Novo gás do efeito estufa descoberto é sete mil vezes mais potente que o CO2


Cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, descobriram recentemente um gás do efeito estufa (GEE), o perfluorotributilamina (PFTBA), que é 7,1 mil vezes mais potente do que o dióxido de carbono, podendo ter um impacto ainda maior no aquecimento global.

                                                 

O gás é usado na indústria elétrica desde a metade do século 20, e não é um elemento que ocorre naturalmente, sendo produzido em laboratório. Os pesquisadores afirmam que o PFTBA tem uma eficiência radiativa maior do que qualquer outra molécula detectada na atmosfera até hoje, o que sugere seu possível impacto no clima.

O potencial de aquecimento do gás foi descoberto recentemente e divulgado por um estudo publicado no periódico Geophysical Research Letters. Na pesquisa, os cientistas afirmam que as concentrações de PFTBA na atmosfera são baixas (0,18 unidades por trilhão em Toronto), ainda mais se comparado ao CO2, com 400 unidades por milhão.

Mesmo assim, o gás pode permanecer durante muito tempo na atmosfera. “O PFTBA é extremamente duradouro na atmosfera e tem uma eficiência radiativa muito alta; o resultado disso é um potencial de aquecimento global muito alto. Calculado em um período de 100 anos, uma única molécula de PFTBA tem o impacto climático equivalente à de 7,1 mil moléculas de CO2”, colocou Angela Hong, uma das pesquisadoras que trabalhou no estudo.

Além disso, não se sabe de nenhum processo para eliminar ou remover o PFTBA da atmosfera mais baixa, e por isso o gás é considerado um problema de longo prazo, podendo durar na atmosfera por cerca de 500 anos. O PFTBA só é destruído na parte mais alta da atmosfera.

“Esse é um alerta para nós de que esse gás pode ter um impacto muito grande nas mudanças climáticas – se houver muito dele. Já que não há muito dele agora, não temos que nos preocupar com isso no presente, mas temos que garantir que não se torne um grande contribuinte para o aquecimento global”, observou Drew Shindell, climatologista do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da NASA, ao jornal The Guardian.

“O PFTBA é apenas um exemplo de um químico industrial que é produzido, mas não há políticas que controlem sua produção, uso ou emissão. Não está sendo regulado por qualquer tipo de política”, alertou Hong.

Fonte: EcoInformação

Obama e Hollande lançam chamada por acordo internacional sobre mudanças climáticas


                    

Os dois presidentes François Hollande e Barack Obama assinaram uma coluna em comum publicada pelo The Washington Post e pelo jornal Le Monde no dia 11 de fevereiro. Eles reafirmam seus objetivos de alcançar um “crescimento forte, durável e equilibrado” e anunciaram um acordo internacional de luta contra mudanças climáticas, focado sobre o objetivo de redução das emissões de gases do efeito estufa.

O crescimento consiste, portanto em um objetivo centralizado entre os Estados Unidos e a França. Esse objetivo de renascimento da economia procede da vontade de criar empregos e de estimular a inovação, particularmente sobre o domínio da energia “baseada no carbono”. O apoio de países em desenvolvimento ajudará “a se voltarem para as fontes de energia com baixo uso de carbono”.

A luta contra as mudanças climáticas constituirá de fato uma das metas principais da cooperação franco-americana. Essa ação se manifestará pelos esforços dirigidos para redução de emissões de gases contribuintes ao efeito estufa, que deverão ser concretizadas por um acordo internacional, reunindo preferencialmente mais países com a finalidade de compartilhar “o peso e o preço da liderança”.

Um acordo será talvez confeccionado, na conferência de Paris sobre o clima, a ser realizada no próximo ano. É o sucessor do Protocolo de Kyoto, de 1997, que continua a ser o único acordo internacional para combater as emissões de CO2. Este protocolo ainda não foi ratificado pelos Estados Unidos.

François Hollande optou por não pronunciar sobre as metas francesas em matéria de redução da frota nuclear. Concentrando seus esforços na redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE), uma questão ainda particularmente aguda na escolha da estratégia energética francesa. Uma eventual extensão ou possível renovação da frota nuclear francesa ainda é de relevância pertinente.

Fonte: http://www.actu-environnement.com/ae/news/Obama-Hollande-changement-climatique-appel-20739.php4
Publicado em: 11 de fevereiro de 2014.
Autor: Pierre Emmanuel Bouchez.
Tradução: Matheus Lima

 

Um gás versátil


 

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Por preconceito ou puro desconhecimento, aqui no Brasil o biogás costuma ser esquecido quando o assunto é energia renovável. O fato de ser produzido a partir de resíduos vegetais ou dejetos animais contribui para a imagem de fonte de energia de “segunda categoria”. Quando o assunto é sustentabilidade agrícola, no entanto, nenhuma outra fonte garante as mesmas vantagens. Principalmente se a produção do biogás for feita por microgeradores conectados em geração distribuída, conforme defende o engenheiro agrônomo especializado em Ciências do Solo, Cícero Bley Júnior, atual superintendente de Energias Renováveis da Itaipu Binacional.

Cícero é autor do livro Biogás, a Energia Invisível, publicado neste primeiro semestre de 2014, graças a uma parceria entre o Planeta Sustentável (Editora Abril), o Centro Internacional de Energias Renováveis com ênfase em Biogás (CIBiogás) e a Itaipu Binacional.

No livro de 138 páginas, o especialista faz um pequeno histórico da produção de biogás no Brasil, compara esta com as demais fontes de energias renováveis, propõe um modelo racional de integração à rede nacional de eletricidade e estima um potencial energético considerável: 37 milhões de megawatts por ano, equivalente a um terço da energia gerada pela Itaipu Binacional. Desse total, um terço poderia ser produzido com resíduos de alimentos e dejetos de suínos, aves ou bovinos e dois terços viriam do setor sucroalcooleiro.

O biogás é versátil: pode ser usado como fonte de energia térmica, elétrica ou como combustível. Mas as suas melhores qualidades – do ponto de vista da sustentabilidade agrícola – estão nos “efeitos colaterais”: produzir biogás numa propriedade rural significa deixar de queimar ou jogar fora resíduos de colheita (reduzir o desperdício), deixar de despejar dejetos em cursos d´água (reduzir a poluição hídrica) e reduzir a emissão de gases do efeito estufa (77,8 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente por ano ou 7% da meta brasileira até 2020). Também significa produzir biofertilizante tratado, de alta qualidade. E aquecer incubadoras, matrizeiras e berçários dos diversos animais criados. E reduzir custos. E aumentar a eficiência dos processos agroindustriais de beneficiamento ou transformação.

Trata-se, enfim, de uma fonte de energia local e firme, capaz de servir tanto a produtores isolados como na composição de um sistema nacional mais seguro. Sem contar que o clima tropical é ideal para a produção de biogás porque tem alta biodiversidade de microrganismos para digerir a matéria orgânica e calor o ano inteiro.

Se esses argumentos não bastam, Cícero Bley Jr ainda dedica diversas páginas ao relato das experiências incentivadas pela Itaipu Binacional no estado do Paraná, como a pioneira Granja Colombari, em São Miguel do Iguaçu; o Condomínio de Agroenergia de Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon; a fazenda Star Milk, de Céu Azul e diversas cooperativas de Itaipulândia, Matelândia, Serranópolis, Assis Chateubriand e Terra Roxa. Todos já produzem biogás e alguns já vendem o excedente para a empresa paranaense de eletricidade, a Copel.

Cícero Bley Jr. irá autografar Biogás, a Energia Invisível em 15/05, durante o evento AgriSustenta, uma realização do Planeta Sustentável na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), em Piracicaba (SP).

A versão e-book já pode ser adquirida no sites do iba.

Texto por Liana John

Fonte: Planeta Sustentável

13ª rodada de licitações de petróleo e gás


13ª rodada de licitações de petróleo e gás: é preciso qualificar o debate sobre fracking e matriz energética brasileira

 

Apesar das manifestações contrárias da sociedade civil durante a realização da 13ª rodada de licitações de petróleo e gás, o processo ainda é notadamente pouco participativo e democrático. Desde 2013, quando a ANP anunciou no edital da 12ª rodada de licitações a possibilidade de exploração de recursos não convencionais através do fraturamento hidráulico (fracking) em território nacional, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, pesquisadores e o Ministério Público alertam para os graves riscos e ameaças relacionados ao uso dessa técnica.

A reportagem é de Julio Holanda e publicada por Canal Ibase, 14-10-2015.

Fala-se na grande mídia que a 13ª rodada de licitações de petróleo e gás realizada pela ANP no último dia 07 de outubro foi um “fracasso”. Em grande parte isso se deve ao fato de que dos 266 blocos ofertados pela agência apenas 37 foram arrematados pelas empresas inscritas, uma porcentagem de apenas 14%, o segundo pior resultado desde o início dos leilões.

De acordo com a diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP) o péssimo resultado teve influência direta dos baixos preços do barril do petróleo no mercado internacional e também da inédita ausência da Petrobras no leilão, por conta da grave crise política e do anúncio de desinvestimentos, uma vez que as demais empresas com frequência pleiteiam a parceria da estatal brasileira.

Com a falta de interesse das empresas em vários blocos, o resultado refletiu em uma menor arrecadação no bônus de assinatura – valor pago pelas empresas vencedoras à ANP. Para se ter uma ideia, se todos os blocos ofertados fossem arrematados pelo valor mínimo do bônus de assinatura estabelecido no leilão a arrecadação seria de aproximadamente R$ 978 milhões, valor muito acima dos R$ 120 milhões arrecadados no presente leilão. Destes, cerca de R$ 100 milhões refere-se apenas a 2 blocos arrematados pela Queiroz Galvão, única grande empresa participante.

Esse valor está bem abaixo das projeções estabelecidas em junho pelo Ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga,que girava em torno de R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões. Se havia por parte do governo brasileiro a expectativa de que os recursos levantados no leilão poderiam ajudar a reduzir o déficit orçamentário e conseguir alcançar um superávit, sem dúvidas o leilão pode ser encarado como um verdadeiro fracasso, uma vez que o valor arrecadado ficou muito abaixo do esperado.

Ampliar o acesso à informação e radicalizar a democracia

Apesar das manifestações contrárias da sociedade civil durante a realização da 13ª rodada, o processo ainda é notadamente pouco participativo e democrático. Isso fica evidente à medida que as diferentes posições apresentadas tanto na 13ª como na 12ª rodada por movimentos sociais, pesquisadores, organizações da sociedade civil e Ministério Público, pouco ou quase nada são efetivamente incorporadas pela ANP.

A participação da sociedade civil é muito restrita nesse processo e acontece basicamente em três momentos. Nas audiências públicas, que são certamente um avanço e uma conquista popular, mas que se tornaram reuniões fechadas e pouco acessível à população, além de serem realizadas distantes das localidades mais diretamente afetadas pelos projetos – no caso da 13ª rodada a audiência ocorreu no Rio de Janeiro, apesar do leilão ter envolvido pelo menos outros 12 estados da federação. Além de mais dois momentos: os seminários técnico-ambiental e o jurídico-fiscal. Nesses encontros, a maior parte do público são representantes das empresas, interessados em saber quais blocos são mais vantajosos para seus negócios e a linguagem excessivamente técnica dificulta e muitas vezes inviabiliza um maior diálogo com a sociedade.

Esses espaços certamente deveriam servir para tornar mais evidente os potenciais riscos de impactos socioambientais para ecossistemas e populações que moram nas localidades onde os blocos estão sendo ofertados. O que se percebe é que os seminários da ANP têm servido, no modelo atual, muito mais para subsidiar a decisão das empresas do que para contribuir no posicionamento da sociedade civil e na construção de um processo efetivamente democrático.

Sociedade civil em alerta: a ameaça permanente do fracking!

Desde 2013, quando a ANP anunciou no edital da 12ª rodada de licitações a possibilidade de exploração de recursos não convencionais através do fraturamento hidráulico (fracking) em território nacional, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, pesquisadores e o Ministério Público alertam para os graves riscos e ameaças relacionados ao uso dessa técnica. Mesmo com o posicionamento contrário dessas entidades, a ANP realizou a 12ª rodada de licitações em outubro de 2013 “abrindo o caminho” para o avanço do fracking no Brasil – em que pese o processo de judicialização que impede essa atividade em alguns estados e os projetos de lei de moratória em alguns municípios do Paraná.

Apesar de a ANP não incluir explicitamente no edital da 13ª rodada a possibilidade de exploração dos recursos não convencionais, como ocorreu em 2013, possivelmente para evitar contestações e processo de judicialização, a ameaça persiste no leilão realizado neste ano, bem como nos demais já realizados anteriormente pela agência. Isso se deve ao fato de que a ANP publicou em 2014 uma resolução que regulamenta a técnica de fraturamento hidráulico em reservatórios não convencionais para os “detentores de direitos de exploração e produção de petróleo e gás natural”, ou seja, todas as empresas detentoras de concessão de blocos de qualquer rodada, inclusive a 13ª, estão legalmente permitidas à utilizar essa técnica desde que submetidos ao órgão ambiental competente.

Ciente disso, a sociedade civil tem estado em alerta com a ameaça do fracking em território nacional. Neste ano, por exemplo, foi realizado pelo Ibase em conjunto com Asibama-RJ e o Fórum dos Atingidos pelo Petróleo e Petroquímica das cercania da Baía de Guanabara (FAPP-BG) uma roda de debate sobre a temática, com a participação de diferentes organizações sociais, pensando estratégias comuns e refletindo sobre os principais riscos e ameaças dessa técnica, a saber: o uso excessivo de água; contaminação do solo, das pessoas, ecossistemas e recursos hídricos; sobreposição com terras indígenas e unidades de conservação e contribuição às mudanças climáticas – muitos desses riscos já relatados e comprovados em artigos e publicações científicas.

Durante a realização da 13ª rodada representantes de etnias indígenas do Acre alertaram para as ameaças do uso dessa técnica em seus territórios, chamando atenção para casos anteriores de conflitos com a exploração de petróleo na região e a Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS) realizou protesto contra o fracking, de acordo com o coordenador da organização, “jamais aceitaremos silenciosamente a exploração de qualquer modelo de exploração não convencional, pois primamos por nossas vidas”. Houve também manifestação do SindipetroRJ, que esteve presente com carro de som e distribuindo a cartilha “Todo petróleo tem que ser nosso”. De acordo com um dos diretores do sindicato, “estamos solidários com os indígenas e dizemos não aos leilões do petróleo”.

A vigilância por parte da sociedade civil se faz necessária considerando-se os resultados do presente leilão. Se para a indústria do petróleo como um todo pode-se considerar um resultado frustrante, para o avanço do fracking no país não pode ser dito a mesma coisa. Das 10 bacias sedimentares ofertadas, apenas quatro tiveram blocos arrematados, sendo que as mais disputadas e com maior número de blocos negociados, as Bacias do Recôncavo e Parnaíba, 18 e 11 blocos respectivamente, são as indicadas pelo Ministério de Minas e Energia (MME) com maior potencial de exploração do gás não convencional. De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia, documento elaborado pelo MME, o governo brasileiro projeta que a produção de recursos não convencionais tenha início em 2022, atingindo valor significativo em 2024, começando nas bacias do Recôncavo, Parnaíba e São Francisco.

Uma das principais preocupações relacionadas ao fracking refere-se ao uso excessivo de água. Estima-se que para cada poço de recurso não convencional seja necessário entre 9 e 29 milhões de litros de água (Parecer Técnico GTPEG Nº 03/2013, pág 51). O primeiro poço de fracking na Argentina, por exemplo, utilizou 30 milhões de litros de água. Cabe salientar que os blocos arrematados na Bacias do Recôncavo e Parnaíba estão localizados na região brasileira que historicamente tem convivido com os efeitos da estiagem, mais precisamente nos estados da Bahia, Maranhão e Piauí. Esses estados têm apresentado os maiores números de municípios em situação de emergência em razão do déficit hídrico. Em junho de 2015, de acordo com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, a Bahia possuía 106 municípios reconhecidos nesta situação e o Piauí 152.

A problemática da seca no Nordeste, região indicada pelo MME como uma das prioritárias para que se tenha início a produção do gás não convencional, não é apenas de falta de água, pois o Brasil é reconhecidamente um dos países que detém as maiores reservas de água doce no mundo, mas principalmente de gestão desses recursos. Assim, o uso dos recursos hídricos para o fracking tende a disputar esse recurso com outras atividades já instaladas na região, também hidrointensivas, como o agronegócio, setor industrial e a mineração, em que todas se sobrepõem ao uso da água para a agricultura familiar e pequenas produções. Nesse sentido, se faz necessário uma revisão dos contratos de outorga para essas atividades na região, tendo em vista todas as sobreposições que já existem.

Matriz energética e modelo de desenvolvimento: um debate necessário

Em setembro a presidenta Dilma anunciou o compromisso voluntário do governo brasileiro em reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e 43% até 2030, tendo por base as emissões de 2005, a ser apresentado naCOP-21 em Paris. Apesar de representar um certo avanço em relação as posições assumidas pelo país, a meta é visivelmente insuficiente, tendo em vista que a base de comparação deveria ser 1990 e não 2005, ano em que as emissões nacionais estiveram próximo do pico máximo. Pode-se dizer também que a meta é bastante tímida, frente aos desafios que a atual problemática climática e socioambiental exigem e do potencial que o Brasil tem de protagonizar modelos alternativos e soluções sustentáveis.

Entretanto, o leilão recém realizado pela ANP sugere que o discurso oficial do governo se contradiz com a sua prática, pois o Brasil ofertou quase 300 blocos para exploração de petróleo e gás, ampliando ainda mais a dependência desses recursos na matriz energética. Mesmo que não tenha sido de forma proposital ou planejada, mas sim por contingência da conjuntura e dos interesses das empresas petroleiras, o menor número de blocos arrematados indica uma menor exploração de petróleo e gás no país, pelo menos em comparação ao cenário em que a totalidade dos blocos fossem negociados.

Mas infelizmente esse é um cenário temporário, pois ainda vai ocorrer a “segunda etapa” da 13ª rodada em dezembro deste ano, referente as áreas inativas com acumulações marginais. Essas áreas referem-se a campos produtivos ou em fase de desenvolvimento, que foram devolvidos à ANP pelos antigos operadores. Os mesmos encontram-se distribuídos em 6 bacias sedimentares: Barreirinhas, Potiguar, Tucano Sul, Espírito Santo, Paraná e Recôncavo. Além disso, observa-se fortes indícios de aprofundamento do padrão de dependência dos combustíveis fósseis nos próximos anos. Não há no curto ou médio prazo, uma proposição de redução significativa ou pelo menos de revisão do atual modelo e ritmo de exploração de petróleo e gás no país. Uma das evidências é o cenário elaborado pelo Plano Decenal de Energia (PDE) que prevê um aumento considerável na produção nacional de petróleo, passando dos atuais 2 milhões de barris por dia (bpd) para cerca de 5 milhões bpd até 2022, para atender principalmente o setor de transportes. Ao que tudo indica a máxima “explorar até a última gota” segue vigente.

Assim, é necessário a construção de uma agenda ampla de debates sobre a matriz energética brasileira e o atual modelo de desenvolvimento, que gira em torno de três problematizações básicas: “Energia para que? Para quem? E como essa energia vai ser gerada?”. Não é suficiente que a sociedade esteja envolvida apenas no debate do “como” a energia deve ser gerada, que é apenas a ponta do iceberg. Os debates e articulações setorizadas sobre as diferentes formas de geração de energia e suas implicações são necessárias, sem dúvidas, mas é preciso ampliarmos o debate e entendê-lo em sua complexidade.

Hoje, por exemplo, temos poucos setores produtivos que consomem quantidade significativa de energia, enquanto há populações no Brasil que não têm energia residencial ou que sofrem com racionamentos diários. Então, a primeira pergunta questiona se queremos mesmo o atual modelo de desenvolvimento, que privilegia alguns setores produtivos e que tem gerado impactos socioambientais crescentes. E quais os setores realmente devem ser priorizados? Não está amplamente transparente e divulgado para a população quais são as atividades que mais consomem energia e o que é feito com ela.

Além disso, precisamos nos questionar para quem essa energia é gerada e quem são os principais beneficiados. Para se ter uma ideia, ao mesmo tempo que existem grandes empresas que recebem subsídios do governo para obter energia, a população de São Paulo, por exemplo, teve um reajuste na conta de energia de aproximadamente 80% em apenas dois anos e meio.

A última pergunta, “como a energia vai ser gerada?”, nos faz questionar se precisamos mesmo de mais projetos como Belo Monte, Tapajós e termelétricas. O nosso problema é de oferta ou de gestão da energia que tem sido gerada? Assim, precisamos discutir, em paralelo, quais as fontes de energia que precisamos para atender as nossas necessidades de modo socialmente justo e ecologicamente equilibrado. Não podemos mais insistir em um modelo depende de combustíveis fósseis, mas também não é toda “alternativa”, implementada de qualquer maneira, que vai ser necessariamente justa e sustentável. É crescente o número de grupos sociais localizados em territórios próximos aos parques eólicos, por exemplo, que denunciam que essas atividades geram impactos negativos aos ecossistemas e ao modo de vida local, além dos já relatados e difundidos envolvendo a geração hidroelétrica e nuclear.

No caso brasileiro é preciso planejamento por parte dos órgãos públicos, mas com ampla consulta prévia à sociedade civil e principalmente às localidades mais diretamente afetadas pelos projetos. O modelo do “tudo agora ao mesmo tempo” não tem se mostrado eficiente, sempre a partir de uma pretensa “necessidade” de gerar mais energia e diversificar a matriz. O Brasil têm investido de modo complementar nas mais variadas fontes de energia, como hidroelétricas, usinas nuclear, eólica, termelétricas, petróleo e gás natural (pré-sal e a expectativa de inclusão do fracking), pequenas centrais hidrelétricas, setor sucroalcooleiro etc, sem que com isso tenhamos conseguido resolver os problemas sociais e ambientais, que só se agravam. É preciso reforçar o questionamento sobre essas ditas “necessidades”, muitas vezes naturalizadas no cotidiano, ou seja, estamos tratando de uma matriz energética para atender qual modelo de desenvolvimento?

Os desafios são enormes, mas se nos basearmos nos exemplos de lutas e reivindicações contra-hegemônicas que surgem no interior da sociedade civil, certamente teremos indícios de que outro modelo de desenvolvimento não só é possível, mas que já existe, é real e está sendo construído e experimentado em diferentes localidades, em diferentes escalas. A partir dos saberes, práticas e experiências das populações locais e movimentos em resistência, seja através das práticas agroecológicas, da permacultura, do turismo comunitário, da economia solidária, das práticas indígenas e tradicionais, da geração descentralizada de energia eólica e solar e das práticas de convivência com o semi-árido. Cabe a nós visibilizá-las e fortalecê-las no debate público.

Fonte: IHU

O atlas das brigas ambientais


 

                  

 

Brasil é o terceiro país com maior número de litígios por questões ligadas ao meio ambiente, como se pode ver pela quantidade de pontinhos coloridos assinalados no mapa do nosso país, na imagem acima. Só perdemos para a índia e a Colômbia e estamos nivelados com a Nigéria. É o que revela um minucioso mapa-mundi desenvolvido pela Universidade Autônoma de Barcelona.

 

As cinco brigas ambientais mundiais mais ferrenhas apontadas pelos pesquisadores espanhóis : exploração de minérios, conflitos por aquisição de terras, direito de acesso à águadesmatamentos e exploração e extração de petróleo e gás.

 

Não se engane quem pensa que essas desavenças só acontecem longe de nós, moradores das grandes cidades. Basta acompanhar os jornais desde o início do ano para conhecer a crítica seca do sistema de reservatórios Cantareira e o imbróglio do governo paulista para prover as torneiras do estado captando parte das águas do rio Paraíba do Sul, principal fonte de abastecimento do Rio de Janeiro. Ou os sérios problemas de contaminação química nas cidades de Duque de Caxias, no Rio, e de Paulínia, em São Paulo.

 

De acordo com o estudo desenvolvido em conjunto como a Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade (EJOLT) – projeto de organizações de justiça ambiental europeias – no total estão em andamento em todo o território brasileiro atualmente nada menos que 58 conflitos ambientais.

 

Os mais ferrenhos são causados por disputas agrárias – especialmente na Amazônia – por recursos minerais e hídricos, além das questões indígenas. A Vale é a quinta empresa do mundo mais envolvida em pendências ambientais. São 15 disputas, sendo que 14 delas estão no Brasil, Peru, Chile, Colômbia e até em Moçambique, na África.

 

A partir do levantamento da Universidade Autônoma de Barcelona a EJOLT criou um atlas interativo que aponta, em detalhes e muitas informações, onde estão esses conflitos e de que tipos são eles. É possível pesquisar por diferentes categorias: por países, por empresas envolvidas nos conflitos, por commodities e também por tipo de conflito.

 

Para o pesquisador Marcelo Firpo Porto, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – autor do artigo que ilustra a página do atlas com foco no Brasil – apesar do país ter se industrializado, a exploração dos recursos naturais ainda é muito forte “com as exportações de matérias-primas crescendo em importância em relação aos bens fabricados nos últimos anos (de 28,9% em 2003 para 46,8% em 2012)”.

 

Sobre conflitos ecológicos nas cidades brasileiras Marcelo Firpo conclui em seu texto: “Apesar de ainda pouco importante nos mapas, os conflitos ambientais urbanos do país estão associados a indústrias poluidoras e tecnologicamente ultrapassadas ​​que desrespeitam as leis ambientais, além de alguns conflitos com lixões e aterros sanitários

 

Mais recentemente, os efeitos negativos da especulação de terras e a remoção forçada de comunidades pobres (especialmente das favelas e subúrbios), situado em áreas com novos investimentos também geraram novos conflitos”.

 

Para acessar o mapa mundi dos conflitos ambientais da EJOLT (em inglês) clique aqui.

Para consultar exclusivamente os problemas brasileiros – e em bom português – a Fiocruz, instituição participante do projeto, colocou no ar o site Mapa de Conflitos envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil.

 

Fonte: Planeta Sustentável

Exploração de gás de folhelho amplia impactos socioambientais


O WWF-Brasil ressalta que exploração do gás de folhelho no Brasil, conhecido popularmente como gás de xisto, traz enormes riscos de impactos ambientais e sociais e ameaça de contaminação e uso excessivo nossas águas. A entidade também avalia que o contínuo aumento do investimento em combustíveis fósseis no país pode contribuir para o aumento da temperatura global.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizou em 28 de novembro a 12ª Rodada de Licitações para Concessão de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural. O leilão permitiu pela primeira vez a exploração de gás de folhelho por fraturamento hidráulico no país.

Todavia, Governo Federal e ANP leiloaram os blocos desacatando parecer do Ministério Público Federal que recomendava a retirada do gás de folhelho da rodada, até que estudos mais conclusivos sobre seus impactos socioambientais fossem realizados. Também ignoraram os alertas da comunidade científica, de órgãos públicos e da sociedade civil organizada sobre os riscos da extração do gás através do fraturamento hidráulico.

Dos 240 blocos que foram a leilão, 72 foram arrematados, sendo 49 adquiridos pela Petrobras e os demais pelas empresas Geopark, Trayectoria Oil Gas, Alvo Petro, Cowan Petroleo e Gás.

Localizados no Amazonas, Acre, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Piauí, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Maranhão, Paraná e São Paulo, os blocos ofertados e adquiridos no leilão estão próximos ou sobre os principais aquíferos (reservatórios subterrâneos de água) brasileiros e também de parques nacionais e outras unidades de conservação, territórios indígenas e de quilombolas, assentamentos rurais e fazendas. Isso eleva o potencial de impactos e conflitos socioambientais e econômicos.

Os blocos arrematados no Paraná e em São Paulo, pela Petrobras e pela Petra Energia, estão sobrepostos aos aquíferos Serra Geral, Furnas, Bauru-Cauiá e Guarani. Esse último é reconhecido como uma das maiores reservas de água potável do mundo e se estende aos países vizinhos Argentina, Paraguai e Uruguai. A contaminação de águas superficiais e subterrâneas está entre os principais impactos da exploração do gás de folhelho.

Para sua extração, é utilizado o fraturamento hidráulico, a injeção de enormes quantidades de água sob pressão (15 milhões de litros por poço), com areia e sustâncias químicas. Essa técnica está associada a vazamentos e à contaminação das águas subterrâneas e superficiais e do solo em todos os países onde é usada.

Por conta dos riscos e impactos socioambientais comprovados da exploração do gás de folhelho, países como França, Alemanha, Uruguai, Estados Unidos (o estado de Nova Iorque) e China (algumas regiões) proibiram sua exploração. Nos Estados Unidos a técnica é largamente utilizada e há uma série de denúncias de contaminação de aquíferos e águas superficiais próximas aos poços e usinas. Lá, nos estados do Texas e da Pensilvânia, muitas cidades estão sem água potável e fazendeiros tentam, em vão, reverter os prejuízos causados pela contaminação das águas.

“O Brasil tem aumentado investimentos em combustíveis fósseis, na contra mão do necessário maior investimento em energias descentralizadas mais limpas e mais sustentáveis, como a solar, a eólica e a de biomassa, que podem tornar nossa matriz energética descentralizada e com menor impacto socioambiental”, comentou a secretária-geral do WWF-Brasil, Maria Cecília de Brito.

Energia limpa – Previsto para 13 de dezembro, o chamado 2º Leilão de Energia A-5/2013 disponibilizará 687 empreendimentos de geração, somando mais de 21 mil megawatts (mais informações no atalho ao lado). A boa novidade é a ampla participação da fonte eólica, ampliando sua competitividade e fatia na matriz nacional, a presença de energia solar, equivalente a oferta de termelétricas a carvão.

“Esse leilão mostra claramente que o Brasil tem todas as condições para diversificar sua matriz com fontes mais limpas e reduzir impactos sociais e ambientais provocados, por exemplo, pela insistência na geração de energia no modelo de grandes barragens. Falta vontade política para tornar esse potencial uma realidade e colocar o país na vanguarda global no uso de fontes alternativas renováveis não convencionais”, ressaltou Maria Cecília.

Retirado do Site: http://www.wwf.org.br