Avanço das manchas de petróleo no Nordeste gera frustração crescente


Manchas de petróleo em Camacari, Bahia, em 17 de outubro de 2019 (AFP)

Manchas de petróleo de origem desconhecida se espalham há quase dois meses ao longo dos mais de 2 mil km de litoral do nordeste brasileiro, sem que ninguém saiba como deter o fluxo, nem quais serão seis impactos ecológicos, sanitários e econômicos.

“É desolador, desesperador especialmente quando se tem conhecimento da área, e se sabe que o impacto será enorme. É muito revoltante não poder proteger os manguezais e os estuários”, disse a oceanógrafa Mariana Thevenin.

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A cientista começou a ver as manchas em meados de outubro em Salvador (BA) e fundou com amigos o grupo “Guardiões do Litoral”, que mobilizou centenas de pessoas para limpar os balneários. Milhares de voluntários tiveram a mesma iniciativa, muitos com as próprias mãos.

Em Carneiros (PE), considerada uma das praias mais belas do país, Lula Terra, ator e dono de pousada, achou petróleo há uma semana. “Vi a praia e comecei a chorar”, disse. A Marinha informou que já foram recolhidas mais de mil toneladas de óleo cru.

Imagens de pessoas retirando óleo das areias das praias afetadas ou do mar, trazido pelas ondas, circularam nas redes sociais, mas sem causar o mesmo impacto que os incêndios na Amazônia semanas atrás. Mas a gravidade da situação não é menor, alertam especialistas.

“É uma situação muito crítica”, diz Anna Carolina Lobo, gerente do programa marinho do Fundo Mundial para a Natureza-Brasil (WWF-Brasil). “Ainda não é possível medir o estrago. O que a gente sabe é que as praias vão levar pelo menos 20 anos para se recuperar, e o impacto econômico, para a pesca e o turismo é enorme”, acrescenta.

Negligência?

Segundo reportagem do jornal O Globo, as autoridades demoraram 41 dias para executar o Plano Nacional de Contingência para essas situações. Cinco mil militares foram enviados na semana passada como reforço para ações de limpeza 51 dias depois da detecção das primeiras manchas.

“É absolutamente inacreditável, e de fato isso mostra um extremo despreparo em lidar com esse tipo de coisas”, disse Lobo.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, assegura, no entanto, que o governo agiu desde o princípio. O governo afirma, ainda, que o petróleo é venezuelano, mas há divergências sobre a origem e diferentes hipóteses sobre as causas do vazamento.

A Petrobras informou na sexta-feira (25) que o petróleo se move sob a superfície do mar, e por isso é impossível mantê-lo distante das praias com barreiras de contenção. “É como procurar agulha em um palheiro”, afirmou um porta-voz da empresa.

“Nenhum radar consegue ver o petróleo no fundo”, reforça o diretor de proteção ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Olivaldi Azevedo. Mas estes argumentos não convencem especialistas ou voluntários.

“É demolidora a omissão do governo federal”, disse Thevenin.

Impacto por anos

Autoridades locais e regionais informam sobre os riscos de tomar banho nestas praias e consumir peixe, mas o governo federal não decretou emergência, nem centralizou orientações.

Segundo informações publicadas na imprensa, 17 pessoas foram aos hospitais com mal-estar após tocar no petróleo.

“Trata-se de um material tóxico”, que entra na cadeia alimentar, ao se depositar na microfauna consumida pelos peixes, que são consumidos por mamíferos maiores e por seres humanos, disse Luciana Salgueiro, coordenadora de políticas públicas do Instituto Biota de Conservação, em Alagoas.

Em termos ambientais, ela afirma que “a situação configura um desastre sem precedentes, cujos efeitos ainda irão permanecer na natureza por anos”.

Tartarugas, golfinhos e aves morreram ou foram resgatados quase asfixiados pelo petróleo. As manchas se aproximam de locais de migração de baleias e muitos crustáceos foram encontrados com vestígios de petróleo, segundo veículos locais.

Apesar de que as manchas continuam aparecendo diariamente, com a chegada do verão, o turismo ainda não sente o impacto. A CVC, uma das maiores operadoras de turismo do país, informou através de sua assessoria de comunicação que “curiosamente os clientes estão tranquilos”. A empresa recebeu alguns pedidos para alterar viagens, mas a grande maioria manteve até o momento suas reservas.

Quase dois meses depois do aparecimento das primeiras manchas, Lobo afirma que uma das poucas certezas é que “não sabemos quando o petróleo vai acabar”.

AFP

Capacidade mundial de energias renováveis aumentará 50% até 2024


Os diversos tipos de energias renováveis no mundo em 2018 e a previsão de sua capacidade para 2024 (AFP)

As energias renováveis verão um aumento de 50% em sua capacidade mundial até 2024, impulsionadas, sobretudo, por pequenas unidades solares, um aumento “animador”, mas insuficiente para substituir as energias fósseis, afirmou a Agência Internacional de Energia (AIE).

Após uma estagnação em 2018, devido às novas orientações orçamentárias na China, o setor voltou a disparar, com um crescimento de dois dígitos previsto para 2019, segundo o relatório “Renováveis 2019” da AIE.

Para os próximos cinco anos, a agência prevê um aumento de 1,2 mil gigawatts de novas capacidades, ou seja, o equivalente à capacidade elétrica atual dos Estados Unidos.

Graças às políticas governamentais e à queda dos custos, as energias renováveis passarão de 26% a 30% da produção de eletricidade mundial, atrás do carvão (cerca de 34%). “Estamos em um momento de transição”, resume o diretor da AIE, Fatih Birol. As energias “solar e eólica estão no centro das transformações do sistema energético”. Mas “serão necessários mais esforços”, para o clima, a qualidade do ar ou o acesso à energia.

O organismo prevê um crescimento “espetacular” (60% da progressão das renováveis) no setor solar fotovoltaico, sobretudo no nível das instalações “descentralizadas”, em comparação com as grandes usinas solares. Trata-se de todos os dispositivos colocados em residências, empresas ou supermercados, capazes de produzir sua própria energia.

Em muitos países, os custos de produção destas instalações caíram até o ponto de ser mais baixos que os preços de venda cobrados pelos fornecedores de eletricidade. E a AIE estima que cairão ainda mais, de 15% a 35% antes de 2024.

China, União Europeia, Estados Unidos e Índia serão afetados, mas também África e vários países da Ásia, onde esses dispositivos representarão “um primeiro acesso à eletricidade para cerca de 100 milhões de pessoas nos próximos cinco anos”, disse à imprensa Paolo Frankl, responsável do âmbito das renováveis na AIE.

“Crescimento meteórico”

Estes sistemas funcionam especialmente bem nas fábricas e comércios, ativos durante o dia, quando se chega ao máximo nível potencial da energia solar.

No nível de particulares também, onde o número de telhados equipados com estas instalações teria que dobrar, até cerca de 100 milhões antes de 2024, segundo a AIE. Ou seja, 6% da superfície de telhados disponível. Lideram a lista Austrália, Bélgica, Califórnia, Holanda e Áustria.

“Um crescimento tão meteórico, fora dos círculos dos fornecedores de energia tradicionais, transformará a forma como produzimos e consumimos eletricidade”, adverte Fatih Birol.

“Seu desenvolvimento tem que ser bem administrado, de modo a garantir rendimentos estáveis para a manutenção das redes, conter os custos de integração ao sistema e distribuir de forma igualitária os custos entre os consumidores”, continua.

Estes sistemas “dão muito poder aos produtores de energia individuais”, resume, mas também “dão aos cidadãos uma forma de contribuir ao combate contra o aquecimento climático”.

Outro setor promissor é a energia eólica marinha, que atualmente produz apenas 0,3% da eletricidade mundial. “Não é nada, mas o potencial é enorme na Europa, Estados Unidos e China”, afirmou Birol.

As energias hidráulica e eólica terrestre também seguirão uma tendência ao aumento. As margens de progresso são imensas, enquanto as emissões de CO2 das energias fósseis, a primeira causa do aquecimento climático, não parecem diminuir.

Em relação aos deslocamentos, apesar dos veículos elétricos, a eletricidade verde representará em 2024 apenas 10% das energias renováveis utilizadas nos transportes (o resto provém dos agrocombustíveis, e tendo em conta que a eletricidade é de origem fóssil em grande parte dos países), destaca a AIE, que defende uma maior regulação e medidas de apoio. “A desconexão entre as declarações dos governos (sobre o clima) e o que acontece na vida real é uma grande preocupação”, alerta Birol.

AFP

Leilão de Libra: O petróleo não é nosso?


Em meio a intensos protestos e um esquema de segurança que envolveu mais de mil homens do exército, força nacional de segurança e outras dezenas de policiais, o governo realizou na ultima segunda feira, dia 21, o leilão da maior área de petróleo da história do Brasil, o primeiro no novo regime de partilha. A área de Libra, como foi denominada, no pré-sal da Bacia de Santos, recebeu apenas uma oferta, do consórcio formado pela multinacional Petrobras, Shell, a francesa Total e as estatais chinesas CNOOC e CNPC.

                         

A forte participação das empresas privadas gerou surpresa entre especialistas. Como não houve concorrência, o governo vai receber o mínimo exigido, 41,65% de lucro em óleo, e apenas 15 Bilhões pela assinatura do contrato nos próximos trinta dias. Valor que se torna irrisório se comparado a quantidade de petróleo que será extraído da área ao longo dos anos, estimados entre 8 e 12 bilhões de barris de petróleo (alguns especialistas acreditam que podem chegar a 15 bilhões), o equivalente a toda produção de petróleo já realizada no Brasil (do campo de Lobato à bacia de Campos), bem como ao total de reservas comprovadas para exploração futura. É muito petróleo e cujo valor de mercado supera US$ 1 trilhão (40% do PIB nacional). O acesso a esta riqueza foi concedido ao valor de pouco mais de R$ 15 bilhões, ou 0,6% do valor total. Claro que há o pagamento de 15% de royalties (a serem aplicados em educação -75%- e saúde -25%), os impostos e custos de produção, estimados em R$ 650 bilhões. Há também a exigência de conteúdo nacional na produção de componentes e plataformas, estimulando a cadeia produtiva do petróleo e gerando 500.000 empregos (conforme estimativa do governo) e a exploração, que deve ser executada pela Petrobras. Depois de amortizado este custo é que haverá a partilha do excedente de petróleo, na ordem de 41,6 para a União e o restante para os concessionários, em que a Petrobras ficará com 40% e as empresas estrangeiras (Shell, Total e estatais chinesas) com os 60% restantes.

Na mesma noite da realização do leilão de concessão, em que só houve um consórcio participante, que arrematou o campo de LIBRA pelo preço mínimo, a presidente Dilma foi à televisão comemorar os resultados. Segundo ela os interesses nacionais foram resguardados porque as empresas estrangeiras ficarão com “apenas” 15% do total do petróleo. Mas o que ela não disse?

A presidente não disse que em um modelo de “Partilha” cada parte poderá fazer o que quiser com o petróleo que lhe couber, sem a necessidade de beneficiamento ou refino no Brasil. O resultado já é conhecido pelos brasileiros, que há 500 anos convivem com a exportação de matéria prima bruta (atualmente chamadas de commodities) de suas riquezas naturais. É assim desde nosso primeiro ciclo econômico, o Pau Brasil, quando se exportava toras de madeira para extração de tintura vermelha, que depois voltavam na forma de pano tingido. E assim se foi a árvore que batizou o nome desta terra. No ciclo do açúcar, ao menos havia o beneficiamento da cana de açúcar nos engenhos; com o modelo de partilha do pré-sal, nem isso.

Também não foi dito que para o esforço de prospecção no Pré-Sal, a Petrobras tem reduzido sistematicamente seus investimentos em refino e áreas de valor agregado. Como resultado, o Brasil, que há 50 anos havia alcançado a autossuficiência na produção de gasolina, agora é importador do produto, enquanto exporta óleo bruto. Neste caso os números apresentados pela Petrobras são sempre nebulosos, mas já se sabe que o Brasil importa anualmente ao menos US$ 6 bilhões em gasolina, o que tem afetado nossa balança de pagamentos e onerado o preço dos combustíveis, gerando defasagem entre o preço do produto importado e o preço de venda ao consumidor (o que não aconteceria se o país importasse petróleo e o refinasse no país). Ou seja, o modelo adotado leva a uma escancarada reprimarização e subalternização da economia nacional. Isso não foi dito no discurso da presidente.

Ainda assim há que reconhecer uma substancial entrada de renda extra para o país: R$ 1 trilhão. Conforme palavras da presidente em cadeia nacional: “um fabuloso montante de mais de R$ 1 trilhão; repito: mais de R$ 1 trilhão!”. De fato, quando eu era criança só encontrava esta cifra em estórias do Tio Patinhas. Como são cifras fabulosas, com 13 dígitos, por vezes nos confundimos. Este valor que o governo deverá receber (englobando royalties, impostos e partilha) será arrecadado ao longo de 30 ou 35 anos e só começará a entrar nos cofres do governo em 5 ou 6 anos, dividido por 30 anos, resulta em R$ 33 bilhões por ano. Ou seja, continua sendo um bom dinheiro, mas não tanto quanto vendido na televisão.

Outro aspecto a levar em conta é o pagamento do bônus de R$ 15 bilhões para assinatura do contrato, que será utilizado exclusivamente para compor o superávit primário da União, sem que seja transformado em um único lápis para a Educação ou aspirina para a Saúde. E deste valor, R$ 6 bilhões sairão do caixa da Petrobras, uma empresa do governo. Mas se toda a pesquisa e prospecção na identificação do petróleo no pré-sal foi resultado de investimentos da Petrobras (apenas para perfurar um único poço de pesquisa há um custo de US$ 250 milhões), por que a empresa teve que pagar ao governo? Apenas para aumentar o superávit fiscal, esta é a única resposta possível. E o que a Petrobrás poderia fazer caso investisse esses R$ 6 bilhões no interesse da própria empresa e do Brasil? Exemplo: seria possível construir uma refinaria de gasolina, de porte médio para grande, no Centro Oeste, que abasteceria toda região, além da Amazônia Ocidental, que pagam o mais alto preço de combustíveis no país; com isso diminuiríamos o déficit na balança de pagamentos, reduzindo significativamente a importação do produto e o preço baixaria para o consumidor, resultando em diminuição no índice nacional de inflação (pois também incidiria no custo de produção e transporte de alimentos e mercadorias produzidas no Norte e Centro Oeste), além de uma menor pressão cambial, permitindo uma taxa Selic em níveis mais civilizados.      

       Por fim, voltando à análise da parte que caberá às empresas estrangeiras. Como a presidente disse, será de 15% do total extraído. Há controvérsias e diversos estudos apontam um lucro maior, em meus cálculos cheguei ao índice de 18%, outros apontam até 25%, mas vamos admitir que o cálculo do governo está correto. Esta porcentagem representa uma quantidade de um e meio bilhão de barris de petróleo (estimando-se a reserva em 10 bilhões – pode ser mais) e tem um valor de mercado de US$ 150 bilhões (estimando-se ao preço de US$ 100 o Barril – pode ser mais), sendo que o custo de investimento, seja da Petrobras ou parceiras estrangeiras, será 100% coberto com o petróleo explorado; ou seja, estes 15% constituem-se em lucro líquido. Apenas como comparação: este valor é equivalente ao pagamento de todas as aposentadorias do Brasil pelo período de um ano, sejam públicas ou privadas; também permitiria a construção de 750 quilômetros de metrô (São Paulo conta com 72 km); ou 4 anos do orçamento total do Ministério da Saúde (R$ 80 bilhões em 2014);  ou 8 anos do orçamento total do Ministério da Educação (R$ 40 bilhões em 2013). Quanto estas empresas pagaram por esta fabulosa transferência de riqueza? R$ 9 bilhões ou US$ 4 bilhões. Um fabuloso (aí sim, fabuloso) lucro de 37.500%! Não à toa, a manchete da revista alemã Der Spiegel foi: “O Brasil vende um tesouro por uma pechincha”. De fato.

Fonte: Revista Fórum – Brasil Vivo ; Jornal de Londrina

 Laísa Mangelli

“A Casa Civil tem sido muito sensível às demandas do agronegócio”


Entrevista especial com Fernando Carneiro

 

“A Casa Civil tem sido utilizada — porque é um Ministério que tem um poder de articulação sobre os outros — para pressionar os outros Ministérios a acelerar processos, para caminhar nessa direção da liberalização dos agrotóxicos”, alerta o biólogo.

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Foto: doomar.blogspot.com.br

Desde meados do ano passado, especula-se a criação daComissão Técnica Nacional de Agrotóxicos – CTNAGRO, que poderá ser o novo órgão responsável pela aprovação de agrotóxicos no Brasil. De acordo com o professor daUniversidade de Brasília – UnBFernando Carneiro, aComissão “é inspirada no modelo da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, (…) portanto, órgãos como o Ministério da Saúde e Ministério do Meio Ambientenão exerceriam o seu papel atual de análise técnica dos processos que envolvem a liberação dos agrotóxicos. Essa responsabilidade seria repassada para a comissão, e o processo de registro dos agrotóxicos seria terceirizado para instituições a serem conveniadas com essa comissão”. Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone,Carneiro diz que está temeroso com a proposta de aCTNAGRO ser inspirada na CTNBio, porque desde a sua criação ela “aprovou 100% dos pedidos de liberação de transgênicos”. Estima-se ainda que a comissão estará subordinada à Casa Civil e, se isso acontecer, o órgão “concentrará poder e o lobby ficará ainda mais facilitado”, adverte o pesquisador.

Para Carneiro, a criação da CTNAGRO está relacionada com a divulgação de relatórios da ANVISA, os quais demonstram que 36% das frutas, verduras e legumes produzidos no Brasil estão contaminados e são impróprios para o consumo. “Gostaria de destacar que esse esvaziamento parcial da ANVISA está muito relacionado a esses dados, os quais passam a ser discutidos no país. Esse é um dos poucos resultados de monitoramento público dos impactos dos agrotóxicos, e esse trabalho está ameaçado por essa nova reconfiguração do registro de agrotóxico doBrasil e de qual será o papel dos órgãos a partir da reconfiguração. O relatório da ANVISA é apenas uma parte do que deveria estar sendo monitorado, contabilizado. Mas o que se vê é o movimento contrário, de tirar o papel do Estado destas questões”, ressalta.

Fernando Carneiro é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, especialista em Vigilância em Saúde Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, mestre em Ciências da Saúde – área de Concentração de Saúde Ambiental pelo Instituto Nacional de Salud Pública de México e doutor em Ciência Animal – área de concentração de Medicina Veterinária Preventiva e Epidemiologia pela UFMG. Possui experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em vigilância em saúde ambiental e saúde no campo, atuando principalmente junto aos movimentos sociais na luta por melhores condições de saúde e ambiente. Foi consultor do Ministério do Meio AmbienteMinistério da Saúde e servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Coordenou a área de Epidemiologia Ambiental da Secretaria de Saúde de Minas Gerais e atuou como Coordenador Geral de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde

Atualmente leciona no Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília – UnB, onde atua como pesquisador no Núcleo de Estudos de Saúde Pública e é membro do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e do Programa de Ciências da Saúde. Participa também do Grupo de Trabalho de Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – ABRASCO e da Rede Brasileira de Justiça Ambiental. Atualmente é Chefe do Departamento de Saúde Coletiva da UnB e membro doObservatório da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta – PNSIPCF (www.saudecampofloresta.unb.br), que monitora todas as ações políticas em relação à saúde do campo, floresta e água.

Confira a entrevista.

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Foto: Abrasco

IHU On-Line – Em que consiste a proposta de criar a Comissão Técnica Nacional de Agrotóxicos – CTNAGRO? Qual seria a finalidade dessa Comissão e em que contexto surge essa proposta?

Fernando Carneiro – De forma não oficial, baseado em reportagens que são publicadas em alguns jornais e informações que temos recebido de algumas pessoas que têm acompanhado as reuniões para a criação da CTNAGRO, parece que desde junho um grupo ministerial tem se reunido na Casa Civil para discutir a proposta da criação dessa comissão. Ela é inspirada no modelo da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio e seria criada para controlar o processo de liberação dos agrotóxicos; portanto, órgãos como o Ministério da Saúde e oMinistério do Meio Ambiente não exerceriam o seu papel atual de análise técnica dos processos que envolvem a liberação dos agrotóxicos. Essa responsabilidade seria repassada para a comissão, e o processo de registro dos agrotóxicos seria terceirizado para instituições a serem conveniadas com essa comissão. Não sabemos quais serão essas instituições, se serão universidades ou outros tipos de empresas, porque a discussão está sendo feita a quatro portas. Ou seja, não há nenhum debate, e pode acontecer o que aconteceu com a liberação do benzoato, quer dizer, em questão de um mês uma medida provisória virou lei e liberou um agrotóxico com essa substância, o qual não será avaliado nem pelo Ministério da Saúde, nem pelo Ministério do Meio Ambiente. Em linhas gerais, a proposta é essa.

IHU On-Line – Qual será a atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA diante da criação da CTNAGRO? Trata-se de uma proposta para “esvaziar” o órgão? O que mudaria em relação ao processo de liberação de agrotóxicos?

Fernando Carneiro – É claro que o papel de órgãos como a ANVISA será diminuído, porque a responsabilidade técnica de liberar um produto toxicológico já não será mais do órgão. Outras instâncias terão responsabilidade sobre esse processo. Então isso vai implicar um esvaziamento, sim, do papel da ANVISA e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.

IHU On-Line – Como vê a proposta de subordinar a CTNAGRO à Casa Civil?

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"As taxas que as empresas pagam para registrar os produtos no Brasil são irrisórias: dois, três mil reais, enquanto nos EUA as taxas são de 200, 300 mil dólares"

Fernando Carneiro – A Casa Civil, nos últimos anos, tem sido muito sensível às demandas do agronegócio. Na visão dos ruralistas, os processos de registros são muito lentos e demorados no Brasil. Os ruralistas reclamam da demora do processo, mas, na minha avaliação, ele deveria ser ainda mais restritivo, porque o registro do agrotóxico no Brasilé eterno; em outros países, não. As taxas que as empresas pagam para registrar os produtos no Brasil são irrisórias: dois, três mil reais, enquanto nos EUA as taxas são de 200, 300 mil dólares. É impressionante como oBrasil ainda tem muito a avançar no sentido de cobrar mais responsabilidade das empresas, porque elas querem uma liberalização total do processo de liberação de agrotóxicos. Nesse sentido, a Casa Civiltem sido utilizada — porque é um Ministério que tem um poder de articulação sobre os outros — para pressionar os outros Ministérios a acelerar processos de liberalização dos agrotóxicos. Se essa comissão estiver subordinada à Casa Civil, concentrará poder e o lobby ficará ainda mais facilitado.

IHU On-Line – Como o senhor avalia a postura da CTNBio na liberação dos transgênicos no país? Quais os riscos de a Comissão Técnica Nacional de Agrotóxicos – CTNAGRO ser criada nos moldes da CTNBio?

Fernando Carneiro – Ficamos temerosos de que a CTNBio seja o modelo de inspiração da criação da CTNAGRO, porque a CTNBio, desde a sua criação, aprovou 100% dos pedidos de liberação de transgênicos; não houve nenhuma recusa, nenhum indeferimento de processo, ou seja, é um órgão que tem recebido muitas críticas porque não discute conflitos de interesse. Muitos pesquisadores da CTNBio são financiados pelas multinacionais que têm interesse direto, por exemplo, na aprovação de tipos de transgênicos. Recentemente foi solicitada uma audiência pública àCTNBio para discutir a liberação do 2.4-D, que tem componentes do agente laranja, a qual foi negada. Portanto, trata-se de um órgão que está na contramão da história em termos de diálogo com a sociedade, em termos de sensibilidade com questões de saúde e do meio ambiente. O órgão se utiliza de um discurso científico, como se fossem cientistas, e não políticos.

Estamos preocupados com a possibilidade de o Congresso Nacional aprovar alguma medida liberando geral os agrotóxicos, porque processos como esse estão sendo gestados na Casa Civil, com o apoio da bancada ruralista.

IHU On-Line – Quanto o Brasil gasta com tratamentos em saúde por conta da contaminação com esses produtos?

Fernando Carneiro – Houve uma tentativa inicial de calcular esse custo a partir de uma tese de doutorado daFundação Oswaldo Cruz – Fiocruz. O pesquisador Wagner Ribeiro avaliou as informações do Sistema Único de Saúde – SUS do estado do Paraná, onde os dados eram mais fidedignos, e demonstrou que a cada dólar gasto em agrotóxico, se gasta 1,28 dólares no tratamento de camponeses que são intoxicados. Então, se o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do planeta, e gasta bilhões em relação aos agrotóxicos, existe um gasto no SUS que está escondido, pois muitas vezes os médicos têm medo de diagnosticar uma intoxicação ou não estão preparados para identificá-la. Portanto, muitas informações não chegam às estatísticas oficiais, mas mesmo assim, com toda essa dificuldade real na ponta do sistema, os dados oficiais estão demonstrando um crescimento anual de intoxicação por agrotóxicos no país.

Os últimos dados do SUS, de 2013, apesar de ainda não estarem fechados, demonstram aproximadamente 12 mil intoxicações. De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, cada caso de intoxicação sinaliza que outros 50 não foram notificados. Se fizermos essa continha, chegaremos a 10 mil casos, e se multiplicamos por 50, teremos provavelmente em torno de 500 mil casos anuais de intoxicação de agrotóxicos no Brasil. Estou falando apenas de casos de intoxicação aguda. Ainda estamos longe de conseguir estimativas para casos de intoxicação crônica, que pode gerar câncer, alterar funções metabólicas. Mas o que se vê é que o câncer na população do campo já é maior do que na população urbana.

IHU On-Line – Como os tratamentos por contaminação de agrotóxicos são feitos no Brasil?

Fernando Carneiro – Existem dois grandes problemas em relação ao tratamento. Primeiro, há dificuldades de fixar um profissional da saúde em determinados territórios. Então, quando você consegue fixar um médico na zona rural, muitas vezes esse médico também atende os pacientes do munícipio, de algumas empresas e às vezes ele também é dono de terras na região. Nesses casos há

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"Estamos preocupados com a possibilidade de o Congresso Nacional aprovar alguma medida liberando geral os agrotóxicos, porque processos como esse estão sendo gestados na Casa Civil"

conflitos de interesse local. Então o médico não quer notificar um caso de contaminação porque não quer perder o outro emprego ou tem medo de ameaçar grandes interesses. Essa é uma situação muito comum.

O segundo problema é que nas faculdades de Medicina a área da saúde do trabalhador e a área de toxicologia não são muito valorizadas pelos estudantes, que têm uma formação mais voltada para o mercado por especialidades. Então, muitas vezes os médicos não estão preparados para identificar uma intoxicação.

IHU On-Line – De acordo com a ANVISA, 36% das amostras de frutas, verduras, legumes e cereais estão impróprias para consumo. Como o senhor avalia os cuidados com a saúde em relação aos alimentos consumidos no país? Quais são as dificuldades?

Fernando Carneiro – Eu queria destacar duas coisas: a primeira é que está aumentando a porcentagem global de alimentos contaminados, portanto, estamos comendo mais veneno na comida; a segunda é que alguns agrotóxicos estão sob avaliação da ANVISA. Entre eles há agrotóxicos que são proibidos e que não têm registro. Mas os agrotóxicos encontrados em maior quantidade nos alimentos eram aqueles que estavam com recomendação de proibição, o que mostra que não são agrotóxicos triviais que estão sendo encontrados. Trata-se de agrotóxicos que estão sendo questionados em sua permanência ou não no Brasil.

Gostaria de destacar que esse esvaziamento parcial da ANVISA está muito relacionado a esses dados, os quais passam a ser discutidos no país. Esse é um dos poucos resultados de monitoramento público dos impactos dos agrotóxicos, e esse trabalho está ameaçado por essa nova reconfiguração do registro de agrotóxico do Brasil e de qual será o papel dos órgãos a partir da reconfiguração. O relatório da ANVISA é apenas uma parte do que deveria estar sendo monitorado, contabilizado. Mas o que se vê é o movimento contrário, de tirar o papel do Estado destas questões.

A única exceção em relação aos agrotóxicos foi a aprovação de uma portaria da Secretaria de Vigilância da Saúde, que está apoiando os estados a realizarem a vigilância de saúde em populações que convivem com agrotóxicos. A portaria liberou 23 milhões, então cada estado receberá em torno de 700 mil ou um milhão para estruturar a vigilância e a saúde de populações que são contaminadas pelos agrotóxicos. Esse é o único movimento do plano federal, mas ainda está engatinhando.

IHU On-Line – Como avalia a autorização emergencial da Presidência da República para a utilização do benzoato de emamectina nas lavouras de soja? Quais as implicações desse produto?

Fernando Carneiro – É comprovado cientificamente que o benzoato é neurotóxico, ou seja, ele causa um dano no sistema nervoso de cobaias. Se isso já é comprovado, fico imaginando o que pode acontecer se esse produto for polarizado de Norte a Sul do país.

Há denúncias de comunidades indígenas sendo pulverizadas, trabalhadores sendo pulverizados, regiões de mananciais e nascentes sendo pulverizadas. Fico imaginando que agora, com a liberação do benzoato, o brasileiro que vive nas áreas rurais vai beber água e receber chuvas contaminadas por um produto que é comprovadamente neurotóxico. Isso me preocupa muito, e a perspectiva é que se aprovem outros produtos. A sociedade brasileira tem de dar um grito de basta a esse tipo de irresponsabilidade do Estado.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Fernando Carneiro – Nós estamos muito assustados com a velocidade com que o agronegócio tem conseguido alcançar seus objetivos em relação à liberalização das regras tanto no sentido da saúde quanto do meio ambiente. É importante que a sociedade pressione os parlamentares para que essa tendência realmente seja alterada. As mobilizações que ocorreram no ano passado foram muito importantes e ajudaram a mudar a pauta política doCongresso Nacional. Precisamos que a questão dos agrotóxicos fique na boca do povo para que o modelo que gera contaminação e morte não seja o modelo hegemônico da agricultura no Brasil.

A grande oportunidade em relação a essa mudança foi o lançamento da Política Nacional de Agroecologia, que ainda recebe oito bilhões de financiamento referente aos 154 bilhões do agronegócio. Ela é uma grande possibilidade de reversão desse quadro a partir de uma proposta concreta de começar outro modelo de produção, em que a vida e a biodiversidade sejam colocadas em primeiro lugar. A Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO tem trabalhado muito nessa direção e organizou o dossiê pelo impacto dos agrotóxicos na saúde, que é uma tentativa de cumprirmos nosso papel científico de mostrar que o que está acontecendo é muito grave.

(Por Patricia Fachin)

 

Fonte: IHU – Unisinos

Quase 200 toneladas de óleo foram recolhidas nas praias do Nordeste


Marinha e PF ainda investigam a origem do problema (Igor Santos/Secom Salvador)

Um total de 198 toneladas de borra de petróleo já foram recolhidos das praias do Nordeste brasileiro até esta segunda-feira (14). O material retirado por equipes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de agentes estaduais e municipais tem sido levado para aterros industriais. Parte dele é incinerada.

Já são 43 dias desde a primeira detecção do material. A preocupação neste momento é saber quanto do óleo ainda chegará às praias. Simplesmente não se sabe, neste momento, se a situação já está controlada ou quanto do petróleo ainda chegará ao litoral, dado que se trata de uma matéria pesada, que avança no fundo do mar.

A Marinha e a Polícia Federal ainda investigam a origem do problema. A hipótese de que o material pode ter sido lançado no mar por um “navio fantasma”, embarcação clandestina que faria o contrabando de petróleo, ganhou força nas apurações. Até a semana passada, 23 embarcações estavam no alvo das investigações.

O Ibama vai cobrar explicações da Shell sobre o aparecimento de barris no litoral do Nordeste atrelados à empresa. Paralelamente o órgão pedirá cópia do laudo técnico da Universidade Federal de Sergipe (UFS) sobre o material que foi encontrado nos barris que chegaram ao litoral do Estado.

A Marinha informou que as manchas de óleo que chegaram às praias do Nordeste não são compatíveis com o material encontrado em amostra de barril da Shell. Por meio de nota, a empresa afastou relação entre os barris e as manchas de óleo.

“A Shell Brasil esclarece que o conteúdo original dos tambores localizados na Praia da Formosa, em Sergipe, não tem relação com o óleo cru encontrado em diferentes praias da costa brasileira”, diz o texto. “São tambores de óleo lubrificante para embarcações produzido fora do País. O Ibama está ciente do caso.”

Na semana passada, investigações da Marinha e da Petrobras encontraram petróleo com a mesma “assinatura” do óleo da Venezuela nas manchas do litoral. Essa informação já havia sido comunicada ao Ibama. O poluente já foi identificado em 161 pontos no litoral dos nove Estados da região.

Agência Estado

O perigo dos agrotóxicos, artigo de Fernando Carneiro


              agrotóxicos

 

O agronegócio brasileiro vem pressionando a Presidência da República e o Congresso para diminuir o papel do setor de saúde na liberação dos agrotóxicos. O Brasil é o maior consumidor desses venenos no planeta e a cada dia se torna mais dependente deles.

Qual o impacto que essas medidas terão na saúde da população brasileira?

No Brasil, a cada ano, cerca de 500 mil pessoas são contaminadas, segundo o Sistema Único de Saúde (SUS) e estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os brasileiros estão consumindo alimentos com resíduos de agrotóxicos acima do limite permitido e ingerindo substâncias tóxicas não autorizadas.

Em outubro, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou que 36% das amostras analisadas de frutas, verduras, legumes e cereais estavam impróprias para o consumo humano ou traziam substâncias proibidas no Brasil, tendência crescente nos últimos anos.

Os agrotóxicos afetam a saúde dos consumidores, moradores do entorno de áreas de produção agrícola ou de agrotóxicos, comunidades atingidas por resíduos de pulverização aérea e trabalhadores expostos. Mesmo frente a esse quadro, mais dramática é a ofensiva do agronegócio e sua bancada ruralista para aprofundar a desregulamentação do processo de registro no país.

Qualquer agrotóxico, para ser registrado, precisa ser analisado por equipes técnicas dos ministérios da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente. Inspirados na CTNBIO, instância criada para avaliar os transgênicos, que até hoje autorizou 100% dos pedidos de liberação a ela submetidos, os ruralistas querem a criação da CTNAGRO, na qual o olhar da saúde e meio ambiente deixaria de ser determinantes para a decisão.

Quem ganha e quem perde com essa medida? Não há dúvida que entre os beneficiários diretos está o grande agronegócio, que tem na sua essência a monocultura para exportação. Esse tipo de produção não pode viver sem o veneno porque se baseia no domínio de uma só espécie vegetal, como a soja. Por isso, a cada dia, surgem novas superpragas, que, associadas aos transgênicos, têm exigido a liberação de agrotóxicos até então não autorizados para o Brasil. O mais recente caso foi a autorização emergencial do benzoato de amamectina usado para combater a lagarta Helicoverpa, que está dizimando as lavouras de soja de norte a sul do país. A lei que garantiu a liberação desse veneno tramitou e foi aprovada em um mês pelo Congresso e pela Presidência da República.

A pergunta que não quer calar é: no momento em que a população brasileira espera um Estado que garanta o direito constitucional à saúde e ao ambiente, por que estamos vendo o contrário? Na maioria dos estados brasileiros os agrotóxicos não pagam impostos.

O Estado brasileiro tem sido forte para liberalizar o uso de agrotóxicos, mas fraco para monitorar e controlar seus danos à saúde e ao ambiente. Enquanto isso, todos nós estamos pagando para ser contaminados…

Fernando Carneiro é Professor da UnB e coordenador de Saúde e Meio Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Publicado em O Globo, em 24/1/2014 e socializado pelo Radis na rede.

EcoDebate, 27/01/2014

Petrobras é incluída pelo oitavo ano seguido no Índice de Sustentabilidade da Bolsa de Nova York


                       

 

   A Petrobras foi selecionada pelo oitavo ano consecutivo para integrar o Dow Jones Sustainability Index World (DJSI World) da Bolsa de Nova York, nos Estados Unidos. No período a empresa recebeu sete vezes nota máxima nos critérios transparência e liberações ao meio ambiente. Houve destaque ainda nos critérios impacto social nas comunidades, políticas e sistemas de gestão ambiental e gerenciamento de risco e crise. O mais importante índice mundial de sustentabilidade, avalia as melhores práticas de gestão social, ambiental e econômica no mundo.

   Para a presidente da companhia, Graça Foster, a inclusão no índice reforça o trabalho que a Petrobras faz na área de sustentabilidade. "A transparência é um valor muito forte para a Petrobras. Quando vemos o mais importante índice mundial de sustentabilidade reconhecer a empresa e avaliá-la com nota máxima em transparência, temos a certeza de que estamos no caminho certo de crescimento com sustentabilidade", analisou.

   O DJSI World tem nesta edição, 333 empresas de 59 setores da indústria de 25 países. Somente no setor de petróleo e gás são 27 companhias. A Petrobras foi incluída ainda no índice regional Dow Jones Sustainability Emerging Markets, que reúne 81 empresas de 20 países em desenvolvimento.

Aspectos socioambientais

   Na avaliação do diretor corporativo e de Serviços, José Eduardo Dutra, a permanência da companhia nos índices da bolsa norte-americana mostra que além da busca do lucro a Petrobras valoriza aspectos sociais e de preservação do meio ambiente. "A renovação da participação da Petrobras nos índices de Sustentabilidade da Bolsa de Valores de Nova York demonstra não apenas o foco no crescimento e na rentabilidade, mas também a preocupação com aspectos sociais e ambientais, que são determinantes para o futuro da companhia e cada vez mais relevantes para o mercado financeiro", ressaltou.

   Em 2012, os investimentos e os gastos operacionais em proteção ambiental da empresa, inclusive com projetos de gestão ambiental e patrocínio a projetos externos, somaram R$ 2,9 bilhões. O valor indica crescimento de 7% na comparação com 2011.

Por Agência Brasil

Foto: Petrobras

Fonte: EcoDesenvolvimento

Brasil sediará centro de monitoramento de qualidade de água para América Latina e Caribe


                

A partir de agora a Agência Nacional de Águas (ANA) faz parte do Sistema Global de Monitoramento Ambiental da Água (GEMS-Water, na sigla em inglês). A parceria foi definida graças a um acordo assinado entre as partes e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

O GEMS-Water é uma organização que mantém uma rede global para monitorar a qualidade da água no mundo, com mais de 4 mil estações de pesquisa. A rede armazena cerca de 4 milhões de registros coletados em mais de cem países, disponíveis online como subsídios para instituições de pesquisa, governos e outras organizações.

Com o convênio, a ANA passará a ser um dos centros regionais da entidade internacional e fará interface com países da América Latina, Caribe e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A agência brasileira será responsável por organizar ações regionais de capacitação em monitoramento da qualidade da água e disseminação dos métodos e dados do GEMS-Water.

“Garantir infraestrutura para água e saneamento é uma condição básica para o desenvolvimento econômico. Atualmente, este desafio torna-se ainda mais complexo com os impactos das mudanças climáticas”, afirmou Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do PNUMA. “Tudo isso reforça a necessidade de promover uma sólida ação governamental para conservação dos recursos hídricos e que se adapte à realidade global, favorecendo a cooperação Sul-Sul”.

Steiner esteve presente na assinatura do documento em uma reunião, em São Paulo, que contou ainda com a presença do presidente da ANA, Vicente Andreu e a representante do PNUMA no Brasil, Denise Hamú. A parceria entre ANA e GEMS-Waters é válida até 2018, mas poderá ser ampliada.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, mais de 1 bilhão de pessoas não têm acesso a saneamento básico. No Brasil, em 2010, o censo do IBGE revelou que 17% dos domicílios do país ainda não pertencem à rede geral de abastecimento de água e 45% não possuem coleta de esgoto.

Fonte: Planeta Sustentável ; Ambiente Brasil

Laísa Mangelli

Acordo global de biodiversidade pode entrar em vigor sem o Brasil


Proposta de ratificação foi enviada ao Congresso Nacional em 2012, mas até hoje não foi votada

                   

A Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU (CBD) anunciou, no dia 14 de Julho, que o Protocolo de Nagoya – acordo que define regras internacionais para acesso e compartilhamento dos recursos da biodiversidade – entrará em vigor em 12 de outubro. Isso será possível porque o número de países que ratificaram (aprovaram internamente) o acordo chegou a 51 (eram necessárias no mínimo 50 ratificações).

O Brasil, porém, apesar de ter sido um dos primeiros a assinar o protocolo, em fevereiro de 2011, ainda não o ratificou. A proposta de ratificação foi enviada ao Congresso Nacional em 2012, mas até hoje não foi votada.

O Protocolo de Nagoya foi definido em outubro de 2010, na 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 10) em Nagoya, no Japão. Seu principal objetivo é definir as regras para garantir uma distribuição internacional dos benefícios provenientes dos recursos da biodiversidade no mundo.

Na prática, os países que ratificaram o protocolo se comprometem em compartilhar os benefícios vindos da exploração de recursos naturais, como plantas ou animais, com o país de origem desses recursos. Eles têm também a garantia de que recursos naturais retirados de seu próprio país serão submetidos à mesma regra.

O protocolo também pretende criar novos incentivos para a conservação da biodiversidade e para o uso sustentável dos recursos naturais. Em nota divulgada pela CBD, o secretário executivo do órgão, o brasileiro Bráulio Ferreira de Souza Dias, afirmou que “o Protocolo de Nagoya é central para libertar o poder da biodiversidade para o desenvolvimento sustentável, através da criação de incentivos para a conservação e o seu uso sustentável, garantindo a equidade na partilha de benefícios”.

A primeira reunião para discutir o Protocolo será feita simultaneamente à 12ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 12), na Coreia do Sul, entre 13 e 17 de outubro. Só participarão das decisões os países que já tiverem ratificado o protocolo.

O Ministério do Meio Ambiente afirmou que a ratificação depende apenas do Congresso Nacional e que o governo federal “trabalhou muito para convencer o Congresso a ratificar o Protocolo, inclusive com empenho pessoal da ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira no processo”. 

Fonte: Ambiente Brasil ; ONU Brasil

Laísa Mangelli

Portaria libera uso de agrotóxico proibido no Brasil


            

O oeste da Bahia foi declarado oficialmente em estado de emergência fitossanitária em relação à lagarta Helicoverpa armigera. O anúncio foi feito no dia 4 de novembro pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Para combater a lagarta, no dia 7 de novembro, o Mapa publicou a portaria 1109, na qual permite a importação da substância benzoato de emamectina, agrotóxico até agora proibido no Brasil.

Matéria publicada no jornal Valor Econômico, dia 31 de outubro, mostrava que o governo e a iniciativa privada estão em discussão de uma reformulação completa do rito de análise, autorização e uso de agrotóxicos no país. O Valor informa ainda que a Casa Civil entrou nas discussões que envolvem questões como a pulverização aérea e a importação de defensivos não aprovados no Brasil. Procurada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), a Casa Civil não quis se pronunciar.

Esta liberação só foi permita por conta da Lei nº 12.873/13, de 24 de outubro deste ano, e do Decreto nº 8.133, de 28 de outubro. Ambos prevêem a liberação de agrotóxicos ainda não aprovados no Brasil e o uso dessas substâncias para outra finalidade daquela aprovada anteriormente, em casos de emergência fitossanitária ou zoossanitária, como o caso apontado acima, que aconteceu uma semana depois.

Preocupação

Estas iniciativas foram motivos de preocupação de diversas entidades, entre elas, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia e Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa).

A lei 12873/13, que levou apenas um mês para tramitar na Câmara dos Deputados, no Senado e ter sanção presidencial, traz 64 artigos que tratam de assuntos diversos. Destes, três legislam sobre a autorização do poder do Executivo em declarar estado de emergência fi tossanitária ou zoossanitária e do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), do Ministério da Agricultura, em anuir com a importação e conceder autorização emergencial temporária de produção, distribuição, comercialização e uso, quando declarado este estado.

O Decreto nº 8.133/13, que regulamenta o artigo 53 da lei, por sua vez, determina que a declaração de estado de emergência fitossanitária ou zoossanitária pode ser feita pelo Ministério da Agricultura, quando, segundo o texto, ‘for constatada situação epidemiológica que indique risco iminente de introdução de doença exótica ou praga quarentenária ausente no país, ou haja risco de surto ou epidemia de doença ou praga agropecuária já existente.

“O que mais chama a atenção nestes artigos e depois no decreto é que eles atribuem certos poderes ao Ministério da Agricultura em situação de emergência, mas não explicam quais situações são estas”, destaca Cleber Folgado, diretor executivo da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que completa: “Não é a primeira vez que eles passam ou tentam passar projeto com a mesma estratégia, misturando esse tema num bolo de assuntos que não tem nada a ver”.

O líder da Frente Parlamentar da Agropecuária e deputado federal, Valdir Colatto (PMDB/SC), explica que a intenção com a aprovação desta lei e decreto é evitar prejuízos como os contabilizados no ano passado, que, segundo ele, somam R$ 10 bilhões.

“Esse ano estamos com plantio de novo e sofremos o risco de multiplicar esse prejuízo. A não ser importando um produto aprovado lá fora e que se possa aplicar com alguma segurança possível para que a gente possa controlar as pragas em situação de emergência, que é a finalidade do decreto 8133/13”, explica o deputado. Flávia Londres, uma das coordenadoras da AS-PTA, contesta a situação de relevância, uma vez que a plantação será para assegurar a exportação.

“Estamos falando de colocar em perigo a saúde humana e ambiental em benefício de um grupo de empresas que plantam soja, milho e algodão com a intenção de exportação.Não estamos falando de riscos de falta de suprimento para alimentar o país”, lembrou Flávia. Atualmente, 70% dos alimentos consumidos no país são produzidos pela agricultura familiar. De acordo com o Censo agropecuário do IBGE, apenas 20% das pequenas propriedades usam agrotóxico.

Emergência?

O chefe da divisão da Inspeção e Fiscalização de Insumos Agrícolas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luis Rangel, alega que estas iniciativas foram acordadas junto à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

“Todo esse tema e a regulamentação foi amplamente discutida com os Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente e só agiremos desta forma em caso de emergência. O Mapa vai fazer uma avaliação criteriosa dos casos, não talvez com profundidade de uma avaliação completa de registro – nem se esperaria isso, já que estamos falando de uma medida emergencial – mas baseados em parâmetros internacionais e em países com os quais o Brasil tem uma equivalência em termos de legislação”, explica.

Os agrotóxicos importados nesta ocasião deverão ser aprovados em países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que adotem, nos respectivos âmbitos, o International Code of Conduct on the Distribution and Use of Pesticides da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

De acordo com Rangel, o oeste da Bahia já tinha um mapeamento da situação desde o começo do ano, quando a lagarta helicoverpa se mostrou muito agressiva e acabou expandindo para outras culturas. Ele aponta ainda que estados como o Mato Grosso, Piauí e Goiás estão preparando suas declarações para que o Governo Federal reconheça o estado de emergência.

A avaliação da ASPTA é de que o decreto estabelece poucos critérios e nenhum parâmetro objetivo para a determinação, pelo Mapa, de uma situação de emergência. O texto apresenta ainda que o estado de emergência terá duração de um ano, mas poderá ser prorrogado, por igual período, quando for necessário.

“O temporário pode facilmente se tornar permanente”, avalia Flávia Londres, da ASPTA. Para Luis Rangel, a falta de clareza é uma estratégia que leva em consideração diferentes cenários que podem simbolizar o caráter de emergência. “Deixar critérios claros em situação de emergência e com legislações tão complexas como lei e decreto não é uma estratégia muito inteligente. Para evitar o anseio dos movimentos sociais de que o Mapa utilize isso de maneira indevida, estamos equilibrando nossas ações quando trabalhamos em parceria com a Embrapa, que tratou das questões técnicas e científicas que embasaram todos os critérios para a determinação da emergência”, explica,acrescentando: “Os agrotóxicos não são o fim dessas estratégias, eles são uma ferramenta para um grande plano de emergência”, explica.

Fonte: Brasil de fato

Laísa Mangelli