Dez motivos para a estrada do Colono não passar


           

O manifesto “10 fatos sobre a estrada do Colono e o Parque Nacional do Iguaçu” foi lançado em setembro, por onze instituições, entre elas Greenpeace, SOS Mata Atlântica, WWF e Sociedade de Pesquisa e Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). A iniciativa é uma tentativa de evitar a aprovação do Projeto de Lei 7.123/2010, do deputado federal Assis do Couto (PT/PR), que agora tramita no Senado como Projeto de Lei da Câmara, nº 61 de 2013 e pretende reabrir a estrada que corta ao meio o Parque Nacional.

O documento alerta para o risco de o Parque Nacional do Iguaçu perder a designação de Sítio do Patrimônio Mundial Natural, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Para as organizações que se opõem ao projeto, a abertura da estrada é um crime ambiental que não irá representar benefícios aos municípios do entorno. Se aprovada, a construção da rodovia vai ameaçar a integridade do parque, segundo essas organizações. Para os críticos, a iniciativa abriria também um precedente para alterar gravemente a estrutura de outras Unidades de Conservação no país.

Apesar das críticas, o projeto já foi aprovado por deputados federais e agora está na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado. A proposta ainda precisa passar por outras duas comissões, do Meio Ambiente e de Desenvolvimento Regional e Turismo, mas não precisa ir a plenário. Se aprovada no Senado, só um veto da presidente Dilma Roussef poderá salvar o Parque Nacional do Iguaçu desse golpe.

O Parque Nacional do Iguaçu foi criado em 1939. Em 1999, devido à reabertura ilegal da estrada, a Unesco chegou a listar o Iguaçu entre os patrimônios ameaçados. Dois anos depois, quando foram tomadas medidas para fechar a via, o parque saiu desta lista. Em 2003, uma decisão judicial deixava a impressão de que a ideia de abrir a estrada estaria definitivamente fora de questão. Não foi o que aconteceu.

Pela proposta, a velha picada vai se transformar em rodovia e dividir em duas partes o Parna do Iguaçu. Ela será considerada como Estrada Parque, classificação que deveria oferecer algum atrativo turístico, como cachoeiras ou montanhas. Não é o que acontece no caminho dentro do Parque do Iguaçu. A não ser que o turista goste de apreciar a variedade de espécies de árvores da Mata Atlântica ou contar com a sorte de se deparar com algum bicho, ele vai ter de se contentar com uma monótona paisagem da floresta do início ao fim do trajeto.

O argumento a favor seria encurtar o caminho entre os municípios paranaenses Serranópolis e Capanema. Mas um estudo produzido pela socióloga Maria de Lourdes Urban Kleinke indica que uma rodovia cortando o parque não levará benefícios econômicos para a região. "Os municípios do entorno têm elevados e crescentes índices sociais, então nada justifica dizer que por conta do fechamento da estrada eles tiveram prejuízos econômicos", afirma. Ela questiona também o argumento de que o parque é uma barreira para famílias que vivem nos municípios da região. De acordo com a socióloga, as distâncias não são tão grandes e as estradas que já existem permitem o contato.

O Parque Nacional do Iguaçu é um dos remanescentes preservados mais importantes da Mata Atlântica. A estrada corta justamente a área considerada intangível, ou seja, que deve ser protegida integralmente, pelo fato de manter espécies ameaçadas, como a onça-pintada. A estimativa é de que existam de seis a (no máximo) dezoito indivíduos da espécie em todo o parque. E agora, políticos tentam colocar uma estrada no caminho delas.

Fonte: http://www.oeco.org.br/

Laísa Mangelli

Apesar da busca por financiamento, Brasil não impedirá acerto sobre Acordo de Paris


Incêndio nos arredores de Porto Velho (RO), em 24 de agosto (Victor Moriyama / AFP)

O Brasil não impedirá um acerto sobre os itens finais do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas apesar da exigência do país por mais financiamentos internacionais para iniciativas ambientais domésticas, disse um diplomata brasileiro de alto escalão nessa quinta-feira (6).

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo), fez da garantia por mais dinheiro para os esforços ambientais do país sua principal prioridade na cúpula climática COP25, que acontece em Madri desde segunda-feira, embora grupos ambientalistas critiquem o governo do presidente Jair Bolsonaro por não impedir a elevação no desmatamento da Amazônia.

Mas a alocação de recursos para países específicos não é parte das negociações da Organização das Nações Unidas (ONU), que são destinadas a estabelecer regras sobre como o Acordo de Paris será implementado, o que não deixa claro como a demanda de Salles será considerada nas rodadas de conversas.

“Não tem nenhuma relação entre as coisas. Sim, o ministro veio aqui com esse pleito, ele tem argumentos bem fundamentados para fazer os pleitos que ele está fazendo, mas isso não tem nenhuma relação com os outros temas em negociação aqui”, disse Marco Túlio Cabral, o segundo diplomata mais graduado do Itamaraty na cúpula.

“Ontem nós tivemos uma reunião longa e ele em nenhum momento estabeleceu esse vínculo. Essas coisas não estão ligadas. Esta negociação está acontecendo em paralelo”, disse Cabral em uma reunião de representantes brasileiros não governamentais.

Salles disse no mês passado que, nesta cúpula, ele descobriria quanto o Brasil receberá de uma quantia planejada de US$ 100 bilhões em financiamento ambiental anual que havia sido prometida a países em desenvolvimento até 2020. Ele disse separadamente à Folha de S.Paulo que o Brasil deveria receber pelo menos US$ 10 bilhões dessa verba.  O ministro é leal a Bolsonaro, que tem priorizado o desenvolvimento econômico da região Amazônica em vez de sua preservação.

Ambientalistas culpam as políticas de Bolsonaro por incentivarem especuladores, grileiros e fazendeiros que seriam os responsáveis pelo maior desmatamento da Amazônia em 11 anos. Bolsonaro diz que o Brasil tem um dos melhores registros ambientais do mundo e acusa a imprensa de demonizá-lo.

Salles tomou a medida incomum de comparecer à conferência completa de duas semanas, ao invés de participar com seus equivalentes ministeriais de outros países apenas na segunda semana.

Reuters publicou na segunda-feira que os membros da equipe de negociação brasileira que chegaram a Madri não foram informados sobre os motivos da chegada antecipada de Salles e também não sabiam quais seriam suas metas ou se ele apoiaria um acordo. Cabral disse que as negociações estão progredindo, mas que estão longe de concluídas. “Nos viemos aqui com um espírito construtivo para buscar um acordo”, disse.

Reuters

Ativistas marcham nesta sexta em Madri para pressionar líderes da COP25


Ativistas da rebelião da extinção estão nas ruas de Madri protestando, mas a marcha principal acontece na sexta-feira (AFP/Arquivos)

Milhares de ativistas de todo mundo vão marchar nesta sexta-feira (5), em Madri, para exigir uma ação urgente diante da crise climática dos líderes reunidos na COP25, a conferência anual da ONU sobre o clima.

À margem da cúpula, a manifestação em Madri será a principal, embora outra também esteja marcada em Santiago do Chile. O presidente Sebastián Piñera desistiu de sediar a reunião das Nações Unidas em razão da revolta social que abala o país.

Sob o lema “o mundo acordou para a emergência climática”, a marcha de Madri começará na estação de Atocha às 18h (14h de Brasília).

Símbolo da luta pelo meio ambiente desde que lançou, em agosto de 2018, sua “greve escolar” que impulsiona o movimento global “Sexta-feira pelo futuro”, Greta Thunberg estará presente. A jovem sueca dará uma conferência às 16h30 (12h30 de Brasília).

Sem viajar de avião, devido a seu impacto ambiental, Greta foi de veleiro participar de uma cúpula da ONU sobre o clima em Nova York e depois para a COP25 anunciada no Chile. Com a mudança de local, teve que pegar uma catamarã para fazer o caminho inverso.

Depois de três semanas no mar, a ativista de 16 anos chegou a Lisboa e, de lá, seguiu para Madri.

O ator espanhol Javier Bardem, ativista climático, também participará do protesto, que incluirá discursos e eventos musicais e culturais.

Conferência paralela

“Sabemos que será grande. Esperamos centenas de milhares pedindo ações urgentes”, disse um porta-voz da mobilização, Pablo Chamorro.

A marcha de sexta-feira quer ser um “grande momento global”, afirmou Estefanía González, porta-voz da Sociedade Civil para Ação Climática (SCAC), que representa mais de 150 grupos chilenos e internacionais.

“Venho do Chile, um país onde um abacateiro tem mais direito à água do que uma pessoa”, criticou.

Em função da desigualdade social e econômica, a crise no Chile está “diretamente relacionada à crise ambiental”, apontou González, referindo-se aos maiores protestos no país desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, há quase 30 anos.

“Hoje, a ação climática se traduz em equidade social. Não é possível ter equidade social sem a equidade ambiental”, afirmou o ativista.

A SCAC é um dos organizadores da Cúpula Social para o Clima, uma conferência paralela à COP25 que vai durar uma semana, a partir deste sábado, e incluirá centenas de eventos e workshops.

Grupos indígenas terão presença garantida, pois são “os primeiros afetados pelas mudanças climáticas”, nas palavras de Juan Antonio Correa, do coletivo Minga Indígena.

“As práticas tradicionais e históricas e o relacionamento que os povos indígenas têm com a Mãe Terra são uma alternativa e é a maneira pela qual toda a sociedade moderna pode lidar com essa crise climática”, completou.

No manifesto da marcha, os convocadores enviam uma mensagem clara aos representantes dos quase 200 signatários do Acordo de Paris reunidos até 13 de dezembro em Madri.

“Exigimos que os governos participantes da COP25 reconheçam que a atual inação climática e a ambição insuficiente que refletem os compromissos mais ambiciosos dos países nos levarão a um aquecimento global desastroso por toda vida”, disseram.

AFP

ONU e parceiro lançam concurso sobre desenvolvimento sustentável e pobreza


Iniciativa ‘ConCausa’, promovida pela Organização América Solidária com o apoio da CEPAL e do UNICEF, quer identificar e difundir propostas que apontem para a erradicação da pobreza infantil na região, com vistas ao cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Grupo selecionado de jovens entre 15 e 17 anos participará de encontro de capacitação e apresentará suas propostas em uma cerimônia que será realizada em Santiago do Chile. Prazo é dia 13 de outubro; saiba aqui como participar.

Imagem: divulgação

Imagem: divulgação

A Organização América Solidária, com o apoio da Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e do Escritório Regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), lançaram nesta quinta-feira (6) o concurso ‘ConCausa’ para jovens.

O objetivo é identificar e difundir propostas que apontem para a erradicação da pobreza infantil na região, com vistas ao cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

A inscrição é aberta aos jovens da América Latina e do Caribe que tenham entre 15 e 17 anos e que apresentem propostas para a superação da pobreza em seu bairro, cidade, país ou na região, que estejam vinculadas à Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – aprovados pela Assembleia Geral da ONU em setembro de 2015.

As propostas devem ser apresentadas por grupos de quatro jovens e associadas a um formato audiovisual na plataforma da ConCausa: http://participa.concausa2030.com

O prazo para a postulação dos projetos é dia 13 de outubro.

As 15 melhores propostas participarão de um encontro de capacitação que será realizado entre os dias 20 e 26 de novembro desse ano em Santiago do Chile e que terminará com uma cerimônia na sede da CEPAL, localizada na capital chilena.

Os três primeiros lugares receberão um apoio financeiro correspondente a 1 mil dólares, concedido pela ‘América Solidária’ como capital inicial para a implementação dos projetos.

Na oportunidade, os 15 projetos selecionados farão parte de uma publicação cujo lançamento está previsto para o primeiro semestre de 2017. Mais informações em: http://participa.concausa2030.com

Fonte: ONUBR

Pais de todo o mundo pedem proteção do clima para seus filhos


Jovens grevistas climáticos liderados pela adolescente ativista sueca Greta Thunberg planejam marchar pela capital espanhola sob a bandeira de Fridays for Future (AFP)

Associações de pais do mundo inteiro apresentaram nesta quinta-feira um apelo aos signatários do Acordo de Paris para que se transformem em “verdadeiros heróis” e limitem o aquecimento climático para dar a seus filhos “o futuro que merecem”.

“Não podemos aceitar deixar um mundo assim para os nossos filhos”, afirmam 222 organizações de pais de 27 países em uma declaração publicada durante a Conferência do Clima da ONU (COP25) em Madri.

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Na sexta-feira deve acontecer um dos principais momentos da reunião de cúpula, com um protesto de jovens ativistas do clima e a presença da sueca Greta Thunberg, atualmente em Lisboa, depois de cruzar o Atlântico em um veleiro.

“Muitos delegados da COP25 também são pais e é particularmente a eles que nos dirigimos em um nosso apelo. Estes delegados são pais que, graças a suas competências profissionais, podem ser verdadeiros heróis para todas as crianças do mundo”, escreveram os pais das organizações “Our Kids’ Climate” e “Parents for Future”.

“Milhões de crianças abriram o caminho com greves escolares que mostraram sua determinação de lutar contra a catástrofe iminente. Agora nós, os pais, estamos decididos a defender o futuro de nossos filhos e exigir medidas ambiciosas”, completaram.

Milhões de jovens participaram em passeatas em cidades no mundo inteiro nos últimos meses, seguindo o exemplo de Greta Thunberg, que durante mais de um ano fez greve diante de sua escola todas as sextas-feiras para exigir ações contra a mudança climática.

Apesar da pressão e dos cientistas que pedem ações urgentes, os quase 200 signatários do Acordo de Paris reunidos até 13 de dezembro em Madri podem decepcionar as esperanças dos ativistas.

Não está previsto que nenhum dos grandes emissores de gases poluentes anuncie medidas para reduzir o efeito estufa.

Alguns chefes de Estado e de Governo presentes na segunda-feira na abertura da COP25 também usaram o trunfo de citar a posição de pais de seus colegas mais relutantes.

“Se não fizermos o processo de transformação necessário, o ano de 2030 será o ponto de não retorno e nosso planeta se tornará mais difícil e mais hostil”, declarou o presidente da Costa Rica, Carlos Alvarado.

“Como vamos explicar isto a nossos seres amados mais jovens? Como explico a meu filho de seis anos?”, questionou.

“Vocês decidem por seus países. E provavelmente têm filhos e netos que amam”, disse o presidente austríaco Alexander Van der Bellen.

“Pensem neles ao tomar decisões por seu país”, completou, exibindo um ursinho de pelúcia branco.

AFP

A desigualdade de acesso ao saneamento básico


No mundo, mais 2,5 bilhões de pessoas vivem sem acesso a banheiros e sistema de esgoto adequado (ONU)

Maria Luísa Brasil Gonçalves Ferreira*

Os direitos humanos são direitos básicos, essenciais e inerentes a todos os seres humanos, independente de raça, classe social, gênero, nacionalidade ou qualquer outro tipo de discriminação. Com a promulgação da Declaração Universal de Direitos Humanos, em 1948, a comunidade internacional celebrou acordo que visa garantir a todos, de forma equânime, o exercício de seus direitos inatos.

A Declaração de Estocolmo, em 1972, incluiu o meio ambiente no rol de direitos humanos, determinando que é dever de todos proteger e buscar melhoria do meio ambiente humano. No mundo, mais 2,5 bilhões de pessoas vivem sem acesso a banheiros e sistema de esgoto adequado.

Em 2015, durante a 70ª sessão da Assembleia Geral da ONU, criou-se a Agenda 2030 que fixou vários objetivos, dentre eles, o objetivo nº 6, que determinou que os países devam se esforçar para que, até 2030, todos tenham acesso a saneamento e higiene adequados e também para acabar com a defecação a céu aberto. Contudo, somente em 2017 é que o saneamento básico foi reconhecido como direito humano.

O acesso ao saneamento básico é uma garantia do mínimo existencial, de qualidade de vida e de efetivação do princípio da dignidade humana, intimamente relacionado com o direito a sadia qualidade de vida. Portanto, é de interesse de toda a sociedade que seja diagnosticado como o racismo institucional influencia no acesso ao saneamento básico, para que, posteriormente, seja encontrada forma eficaz de interromper essa influência.

A universalização do acesso ao saneamento básico, além de significar o cumprimento de legislação federal, significa a efetivação de recomendações internacionais e possibilita a efetivação de direitos humanos.

De acordo com estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil, os estados que menos receberam investimentos em saneamento básico entre 2015 e 2017 foram Amazonas, Acre, Amapá, Alagoas e Rondônia, totalizando 1,7%. Todos esses Estados são da Região Norte do país, onde se encontra a maior concentração de pobreza, portanto, onde há menos acesso a infraestrutura, está também a maior concentração de pobreza – junto com a Região Nordeste.

A política pública relacionada ao saneamento básico já existe, e um dos seus princípios basilares é a universalização do acesso. Em 2007 entrou em vigência a Lei nº 11.445, que estabeleceu a universalização do acesso ao saneamento básico como um dos princípios fundamentais e definiu universalização como sendo a ampliação progressiva do acesso de todos os domicílios ocupados ao saneamento básico. Este princípio da universalização, mesmo após dez anos de vigência da lei, não atingiu seu objetivo tendo em vista os números alarmantes de população sem acesso ao saneamento básico no Brasil.

Entre 2007 e 2017, houve aumento no acesso ao tratamento de água e esgoto: o total de brasileiros atendidos por abastecimento de água tratada passou de 80,9% para 83,3%; enquanto a população atendida por coleta de esgoto passou de 42% para 50,3%.

Apesar do aumento global no acesso, a região Norte do país possui números preocupantes: apenas 8,7% da população possui acesso a esgoto e 16,4% da população possui acesso ao tratamento desse esgoto. Além disso, somente 56% da população possui cobertura de água potável, números muito inferiores aos da Região Sudeste – que possui os melhores indicadores do país (91,2% de cobertura de água, 77,2% tem acesso à rede de esgoto e 47,4% ao tratamento de esgoto).

Em ranking dos vinte melhores municípios em relação ao saneamento básico, realizado em 2017 pelo Instituto Trata Brasil (2017), treze posições são ocupadas por municípios da Região Sudeste (as quatro primeiras, inclusive), cinco posições ocupadas por municípios da Região Sul (todas são cidades do Paraná) e as duas posições restantes ocupadas pela Região Nordeste (municípios da Bahia e Paraíba). Em contrapartida, o estudo apresentou o ranking dos dez piores municípios: dois são da Região Sudeste (Rio de Janeiro), um da Região Sul (Rio Grande do Sul), um da Região Centro-Oeste (Mato Grosso), um da Região Nordeste (Pernambuco) e cinco municípios são da Região Norte (Amazonas, Amapá, Rondônia e Pará).

No ranking dos dez piores municípios em relação ao saneamento básico, quatro pertencem à Região Norte e atendem menos da metade de sua população com água.O município de Santarém, no Pará, não realiza nenhuma coleta de esgoto apesar de possuir mais de 200 mil habitantes.

As análises dos dados de saneamento básico na região Norte são alarmantes, sobretudo se comparada com as outras regiões do país. os Estados que menos receberam investimentos em saneamento básico nos últimos três anos foram Amazonas, Acre, Amapá, Alagoas e Rondônia, totalizando 1,7%. O mais impressionante desses dados é que a Região Norte é a maior do Brasil e corresponde a 45% de todo o território nacional.

Políticas públicas são ações de governo para realizar interesses coletivos por meio da prestação de serviços e entrega de bens à sociedade. A formulação de uma política pública envolve diversas etapas e não se esgota quando é colocada em prática.

Após a criação e implementação de determinada política pública, é necessário que se faça a avaliação de sua dinâmica, isto é, avaliando como a implementação da política está interferindo na sociedade. A avaliação é feita por diversos atores sociais, como políticos, entidades de classe, organizações não governamentais e os próprios cidadãos, e cada conjunto de atores faz essa avaliação utilizando-se de técnicas diversas. As manifestações públicas, por meio de protestos feitos por atingidos, por exemplo, representam uma avaliação dos méritos, ainda que seja informal, portanto, cada grupo social desempenha papel fundamental no aprimoramento da política pública.

Portanto, a existência de uma política pública, institucionalizada por meio da legislação, não significa a efetiva solução do problema. É necessário que a população se mobilize para fiscalizar e cobrar dos governos a solução do problema. Protestos públicos organizados pela população são consideradas formas de avaliar o mérito da política pública, podendo influenciar o governo a pensar em soluções mais efetivas ou a reformular a política vigente.

*Maria Luísa Brasil Gonçalves Ferreira – Bacharel em Direito pela Escola Superior Dom Helder Câmara. Pós-graduanda pela Escola Superior de Advocacia da OAB. Assistente jurídica no Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Agência da ONU enfatiza necessidade de garantir desenvolvimento industrial sustentável e inclusivo


por Redação da ONU Brasil
 

                    Fazenda de energia eólica na Dinamarca. Foto: ONU/Eskinder Debebe

 

Garantir o desenvolvimento industrial sustentável e inclusivo é primordial para a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), de acordo com o novo quadro de prioridades da agência divulgado esta semana.

Há quase 40 anos, os Estados-membros adotaram a Declaração de Lima sobre o Desenvolvimento Industrial e Cooperação – cujo objetivo era aumentar a participação mundial da produção industrial dos países em desenvolvimento e abrir o caminho para que a UNIDO pudesse se tornar uma agência especializada da ONU. Na segunda-feira (2), a UNIDO adotou a Nova Declaração de Lima, que salienta a importância do desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável como base para o crescimento econômico contínuo.

“Apesar de integrar de forma equilibrada todas as três dimensões do desenvolvimento sustentável – econômico, social e ambiental -, acreditamos que as medidas eficazes para o desenvolvimento industrial sustentável e inclusivo devem englobar o reforço das capacidades produtivas de forma que sustentem a transformação estrutural da economia, encorajem o crescimento econômico – criando empregos decentes -, aumentem a produtividade e o desenvolvimento, a transferência e absorção de tecnologia e apoiem as pesquisas relacionadas ao desenvolvimento”, afirma o documento.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-monn, disse na abertura da Conferência Geral da UNIDO que o mundo enfrenta a desigualdade, a volatilidade e a incerteza. “Nós vemos a rápida urbanização. O crescimento da população mundial significa que precisamos produzir mais bens e serviços, utilizando cada vez menos recursos e gerando cada vez menos resíduos e poluição.”

Segundo o diretor-geral da UNIDO, Li Yong, o documento é uma manifestação de apoio e confiança dos Estados-membros na agência, enfatizando a experiência crítica da UNIDO na área de desenvolvimento industrial sustentável e inclusivo e na formação de novas parcerias para o desenvolvimento.

* Publicado originalmente no site ONU Brasil.

Fonte: Envolverde

Negociadores do Brasil em cúpula do clima estão no escuro


Antes repleta de ativistas, a delegação do Brasil, lar da maior parte da vasta floresta amazônica, agora só tem autoridades do governo (Bruno Kelly/Reuters)

Madri – Os negociadores do Brasil já enfrentarão um trabalho duro nas conversas climáticas da ONU, dada a irritação com a postura do presidente Jair Bolsonaro a respeito da Amazônia, mas essa tarefa se torna duplamente difícil porque estão no escuro no que diz respeito aos objetivos do governo.

Bolsonaro se tornou alvo de ativistas ambientais desde que a destruição da floresta amazônica atingiu seu nível mais alto em 11 anos e incêndios terríveis assolaram a região em agosto, com políticas do presidente incentivando os desmatadores e intimidando agentes ambientalistas.

Como se isso não bastasse, os negociadores técnicos do Brasil presentes para as negociações da Organização das Nações Unidas na Espanha estão desconectados dos líderes políticos e desinformados sobre seus objetivos, disseram duas pessoas a par do assunto. Isso significa que os negociadores poderiam firmar um acordo que seria renegado por autoridades do governo. “Na verdade, o que o Brasil fará na conferência é uma incógnita”, disse uma das fontes.

Para aumentar a confusão, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente alinhado a Bolsonaro, apareceu em Madri uma semana mais cedo para participar de toda a conferência de duas semanas, ao invés de somente a segunda etapa com colegas ministros de outros países. “Só ele sabe o que está fazendo lá”, disse outra fonte.

Sendo o lar da maior parte da vasta floresta amazônica, que serve como uma proteção ao aquecimento global, o Brasil é um dos principais componentes das conversas climáticas, e atuou como mediador entre países desenvolvidos e em desenvolvimento muitas vezes.

Mas seu recuo amplamente noticiado nas proteções ambientais domésticas mudou isso, e a delegação oficial em Madri não conta mais com grupos de ambientalistas cujas credenciais o país normalmente endossa. Antes repleta de ativistas, a delegação brasileira agora só tem autoridades do governo, de acordo com dois ex-participantes brasileiros que acompanham o evento deste ano, mas com credenciais diferentes.

No nível técnico, a postura de negociação do Brasil não mudou, segundo três pessoas com conhecimento do assunto. O país continuará pressionando em especial por uma contabilidade mais precisa do comércio de carbono e quer que os créditos de emissões de um acordo climático anterior sejam honrados pelo pacto de Paris.

Existe incerteza no nível político, mas Salles indicou que pressionará para ver quanto o Brasil receberá dos U$ 100 bilhões (R$ 419.915.800.000) planejados para um financiamento ambiental anual que os países desenvolvidos prometeram fornecer aos países em desenvolvimento até 2020.

Jake Spring/Reuters

Secretário-geral da ONU cobra ações contra aquecimento na COP25


“A água já cobre grande parte de nosso território em algum momento do ano. Nos recusamos a morrer”, afirmou em um vídeo a presidente das Ilhas Marshall Foto (AFP)

Os pedidos de ação urgente e resoluta para salvar a humanidade dos problemas provocados pela mudança climática se multiplicaram nessa segunda-feira (2) na abertura da COP25 em Madri, ante temores de que a reunião possa ficar abaixo das expectativas. Desde o ano passado, os países signatários do Acordo de Paris são alvo de uma pressão sem precedentes, resumida na hashtag escolhida para as duas semanas de reunião: #TimeforAction. Os apelos por ação urgente foram repetidos no dia de abertura da 25ª Conferência do Clima da ONU (COP25).

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“Realmente queremos entrar para a história como a geração que agiu como o avestruz, que brincava enquanto o mundo queimava?”, questionou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Diante dos representantes de quase 200 signatários do Acordo de Paris, entre eles 40 chefes de Estado ou de governo, Guterres pediu uma escolha entre a “esperança” de um mundo melhor e a tomada de ações, ou a “capitulação”.

Na cerimônia de inauguração do evento, que acontece em Madri depois que o Chile desistiu de abrigar a reunião em consequência da revolta social no país, Guterres destacou sua “frustração” com a lentidão das mudanças, insistindo na necessidade de atuar de forma urgente. “O ponto de não retorno não está longe no horizonte, conseguimos ver e se aproxima a toda velocidade”, declarou Guterres no domingo (1).

Cada grau conta

Há alguns dias, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgou um relatório muito duro a respeito da esperança de cumprir o objetivo ideal do Acordo de Paris: limitar o aquecimento a +1,5 grau na comparação com a era pré-industrial. Para alcançar a meta seria necessário reduzir as emissões de CO2 em 7,6% por ano até 2030. Mas não há sinal de queda.

As temperaturas já subiram quase 1 grau, multiplicando as catástrofes climáticas. E cada grau adicional deve aumentar os efeitos. No ritmo atual, a temperatura poderia aumentar 4 ou 5 graus até o fim do século. Mesmo que os Estados cumpram os compromissos atuais, a alta no termômetro pode superar 3 graus.

“Continua faltando vontade política”, lamentou Guterres, antes de afirmar que os maiores emissores de CO2 “não cumprem sua parte”. “Alguns países como China e Japão dão sinais de sua relutância a aumentar sua ambição”, disse Laurence Tubiana, idealizadora do Acordo de Paris.

O governo dos Estados Unidos acaba de confirmar sua retirada do acordo no próximo ano, embora seus cidadãos continuem comprometidos com a luta contra a mudança climática, afirmou a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, que, em um gesto político, lidera a delegação do Congresso americano em Madri.

Atenção voltada para a UE

Neste contexto, a atenção está voltada para a União Europeia (UE), que tem ampla representação na conferência. “Em uma época marcada pelo silêncio de alguns, a Europa tem muito o que dizer nesta batalha”, afirmou o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez.

“Porque assim exigem nossas sociedades. Mas também por uma questão de justiça histórica elementar: se a Europa liderou a revolução industrial e o capitalismo fóssil, a Europa tem que liderar a descarbonização”, completou.

Os defensores do planeta esperam que uma reunião europeia em 12 e 13 de dezembro alcance um acordo sobre a neutralidade de carbono até 2050. Mas será necessário esperar até 2020 para que a UE apresente uma revisão de suas ambições a curto prazo.

“Seremos os campeões da transição verde”, garantiu o novo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. “Tivemos a revolução industrial, a revolução tecnológica, está na hora da revolução verde”, completou.

No momento, apenas 68 países se comprometeram a revisar e intensificar os compromissos de redução de emissões de CO2 em 2020, antes da COP26 em Glasglow, mas estas nações representam apenas 8% das emissões mundiais, de acordo com especialista.

Os países do hemisfério sul desejam ser ouvidos e exigem que as nações do norte assumam suas responsabilidades, com ajuda para enfrentar os desastres previstos. “A água já cobre grande parte de nosso território em algum momento do ano. Nos recusamos a morrer”, afirmou em um vídeo a presidente das Ilhas Marshall, Hilda Heine.

AFP

Nações pobres são as que mais sofrem com fugas devido a mudanças climáticas


“Isso é extraordinário. Isso é um caos climático, é isso que parece”. (Raul ZAMORA/AFP)

Um clima mais severo e o agravamento dos incêndios florestais levaram mais de 20 milhões de pessoas a fugirem de casa por ano ao longo da última década – um problema que deve piorar a menos que os líderes ajam rapidamente para conter as ameaças climáticas crescentes, disse a instituição antipobreza Oxfam nesta segunda-feira.

Grande parte dos deslocamentos causados por ciclones, inundações e incêndios foi temporária, e em alguns casos devido a esforços melhores para retirar as pessoas antes do perigo, disseram pesquisadores da Oxfam.

Mas sua “escala ampla” foi uma surpresa, disse Tim Gore, líder de políticas climáticas da Oxfam – em ilhas-nações como Cuba, Dominica e Tuvalu, em média quase 5% da população foi expulsa de casa em qualquer ano levado em conta. “Este é o mundo em aquecimento sobre o qual alertamos há tempos. Agora estamos vendo-o se desenrolar diante de nossos olhos”, disse ele.

O estudo da Oxfam, cuja divulgação coincide com duas semanas de negociações sobre clima da Organização das Nações Unidas (ONU) em Madri, examinou a quantidade de pessoas deslocadas por desastres de origem climática dentro de seus países entre 2008 e 2018 com base em dados de agências governamentais e internacionais, além de reportagens.

As pessoas correm três vezes mais risco de ser expulsas por ciclones, inundações e incêndios do que por conflitos, mostrou o estudo. Algumas nações, como a Somália, foram assoladas tanto por secas quanto por inundações, às vezes no mesmo ano.

Essa “confluência de desastres” deixa muitas nações pobres – onde a maior parte dos deslocamentos está ocorrendo – com dificuldade para se recuperarem de uma crise antes de a próxima acontecer, explicou Gore.

Algumas fizeram apelos de ajuda para secas e inundações simultaneamente, disse. “Isso é extraordinário. Isso é um caos climático, é isso que parece”.

Sete dos 10 países com os maiores números de deslocados em relação à população são ilhas-nações em desenvolvimento, a maioria no Pacífico e no Caribe, revelou o relatório.

Mas cerca de 80% de todas as pessoas expulsas de casa por desastres climáticos na última década eram da Ásia, onde grandes populações de países que vão das Filipinas ao Sri Lanka moram em áreas ameaçadas por ciclones ou inundações, segundo o estudo.

Reuters