição química. Ambos ocasionados pela ação das águas das chuvas, calor, pressão atmosférica, movimento tectônicos, dentre outros.

Observa-se nesses cenários paisagens lindíssimas, como na região do bairro Mangabeiras e outros bairros encrustados na serra, com microclima bem distinto e arejamento suave a quem passa. Os paredões da serra ou escudos cristalinos são as rochas magmáticas e metamórficas de formação e estruturas antigas de geologia datada da era Pré-Cambriana, também denominadas de maciços antigos.

Belo Horizonte parece estar resguardada em um vale, ladeado de paredões, que ainda preservam, ao longo da Serra do Curral e do Anel Rodoviário, manchas da Mata Atlântica e espécies remanescentes, aquelas que permaneceram ou restam do ecossistema original. Como exemplo as Quaresmeiras (tibouchina sp.) que se tornaram árvores símbolo da capital mineira e que serviu de orientação para os bandeirantes que procuravam ouro de aluvião, aquele retirado dos cursos d’agua.

A existência de parques de preservação, como o da Mangabeiras, na porção sul de Belo Horizonte, o Parque Ecológico da Pampulha, na porção norte, e o Parque Américo Renné Giannetti (Parque Municipal), fazem parte do entretenimento dos belo-horizontinos e dos visitantes. Tratam-se de unidades de conservação ambiental e áreas de proteção e preservação ambiental (APAs), tão importantes para a proteção dos remanescentes dos antigos ecossistemas.

Observa-se ainda na Grande BH, a sobrevivência dos chamados campos de altitude ou campos rupestres, vegetação que faz parte da Mata Atlântica e do Cerrado, muito encontrada nas faixas de transição desses dois ecossistemas. Esses ocupam regiões mais elevadas de planaltos, acima de 900 metros, com afloramentos rochosos, onde predominam ervas, arbustos e arvoretas pouco desenvolvidas.

Mas não são somente os morros e serras que encantam o “belo horizonte”, existem também lindas regiões de planícies, de formas mais ou menos planas, com fisionomia suave e que possuem altitude inferior a 300 metros, como a Lagoa da Pampulha, por exemplo. Embora em árduo processo de recuperação ambiental contínua, o ecossistema presente na região revela a persistência da sobrevivência. Nitidamente a Lagoa da Pampulha possui áreas ainda bem florestadas, ora naturais, ora recuperadas, e que abriga diversas espécies da fauna e flora.

O Local mistura traços arquitetônicos urbanos importantes em meio à natureza, com longa pista de caminhada, pista para ciclismo, presença dos grandes ginásios esportivos como o Mineirão e Mineirinho, e com a marca de Oscar Niemeyer na Casa do Baile e nos museus. Na orla da lagoa, percebe-se nitidamente a presença da fauna alada, que são as aves e os pássaros que possuem capacidade de voar, tais como os Biguás, Bem-te-vis, Carcarás, Canários, Garça Branca e outros, além de mamíferos, roedores, repteis e até felinos, como a Jaguatirica, já flagradas por visitantes.

Verifica-se, com esta breve análise, a importância do conhecimento socioambiental, afinal, este é o estudo da nossa vida e do meio em que estamos inseridos. Conhecer o lugar em que vivemos e com ele se relacionar é o primeiro passo para preservar. E é exatamente a isso que o Movimento Ecos se dedica: trocar experiências educacionais e transmitir conhecimento, pois conhecer é essencial para agir.

Lago na Venezuela sofre com constante vazamento de petróleo


Vazamento de petróleo no Lago de Maracaibo, em Cabimas. (AFP)

O cheiro lembra o de uma refinaria e o óleo impregna tudo o que toca. No oeste da Venezuela, o Lago de Maracaibo, cujo subsolo está cheio de petróleo, sofre com um constante vazamento, alimentado por oleodutos e poços sem manutenção.

“Veja, por causa do vento do sul, o petróleo está por todos os lados”, lamenta Paúl, um pescador de Cabimas, perto da margem oriental deste lago, uma imensa extensão de água de 13,2 mil quilômetros quadrados, que se liga ao mar do Caribe por um estreito.

Suas ferramentas de trabalho atestam: o casco da embarcação está coberto por uma camada de petróleo e as redes estão enegrecidas após terem sido submersas na água contaminada.

“Quando saímos para pescar, ficamos todos sujos de petróleo”, explica o jovem de 18 anos, que prefere não dar seu sobrenome. “Afeta nossa saúde porque nos lavamos com gasolina para tirar as manchas”, acrescenta.

A contaminação é visível por todos os lados. Manchas de petróleo abrem caminho na água verde e as margens ficam salpicadas de poças pretas e pastosas. Do alto de uma palmeira, uma ave se agita para tentar se desfazer do petróleo que cobre suas asas. Em vão.

Giovanny Villarreal é vizinho de Paúl e também é pescador. “50% das espécies vem impregnadas de petróleo e para nós é impossível que as comprem e nos vemos obrigados a jogá-las no lago”, conta.

Em um cesto, sua pesca do dia parece modesta: alguns caranguejos que se contorcem.

Giovanny é testemunha deste “constante vazamento de petróleo”. Sua casa foi construída sobre palafitas no lago. “Às vezes, à noite não podemos dormir porque cheira a gás. O gás produzido pelo petróleo”, explica o pescador. “E ficamos com os pulmões afetados, sobretudo as crianças”.

Antes de deixar sua marca no ecossistema, os hidrocarbonetos que jazem debaixo do lago impulsionaram a riqueza em Maracaibo, a segunda cidade do país, e de toda a região oeste da Venezuela.

“Há mais de 100 anos o petróleo é extraído debaixo do lago”, afirma o economista Orlando Ochoa, especialista no setor petroleiro.

Agora, a Venezuela, que abriga as maiores reservas mundiais de ouro negro, atravessa a pior crise econômica de sua história recente. O colapso do setor petroleiro é tanto uma causa como uma consequência.

“Não dão as caras”

A queda nos preços do petróleo, combinada com as sanções dos Estados Unidos, e a falta de manutenção da infraestrutura derrubaram a produção de 3,2 milhões de barris por dia (bpd), há 10 anos, para menos de um milhão de bpd atualmente.

“No Lago de Maracaibo estão produzindo 160 mil barris diários. Isto é um sexto do que se produzia há 6 anos”, destaca Ochoa.

A estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) não tem os meios para manter milhares de quilômetros de cabos e tubulações submarinas, uma deterioração que gera mais danos ambientais. Em outras palavras, “produz-se menos, mas há mais contaminação”, diz o especialista.

A PDVSA não publicou cifras do volume de petróleo que vaza diariamente no Lago de Maracaibo. A reportagem pediu a informação à companhia, mas não obteve resposta.

Yurasi Briceño, bióloga do Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas, concentrou seu trabalho na fauna da parte setentrional do lago. Onde ela trabalha, “há pelo menos oito plataformas e três delas estão liberando petróleo desde outubro do ano passado”, diz.

Ao longo de suas pesquisas, assegura ter encontrado com frequência mamíferos, como golfinhos e peixes-boi, afetados.

“Os temos visto ir para a margem, todos manchados de petróleo, e têm toda a pele machucada pelo petróleo. Nós, como últimos consumidores da cadeia trófica alimentar, que comemos caranguejos e camarões, também nos contaminamos com os elementos tóxicos que os animais ingeriram”, afirma a cientista.

Em Cabimas, Giovanny assegura ter feito apelos à indústria petroleira e ao Ministério do Meio Ambiente para que apareçam, se encarreguem do assunto mas, lamenta ela, “não dão as caras”.

É que o problema não é apenas a contaminação. Nos últimos anos, com a crise econômica, a pirataria aumentou no Lago de Maracaibo. “Me assaltaram sete vezes com armas e me roubaram o motor e as espécies”, queixa-se, impotente.

AFP

Novo semestre, novos desafios e novas vitórias rumo à sustentabilidade!


Por Thiago Loures

Após o recesso escolar, o Movimento EcoDom voltou com carga total. Além da continuidade do projeto socioambiental e do início da terceira fase do Campeonato Estadual de Matemática (CEM), novos editais autônomos movimentam os alunos das escolas públicas estaduais na volta às aulas

O consagrado Concurso Garoto e Garota EcoDom foi repaginado, com a novidade de estabelecer maior interação por meio das mídias sociais. Assim, de 19 de agosto a 30 de setembro, as escolas poderão enviar uma foto para concorrer nas modalidades Garoto EcoDom e Garota EcoDom. As imagens serão postadas no Instagram oficial do Movimento EcoDom (@ecosmovimento) e as cinco mais curtidas em cada modalidade irão desfilar no dia 22 de novembro, na Caminhada Ecológica.

Em 2019, o Festival de Dança EcoDom terá o forró como tema, abrangendo desde o tradicional forró pé de serra ao forró universitário. As equipes, de quatro até 14 alunos, farão apresentações de 5 minutos, sendo que as cinco melhores equipes se apresentarão na Caminhada Ecológica, contagiando a multidão.

Várias escolas realizaram atividades de sustentabilidade mesmo no período de recesso escolar, incluindo a limpeza de espaços para implantação de hortas. Em visita às escolas, gostaria de registrar uma grata surpresa da natureza: o início das obras para a recuperação da nascente da Escola Estadual Padre Matias foi um sucesso, pois os alunos, sob o cuidado do professor Pedro, encontram água! A descoberta despertou enorme motivação para recuperar plenamente a capacidade da nascente que, outrora, abastecia toda a escola.

“Água, fonte de vida”, foi o tema da Campanha da Fraternidade em 2004. Ver uma escola, espaço de aprendizagem, promover, por meio do Movimento EcoDom e participação ativa dos alunos, a recuperação de uma nascente em 2019 é motivo de enorme alegria e entusiasmo por um futuro sustentável.

Os desafios são muitos em tempos de desmatamento, individualismo e intolerância. No entanto, como professor nucleador do Movimento EcoDom, uma das principais lições que aprendi é que: Juntos, podemos!

Edição – Equipe EcoDom

César Vega, candidato ecologista, radical e intransigente à Presidência do Uruguai


César Vega, engenheiro agrônomo e pré-candidato à presidência do Uruguai pelo Partido Ecologista Radical Intransigente. (AFP)

César Vega leva uma vida quase autossuficiente em sua casa de campo em Montevidéu, seu quartel-general para chegar à presidência ou de pelo menos a uma vaga no Parlamento que lhe permita combater o uso de agrotóxicos e a poluição no Uruguai.

“Aqui no campo não estou preso”, resume Vega, um engenheiro agrônomo de 56 anos que se considera antes de tudo um camponês.

Em sua horta, 40 km ao oeste do centro da capital, ele planta alface, espinafre e alho, além de pimentas e tomates. São alimento e sustento econômico, pois vende para uma clientela fixa que busca comida saudável. Além disso, cria galinhas e gado para consumo próprio, por isso é que há 11 anos não compra carne.

A paisagem em torno da propriedade é de cartão postal. De sua horta é possível ver a confluência dos rios Santa Lucía e da Prata tendo como fundo uma vegetação espessa que é acessada por um caminho de terra.

Vega vive ali desde 1996. Este homem de fala serena, que foi eleitor da Frente Ampla (esquerda, no poder desde 2005), se afastou dessa coalizão e agora é candidato presidencial pelo Partido Ecologista Radical Intransigente, o Peri, fundado em 2013.

Vai concorrer à presidência em outubro, quando os uruguaios vão eleger o sucessor de Tabaré Vázquez.

Um projeto e uma mensagem

“Para mim o assunto (da política) é um sacrifício. Imagine minha vida aqui, no campo… Digo que há uma idade para fazer as coisas, e temos que considerar seriamente o que está acontecendo no mundo, e temos que cuidar para que seja melhor”, argumenta.

Em 2014, esteve às portas do Parlamento, mas faltaram votos. Agora, as pesquisas apontam que tem 2% das intenções de voto, o que pode levá-lo ao Congresso em 2020.

Se chegar ao Legislativo, o que fará no primeiro dia de trabalho?

Primeiro, “saudar todos. Menos alguns (que) não me agradam”, destaca. “Gosto de trabalhar, e onde estiver -por mais que seja chato- tratarei de trabalhar o máximo possível”, garante.

“A que iremos nos dedicar? O uruguaio está muito desnorteado”, afirma sobre seu país, que se apresenta ao mundo sob o lema “Uruguai Natural”, mas que aumentou drasticamente o uso de agrotóxicos para aumentar a produção agrícola, especialmente de grãos transgênicos de soja e milho.

Com sua candidatura, Vega busca promover uma forma de vida sustentável com “muita gente vivendo no campo”.

Além disso quer combater o uso de “agroquímicos tóxicos venenosos”. “Em 2015, o Uruguai importou entre 15 e 20 milhões de litros de glifosato”, um herbicida classificado como “potencialmente cancerígeno” nesse mesmo ano pelo Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer, uma agência da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“O Uruguai pode produzir alimentos sem uso de pesticidas como produzo na minha horta”, com muito mais mão de obra, garante Vega. “Temos possibilidades de dar alimento a 100 milhões de pessoas no mínimo”, garantiu o candidato, um dos 3,4 milhões de habitantes do país.

“Não precisamos de trabalho? Estou propondo uma fórmula para criar milhares e milhares de postos de trabalho com produção orgânica: (…) tem que trabalhar, com a enxada e com as máquinas”.

Um novo paradigma

Em um canteiro, o candidato presidencial colhe alho-poró. De uma estufa construída com material reciclado, retira pimentas vermelhas e verdes.

Quando perguntado se crê que sua campanha para uma mudança de hábitos de consumo e alimentação, e na forma de viver, irá tocar a população do Uruguai, principalmente a urbana, Vega se mostra pragmático.

“Não sei se será de imediato. A única coisa que sei é que o modelo atual -cidade superlotada, cercada por comunidades carentes, seja Montevidéu, Buenos Aires ou Porto Alegre-, não é viável. Isso sei”.

Sempre perguntam a Vega se ele se identifica com o ex-presidente José Mujica (2010-2015), que também vive no campo e defende uma forma de vida austera. A resposta é que seu discurso é “positivo” mas, mostrando seus dedos cobertos de terra: “Nunca o vi com as mãos assim”.

Sobre seu futuro político, é bastante enfático.

“Não me sinto comprometido a ficar uma hora a mais que as necessárias dentro do Parlamento. (…) Há pessoas entre eles (legisladores) que passam todo o dia dentro do Parlamento. O que isso vale para a população? Vão me ver fazendo muitos cursos de produção orgânica”, graças a “algumas verbas espetaculares, que ali (no Congresso) são muito bem pagas. Então vou fazer muitos cursos”, concluiu.

AFP

Cientistas e até agro criticam saída do Brasil do Acordo de Paris


“É uma visão muito simplista imaginar que é preciso derrubar floresta para fazer agricultura ou pecuária”. (Pixabay)

“Pensar que desenvolvimento se faz à custa do ambiente nos traz uma preocupação enorme. É uma visão muito simplista imaginar que é preciso derrubar floresta para fazer agricultura ou pecuária”. Com essa frase a pesquisadora brasileira Thelma Krug, do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, com outros cientistas brasileiros que estudam as mudanças climáticas, fez um alerta sobre os riscos para o país em sair do Acordo de Paris – inclusive para o agronegócio.

“O pessoal não está entendendo que cada vez mais o vetor que vai estimular o mercado internacional deixa de ser quanto custa, mas a pegada ecológica do produto. Não vai ter mercado para o país (se o desmatamento da Amazônia aumentar), mas aí a floresta já foi”, afirma.

A pesquisadora, que é vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), não falou em nome do grupo mundial de cientistas, mas citou as conclusões do seu mais recente relatório para explicar seu ponto.

O documento, divulgado no primeiro turno da eleição, mostrou que os impactos de um mundo 2°C mais quente são muito maiores que 1,5°C e defende que se tente conter o aquecimento global à marca menor. O problema é que o mundo já corre o risco de alcançá-la em 2040. E o Brasil sentirá os efeitos, principalmente no aumento da seca no Nordeste e nos efeitos da elevação do nível do mar para as cidades costeiras.

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Um Nobel que tem pouco de ecologia e muitos interesses dos banqueiros


Foto: IHU

O chamado Nobel de Economia, concedido pelo Banco da Suécia (Sveriges Riksbank), acaba de ser outorgado a dois economistas que abordaram temáticas relacionando meio ambiente e desenvolvimento. Rapidamente, gerou-se uma enorme confusão, com alguns entendendo que as ciências econômicas convencionais finalmente incorporavam as questões ambientais, ou que estávamos diante de uma renovação do desenvolvimento.

Na verdade, isso não aconteceu, e o Nobel de Economia de 2018 serviu para reforçar o mito do crescimento econômico como meta do desenvolvimento e a fé em resolver a crise econômica dentro do mercado e do capitalismo. E o que é pior, alguns na América Latina aproveitarão isso para reforçar as estratégias de desenvolvimento que nos condenam a ser provedores de recursos naturais para a globalização.

O prêmio foi concedido a dois estadunidenses: William D. Nordhaus (1941), por suas contribuições sobre a economia da crise climática, e Paul M. Romer (1955) por seus trabalhos sobre o papel das inovações tecnológicas para o crescimento econômico.

Nordhaus é muito conhecido na América Latina por ser o coautor, junto com Paul A.  Samuelson, de um dos livros sobre economia mais usados no continente (a 19ª edição de “Economia” traz um conteúdo especial aplicado à realidade da América Latina). Também é reconhecido como o pioneiro das análises econômicas sobre a crise climática, através de procedimentos conhecidos como modelos integrados de avaliação. Ele calculou o “custo social” das emissões contaminantes de carvão e propôs um imposto sobre elas como meio para frear o aquecimento global.

Por sua vez, Romer estudou o papel dos conhecimentos e das tecnologias em promover o crescimento econômico. Também é conhecido na América Latina por ter brigado com seus chefes no Banco Mundial ao defender o Chile num ranking sobre competitividade.

De alguma forma, os dois economistas contribuíram para ampliar ainda mais o campo dos mercados: um ajudou a colocar os gases do efeito estufa e o clima global na agenda econômica, e o outro fez o mesmo em favor das ideias e da inovação. E os dois são firmes defensores da ideia de que desenvolvimento é igual a crescimento econômico.

Nordhaus assumiu que a crise climática poderia ser resolvida por meio de impostos aos gases nocivos sem mudar os tipos de produção, comércio e consumo que prevalecem na atualidade. Ou seja, defende que ajustes instrumentais dentro do capitalismo serão suficientes para resolver o problema. Como militante da “economia ambiental”, ele entende que é possível dar um “preço” aos elementos ou processos da natureza.

Mas, como já alertaram os “economistas ecológicos” e outras disciplinas, esses exercícios estão cheios de incertezas. Não é fácil atribuir um valor econômico a problemas específicos, e em lugares precisos. Além disso, conforme vão sendo ampliados os processos e as escalas, tudo vai se tornando muito mais incerto. Perguntas substanciais como “quanto vale uma espécie de ave que se extinguirá pela mudança do clima” traz mais sombras a qualquer pretensão econômica de estabelecer um preço ao carbono com rigor.

Contudo, a metodologia de Nordhaus de outorgar um “preço” ao carbono presente no ar leva a um problema que vai de poucos dólares a algumas dezenas (em um de seus textos, ele recomenda dar US$ 8 por tonelada de carbono, anos mais tarde, refez o cálculo e estipulou US$ 21). Não só a variação é importante, como também o fato de que os valores são muito baixos, e que tudo isso descansa em muitas suposições, que vão desde a estimação de um valor econômico aos modos de incorporar ou não os eventos críticos, como o derretimento do solo gelado do Ártico. Ou seja, a modelização é apenas isso, um exercício, que depende das suposições iniciais.

Embora Nordhaus ataque os céticos da crise climática, suas preocupações ecológicas não vão muito além disso. Ele mesmo ficou preso em seus modelos, desnudando a ausência de critérios ecológicos, quando sustentou que a agricultura nos Estados Unidos apenas representava 3% do produto nacional, e que por isso os impactos das mudanças no clima sobre ela não teriam muitas consequências para a economia do país. Com essas declarações, ficou claro que a sorte dos agricultores, a obtenção de alimentos e a biodiversidade nas áreas rurais não são muito relevantes em suas análises.

Romer, por sua vez, promoveu a ideia do crescimento econômico perpétuo, ao assumir que as ideias poderiam alimentar essa dinâmica por toda a eternidade. Seguindo sua perspectiva, já não importa o esgotamento do cobre chileno ou dos hidrocarbonetos venezuelanos, pois ainda assim as economias poderiam crescer, graças às novas ideias, invenções e tecnologias. É o que Romer propõe como “desenvolvimento endógeno”, onde o foco está no conhecimento e nas tecnologias. O que os latino-americanos sabem há décadas, mas que Romer não analisa adequadamente, é que esses saberes são monopolizados, patenteados e controlados pelo norte do globo. Apesar das tentativas de alguns países da região em diversificar sua produção, visando campos como a biotecnologia ou a informática, eles ainda continuam presos à exportação de recursos naturais, devido às barreiras e aos negócios que condicionam e encarecem essas inovações.

Mais uma vez, este Nobel de Economia premiou as modelizações matemáticas, como exercícios independentes de sua relação com o mundo real e os dramas atuais. Um prêmio para ensaios pelos quais o carbono pode valer poucos dólares e cujas consequências práticas, o imposto para frear os gases nocivos, não se aplicam, e que dificilmente poderão ser realidade em todas as nações. E, ainda que fosse assim, o valor é tão baixo que não se resolveria o problema da crise climática. O governo Trump sabe muito bem disso, e por isso continua com sua promoção do carvão, contra todos os chamados para frear o efeito estufa.

Por outro lado, se premiou outro economista que chegou a extremos tais como defender “cidades charter”, onde um país cede a soberania de uma de suas cidades a uma ou mais nações desenvolvidas, para que sirvam de garantia e coadministradores. Isso vai além das zonas francas ou enclaves que proliferaram na América Latina, e não deixa de ser outra formulação da dissolução das soberanias nacionais para favorecer a globalização.

Na América Latina e em outras regiões do sul tudo isso tem consequências. Se reforçam as ideias convencionais do crescimento econômico e a ampliação continuada da mercantilização da vida social e o meio ambiente, que favorecem os entusiastas da “economia verde”, assumindo que pode ser gerado mais crescimento econômico com a venda de “bens e serviços” ambientais. Ao mesmo tempo, estimula-se discussões que, por serem infrutíferas, em termos de políticas públicas, fazem com que persistam os extrativismos, a exportação de matérias primas e a emissão de gases do efeito estuda no nosso continente, em especial no meio rural.

Deste modo, o Nobel de 2018 em economia reconhece outra vez a corrente de economistas que acredita que seu trabalho é produzir modelos matemáticos, para a satisfação dos banqueiros que os usam para manter as estratégias de desenvolvimento convencionais, que tanto se beneficiam deles.

IHU

Meio ambiente e igualdade social


Pode a natureza falar? Pode a natureza nos contar os males que lhe afetam? Descontando a linguagem verbal criada pelo ser humano, a natureza não verbaliza; o que, sim, possui é uma capacidade infinita de comunicar, mediante outras linguagens não propositais, um conjunto de sobressaltos que a estão perturbando. O aquecimento global é uma destas mudanças drásticas que diariamente a natureza nos informa. Mudanças abruptas do clima, secas em regiões anteriormente úmidas; derretimento glacial, cataclismos ambientais, furacões com força nunca antes vista, transbordamentos crescentes de rios… etc., são só alguns dos quantos efeitos comunicacionais com os quais a natureza informa sobre o que lhe está ocorrendo.

Não obstante, a maneira como as catástrofes ambientais afetam a vida da humanidade não é homogênea, nem equitativa; muito menos o é a responsabilidade que cada ser humano tem em sua origem.

Classe e raça ambiental

Na última década, pode-se constatar que as catástrofes naturais mais importantes estão presentes em todo o globo terráqueo, sem diferenciar continentes ou países. Nesse sentido, existe uma espécie de democratização geográfica da mudança climática. No entanto, os danos e efeitos que esses desastres provocam nas sociedades, claramente estão diferenciados por países, classe social e identificação racial. De maneira consecutiva, tivemos no período 2014-2016 os anos mais quentes desde 1880, o que explica a diminuição no ritmo de chuvas em muitas partes do planeta. Mesmo assim, os meios materiais disponíveis para suportar e remontar estas carências e, portanto, os efeitos sociais resultantes dos transtornos ambientais são abissalmente diferentes segundo o país e a condição social das pessoas afetadas. Por exemplo, diante da escassez de água na Califórnia, as pessoas se viram obrigadas a pagar até 100% mais pelo elemento líquido, ainda que isto não tenha afetado seu regime de vida. Ao contrário, no caso da Amazônia e as regiões de altura do continente latino-americano, houve uma dramática redução do acesso aos recursos hídricos para as famílias indígenas, provocando más colheitas, restrição ao consumo humano de água e – especialmente na Amazônia – paralisia de grande parte da capacidade produtiva extrativa com a qual as famílias garantiam seu sustento anual.

Além disso, a passagem do Furacão Katrina pela cidade de Nova Orleans, em 2005, deixou mais de 2.000 mortos, milhares de desaparecidos e um milhão de pessoas deslocadas. Mas, os efeitos do furacão não foram os mesmos para todas as classes e identidades étnicas. Segundo o sociólogo P. Sharkey [1], 68% das pessoas mortas e 84% das desaparecidas eram de origem afro-americana. Isso, porque nas regiões propensas a ser inundadas, onde o valor da terra é menor, vivem as pessoas com menos recursos; ao passo que aqueles que habitam as regiões altas são os ricos e brancos.

Neste e em todos os casos, a vulnerabilidade e o sofrimento se concentram nos mais pobres (indígenas e negros), ou seja, nas classes e identidades socialmente subalternas. Daí que se possa falar de um enclassamento e racialização dos efeitos da mudança climática.

Então, os meios disponíveis para uma resiliência ecológica diante das mudanças ambientais dependem da condição socioeconômica do país e dos ingressos monetários das pessoas afetadas. E, dado que estes recursos estão concentrados nos países com as economias dominantes em escala planetária e nas classes privilegiadas, resulta que elas são as primeiras e únicas capazes de suportar e diminuir em sua vida esses impactos, comprando casas em regiões com condições ambientais sadias, tendo acesso a tecnologias preventivas, dispondo de um maior gasto para o acesso a bens de consumo imprescindíveis, etc. Ao contrário, os países mais pobres e as classes sociais mais vulneráveis tendem a ocupar espaços com condições ambientais frágeis ou degradadas, carecem de meios para aceder a tecnologias preventivas e são incapazes de suportar variações substanciais nos preços dos bens imprescindíveis para sustentar suas condições de vida. Portanto, a democratização geográfica dos efeitos do aquecimento global se traduz, instantaneamente, em uma concentração nacional, classista e racial do sofrimento e do drama causados pelos efeitos climáticos.

Este enclassamento racializado do impacto ambiental se torna paradoxal e inclusive moralmente injusto quando se comparam os dados das populações afetadas e das populações causadoras ou de maior incidência em sua geração.

A nova etapa geológica do antropoceno – um conceito proposto pelo Prêmio Nobel de Química, P. Crutzen -, caracterizada pelo impacto do ser humano no ecossistema mundial, vem se efetivando desde a Revolução Industrial, em inícios do século XVIII. E, desde então, primeiro a Europa, depois os Estados Unidos, e em geral as economias capitalistas desenvolvidas e colonizadoras do norte são as principais emissoras dos gases do efeito estufa que estão causando as catástrofes climáticas. No entanto, os que sofrem os efeitos devastadores deste fenômeno são os países colonizados, subordinados e mais pobres, como os da África e América Latina, cuja incidência na emissão de CO2 é muitíssimo menor.

Segundo dados do Banco Mundial [2], Quênia contribui com 0,1% dos gases do efeito estufa, mas as secas provocadas pelo impacto do aquecimento global levam à fome mais de 10% de sua população. Ao contrário, nos Estados Unidos, que contribuem com 14,5%, a seca só provoca um maior custo no preço da água, deixando intactas as condições básicas de vida de seus cidadãos. Em média, um alemão emite 9,2 toneladas de CO2 por ano; enquanto que um habitante do Quênia, 0,3 toneladas. Não obstante, quem leva em suas costas o peso do impacto ambiental é o cidadão queniano e não o alemão.

Dados parecidos é possível obter comparando o grau de participação dos países do norte na emissão de gases do efeito estufa, como Holanda (10 TM por pessoa/ano), Japão (7 TM), Reino Unido (7,1 TM), Espanha (5 TM), França (8 TM), mas com alta resiliência ecológica; frente a países do sul com baixa participação na emissão de gases do efeito estufa, como Bolívia (1,8 TM), Paraguai (0,7 TM), Índia (1,5 TM), Zâmbia (0,2 TM), etc., mas atravessados por dramas sociais produzidos pela mudança climática. Existe, então, uma oligarquização territorial da produção dos gases do efeito estufa, uma democratização planetária dos efeitos do aquecimento global, e uma desigualdade classista e racial dos sofrimentos e efeitos dos sobressaltos ambientais.

Ambientalistas coloniais

Se a natureza comunica os impactos da ação humana em seu metabolismo de uma forma hierarquizada, também existem certos conceitos referentes ao meio ambiente, parcializados de uma maneira ainda mais escandalosa; ou, pior ainda, que legitimam e acobertam estas focalizações regionais, classistas e raciais.

Como destaca McGurty [3] para o caso norte-americano, nos anos 1970, o que tornou possível que o debate público sobre as demandas sociais das minorias étnicas urbanas e inclusive do movimento operário sindicalizado fosse deixado de lado, fazendo com que a “temática social” perdesse força de pressão frente ao governo, foi um tipo de discurso ambientalista. Uma nova linguagem acerca do meio ambiente, carregada de uma assepsia a respeito das demandas sociais, que certamente pôs sobre a mesa uma temática mais “universal”, mas com responsabilidades “atenuadas” e diluídas no planeta; ao mesmo tempo que distantes, política e ambientalmente, das problemáticas das identidades sociais (operários, população negra). Aspecto que não deixa de ser celebrado pelas grandes corporações e o governo que, assim, veem diminuir suas dívidas sociais com a população.

Por outro lado, o sociólogo francês Keucheyan [4] enfatiza como em certos países, como Estados Unidos, a “cor da ecologia não é verde, mas, sim, branca”; não só pela majoritária condição social dos ativistas – em geral, brancos, de classe média e alta -, mas também pela negativa de suas grandes fundações em se envolver em temáticas ambientais urbanas que afetam diretamente os pobres e as minorias raciais. Aparentemente, a natureza que vale a pena salvar e proteger não é “toda” a natureza –  da qual as sociedades são uma parte fundamental -, mas somente aquela natureza “selvagem” que se encontra esterilizada de pobres, negros, camponeses, operários, latinos e índios, com suas incômodas problemáticas sociais e trabalhistas.

Tudo isso reflete, pois, a construção de uma ideia enviesada de natureza de classe, associada a uma pureza original contraposta à cidade, que simboliza a degradação. Assim, para estes ambientalistas, as cidades são sujas, caóticas, obscuras, problemáticas e cheia de pobres, operários, latinos e negros, ao passo que a natureza a proteger é imaculada e aprazível, o santuário imprescindível onde as classes abastadas, que dispõem de tempo e dinheiro para isso, podem experimentar sua autenticidade e superioridade.

Nos países subalternos, as construções discursivas dominantes sobre a natureza e meio ambiente compartilham esse caráter elitista e dissociado da problemática social, ainda que incorporem outros três componentes de classe e de relações de poder.

Em primeiro lugar, encontra-se o estado de autoculpabilização ambiental. Isso quer dizer que a responsabilidade frente ao aquecimento global é distribuída de maneira homogênea no mundo. Portanto, cortar uma árvore para semear alimentos tem tanta incidência na mudança climática como instalar uma usina atômica para gerar eletricidade. E como na maioria dos países subalternos existe uma urgente necessidade de utilizar os recursos naturais para aumentar a produção de alimentos ou obter divisas a fim de aceder a tecnologias e superar as precárias condições de vida herdadas após séculos de colonialidade, então, para estas correntes ambientalistas, os maiores responsáveis pelo aquecimento global são estes países pobres que depredam a natureza. Não importa que sua contribuição à emissão de gases do efeito estufa seja de 0,1% ou que o impacto dos milhões de carros e milhares de fábricas dos países do norte afete 50 ou 100 vezes mais a mudança climática. Surge, assim, uma espécie de naturalização da ação antiecológica da economia dos países ricos, de seus consumos e de sua forma de vida cotidiana que, na realidade, são as causadoras históricas das atuais catástrofes naturais. Dita esquizofrenia ambiental chega a tais extremos que se diz que a recente seca na Amazônia é responsabilidade de algumas centenas de camponeses e indígenas que habilitam suas parcelas familiares para cultivar produtos alimentícios e não, por exemplo, do incessante consumo de combustíveis fósseis que, em 95%, provêm de uma vintena de países do norte, altamente industrializados.

A financeirização da mais-valia ambiental

Um segundo componente desta construção discursiva de classe é uma espécie de “financeirização ambiental”. Nos países capitalistas desenvolvidos surgiu uma economia de seguros, expansiva e altamente lucrativa, que protege empresas, multinacionais, governos e pessoas de possíveis catástrofes ambientais. Assim, o desastre ambiental se tornou um lucrativo e ascendente negócio de seguradoras e resseguros que protegem os investimentos de grandes empresas, não só da crise política, como também de cataclismos naturais, mediante um mercado de “bônus catástrofe” [5], tornando o capital “resiliente” ao aquecimento global. Paralelamente a isso, nos países subalternos emerge um amplo mercado de empresas de transferência, no que temos denominado mais-valia ambiental.

Através de algumas fundações e ONGs, as grandes multinacionais do norte financiam, nos países pobres, políticas de proteção de matas. Tudo, em troca dos Certificados de Emissão Reduzida (CER) [6] que se negociam nos mercados de carbono. Desta maneira, por uma tonelada de CO2 que se deixa de emitir em uma mata da Amazônia, graças a alguns milhares de dólares entregues a uma ONG que impede seu uso agrícola, uma indústria norte-americana ou alemã de armas, automóveis ou aço, que utiliza como fonte energética o carvão e emite gases do efeito estufa, pode manter inalterável sua atividade produtiva sem necessidade de mudar de matriz energética ou de reduzir sua emissão de gases, nem muito menos parar a produção de suas mercadorias ambientalmente depredadoras. Em outras palavras, em troca de 100.000 dólares investidos em uma distante mata do sul, a empresa pode ganhar e economizar centenas de milhares de dólares, mantendo a lógica de consumo destrutiva inalterada.

Assim, hoje o capitalismo depreda a natureza e eleva as taxas de lucro empresarial. Converte a poluição em um direito negociável na bolsa de valores. Faz das catástrofes ambientais provocadas pela produção capitalista, uma contingência sujeita a um mercado de seguros. E, finalmente, transforma a defesa da ecologia nos países do sul em um rentável mercado de bônus de carbono concentrado pelas grandes empresas e países poluidores. Em definitivo, o capitalismo esta subsumindo de maneira formal e real a natureza, tanto em sua capacidade criativa, como no mesmíssimo processo de sua própria destruição.

Por último, o colonialismo ambiental assume de seu alter ego do norte o divórcio entre natureza e sociedade, com uma variante. Enquanto o ambientalismo dominante do norte propugna uma contemplação da natureza purificada de seres humanos – sua política de extermínio de indígenas lhe permite esse excesso -, o ambientalismo colonizado, pela força dos fatos, vê-se obrigado a incorporar neste tipo de natureza idealizada os indígenas que inevitavelmente habitam nas matas. Mas, não qualquer indígena, pois, para eles, aquele que cultiva a terra para vender nos mercados, que reivindica um colégio, hospital, estrada ou os mesmos direitos que qualquer citadino, não é um verdadeiro, mas, sim, falso indígena, um indígena “pela metade”, em processo de campenização, de mestiçagem; portanto, um indígena “impuro”. Para o ambientalismo colonial, o indígena “verdadeiro” é um ser carente de necessidades sociais, quase camuflado com a natureza; esse indígena fóssil do postal dos turistas que vêm em busca de uma suposta “autenticidade”, esquecendo que ela não é mais que um produto de século de colonização e despojo dos povos da mata.

Em síntese, não há nada mais intensamente político que a natureza, a gestão e os discursos que se tecem ao redor dela. O lamentável é que nesse campo de forças, as políticas dominantes sejam, até agora, simplesmente as políticas das classes dominantes. Por isso, ainda são longos o caminho e a luta que permitam o surgimento de uma política ambiental que, no momento de fundir temáticas sociais e ecológicas, projete uma visão protetora da natureza a partir da perspectiva das classes subalternas, naquilo que, alguma vez, Marx denominou uma ação metabólica mutuamente vivificante entre ser humano e natureza [7].

Notas

[1] P. Sharkey, “Survival and death un New Orleans: an empirical look at the human impact of Katrina”, em Journal of Black Studies, 2007; 37; 482. Em: http://www.patricksharkey.net/images/pdf/Sharkey_JBS_2007.pdf. 
 
[2] Databank-Banco Mundial 2013. 

[3] E. McGurty, Transforming Environmentalism, Rutgers University Press, New Brunswick, 2007. 

[4] R. Keucheyan, La naturaleza es un campo de batalla, Clave Intelectual, España, 2016. 

[5] Banco Mundial, “ Seguro contra riesgo de desastres naturales: Nueva plataforma de emisión de bonos de catástrofes”. Em: http://www.bancomundial.org/es/news/feature/2009/10/28/insuring-against-natural-disaster-risk-new-catastrophe-bond-issuance-platform. 

[6] BID/ BALCOLDEX, “Guía en Cambio Climático y Mercados de Carbono”. Em: https://www.bancoldex.com/documentos/3810_Guia_en_cambio_clim%C3%A1tico_y_mercados_de_carbono.pdf   
 
[7] Marx, El Capital, Tomo III; Ed. Siglo XXI, pág. 1044, México, 1980.

 

O artigo é escrito por Álvaro García Linerapublicado por Rebelión. A tradução é do Cepat.

Equipe Ecos visita Colégio Tiradentes


Na última semana, a unidade central do Colégio Tiradentes, em Belo Horizonte, recebeu a visita de uma equipe do Movimento Ecos formada pelo professor Elmo Júlio, pela monitora Larissa Martins e pelos estudantes Marlon Willian Tomaz e Carolina Rodrigues, da Dom Helder. O acolhimento foi realizado pela professora Cláudia Lúcia Kloss, atual diretora do Colégio, e pelo professor Robson, que será o orientador dos estudantes.

Após a recepção, a equipe Ecos reuniu-se com os alunos do 2º e 3º anos do ensino médio e apresentou a origem do Movimento, suas propostas e objetivos. Os integrantes também ressaltaram a importância do jovem e da educação na luta pelo meio ambiente. “Destacamos o papel dos estudantes como mentores de iniciativas – projetos, campanhas – que possam estimular posturas em prol da sociedade. As turmas ficaram bastante interessadas pelo Movimento”, conta o professor Elmo Júlio.

Os alunos da Dom Helder, por sua vez, relataram como ingressaram na Escola e a importância do Ecos em suas carreiras acadêmicas. “Acreditamos que o Colégio Tiradentes terá uma participação brilhante no Ecos 2017, devido às informações que esses alunos possuem e pelo o nível de interesse”, completa Elmo.

Colégio Tiradentes PMMG

A unidade central do Colégio Tiradentes, conhecida como Argentino Madeira, está localizada na praça Duque de Caxias, no bairro de Santa Tereza. É um educandário de tradição em Minas Gerais, que atende principalmente filhos e netos de militares, mas recebe também uma parcela de filhos de civis.

“Contando com uma estrutura completa, o Colégio sempre teve iniciativas marcantes em eventos e projetos na capital mineira, tais como as olimpíadas esportivas estudantis e os jogos da primavera, atuando em vários projetos culturais, sociais e de meio Ambiente”, aponta Elmo.

 Confira as fotos:

Publicado em: ECOS

Noruega rejeita proposta de Salles para mudar estrutura do Fundo Amazônia


Noruega não aceita mudanças propostas pelo governo Bolsonaro (Divulgação/Ministerio do Meio Ambiente)

O ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen, declarou que não vai aceitar a proposta do governo brasileiro de alterar a estrutura de gestão do Fundo Amazônia, programa que já alocou R$ 3,4 bilhões em ações de proteção da Amazônia.

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A posição do governo da Noruega, país que responde por 94% das doações totais feitas ao programa brasileiro até agora, foi manifestada diretamente por Ola Elvestuen, por meio de um comunicado internacional.

“Sob nosso ponto de vista, o fundo tem funcionado bem até agora e estamos satisfeitos com nosso acordo com o Brasil. Não vemos necessidade de mudar a estrutura de direção do Fundo da Amazônia”, declarou, sendo ainda mais incisivo. “Nós enfatizamos que não pode haver mudanças na estrutura de direção do fundo sem o consentimento da Noruega como parte do acordo.”

O Brasil admitiu nessa quarta-feira a possibilidade de extinguir o fundo, caso não chegue a um acordo com seus principais patrocinadores, sobre as novas regras de funcionamento propostas pelo governo de Jair Bolsonaro.

Na avaliação de Elvestuen, o país não está disposto a “endossar soluções que prejudiquem os bons resultados que já alcançamos ou comprometer princípios da Noruega sobre ações de apoio ao desenvolvimento”.

Criado em 2008, o Fundo Amazônia administra cerca de R$ 1,3 bilhão procedentes dos governos de Alemanha, Noruega e da Petrobras. Diante da sistemática política de desmonte dos órgãos e políticas ambientais do atual governo, a reação dos financiadores do fundo criou um impasse e colocou em xeque a própria sobrevivência do fundo.

O ministro afirmou que o objetivo da Noruega é continuar com a parceria, “mesmo sabendo que o término do fundo também é um resultado possível”. “Estamos preocupados com os recentes acontecimentos no Brasil e o aumento do desmatamento na Amazônia”, declarou. “Apoiar os esforços do Brasil para cumprir suas metas nacionais de redução de emissões sob o acordo climático de Paris é prioridade para a Noruega”.

Comitê extinto

Na semana passada, o comitê gestor do Fundo Amazônia foi extinto por um ato do presidente Jair Bolsonaro. Hoje, não há estrutura de comando definida para gerenciar o programa, que está paralisado.

A reação foi imediata. O governo da Alemanha decidiu reter uma nova doação de 35 milhões de euros, o equivalente a mais de R$ 151 milhões. O país já repassou R$ 193 milhões para o programa. A decisão de segurar o novo aporte está relacionada às incertezas que rondam o futuro do programa. A doação será retida enquanto o governo Bolsonaro não anunciar, claramente, o que pretende fazer com o principal programa de combate ao desmatamento do país.

Nesta quarta, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, esteve reunido com embaixador da Alemanha, Georg Witschel, e o embaixador da Noruega, Nils Martin Gunneng. Salles se comprometeu a entregar, em 15 de julho, uma minuta de decreto com os detalhes do que pretende alterar na gestão do fundo. Assuntos como o uso dos recursos do fundo para bancar indenizações fundiárias na Amazônia, que hoje é proibida pelo programa, ficaram de fora da conversa.

Em entrevista à Globonews, Ricardo Salles disse que sua intenção não era utilizar recursos do fundo para indenizar propriedade da Amazônia. Questionado sobre o assunto, Salles foi claro: “Podemos usar parte do dinheiro do Fundo Amazônia para fazer regularização fundiária. Vamos diminuir o problema desses conflitos. Isso significa menos madeira ilegal sendo retirada, menos garimpo ilegal”, disse. “Os problemas estão aí. Tem de ter uma certa criatividade e ousadia para resolver.”

Agência Estado/Redação

Movimento Ecos: Ambiência Socioambiental


Por Elmo Júlio de Miranda e Amanda Rodrigues

Em edições anteriores o Movimento Ecos trouxe conteúdos que relatam a sua criação, história e como foram seus primeiros passos trilhados no caminho para uma Educação Socioambiental mais ampla e consistente, ofertando aprendizado, estruturas e assessoria à educação pública e privada. Em seu arcabouço de intenções, planejamentos e ações, esmeram-se a sustentabilidade e a equidade social das ambiências em geral e as relações de grupos sociais com a natureza. Sendo assim, mais uma vez, o Movimento Ecos descreve a sua trajetória e o seu papel, hoje, contando com mais de 150 escolas parceiras.

O nome Ecos, ainda que muito sugestivo, não remete somente às questões ecológicas, mas também às complexidades que norteiam a questão ambiental em vários aspectos, formando uma estrutura cíclica e completa, capaz de construir propostas concretas no pensar, agir, multiplicar e transformar uma nova postura em prol da natureza e da sociedade. Em ocasião do isolamento social causado pela Covid-19, o Movimento vem buscando atividades alternativas que, mesmo à distância, poderão inserir processos de ajuda mútua à comunidade escolar e à educação em geral, auxiliando professores e alunos no enriquecimento e ampliação de conceitos e conteúdos ao atual cenário de preocupações e incertezas.

Além das atividades oficiais propostas, há uma variabilidade de veículos de comunicação, que são perfeitas ferramentas para a educação e enfrentamento da Covid-19, levando material para pesquisa e orientação aos jovens estudantes. Não obstante às propostas e atividades, a presente edição remonta ao Ecos, o sentido de seu próprio nome: o Ecos que ecoa, repercute e reproduz sons, sabedoria, que valoriza o ecológico e que procura mirar metodologias que auxiliem na dinamização dos processos de buscas de atitudes corretamente ecológicas, preocupando-se com a sobrevivência e a harmonia dos habitats. Um Ecos que valoriza a vida e que traduz e reafirma conceitos.

Dentro dessa perspectiva, o Movimento Ecos busca interpretações das relações de ambiências, do meio ambiente, da nossa casa em harmonia. Exatamente por isso, resgates conceituais passam a ser importantes para reafirmar o discurso ambiental e cultural, fortalecer a pesquisa e enriquecer atividades curriculares. Assim, estabelecer esses conceitos e relembrar a importância do espaço de relações homem-natureza serão o foco das próximas matérias.

Resgates conceituais: conhecer para agir

Todos nós fazemos parte de um determinado espaço, que se remete ao ecossistema, seja ele natural ou cultural, com paisagem transformada pelo homem. A palavra ecossistema traz consigo uma rica interpretação. Trata-se de um conjunto de interações harmônicas entre os elementos da natureza, onde vivem os organismos vivos, e os elementos químicos e físicos, como o ar, a água, o solo e os minerais. Esses elementos vêm sofrendo os impactos causados pela ação antrópica, ou seja, as ações humanas, que interferem direta ou indiretamente sobre a natureza, transformando a paisagem natural e muita das vezes provocando desequilíbrio e a fragmentação do ciclo do ecossistema, que é a desarmonização das relações entre os elementos da natureza, sejam eles bióticos ou abióticos.

Os elementos bióticos são os elementos vivos que compõem a natureza e os abióticos são os elementos artificiais criados pelo homem, e, se introduzidos ao ecossistema natural de maneira inadequada, são capazes de impactar negativamente toda a paisagem. O impacto de grandes áreas nos ecossistemas está relacionado à intensa exploração de recursos naturais não renováveis, aqueles que são utilizados como matérias primas e que não conseguem mais se renovar e se recompor na natureza, ou que levaria um longo tempo para tanto.

Mesmo com a constante exploração, o ecossistema está aí, e, embora intensamente modificado, ainda carrega elementos residuais ou testemunhos, que nada mais são do que fragmentos de determinado espaço, que identificam o ecossistema original, tais como uma pequena mancha florestal, um rio, ainda que poluído, ou uma encosta planáltica. Tais elementos contam uma história e precisam ser cuidados e resgatados para a saúde e para o bem-estar das presentes e futuras gerações.