Empresa produz garrafas PET 100% recicladas


    

   Todos os anos, centenas de milhares de toneladas de garrafas PET são produzidas. Porém, elas demoram séculos para se degradar, fato que determina o aumento de atenção para a reciclagem, tanto por parte dos consumidores, dos catadores e das próprias indústrias que utilizam o material.  

   É o caso da AMBEV que desde outubro de 2012, tem parte de sua produção de garrafas de Guaraná Antarctica feita com 100% de origem em PET reciclado. Qualquer garrafa pode ser reciclada, não importa o formato ou a cor – se é PET, pode ser enviada.

   A tecnologia já evitou que mais de 120 milhões de garrafas fossem descartadas no meio ambiente. A empresa atingiu a marca de reciclagem de  uma em cada cinco unidades de Guaraná Antarctica que saem da fábrica.

   De acordo com a gerente de marketing da marca, Bruna Buás, o projeto está ganhando força e incentiva toda a sociedade a se organizar para que a reciclagem se amplie, de tal maneira que a meta é ter todas as garrafas de Guaraná Antarctica fabricadas com 100% de PET reciclado e, posteriormente, incluir outras marcas da AMBEC, como Pepsi, H2OH!, Sukita e Soda.


 

Fonte:  Eco4Planet

Análise global de energia foca no Brasil


Relatório prevê investimentos bilionários no pré-sal e coloca o Brasil como uma das principais referências de produção e consumo de energia do mundo

A Agência Internacional de Energia (IEA) divulgou hoje o World Energy Outlook 2013 (WEO 13), documento que estuda as principais questões de política energética mundial. Como é de praxe, a IEA escolhe anualmente um país com importante papel na produção e consumo de energia para ser destaque no relatório; este ano, foi a vez do Brasil. O relatório estipula que a demanda energética brasileira duplique em vinte e dois anos, atingindo 940 TWh.

Segundo o WEO 13, a demanda central de energia está mudando para as economias emergentes, particularmente China, Índia, Oriente Médio e Brasil. Estima-se que os países emergentes corresponderão a mais de 90% do crescimento da demanda energética até 2035. No caso brasileiro, por exemplo, grande parte desse aumento será proveniente da expansão do setor de transportes, com crescimento previsto em 77%.

Os combustíveis fósseis continuam compondo parte dominante da demanda mundial energética, o que implica em questões que relacionam energia, ambiente e mudanças climáticas. O pré-sal brasileiro ilustra bem essas relações: a produção de petróleo, segundo o relatório, triplicará até 2035, colocando o Brasil entre os seis maiores produtores do mundo.

Entretanto, o reflexo dessa atividade pode ser mais grave do que o WEO 13 prevê. No cenário da IEA, o Brasil, mesmo com o pré-sal, continuaria a ser um dos menores emissores per capita de carbono do mundo, alcançando 3 toneladas de COem 2035. Por outro lado, o relatório “Caminho Sem Volta”, lançado no começo deste ano pelo Greenpeace, estima que mais de 660 milhões de toneladas de CO2 sejam emitidas anualmente até 2035, apenas no setor de óleo.

É preciso considerar também o risco da exploração em águas profundas: o plano de contingência em caso de vazamento lançado pelo governo brasileiro ainda é um esboço e não contém as ações exatas para conter possíveis acidentes. Os detalhes só virão em 6 meses.

A análise do IEA aposta no potencial hídrico e de gás no Brasil para 2035. O primeiro, estimado em 245 GW, perde confiança e não deve ser totalmente explorado, considerando que esse potencial se encontra na Amazônia, região de unidades de conservação e terras indígenas. E o segundo, representando 40 GW, está diretamente ligado à exploração de óleo. Mas o relatório peca em não considerar os impactos sociais e ambientais das hidrelétricas na Amazônia e a restrição do uso de gás devido à logística e aos altos custos.

Para as novas fontes renováveis, como a solar, eólica e biomassa, o WEO 13 prevê uma expansão mundial de 45%, ultrapassando a produção de gás natural. A IEA estipula o potencial teórico de 350 GW em energia eólica no Brasil, mas deixa de lado a capacidade solar nacional. Em termos de biocombustível, a projeção é excessiva: fica claro que o etanol corresponde a grande parte da demanda do setor de transportes, mas as políticas atuais cerceiam investimentos na área há cinco anos. Enquanto para a indústria do gás e do óleo é previsto 75% dos investimentos planejados, segundo o Plano Decenal de Energia (2013-2022), o setor de biocombustível receberá 5%, e as fontes eólica e de biomassa, meros 3%.

De acordo com a IEA, os investimentos necessários para o Brasil figurar entre liderança energética mundial são estipulados em US$ 90 bilhões de dólares por ano, sendo dois terços desse investimento direcionados ao setor de óleo. O país dependeria, em grande parte, dos investimentos da Petrobrás. O Greenpeace, com o relatório [R]evolução Energética, prevê que o Brasil poderia economizar US$ 12 bilhões por ano até 2050 se o gasto com combustíveis fósseis para térmicas fosse direcionado para mais energias renováveis.

Fonte: http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Analise-global-de-energia-foca-no-Brasil/

Brasil: gigante adormecido


A média de riqueza familiar brasileira tem quase triplicado desde o ano de 2000, crescendo de USD 7.900 por adulto para USD 23,300. Enquanto o movimento das taxas de câmbio tem causado oscilações, incluindo quedas consideráveis em 2008, 2011 e 2013, atualmente as taxas de câmbio não fizeram diferença quanto ao crescimento global nos últimos 13 anos. A Riqueza atual está agora bem acima do nível encontrado antes da crise financeira global em qualquer base de taxa de câmbio.  

                                   

Ativos financeiros são de especial importância no Brasil. 42% dos ativos brutos não estão tão abaixo de 50% do referencial que representa a média aproximada para os países avançados. A forte representação de ativos financeiros tem sido alcançada, apesar do declínio do mercado de ações em aproximadamente 12% desde 2009 e o precoce histórico de inflação brasileira, que desencorajava a detenção dos ativos financeiros de forma segura, por exemplo, em depósitos e investimentos imobiliários. Responsabilidades domésticas são 21% de ativos brutos, novamente refletindo o desenvolvimento financeiro, contudo também indicam vulnerabilidade do setor doméstico diante as flutuações das condições macroeconômicas.    

Dentre os vários outros países da América Latina, o Brasil tem mais pessoas na faixa de USD 10,000–100,000  em relação ao resto do mundo, mas menos números em cada uma das outras faixas. Isso talvez possa dar uma impressão enganosa, que a desigualdade é menor do que a média. Na verdade, a desigualdade global é relativamente alta, como fora indicado pelo valor do coeficiente de Gini de 82% e pelo número de moradores ricos. O Brasil tinha 221 mil milionários e 315 mil adultos no topo de 1% dos detentores da riqueza global. O alto nível de desigualdade de riquezas em parte reflete a dispersão de renda, que por sua vez está relacionada com o assimétrico acesso a educação e da divisão entre os setores formal e informal da economia.

Veja o gráfico abaixo:

                                         Distribuição da riqueza em relação ao mundo

                

Leia mais sobre a distribuição mundial da riqueza aqui.

Foto: GospelPrime

Fonte: https://publications.credit-suisse.com/tasks/render/file/?fileID=BCDB1364-A105-0560-1332EC9100FF5C83

Publicado: 17 de setembro de 2013.

Autores: Anthony Shorrocks, Jim Davies, Rodrigo Lluberasis com Credit Suisse.

Traduzido por: Matheus Lima.

Brasil receberá feira de sementes em 2014


Retirado do site Canal Ibase

   A Rede de Sementes Livres da América está fazendo aniversário. Faz exatamente um ano que ativistas ligados às sementes crioulas se reuniram no vale sagrado dos Incas no Peru para articularem suas experiências em nível continental. O evento teve também a presença da indiana Vandana Shiva reconhecida internacionalmente por sua luta contra o monopólio das transnacionais de sementes como a Monsanto e a Bayer.

   O segundo encontro da rede aconteceu no Chile em abril deste ano e o próximo será no Brasil, em Minas Gerais, em maio de 2014. A principal ideia da rede é reunir experiências exitosas na conservação, multiplicação, intercâmbio e até mesmo venda dassementes tradicionais, aquelas cultivadas e melhoradas em processos socioculturais milenares pelos campesinos ao redor do mundo. As sementes crioulas são variedades não transgênicas, adaptadas às condições locais, com alto grau de variabilidade e grande importância sociocultural para as famílias que a cultivam e estão sendo ameaçadas por leis de propriedade intelectual ou cruzamento com sementes transgênicas, que ao contrário não geram descendentes férteis, além de inúmeros outros problemas ambientais e econômicos.

   Uma das porta vozes da Rede de Sementes Livres no Brasil, Tadzia Maya, que faz parte da Articulação Nacional de Agroecologia e coordena um pequeno banco de sementes em Aldeia Velha, interior do Rio de Janeiro, explica que o objetivo agora é somar mais parceiros e instituições na divulgação da causa, explicitando os riscos dos cultivos transgênicos, além de buscar a constante difusão das sementes crioulas em feiras, eventos, programas governamentais e projetos autônomos:

   – Estamos convidando mais pessoas para a rede, precisamos retomar nossa liberdade de plantar e trocar sementes saudáveis que gerem também alimentos saudáveis, sem venenos – disse.

Mais informações no site http://www.redsemillaslibres.org/

União Europeia busca negócios com empresas brasileiras em projetos ambientais


 

A União Europeia quer aproximar pequenas e médias empresas do Brasil e da Europa para promover a troca de experiências e de negócios que possam aumentar o uso de tecnologias para a redução da emissão de gases de efeito estufa na indústria brasileira. O projeto Low Carbon Business Action in Brazil já está identificando áreas e setores econômicos no país que possam concretizar negócios e aderir a processos e tecnologias de baixo carbono.

Serão realizadas três rodadas de negócios neste ano e pelo menos mais três no ano que vem, com a participação de cerca de 720 empresas brasileiras e europeias. A primeira rodada de negócios deverá ser em agosto. O objetivo é promover a troca de experiências inovadoras e apoiar as empresas na transição para as tecnologias e os processos de baixa emissão de carbono.

O projeto vai financiar até 80% dos custos logísticos e de viagens de empresas selecionadas e promoverá acordos de cooperação para maior competitividade e sustentabilidade ambiental das companhias participantes. O investimento será de 3 milhões de euros até 2018 para financiamento operacional dos contatos. Em um segundo momento, deverá haver mecanismos financeiros de apoio para que as empresas possam desenvolver as propostas.

O especialista sênior em tecnologias de baixo carbono do projeto, Ricardo Esparta, destaca que já existe um mercado de redução de emissões na União Europeia e que os países do bloco são os principais atores na discussão de uma economia de baixo carbono no mundo. Por isso, há interesse em investir em países como o Brasil, onde essas tecnologias ainda estão em desenvolvimento.

“Com isso, a gente não só leva à redução da emissão de gases de efeito estufa e atinge os objetivos da Convenção do Clima, como ajuda também os setores tanto na Europa, porque naturalmente existe um interesse econômico, quanto em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde isso está sendo buscado”, diz Esparta.

Um dos setores que devem ter destaque nas rodadas de negócios é o de biogás. No Brasil, existe potencial para a produção de gás natural, mas faltam tecnologias como equipamentos para produzir e purificar o produto de maneira mais eficiente. “Existe potencial no Brasil, mas ainda há uma falta de tecnologia, capacidade, de know how que pode ser suprida por tecnologias já prontas. Na Europa, o mercado de biogás é bem mais desenvolvido. Então, ao invés de começar do zero, posso pegar uma coisa um pouco mais avançada, adaptar para o Brasil e começar a produzir melhor aqui”, afirma o especialista.

Também com o objetivo de aproximar empresas interessadas em parcerias para o desenvolvimento de tecnologias para o meio ambiente, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai promover, na próxima semana, rodadas de negócios durante a Feira Pollutec, em São Paulo. Durante as conversas, empresas brasileiras vão trocar experiências e tentar fechar parcerias de negócios neste ramo com empresas da França, Bélgica e Espanha.

“É uma oportunidade importante para empresas brasileiras que queiram identificar parceiros comerciais e tecnológicos voltados para esta área específica, dentro daquilo que é a vocação do setor produtivo brasileiro no tema meio ambiente, como tratamento de água, empresas de gestão de resíduos, de energias renováveis”, ressalta a gerente de Serviços de Internacionalização da CNI, Sarah Saldanha. Durante os dois dias dos encontros de negócios (13 e 14 de abril), a estimativa é promover US$ 4 milhões em negócios entre as empresas. A ação da CNI será feita em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) com o apoio do projeto Low Carbon Business Action in Brazil.

A Pollutec é uma feira internacional, considerada o maior salão com foco em tecnologias para meio ambiente no mundo. É a primeira vez que o evento ocorre no Brasil. A previsão é que 80 empresas nacionais e internacionais apresentem soluções e inovações em todas as atividades ambientais e de saneamento.

Edição: Juliana Andrade

Países ricos se opõem a medir a responsabilidade histórica pelo aquecimento global


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A União Europeia e os Estados Unidos se opuseram nesta sexta-feira a uma proposta dos países em desenvolvimento para se medir a responsabilidade histórica de cada nação pelo aquecimento global.

O estudo guiaria o acordo das Nações Unidas previsto para ser fechado em 2015 sobre corte de gases do efeito estufa.

Os países ricos temem que qualquer estudo científico que culpe as nações desenvolvidas mais do que outras pelo problema, já que elas queimam combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial, possa atrasar ainda mais as negociações sobre o tema nas Nações Unidas.

O Brasil ganhou o apoio de mais de cem países em desenvolvimento, durante reunião que acontece em Varsóvia até o dia 22 de novembro, para uma proposta de pedir que os especialistas das Nações Unidas investiguem a responsabilidade histórica de cada país na emissão dos gases do efeito estufa.

Um estudo como esse poderia guiar o novo pacto sobre o assunto, previsto para ser acordado em 2015 e começar a valer em 2020.

No entanto, ele também pode levar a impasses políticos e legais. “Responsabilidade”, nesse caso, pode ser interpretado como o reconhecimento de um débito por ter causado mais secas, enchentes, entre outros.

“Não estamos encontrando uma resposta positiva dos países desenvolvidos… o que é muito surpreendente para nós”, afirmou o líder da delegação brasileira, José Antonio Marcondes de Carvalho, à imprensa. “Por que eles estão rejeitando até conversar?”

A UE, por sua vez, afirmou que tal estudo pode demorar muito e ter um foco muito limitado.

“Tememos que a proposta possa politizar o processo e nos fazer perder o limite de 2015 para o novo acordo”, declarou Juergen Lefevere, líder da delegação do bloco. “A discussão deve ser sobre um conjunto muito maior de indicadores, e não somente o histórico de emissões.”

Outros fatores, segundo ele, poderiam ser emissões atuais e futuras, projeção de crescimento econômico e populacional, capacidade e custo para o corte de emissões.

A China é hoje o principal emissor de gases do efeito estufa, à frente dos Estados Unidos, da UE, da Índia e da Rússia.

Pelo seu crescimento econômico, a China vai se juntar aos Estados Unidos e à UE como os que mais emitiram gases do efeito estufa desde 1850.

Nações ricas devem ser responsabilizadas?  Ou melhor pagar pelos estragos que causaram?

Fonte: Help Planeta

Brasil: Impossível pensar o futuro sem discutir a geopolítica mundial


Entrevista especial com Carlos Lessa

                                           
 

“Há muitos anos eu já disse que nós caminhávamos imensuravelmente para a desaceleração da economia, e infelizmente tudo que imaginei aconteceu. Hoje o Brasil está tendo dificuldades imensas de manter se movendo como estava se movendo”, assinala o economista.

 
Foto: Uol

“A verdade é que se houvesse uma redução significativa do valor da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, haveria naturalmente, sem grande trauma, uma mudança no perfil de retração da riqueza do mundo.” A declaração é do economista Carlos Lessa à IHU On-Line, ao comentar as razões de ainda haver tantas desigualdades sociais no mundo. Segundo ele, “o que a história está mostrando é que os comandos desse sistema financeiro assumiram o comando da economia mundial, porque é muito difícil mexer no valor dessa dívida”.

Na entrevista a seguir, concedida por telefone, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDESmenciona a dívida da Argentina como um exemplo que diz “respeito à saúde do mundo como um todo; (…) ela é uma espécie de preliminar das dificuldades que estão à frente”. E alfineta: “Se 93% aceitaram a proposta argentina e estão recebendo segundo essa proposta, como 7% podem derrubar tudo?”.

Lessa também comenta a criação do banco do BRICs como uma possibilidade de “restabelecer liquidações compensatórias de dinheiro entre as moedas dos países do BRICs”. Entretanto, enfatiza, “se ele fizer isso, já está introduzindo uma dimensão importante no jogo financeiro mundial. E minha pergunta é: Vão fazer, ou não vão fazer? É a sério, ou não é a sério? Porque isso já é uma tentativa de reduzir o peso do dólar; e eu não vejo como os americanos concordam com isso tranquilamente”. E cutuca: “A presidentaDilma foi à última reunião de Davos dizer que o Brasil está inteiramente consciente e subordinado à ideia doConsenso de Washington, mas aí esse sistema de compensações monetárias entre as moedas dos BRICs não é o que Washington quer; por outro lado, o silêncio brasileiro com respeito à questão argentina — o nosso comportamento está sendo muito encabulado e retraído — é o que Washington quer. Então, eu não sei, e a pessoa (Dilma) para mim também não sabe, apesar de estar perdendo o campeonato”.

Segundo ele, apesar de a população ter melhorado o padrão de vida nos governos Lula e Dilma, especialmente no que se refere à distribuição da renda, “o governo do PT não usou esse ‘oxigênio’ que o Brasil teve para dar sustentabilidade no longo prazo à melhoria”. Na avaliação dele, “para frente, o Brasil vai se confrontar com um problema muito sério: um pedaço enorme do patrimônio das empresas brasileiras, das empresas que estão noBrasil, dos bancos brasileiros e das famílias ricas, está apoiado na dívida das famílias pobres que se endividaram para comprar automóvel, geladeira e mobiliário, então, terá uma queda de braço para frente no país”.

Defensor de um projeto nacional, Carlos Lessa é categórico quanto ao assunto: “Nós estamos órfãos de um projeto nacional. Agora, é evidente que qualquer projeto nacional começa por projetar o Brasil do futuro. (…) Nós fomos achando que é possível tocar o futuro sem discutir o futuro, então é complicado”. E conclui: “Pelo menos três dos grandes países periféricos do mundo têm projetos nacionais claros, enquanto o Brasil não tem nenhum. Nós nem sequer discutimos a geopolítica mundial; nós não temos posicionamento nenhum”.

Carlos Lessa é formado em Ciências Econômicas pela antiga Universidade do Brasil e doutor em Ciências Humanas pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp). Em 2002, foi reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Ele também foi presidente do Bndes.

Confira a entrevista.

Foto: Uol

IHU On-Line – Como, na Economia, se define e se entende o conceito de “desigualdade”?

Carlos Lessa – Colocando-se a ideia de renda, a desigualdade se mede por diversos coeficientes, que medem a dispersão das extremidades em relação ao valor médio. Isso são estudos de distribuição de renda, desenvolvidos há muito tempo, em 30, 40 países do mundo.

Agora, o que não se faz — e essa é a dimensão que está sendo levantada para discussão — é a distribuição do patrimônio, ou seja, tudo aquilo que representa a chamada riqueza do indivíduo. Nesse sentido, a riqueza do indivíduo pode ir desde a sua casa própria e o que está nela, até participações percentuais nas empresas — que são as participações societárias — e participações da dívida que outros têm, e esses outros podem ser famílias, empresas e Estados nacionais. Então, essa dívida também faz parte da riqueza.

Estudos recentes demonstraram que, embora a distribuição de renda tenha melhorado em diversos países — principalmente nos chamados de primeiro mundo —, a distribuição do patrimônio não melhorou. Ou seja, apesar de uma quantidade crescente de famílias do primeiro mundo possuir casa própria, há um crescimento enorme da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, e essa nova dívida, que faz parte do patrimônio, cresce em uma velocidade tal, que o patrimônio se mantém praticamente o mesmo.

IHU On-Line – E como o senhor vê essa má distribuição do patrimônio?

Carlos Lessa – A verdade é que se houvesse uma redução significativa do valor da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, haveria naturalmente, sem grande trauma, uma mudança no perfil de retração da riqueza do mundo. Agora, o que a história está mostrando é que os comandos desse sistema financeiro assumiram o comando da economia mundial, porque é muito difícil mexer no valor dessa dívida. Por exemplo, o que está acontecendo com aArgentina, hoje, é uma tentativa de forçá-la a pagar por uma dívida que foi contraída no passado. Porque, na verdade, no momento em que se diz que a dívida pode não ser paga, se retira dela o valor patrimonial que ela tem. Essa questão da Argentina diz respeito à saúde do mundo como um todo; não acho que ela vá definir o futuro da humanidade, mas é uma espécie de preliminar das dificuldades que estão à frente.

 

“A partir do governo de Collor de Mello, o Brasil não persegue nada”

IHU On-Line – Nesse sentido, o valor que está sendo cobrado da dívida da Argentina é equivocado?

 

Carlos Lessa – É totalmente equivocado; estou do lado da posição argentina. AArgentina negociou uma redução da dívida numa situação em que está fracamente destruída como país, e essa negociação foi aceita por 93% dos diretores; 7% não opinaram porque os fundos abutres compraram. A Justiça norte-americana diz que a Argentina deve pagar a dívida integralmente, e com prioridade para esses 7%. Isso é algo absolutamente espantoso, porque se 93% aceitaram a proposta argentina e estão recebendo segundo essa proposta, como 7% podem derrubar tudo? Então, por isso, uma das coisas mais interessantes que aconteceram nas últimas semanas foi o fato de os países latino-americanos da Organização dos Estados Americanos – OEA terem votado a favor da Argentina e depois repetirem o gesto quando houve esse encontro dos BRICs em Fortaleza. Trata-se de um recado dizendo para ter cuidado, porque o tamanho dessa dívida colossal faz com que necessariamente um pedaço dela seja desvalorizado.

IHU On-Line – Como vê a criação do banco do BRICs? 

Carlos Lessa – Estou cheio de dúvidas a respeito. Em uma primeira aproximação, a ideia do BRICs é uma ideia geopolítica de criar uma terceira interlocução em nível mundial. Então, por esse lado, o BRICs tem importância geopolítica para o Brasil. Agora, se vai ter importância econômica, tenho minhas dúvidas. O que o banco do BRICspode fazer é restabelecer liquidações compensatórias de dinheiro entre as moedas dos países do BRICs. Se ele fizer isso, já está introduzindo uma dimensão importante no jogo financeiro mundial. E minha pergunta é: Vão fazer, ou não vão fazer? É a sério, ou não é a sério? Porque isso já é uma tentativa de reduzir o peso do dólar; e eu não vejo como os americanos concordam com isso tranquilamente.

IHU On-Line – Mas fala-se também que o banco tem o objetivo de financiar projetos de infraestrutura entre os países.

Carlos Lessa – Esse é o pretexto que está por trás da ideia de criar um sistema de compensações monetárias que não esteja baseado no dólar. Agora o pretexto para criar o banco é o pretexto que pode financiar projetos de infraestrutura no longo prazo sem lançar mão de reserva de dólar. Isso reduz o peso do dólar e é um efeito político ou geopolítico importante para um banco. Contudo, quero ver se ele é real mesmo; não é que eu queira ser São Tomé(ver para crer), eu só quero ver como isso vai se desdobrar, porque, por exemplo, a presidente Dilma foi à última reunião de Davos dizer que o Brasil está inteiramente consciente e subordinado à ideia do Consenso de Washington, mas aí esse sistema de compensações monetárias entre as moedas dos BRICs não é o que Washington quer; por outro lado, o silêncio brasileiro com respeito à questão argentina — o nosso comportamento está sendo muito encabulado e retraído — é o que Washington quer. Então, eu não sei, e a pessoa (Dilma) para mim também não sabe, apesar de estar perdendo o campeonato.

IHU On-Line – Qual é o papel do Brics na arquitetura financeira internacional?

“Essa comparação não dá certo e é complicada por uma razão: o PT tentou se criar ‘anti-Getúlio’”

Carlos Lessa – Ainda não tem, mas se ele montar esse sistema de compensações bilaterais, passará a ter. Quer dizer, tem um lado aí que achei muito interessante nesse encontro do Brics, o de sair um financiamento para a Argentina. Outra ação interessante — e há tempo gosto muito do que a diplomacia brasileira faz — foi, na reunião da União de Nações Sul-Americanas – UNASUL e do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, colocar os países sul-americanos e seus presidentes junto aos presidentes doBRICs. Isso foi um gesto político muito bonito e muito importante, porque marcou certa posição, mas por enquanto estamos na retórica.

IHU On-Line – O senhor leu o livro “Capital in the Twenty-First Century” [O capital no século XXI] de Thomas Piketty? Quais suas impressões?

Carlos Lessa – Li alguns trechos. Não li todo, pois estou com descolamento da retina. Piketty fez diversos exercícios lançando mão das informações disponíveis para demonstrar isso que eu disse a você, ou seja, que a destruição da riqueza do patrimônio não se modificou, apesar de haver melhorias na distribuição de renda.

IHU On-Line – Quais são as principais dificuldades do Brasil em relação às desigualdades?

Carlos Lessa – Os programas que o governo do PT implantou desde 2002, desde o primeiro mandato do Lula, do segundo mandato dele e do início do mandato da presidente Dilma, tiveram um efeito importante do ponto de vista de distribuição de renda, somente isso. Como o Brasil teve uma melhoria espetacular na sua relação de trocas com o mundo, porque os produtos que o Brasil vendia para o mundo se valorizaram — tecnicamente nós dizemos que a relação de troca foi extremamente favorável para o Brasil até 2008, 2009 —, os governos do PT aproveitaram para tocar para frente uma política de distribuição. Ou seja, melhoraram muito significativamente o salário mínimo real, que é a chave da disfunção de renda para a baixa renda do Brasil, que é o indexador geral de todos que têm ou não carteira assinada, e criou alguns programas de assistência social, como o Programa Bolsa Família, e isso melhorou a base da população brasileira.

É impressionante como as pessoas melhoraram o seu padrão de vida. Só que o problema é o seguinte: o governo do PT não usou esse “oxigênio” que o Brasil teve para dar sustentabilidade no longo prazo à melhoria. Agora, para a frente, o Brasil vai se confrontar com um problema muito sério: um pedaço enorme do patrimônio das empresas brasileiras, das empresas que estão no Brasil, dos bancos brasileiros e das famílias ricas, está apoiado na dívida das famílias pobres que se endividaram para comprar automóvel, geladeira e mobiliário, então, terá uma queda de braço para frente no país. Mas o que acho engraçado é que a disputa eleitoral brasileira nem tocou nesse assunto. Sou muito simpático que a universidade esteja preocupada em discutir isso, porque a universidade tem de criar uma geração que saiba pensar e saiba pensar o Brasil, um Brasil no mundo e um Brasil voltado aos brasileiros. Essa discussão é fundamental.

IHU On-Line – O senhor é um defensor do desenvolvimento de um projeto nacional. Em que medida esse projeto pode ter implicações na superação das desigualdades? E em relação a isso, existe no Brasil algum projeto nacional?

Carlos Lessa – Não. Nós estamos órfãos de um projeto nacional. Agora, é evidente que qualquer projeto nacional começa por projetar o Brasil do futuro, o Brasil utópico, o Brasil que nós sonhamos. Eu sonho com um Brasil em que as desigualdades sociais sejam relativamente pequenas, com um Brasil em que todos os brasileiros tenham acesso à casa própria, tenham uma educação de qualidade, acesso à saúde, possibilidade de utilizar o seu tempo para absorver os bens culturais ou simplesmente ao lazer. Eu sonho com um Brasil que seja justo para os brasileiros, e não acho que o Brasil é justo com os brasileiros. O país vai ter de discutir isso, só que essa discussão nem sequer começou.

“O Brasil quer ser uma Porto Rico enorme do Atlântico Sul? Ou o país quer ter uma grande importância na formação de um continente sul-americano unificado?”

Há muitos anos eu já disse que nós caminhávamos imensuravelmente para a desaceleração da economia, e infelizmente tudo que imaginei aconteceu. Hoje o Brasil está tendo dificuldades imensas de manter se movendo como estava se movendo. Talvez isso tenha um lado muito ruim, porque gera uma perplexidade, uma angústia, uma interrogação forte para as pessoas, uma insegurança das pessoas em relação ao seu “estar no mundo”, mas, por outro lado, pode ser que force as pessoas a discutir que futuro se pensa para o Brasil, porque até agora essa discussão não existe.

IHU On-Line – Esse é um problema do Brasil ou há um limite de se ter um projeto nacional em tempo de globalização?

Carlos Lessa – Isso não é verdade, porque existem muitos países que estão na globalização e estão perseguindo projetos nacionais. O exemplo principal é a China, mas diria que de certa maneira a Índia e a Rússia também têm projetos nacionais. Então, pelo menos três dos grandes países periféricos do mundo têm projetos nacionais claros, enquanto o Brasil não tem nenhum. Nós nem sequer discutimos a geopolítica mundial; nós não temos posicionamento nenhum. Por exemplo, qual é o posicionamento dos brasileiros com respeito ao que vem acontecendo na Argentina? A impressão que eu tenho é de que nenhum — apesar de vocês estarem aí no Rio Grande do Sul. Qual é o posicionamento dos brasileiros a respeito do que vem acontecendo na Ucrânia? Zero; nem se debate. Quem está discutindo no Brasil o projeto eurasiano que Vladimir Putin está desenvolvendo? Ninguém. Só que esse projeto vai levar a Rússia a se aliar ao Japão, por um lado, e à China, por outro, colocando a Europa na dependência total da Rússia. Nós estamos discutindo isso? Não. A rota dos navios que liga o Japão com a Europavai agora passar a ser pelo Ártico, porque com o degelo e as frotas de quebra-gelo russas isso se torna possível. Só que essa rota, que é ótima para o Japão, que encolhe sete mil léguas submarinas a distância entre o Japão e aEuropa, é péssima para o Brasil, porque nos desloca mais para a periferia do mundo. Estão discutindo isso? Não. Nós fomos achando que é possível tocar o futuro sem discutir o futuro, então é complicado.

IHU On-Line – Pode dar outros exemplos dos projetos nacionais desses países?

Carlos Lessa – Claro. O projeto da China é óbvio: quer voltar a ser o império asiático e mundial. Para isso, combina três dimensões: procurar ter supremacia no comércio mundial, exportando produtos industrializados e importando matérias-primas de alimentos; quer estar na vanguarda tecnológica do mundo, usando os poderes que dispõe para empurrar a tecnologia para frente; e quer, de maneira muito clara, dominar totalmente a esfera asiática. E nós não temos nenhum projeto, nem com respeito às relações com a Argentina nós temos um projeto claro.

IHU On-Line – O senhor é bastante getulista…

Carlos Lessa – Total. Mas nós não podemos fazer invocações de fantasmas, pois nenhum fantasma se materializa.Getúlio foi uma liderança inquestionável para esse país. Eu gosto de dizer que com Getúlio, contra Getúlio e semGetúlio, o Brasil se moveu 50 anos para perseguir a industrialização. E, a partir do governo de Collor de Mello, o Brasilnão persegue nada.

IHU On-Line – Depois dele, quais presidentes pensaram em um projeto de nação?

Carlos Lessa – Ele foi o presidente brasileiro mais consistente e coerente nisso. Eu diria que o Rodrigues Alves [1], de certa maneira, e o mineiro Arthur Bernardes [2] tinham visões claras da necessidade de um projeto nacional. Mas, quem adotou integralmente e foi fiel ao projeto nacional, foi Getúlio.

IHU On-Line – Alguns tentam comparar ou fazer alguma aproximação entre Lula e Getúlio. Como vê essa tentativa?

Carlos Lessa – Essa comparação não dá certo e é complicada por uma razão: o PT tentou se criar “anti-Getúlio”. Eu lembro do Lula dizendo a seguinte frase: “A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT é o AI-5 dos trabalhadores”. Ou seja, para ele, a CLT impediria qualquer ingerência dos trabalhadores em seu futuro. O PT era antigetulista, e depois começou a diminuir um pouco isso, mas ao mesmo tempo pegou do pragmatismo de Getúlio a pior de todas as dimensões, porque Getúlio era pragmático nas alianças que fazia, mas apesar das alianças ele nunca permitiu dissolver os objetivos nacionais. Enquanto isso, o PT vende o petróleo no leilão de LibraGetúlio nunca permitiu que a privatização fosse um elemento pragmático a ser negociado; soberania nacional sempre foi fundamental para Getúlio. E esse conceito nem existe no governo Lula.

Eu não estou querendo polemizar com o PT; minha preocupação é outra. Minha preocupação é que os estudantes da universidade, os gaúchos, que são a vanguarda do pensamento nacional brasileiro, voltem a discutir o projeto Brasil, mesmo que vocês troquem desaforos entre vocês, são obrigados a explicitar os debates.

“Fico encabulado em ver o Chile assumindo mais defesa da Argentina hoje do que o Brasil”

Brasil quer ser uma Porto Rico enorme do Atlântico Sul? Ou o país quer ter uma grande importância na formação de um continente sul-americano unificado? Se for isso, nós temos de cuidar a visão da Argentina que oBrasil tem. Eu fico encabulado em ver o Chile assumindo mais defesa daArgentina hoje do que o Brasil. Nesse sentido, os gaúchos são a grande fronteira de nacionalismo do Brasil.

IHU On-Line – Como o senhor vê as campanhas à Presidência da República? Algum candidato apresenta ou tem em perspectiva um projeto de nação?

Carlos Lessa – Não. Uma das minhas angústias é que o desdobramento da campanha presidencial não está absolutamente politizando o Brasil no bom sentido. O que está acontecendo agora é uma competição para saber quem é cúmplice do mensalão, para descobrir algo sobre o aeroporto do Aécio, algo contra o Eduardo, amanhã talvez apareça algo contra a Dilma, e vai ficar nisso. Isso não é absolutamente uma discussão política; é uma discussão que não explicita as escolhas que o Brasil tem de fazer. E se a opinião pública mantiver a posição, como está hoje, de que os políticos são a mesma coisa e que os partidos políticos não servem para nada, eu não sei o que vai acontecer; vamos numa conjuntura internacional muito difícil.

(Por Patricia Fachin)

NOTAS

[1] Francisco de Paula Rodrigues Alves (Guaratinguetá, 7 de julho de 1848 – Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1919): advogado, político brasileiro, Conselheiro do Império, presidente da província de São Paulo, presidente do estado, ministro da fazenda e quinto presidente do Brasil.

Governou São Paulo por três mandatos: 1887-1888, como presidente da província; como quinto presidente do estado, de 1900 a 1902; e como nono presidente do estado, de 1912 a 1916.

Rodrigues Alves foi o último paulista a tomar posse como presidente do Brasil. Foi eleito duas vezes, cumpriu integralmente o primeiro mandato (1902 a 1906), mas faleceu antes de assumir o segundo mandato (que deveria se estender de 1918 a 1922).

[2] Artur da Silva Bernardes (Viçosa, 8 de agosto de 1875 – Rio de Janeiro, 23 de março de 1955): advogado e político brasileiro, presidente de Minas Gerais de 1918 a 1922 e presidente do Brasil entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926.

Baixo índice do Brasil na produção de carros elétricos


Já existem no mundo cerca de 340 mil veículos 100% movidos a eletricidade, mas o Brasil é responsável por apenas 0,02% dessa produção. Convidados a participar do Exame Fórum de Sustentabilidade, especialistas consideram que a indústria nacional está muito atrasada na fabricação de elétricos e somente políticas públicas de incentivo podem recuperar o tempo perdido

            

Em um mundo onde, até 2030, a frota mundial de carros deve dobrar, investir em tecnologias limpas é cada vez mais importante. Atenta à nova demanda, a indústria mundial aumentou os investimentos em veículos elétricos nos últimos quatro anos, mas o Brasil não acompanhou a tendência. Pelo contrário, por aqui há políticas de incentivo à gasolina e ao carro convencional. 

"Estamos muito atrasados. Hoje, existem cerca de 340 mil veículos 100% movidos a eletricidade no mundo. No Brasil, temos apenas 70", revelou Paulo Roberto Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, durante a edição 2013 do Exame Fórum de Sustentabilidade, que aconteceu em novembro, na cidade de São Paulo. 

Para ele, o número é absurdo, uma vez que o Brasil representa cerca de 3% da economia mundial. "A incoerência é ainda maior, se pensarmos que temos uma matriz energética majoritariamente limpa. Deveríamos estar na frente de países como EUA e China e não o contrário", criticou Feldmann. 

Por que isso não acontece? Mundo afora, há políticas de incentivo para os elétricos, que não existem no Brasil. "O apoio do Estado é fundamental para popularizar esses carros, que de fato são mais caros. É preciso uma parceria entre governo e indústria para atrair os compradores. Esse tipo de prática acontece em todos os países que são líderes de produção", contou Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz Brasil. 

Na China, por exemplo, o governo oferece isenção de US$ 15 mil para aqueles que compram carros menos poluentes. "O mercado de elétricos não é espontâneo. Ele deve ser criado, por isso o Brasil jamais vai decolar no setor sem medidas de incentivo", opinou Schiemer. 

Caso decida investir no setor, além dos óbvios ganhos ambientaiscomo redução da poluição do ar e diminuição dos ruídos nas ruas -, o país também pode ter vantagens econômicas. "O custo do quilômetro rodado com carro elétrico é 10 vezes menor do que com modelos convencionais, movidos a gasolina", garantiu Feldmann. 

AS CIDADES ESTÃO PREPARADAS PARA OS ELÉTRICOS?
 

Outro ponto fundamental para que os elétricos "peguem" no Brasil é garantir que as cidades tenham infraestrutura para atender à frota. "Veículos 100% movidos a eletricidade têm menos eficiência de uso. São uma boa alternativa para percorrer distâncias curtas, em áreas urbanas, desde que haja infraestrutura para recarregá-los", admitiu Schiemer. 

Paralelamente, deve-se investir em baterias mais duráveis, bem como em técnicas que garantam maior eficiência na hora da recarga. Nesse quesito, o Brasil está um pouco melhor "na fita". 

Dentro da Universidade de São Paulo, por exemplo, já existe um posto de recarga elétrica onde é possível alimentar 80% da bateria do veículo em 20 minutos. "Com investimentos em pesquisa, acredito que haverá o dia em que iremos recarregar a bateria de um elétrico no mesmo período de tempo em que recarregamos um celular", afirmou Feldmann, com esperança.

Fonte: Planeta Sustentável

Laísa Mangelli

Primeira licitação para exploração do gás xisto no Brasil ocorre em meio a polêmicas


                     

Em meio a acusações de ausência de dados, discussões e necessidade, a primeira rodada de licitação para a exploração do gás xisto no país será realizada nesta quinta e sexta-feira, 28 e 29 de novembro. A exploração do combustível enfrenta oposição até mesmo dentro do governo.

Um parecer técnico do Grupo de Trabalho Interinstitucional de Atividades de Exploração e Produção (GTPEG), formado por membros do Ibama, Ministério do Meio Ambiente e ICMBio, entregue a Agência Nacional de Petróleo (ANP) antes do leilão,  concluiu que há ausência de dados para garantir a segurança da exploração do gás xisto no País.

Os técnicos ressaltam que a geologia das bacias brasileiras ainda é pouco conhecida até mesmo para a exploração de gás convencional, impossibilitando segurança em relação ao isolamento ou à conectividade de importantes camadas sedimentares.

A 12ª. Rodada de Licitações da ANP será realizada nos dias 28 e 29 de novembro, no Windsor Hotel, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Serão ofertados 240 blocos exploratórios terrestres com potencial para gás natural em sete bacias sedimentares, localizados nos estados do Amazonas, Acre, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Piauí, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Maranhão, Paraná, São Paulo, totalizando 168.348,42 Km².

A ausência de dados aprofundados sobre os possíveis impactos da técnica de exploração levaram a organizações ambientalistas e comunidades científicas, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), à Academia Brasileira de Ciência (ABC) e o Instituto Socioambiental, solicitarem uma moratória por tempo indeterminado.

Riscos

O gás natural é considerada uma alternativa fóssil mais "limpa", por não emitir tantos gases do efeito estufa (GEEs) como o petróleo. No entanto, o impacto ambiental da nova técnica utilizada para sua extração ainda é desconhecido. O fraturamento hidráulico não convencional, ou fracking, obtém gás natural ao liberar água misturada a uma série de substâncias na camada rochosa, em alta pressão e grande quantidade, podendo ultrapassar 10.000 m3 em apenas um poço. Por essa camada geralmente estar situada abaixo das reservas de água, há grande possibilidade de contaminar o aquífero.

Nos Estados Unidos, onde é empregada há dez anos, a técnica se consolidou com um meio mais barato de obter combustível fóssil, mas não sem custos ambientais. A técnica suscitou uma série de denúncias de contaminação de aquíferos e águas superficiais nas redondezas dos poços em exploração. A possível contaminação levou a migração de centenas de famílias das regiões de exploração e alguns estados chegaram a proibir o alastramento da técnica.

Na Europa, recentemente foi divulgado um estudo elaborado para a Comissão Europeia do Meio Ambiente que diz, explicitamente, que o risco de contaminação de água é muito alto. Alguns países, como a França, chegaram a proibir a exploração em seu território.

Segundo Agência Internacional de Energia, o Brasil pode ter seis trilhões de metros cúbicos de gás de folhelho recuperáveis. Já a ANP estima mais outros quatro trilhões de metros cúbicos em folhelhos. Assim, as reservas brasileiras ocupam ao sexto lugar em volume no mundo, abaixo somente da Rússia, Irã, Qatar, Turcomenistão e EUA.

Para o professor Heitor Scalambrini Costa, que é doutor em energética e leciona na Universidade Federal de Pernambuco, a exploração do gás xisto representa um último sopro na longa vida da utilização dos combustíveis fósseis no Planeta. Ele explica que a indústria do xisto está sendo impulsionada principalmente pelo lobby norte-americano de uma “nova era de energia barata”. 

 "Aquecimento global, mudança climática provocada pela influência do modo de vida (consumir e produzir) e seu modelo predador não existem para esta parte tão influente da sociedade mundial. O que existe são simplesmente os interesses econômicos, os negócios. Mesmo que para isso se coloque em risco a vida do planeta e de todos seus habitantes", opina.

Injustificado

O principal argumento para adiar a exploração do gás xisto no Brasil é a ausência de dados mais contundentes sobre os impactos da exploração. No entanto, reclama-se sobre ausência de diálogo do governo e a definição prioridade energética, uma vez que o Brasil é um dos países que mais tem potencialidade no campo das energias renováveis.

É um caso complexo de decisão, que faz invocar o princípio da precaução, sempre desprezado pela indústria e algumas vezes abusado pelo ambientalismo e pelos ministérios públicos da vida. A probabilidade de dano pode ser mínima, mas o impacto seria tão grave que é caso de parar para discutir", afirmou em seu blog a geóloga Cláudia Chow.

Em uma das bacias a ser explorada, está o Aquífero Guarani, considerado um dos maiores sistemas de mananciais de água doce subterrânea do mundo. Ele passa por sete estados brasileiros, abastecendo principalmente São Paulo e o Paraná 

O coordenador de política e direito do Instituto Socioambiental, Raul do Valle, também alerta para a necessidade de novos estudos. "É, no mínimo, temerário se permitir a exploração desse tipo de gás sem antes uma avaliação e reflexão profunda por parte da sociedade brasileira acerca de seus custos e benefícios".

Segundo ele, a "pressa" em licitar os blocos exploratórios do gás xisto é injustificada. "Estamos cientes de que o gás natural é uma fonte importante na matriz energética atual e de médio/longo prazo. No contexto brasileiro, porém, não se justifica que sua exploração ameace os reservatórios de água, pois nossa dependência desse combustível é mínima".

Emissões

"Essa coisa de usar uma tecnologia ou outra depende muito da matriz energética. Como o Brasil é um país que tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, usar qualquer tipo de combustível fóssil, seja gás xisto, seja petróleo, carvão, é sujar sua matriz. No caso dos Estados Unidos, eles estão deixando de usar termoelétrica à carvão e isso gera um benefício global", afirmou ao EcoD o coordenador do Observatório do Clima, André Ferratti. Ele ressalta, contudo, que para o país norte-americano é uma opção a curto prazo. "É preciso que eles corram atrás de tecnologias que não utilizem combustíveis fósseis".

O físico Délcio Rodrigues, especialista em mudanças climáticas e energia e membro do conselho diretivo do Vitae Civilis, também acredita que o Brasil está aderindo equivocadamente ao lobby norte-americano: "Ainda temos uma das matrizes energéticas mais renováveis do mundo. Nesta, a entrada de grandes volumes de gás natural para geração elétrica, a qual aparenta ser o destino mais provável do gás a ser extraído, aumentará nossas emissões, as mesmas que prometemos reduzir em mais de 35% até 2020. Com os investimentos no pré-sal e, agora, na exploração do gás natural em terra, ficará difícil cumprir as metas e contribuir para a mitigação da crise climática global"

Fonte: EcoDesenvolvimento

Laísa Mangelli 

 

Alemanha também goleia em ranking de eficiência energética; Brasil é 15º


            

Os alemães não são campeões mundiais apenas no futebol, como vimos recentemente no Brasil. Em eficiência energética eles também ocupam o topo, segundo revela um estudo do Conselho Americano para uma Economia de Energia Eficiente (Aceee) que avalia a eficiência energética entre 16 importantes economias do mundo.

De acordo com o levantamento divulgado na quinta-feira, 17 de julho, um país que utiliza menos energia para atingir um mesmo resultado, ou mesmo superá-lo, reduz custos e polui menos, criando uma economia mais competitiva.

O estudo avaliou o uso de energia a partir de 31 indicadores, distribuídos em quatro áreas-chave: indústria, transporte, edificações e esforços nacionais em prol da eficiência energética.

Em um mundo assolado pelas mudanças climáticas e de pressão crescente sobre os recursos naturais, a busca pela eficiência energética deve ser regra. Apesar de possuir uma das tarifas mais caras de energia e uma fonte abundante e renovável, como as hidrelétricas, o Brasil não aproveita bem a energia que tem.

O país ocupa a 15ª posição do ranking – ganhamos apenas do México. Ao todo, o Brasil atingiu 30 pontos de um total de 100 possíveis.

No quesito “esforços nacionais”, o Brasil fez 4 pontos de 25 possíveis. Foram avaliados, por exemplo, esforços para criação de legislações ou políticas nacionais que estimulem o uso mais racional de energia.

Baixo desempenho

Eficiência energética nas indústrias preocupa ainda mais – o país fez 2 de 25 pontos totais.

Em “edificações”, outro setor que pressiona os recursos energéticos nos países, o Brasil somou 10 de 25 pontos possíveis. Foram levados em conta os códigos de construção e padrões de eficiência energética adotados, por exemplo, nos equipamentos usados.

Apenas no transporte, o país atingiu mais da metade da pontuação possível (14 de 25). O uso de etanol pela frota automotiva ajuda a melhorar o desempenho nesse quesito.

Fonte: http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2014/alemanha-tambem-goleia-em-ranking-de-eficiencia?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook

Laísa Mangelli